O texto abaixo foi extraído do livro O Pastor e o Aconselhamento, Jeremy Pierre e Deepak Reju, da Editora Fiel.
Na terça-feira à tarde, você está em guerra com sua caixa de mensagens quando sua secretária o chama pelo telefone. Uma senhora, membro da igreja, está querendo falar com você; e é um problema. Com uma oração rápida que mais parece um suspiro, você pega o telefone e entra numa conversa de meia hora que o confunde e, com certeza, confunde também a sua interlocutora. Quando você termina a ligação, sua mente está zunindo com pensamentos sobre o que fazer com esta revelação inesperada de quão más as coisas estão entre ela e seu marido. A primeira coisa que você fará no dia seguinte é reunir-se com eles a fim de lidarem com isto. Como você começa a se preparar para a manhã de quarta-feira?
Pastores e líderes leigos são familiarizados com chamadas telefônicas como esta. Talvez bastante familiarizados. Depressão resistente, tristeza profunda diante da prática de adultério, ira violenta, falta de comunicação crônica, lutas com a culpa por adição à pornografia, transtornos alimentares de evitação fóbica a calorias, câncer recorrente, atração secreta por pessoa do mesmo sexo, ideações suicidas – e essa é a lista curta. A vida num mundo caído é cheia de miséria. Para alguns, a vida está submergida na miséria. Isso se aplica tanto a pessoas no contexto da igreja quanto fora dele.
Esta é a razão por que você é um pastor. Deus o chamou para pastorear suas ovelhas, e essas ovelhas estão frequentemente machucadas e confusas ou são obstinadas. Mas nem sempre é claro como você deve cuidar delas, especialmente nas situações mais complexas que as oprimem. Você pode ou não pensar em si mesmo como um pastor conselheiro, mas o fato incontestável é que você foi chamado a trabalhar em favor de seu povo nestes problemas inquietantes. E este é um trabalho que vale a pena.
Oferecemos esta cartilha porque em nosso tipo de trabalho recebemos, frequentemente, chamadas telefônicas de pastores que precisam de ajuda para lidarem cuidadosamente com situações difíceis em suas igrejas.
Em quinze minutos, estarei conversando com um casal que está pensando em se divorciar. Eis o que penso fazer…
Um jovem de nossa igreja admitiu recentemente para mim que sentia atração por pessoas do mesmo sexo. Preciso ajudá-lo, mas não sei o que dizer…
Alguns pais de minha igreja me disseram nestes dias que sua filha é anoréxica. Há algum lugar que posso indicar para eles?
A maioria dos pastores conta com pouco tempo e está sobrecarregada de muitas outras responsabilidades. Acrescente a isto alguns fatos comuns que afligem o trabalho de um pastor:
A maioria dos alunos de seminário faz apenas uma ou duas matérias de aconselhamento em seu programa de graduação. Eles geralmente subestimam quanto aconselhamento farão quando chegarem ao seu primeiro pastorado.
A maioria dos pastores entra no pastorado para ensinar e pregar, não para aconselhar. Eles aconselham porque isso é uma parte esperada do seu trabalho, não porque se vejam animados a fazê-lo.
Tanto igrejas grandes como pequenas têm pessoas que tornaram as suas vidas caóticas. Igrejas pequenas, especialmente as de áreas rurais, têm geralmente poucos recursos em sua comunidade aos quais podem recorrer para obter ajuda. Um pastor e uma igreja são às vezes os únicos recursos disponíveis.
Os membros de igreja esperam que seu pastor os ajude em suas lutas. Afinal de contas, os membros custeiam o salário do pastor. Eles esperam que o pastor lhes dê seu tempo – muitas vezes, bastante do seu tempo.
Podem até supor que o pastor tem acesso imediato à resposta da Bíblia para os problemas da vida.
Ovelhas fracas tendem a consumir grande quantidade da agenda do pastor, com seus problemas, exigências e, às vezes, egoísmo geral. Frequentemente, isto vem acompanhado de pouca gratidão a Deus pelo cuidado amoroso oferecido pelo pastor e pela igreja.
