George Whitefield foi um dos maiores evangelistas da história da igreja. Leia as seguintes palavras e observe seu apelo aos pecadores:
“Hoje, eu lhes ofereço a salvação. A porta da misericórdia ainda está aberta. Ainda existe um sacrifício que redime todo pecado, para aquele que receber a Jesus. Ele o envolverá nos braços do seu amor. Converta-se a Jesus, converta-se de sua indignidade; diga-Lhe que você é impuro, vil; não seja incrédulo, mas crente. Por que ter receio de que o Senhor Jesus não o receberá? Seus pecados não constituem um obstáculo; sua indignidade não é um impedimento. Se o seu coração corrompido não o impede de vir a Ele, nada impedirá a Cristo de recebê-lo. O Senhor Jesus se deleita em contemplar pecadores indignos vindo até Ele e se agrada em vê-los prostrarem-se aos seus pés, clamando pelo cumprimento de suas promessas. Se você vier a Cristo deste modo, Ele não o mandará embora, sem outogar-Lhe o seu Espírito. Pelo contrário, o Senhor Jesus o receberá e o abençoará. Não menospreze este amor infinito. Jesus deseja somente que você creia nEle, para que seja salvo. Isto é tudo o que o Salvador amado deseja, para torná-lo feliz: que você abandone seus pecados, a fim de assentar-se eternamente ao lado dEle, na ceia das bodas do Cordeiro.
Permita-me rogar-lhe que venha a Jesus e o receba como seu Senhor e Salvador. Ele está disposto a recebê-lo. Convido-o a vir a Ele, a fim encontrar descanso para sua alma. O Senhor Jesus se regozijará e exultará. Ele o chama por intermédio dos ministros do evangelho. Ó, venha a Jesus, que está agindo para libertá-lo do pecado e de Satanás e trazê-lo para Si mesmo. Abra a porta do seu coração, e o Rei da glória entrará. Meu coração está ardendo; tenho de falar, pois, do contrário, explodirei. Você acha que sua alma não tem valor algum? Considera-a indigna de ser salva? Seus prazeres são mais importantes do que sua alma? Você prefere os deleites da vida à salvação da sua alma? Se isto é verdade, você nunca participará da glória eterna, com Jesus. Mas, se vier a Jesus, Ele lhe concederá sua graça nesta vida e o levará à glória, no porvir. E você entoará louvores e aleluias para sempre. Desejo que este seja o destino feliz de todos os que me ouvem!”
George Whitefield era um calvinista firme. E uma coisa é certa: o calvinismo de Whitefield não diminuiu, de maneira alguma, o seu zelo pelas almas dos homens.
O que é o calvinismo?
O grande teólogo de Princeton, Dr. B. B. Warfield, descreveu assim o calvinismo:
“O calvinismo é o evangelismo em sua autêntica e única expressão; e, quando dizemos evangelismo, estamos incluindo pecado e salvação. Significa total dependência de Deus para a salvação; envolve a necessidade de salvação e um profundo senso desta necessidade, acompanhada por um senso igualmente profundo de nossa incapacidade de satisfazer esta necessidade e de nossa completa dependência de Deus para satisfazê-la. Encontramos uma ilustração desta verdade no publicano que bateu no peito e exclamou: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” Ele não questionou sua capacidade de salvar a si mesmo, ou de ajudar a Deus a salvá-lo, ou de abrir o caminho para que Deus o salvasse. Isto é calvinismo, não apenas algo parecido com o calvinismo, nem algo que se aproxima do calvinismo, e sim o calvinismo em sua manifestação vital. Onde se encontra esta atitude de coração e onde ela se manifesta em palavras diretas e indubitáveis, ali está o calvinismo. Onde se rejeita esta atitude de coração e mente, ali o calvinismo se torna impossível.
Em uma frase, o calvinista é o homem que vê a Deus. Ele obteve uma visão do Inefável e não permitirá que tal visão desapareça de seus olhos — Deus na natureza, Deus na História, Deus na graça. Em todos os lugares, o calvinista vê a Deus em seus fortes passos, sente a obra do poderoso braço de Deus e o pulsar do seu vigoroso coração. O calvinismo é apenas cristianismo. O sobrenaturalismo em favor do qual o calvinista permanece firme é a própria respiração do cristianismo. Sem ele, o cristianismo não existiria…. Portanto, em nossa opinião, o calvinismo surge como a única esperança do mundo.”
