sexta-feira, 22 de novembro
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O que está acontecendo em nossas escolas?

*O trecho abaixo foi extraído do livro O Que Estão Ensinando aos Nossos Filhos, da Editora Fiel.

Escolas de qualquer sociedade refletem os padrões da própria sociedade que as abrigam e as mantêm. Nesse sentido, sabemos que se a estrutura da família está sendo atacada; se as âncoras de comportamento estão sendo removidas; se o encorajamento à disciplina pessoal tende a desaparecer; se o individualismo egoísta é pregado – as escolas serão meras comunidades nas quais encontraremos a mesma formação e deficiências morais, nos alunos, nos professores e até no próprio ensino. Sociedades disciplinadas e preservadoras de padrões morais abrigam escolas disciplinadas e incentivadoras da moralidade; sociedades permissivas, escolas permissivas. A sempre desejável flexibilidade, idealmente, não deve ser aleatória, mas exercitada dentro de limites transparentes e confiáveis.

No meio de nossa sociedade, com bases morais cada vez mais desacreditadas e atacadas, pais que procuram dirigir os seus lares sob padrões diferentes, coerentes com a instituição da família; aqueles que se preocupam na formação de seus filhos em algo mais do que indivíduos egoístas irresponsáveis; principalmente, aqueles que se empenham no direcionamento de suas famílias sob os padrões das prescrições de Deus, encontradas nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento – podem chegar às raias do desespero na procura de escolas que sejam promotoras e não destruidoras de princípios básicos necessários à educação das crianças.

Mas, nessa busca insana, precisamos dar continuidade à nossa pausa para reflexão. Será que as escolas estão apenas devolvendo à sociedade o que dela recebeu? Serão elas tão “neutras” assim, ou têm um papel muito mais relevante do que pensamos, como geradoras de uma compreensão inadequada de vida, aos nossos filhos? Nossas escolas são polos independentes de metodologia e filosofia educacional, ou possuem alguma coerência e direcionamento próprio que estão servindo de estímulo, em vez de freio, à dissolução de nossas famílias e da sociedade?

Se procurarmos, nas escolas, alguma orientação comum, alguma corrente de pensamento identificável, alguma filosofia predominante nelas e na formação pedagógica das últimas décadas, esbarraremos no construtivismo. Construtivismo é a teoria educacional desenvolvida a partir das ideias do biólogo e pensador suíço Jean Piaget (1896 1980), que considera o conhecimento como sendo um resultado das interações da pessoa com o ambiente onde vive. Nesse conceito, todo conhecimento é uma construção que vai sendo gradativamente formada desde a infância, no relacionamento com os objetos físicos ou culturais com os quais as crianças travam contato. A teoria é relativamente complexa, recheada de termos próprios, que pedem definições específicas. Entretanto, procurando simplificar e resumir, podemos dizer que o construtivismo afirma que conhecimento é algo que cresce subjetiva e individualmente, como um cristal, em uma solução salina. Nesse sentido, não é algo que deva ser transmitido, dado, pelo professor. O mestre é apenas um agente facilitador, nesse processo de crescimento.

Até parece que estamos examinando apenas uma metodologia acadêmica estéril, que não teria qualquer influência maior nas vidas de nossas famílias, mas não é bem assim. De acordo com o construtivismo, o direcionamento do professor (e, por inferência, dos pais e de todos envolvidos no processo educativo da criança) pode ser algo prejudicial e não benéfico ao estudante. Isso ocorre, principalmente, se eles não compreenderem aquilo que é chamado de estágios de assimilação cognitiva das crianças. De acordo com o construtivismo, nesses estágios a criança vai construindo sua própria realidade. Se pais e mestres não respeitam tais estágios e procurarem agir como agentes transmissores de conhecimento, estarão impingindo suas próprias realidades e não respeitando o individualismo de cada criança.

Mas a grande influência do construtivismo na escola e na sociedade não está apenas restrita à metodologia de ensino e à rejeição ao direcionamento, à transmissão de conhecimento. A filosofia foi desenvolvida ao longo de extensões lógicas dessas premissas, que se relacionam com as áreas de disciplina, valores e moral das pessoas, conceitos de certo e errado, e assim por diante. Essas implicações ficarão mais evidentes e claras na medida em que prosseguimos no nosso exame.

Professores e demais profissionais da área da educação com certeza não precisam dessas definições nem de esclarecimentos adicionais sobre o significado do construtivismo. Os seus conceitos são extremamente popularizados no meio pedagógico brasileiro. Esses profissionais não apenas devem ter estudado essa corrente de pensamento educacional em todos os seus anos de formação superior, como, possivelmente, absorveram e procuram aplicar essa filosofia como base de sua prática docente. Às demais pessoas, entretanto, o termo construtivismo poderá soar estranho ou destituído de significado. No entanto, essa filosofia educacional é, possivelmente, a filosofia corrente que tem maior alcance, abrangência ou influência na sociedade brasileira. A afirmação parece ousada e exagerada. Mas existe uma razão para ela ser feita – quando analisamos as escolas de primeiro grau, verificamos a aceitação praticamente universal por essas instituições de ensino, tanto as seculares como as de formação religiosa, até mesmo as conhecidas como evangélicas. Observando essa ampla aceitação podemos constatar como o construtivismo tem sido importante na formação de várias gerações de brasileiros e continua, com todo o ímpeto, formando os nossos filhos.

Inicialmente o construtivismo parecia mais o resultado de pesquisas educacionais destinado ao estabelecimento de uma nova metodologia de ensino. Mas, nas últimas décadas, a metodologia se consolidou em filosofia e abrangeu a questão da ética e da formação moral das crianças. Na medida em que as faculdades iam treinando educadores nos princípios do construtivismo, eles próprios agiam como agentes multiplicadores. Não somente foram sendo treinados no construtivismo, mas estabeleceram-se como polos de ensino, propagação e aplicação de seus conceitos. Em adição a isso, figuras de renome e pensadores de peso foram surgindo, trazendo com a sua fama a cristalização dos conceitos construtivistas, desenvolvendo essa filosofia de educação a níveis até inexplorados pelo próprio Piaget.

Realmente, precisamos pesquisar a resposta dessa pergunta pertinente – O que está acontecendo em nossas escolas? Será que a orientação concedida no lar está sendo, respeitada e reforçada, ou contestada e desafiada? Por quais padrões os meus filhos estão sendo ensinados?


Autor: Solano Portela

Presbítero e membro da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, São Paulo, graduado em Ciências Exatas (B.A em Artes 1971), fez o mestrado (Th. M) em Teologia Sistemática no Bíblical Tehological Seminary (EUA, 1974). Solano Portela, além de suas atividades no campo empresarial, em São Paulo, é professor, escritor, educador, tradutor e conferencista. É casado co Elizabeth Zekveld Portela e tem 3 filhos (David, Daniel e Darius) e uma filha (Grace).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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