A maioria dos membros de igreja deixa seus problemas ficarem piores do que precisam antes de vencerem o orgulho e procurarem ajuda. Eles são iludidos por pensamentos como “não quero que o pastor pense mediocremente de mim” ou “posso tratar sozinho deste problema” e tentam lidar sozinhos com suas dificuldades. Se tivessem procurado ajuda antes, essa atitude teria poupado a todos de muito suor e lágrimas.
O que um pastor deve fazer com tudo isto? Talvez ele tenha muito pouco treinamento em aconselhamento. Pode ter ovelhas fracas que exigem imensamente de seu tempo. Pode haver pouca ajuda relacional preciosa a que se possa recorrer numa igreja não saudável. Isso não parece muito promissor, parece?
O verdadeiro poder no aconselhamento – Jesus Cristo
Honestamente, ninguém espera que este livro mude seu mundo. Nosso alvo não é capacitá-lo a lidar com qualquer coisa que surja em seu caminho. Pelo contrário, o alvo é dar-lhe confiança no fato de que no evangelho você dispõe das categorias de que necessita para lidar com problemas de seu povo. Sua confiança não está em alguma técnica superdesenvolvida de aconselhamento, mas em Jesus Cristo.
Confiança verdadeira está arraigada no poder das boas-novas de Jesus Cristo que transformam a vida. Afinal de contas, Jesus é o modelo de como os seres humanos funcionam melhor. E ele veio a um mundo disfuncional como substituto para seres humanos disfuncionais como nós. O pecado nos aliena de Deus. Aliena tudo de Deus. Esta é a razão por que sofremos e a razão por que pecamos. Mas Jesus reconciliou o que estava alienado por fazer o pagamento do pecado mediante a sua morte. E agora Jesus vive ressurreto, transformando pessoas para viverem de acordo com sua justiça, de acordo com um relacionamento restaurado com Deus. É Deus, por meio de seu Filho glorioso, que muda pessoas. Ora, essa é a razão por que temos confiança.
Nós, seres humanos, somos criados para manifestar o caráter de Deus no que pensamos, no que desejamos e na forma como agimos. Quando surge no coração humano um pensamento obstinado, um desejo lascivo ou uma intenção egoísta, esse coração está falhando em manifestar o caráter de seu Criador, que é paciente, puro e generoso para com os outros. Em resumo, tudo que há dentro e fora de uma pessoa foi planejado para glorificar a Deus.
O coração de Jesus foi o único que manifestou perfeitamente o caráter de Deus – porque ele mesmo é Deus, mas também humano, como nós. Portanto, ele é adequado para ser nosso representante, nosso exemplo, nosso resgatador (Hb 4.14-16). Para aconselhar, devemos ter em mente os seguintes fatos:
Jesus Cristo é o meio de mudança. Crer no evangelho de Cristo muda as reações de nosso coração. Toda sabedoria teórica e todo conselho prático, ministrados no aconselhamento, devem promover, muito essencialmente, um relacionamento com Jesus Cristo pela fé.
Jesus Cristo é o alvo de mudança. Manifestar o caráter de Cristo é o modelo de maturidade pelo qual labutamos. As circunstâncias talvez não mudem, os problemas talvez não desapareçam por meio de aconselhamento, mas Deus promete o poder que precisamos para reagir de maneiras que refletem a obediência confiante de seu Filho.
O aconselhamento, em sua forma simples, é uma pessoa procurando andar ao lado de outra que perdeu seu caminho. Programas de formação profissional ou acadêmica podem ser muito proveitosos para aprimorar habilidades. Mas, se você não os teve, pode aconselhar se adotar sinceramente a Palavra de Deus como o instrumento que mostra às pessoas suas maiores necessidades e suas maiores esperanças.
Este labor é digno de seu tempo, pastor. Nossa esperança é equipá-lo com as ferramentas básicas para começar. A estrutura que apresentamos aqui expressa a nossa tentativa de sermos ousados em usar a verdade evangélica para lidar com os problemas não resolvidos de nosso povo. Francamente, seria muito mais fácil eliminar todos eles com instruções generalizadas procedentes do púlpito ou recomendar às pessoas que procurem ajuda de fora. Mas é um labor que vale a pena a um pastor que almeja ministrar cuidado habilidoso ao seu povo.