John A. Broadus, um dos importantes e respeitados pais dos batistas do Sul, descreveu o calvinismo de seu co-fundador do Seminário Batista do Sul, Dr. James P. Boyce, como nada menos do que um nome técnico para o “sublime sistema de verdades do apóstolo Paulo”.
Charles Haddon Spurgeon, o grande conquistador de almas, disse:
“Utilizamos o termo calvinista apenas por simplificação. A doutrina chamadacalvinismo não surgiu de João Calvino; cremos que ela procede do grande fundador de toda a verdade. Talvez o próprio Calvino a derivou principalmente dos escritos de Agostinho, que, sem dúvida, obteve das Escrituras as suas idéias, por intermédio do Espírito Santo de Deus, a partir de um estudo diligente dos escritos do apóstolo Paulo. E Paulo os recebeu do Espírito Santo e do próprio Senhor Jesus, o grande fundador da Igreja. Empregamos o termocalvinismo não porque atribuímos extraordinária importância ao fato de que Calvino ensinou estas doutrinas. Estaríamos sendo justos se lhes déssemos qualquer outro nome, se pudéssemos achar um nome que seria melhor compreendido e que seria consistente com os fatos.”
Spurgeon prossegue, dizendo:
“As antigas verdades que João Calvino pregou, que Agostinho pregou, é a verdade que eu prego hoje. Em caso contrário, seria falso para com a minha consciência e meu Deus. Não posso moldar a verdade; não conheço nada a respeito de lapidar as asperezas de uma doutrina. O evangelho de John Knox é o meu evangelho. E o evangelho que trovejou por toda a Escócia tem de trovejar novamente na Inglaterra.”
Várias atitudes para com o calvinismo
O assunto deste artigo suscita opiniões diferentes na mente das pessoas. A História já testemunhou muitas controvérsias sobre o calvinismo. Este assunto permanece em sua vital importância, no tempo presente. Isto é particularmente verdadeiro à luz do atual afastamento da ortodoxia histórica e bíblica. Infelizmente, muitas opiniões prejudiciais e agradáveis aos homens têm invadido cada aspecto da vida religiosa. Em quase todos os lugares, podemos encontrar pessoas fazendo a velha pergunta de Pilatos: “O que é a verdade?” Existem milhares de opiniões religiosas diferentes que servem como resposta a esta pergunta. Às vezes, esta pergunta é levantada pelos céticos, que duvidam até da existência de uma resposta objetiva. No entanto, esta pergunta é feita, com freqüência, por pessoas sérias que desejam encontrar a saída da confusão religiosa de nossos dias. Esperamos que você a encontre neste artigo.
Embora o cristianismo de nossos dias seja tão diversificado, podemos verificar que entre aqueles que podem ser razoavelmente chamados de cristãos existem apenas duas divisões. As práticas talvez sejam diferentes e pontos de vistas diversos podem ser mantidos, mas as posições fundamentais serão reconhecidas como derivadas de dois sistemas de teologia — calvinismo ou arminianismo. Estes são os termos modernos empregados para distinguir e descrever dois sistemas de pensamento e ensino teológicos amplamente diversos.
O verdadeiro cristianismo deve nos levar aos pés dos apóstolos e, na realidade, aos pés do próprio Senhor Jesus. O ponto de vista que afirmamos e defendemos em seguida, quando admitido corretamente, nos leva ao resultado que acabamos de mencionar.
Nós o chamamos de calvinismo, mas poderia com justiça ser chamado de agostinianismo. Também poderíamos retroceder as páginas da história eclesiástica e designá-lo paulinismo. Não importa o nome que lhe atribuamos, tal nome tem de ser considerado apenas uma conveniência que se tornou necessária por causa de sua aceitação generalizada. Nós mesmos consideramos a utilização deste nome como um erro que tem sido um meio de fomentar muitos sofismas, que surgem não somente em nossos dias, mas também no passado.
Existe em nossos dias um grande ressurgimento deste sublime e gloriosos sistema paulino de verdade bíblica — especialmente entre os batistas do Sul. Estar neste grupo equivale a retornar às nossas raízes doutrinárias. Os fundadores da Convenção Batista do Sul estavam imersos na torrente da verdade bíblica que levou a apóstolo a clamar: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.33-36)
Não vá além das Escrituras
A seguinte advertência deve servir de orientação para aqueles que desejam estudar o calvinismo:
“A importância deste assunto deve nos levar a prosseguir com profunda reverência e cautela. É verdade que os mistérios devem ser abordados com cuidado e que devemos evitar especulações infundadas e presunçosas a respeito das coisas de Deus; mas, se devemos proclamar o evangelho em sua pureza e plenitude, temos de ser cuidadosos em não reter dos crentes aquilo que está declarado nas Escrituras a respeito da verdade exposta pelo calvinismo. Devemos esperar que algumas destas verdades serão pervertidas e injuriadas. Embora o calvinismo seja ensinado com clareza nas Escrituras, a mente entenebrecida considera um absurdo o fato de que Deus existe em três pessoas ou que Ele preordenou todo o curso dos acontecimentos do mundo, de modo que incluísse o destino de cada pessoa. E, ainda que possamos saber do calvinismo apenas aquilo que Deus achou conveniente revelar, é importante conhecermos muito bem o que está revelado; pois, do contrário, Ele não o teria revelado. Devemos ir com segurança aonde as Escrituras nos conduzem.” (L. Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, pp. 54-55.)
Existem várias distorções por parte daqueles que não sabem realmente o que é o calvinismo bíblico. Muitos deles o chamam de hiper-calvinismo. Alguns acham que, se você crê no ponto de vista antinomiano da “segurança eterna’”, você é um calvinista e os demais ou são arminianos ou são hiper-calvinistas.
Sem dúvida, muitos calvinistas não evangelizam como deveriam. No entanto, isto não ocorre por causa do calvinismo, e sim por causa de um coração frio e indiferente. Muitos arminianos não evangelizam, mas isto também não ocorre por causa da doutrina na qual crêem, e sim por causa da frieza e indiferença de coração.
É verdade que o calvinismo aniquilará alguns tipos de evangelismo, tal como o evangelismo superficial e antibíblico, que é repulsivo aos calvinistas, mas nunca aniquilará o evangelismo bíblico. Isto significa que os calvinistas amam e aceitam o evangelismo verdadeiro, bíblico e centralizado em Deus.
O calvinismo aniquilará o evangelismo centralizado no homem. O verdadeiro calvinismo proporciona ao evangelismo o seu único e correto fundamento doutrinário. Além disso, o calvinismo garante sucesso ao evangelismo. Deus salva pecadores — isto é calvinismo. Deus não somente torna a salvação possível, Ele realmente salva de acordo com seu plano e por meio de seu poder.
A doutrina da eleição é vital ao evangelismo
A doutrina da eleição incondicional é um das doutrinas fundamentais do calvinismo. Devemos observar a distinção entre os meios e a causa.
Deus escolheu tanto os meios como os recipientes da salvação. A sua Palavra nos diz que Ele decidiu salvar seu próprio povo por intermédio da pregação e do testemunho. “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.”
Temos de lembrar que a pregação e a oração constituem os meios e não a causa por que alguém é salvo. A causa é o amor eletivo e incondicional de Deus. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira, que “todo aquele” crerá e não perecerá.
A quem se refere “todo aquele”?
“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim” (Jo 6.37).
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27).
Por alguns não crêem?
“Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10.26).
O Pai deu ao Filho algumas ovelhas e nos enviou a pregar, porque este é o meio que Ele utiliza para chamá-las. “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste” (Jo 17.2).
As ovelhas virão porque Cristo morreu por elas e orou em favor delas. “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.9). Jesus orou até pelas ovelhas que viriam, no futuro. “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por zntermédio da sua palavra;” (Jo 17.20); “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.24).
Por que o amor eletivo de Deus é tão importante para missionários e pregadores do evangelho? Porque esta é a doutrina que assegura o sucesso de nossos esforços missionários. Os grandes evangelistas da história da igreja criam na doutrina bíblica da eleição. Esta doutrina é um dos elementos essenciais do calvinismo.
Seria uma atitude sábia da parte dos batistas contemporâneos atentar à exortação do profeta: “Ouvi-me vós, os que procurais a justiça, os que buscais o Senhor; olhai para a rocha de que fostes cortados e para a caverna do poço de que fostes cavados” (Is 51.1).
Os israelitas foram ordenados a relembrar seu passado. A lembrança da misericórdia de Deus, demonstrada no passado, será proveitosa de muitas maneiras. Uma recordação do passado estimulará nossa gratidão; e o povo de Deus está sempre feliz, quando se mostra agradecido. Todavia, nesta época particular da História será proveitoso avaliarmos nosso alicerce doutrinário — “a rocha de que fostes cortados”. Uma honesta consideração do passado nos ensinará a importância da sã doutrina, especialmente como fundamento para a pregação do evangelho. Os batistas sempre tiveram zelo por missões e evangelismo.
Olhando ao passado e considerando os guerreiros da obra de evangelismo e missões, devemos perguntar: “O que aqueles homens criam a respeito de Deus, do homem, do pecado e da salvação?” É fácil descobrir que, em sua maioria, eles eram calvinistas, e seus esforços evangelísticos estavam fundamentados no calvinismo. A sã doutrina norteia toda a verdadeira adoração e o evangelismo; e isto é a essência do cristianismo. A doutrina não somente expressa a verdadeira experiência de conversão, mas também determina a mensagem e os métodos de evangelismo.
O fundamento doutrinário do evangelismo bíblico é tão importante à obra de evangelização quanto os ossos o são para o corpo humano. A doutrina outorga unidade e estabilidade.
O fundamento doutrinário produz o vigor espiritual que capacita o evangelismo a suportar as tempestades de oposição, crueldade e perseguição que freqüentemente o acompanham. Portanto, a igreja que negligencia o verdadeiro fundamento doutrinário do evangelismo bíblico logo enfraquecerá seus esforços evangelísticos.
A falta de um fundamento doutrinário militará contra a unidade, introduzindo o erro e a instabilidade em todos os esforços evangelísticos. É imprescindível que tenhamos um fundamento bíblico correto para o verdadeiro evangelismo centralizado em Deus.
A doutrina molda o nosso destino. Atualmente, estamos colhendo os frutos de um evangelismo não fundamentado nas Escrituras. O grande apóstolo, ao instruir um jovem pastor a respeito da obra de um evangelista, disse-lhe que a doutrina (o ensino) é o primeiro propósito das Escrituras: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino” (2 Tm 3.16).
Quando falamos a respeito de doutrina, não nos referimos a qualquer doutrina, e sim à doutrina que os fundadores de nosso primeiro seminário ensinavam e acreditavam. A doutrina que Boyce ensinou e na qual acreditava era o fundamento de sua devoção, que ele inspirou em outros.
A respeito de quais doutrinas estou falando? Estou falando a respeito daquelas doutrinas que foram definidas, expressas, defendidas e estruturadas pelo Sínodo de Dort, em 1618; as mesmas doutrinas apresentadas na Confissão de Fé de Westminster e no Catecismo de Heidelberg; aquelas doutrinas expressadas na antiga Confissão de Fé Batista de 1689, adotada posteriormente pela Associação da Filadélfia, da qual surgiu a Convenção Batista do Sul.
Estamos falando sobre as doutrinas preciosas que nos apresentam um Deus que salva; não a que apenas torna a salvação possível para pecadores, de alguma maneira, salvarem a si mesmos, por meio de uma decisão ou por cooperação em sua própria salvação. Falo de doutrinas que apontam para um Deus que realmente salva, de conformidade com seu plano e propósito, bem como por intermédio de seu poder.
Estou falando sobre as doutrinas que revelam os três grandes atos do Deus triúno em resgatar pecadores perdidos, ou seja:
1. O amor eletivo do Pai;
2. A poderosa redenção consumada pelo Filho;
3. A chamada eficaz pelo Espírito Santo.
Cada pessoa da Trindade age em favor da salvação do mesmo povo, assegurando infalivelmente a salvação desse povo.
Estas doutrinas fazem a salvação depender de Deus e não da capacidade do homem. Atribuem a Deus toda a glória pela salvação dos pecadores, não dividindo a glória entre Deus e os pecadores. Revelam que a História é apenas a realização do plano predeterminado de Deus. Revelam um Deus que é soberano na criação e na redenção — a Trindade trabalhando em harmonia para a salvação das ovelhas: Deus, o Pai, planejou a salvação; Deus, o Filho, arealizou; e Deus, o Espírito, transmite e aplica eficazmente a salvação. Não existe qualquer conflito na Trindade. As pessoas da Divindade trabalham juntas em favor do mesmo povo: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz”.
Não suportamos a idéia errônea de que Deus fez tudo que podia e agora espera passivamente, enquanto vê o que os soberanos pecadores fazem com um Jesus impotente e patético. Não, Deus realmente salva pecadores — a salvação vem do Senhor.
Os calvinistas crêem que a cruz não foi um lugar que apenas tornou possível a salvação; pelo contrário, a cruz assegura a salvação do povo de Deus (Is 53.11). Estas doutrinas mostram que a cruz revela o poder de Deus para salvar, e não a sua incapacidade de salvar. Deus não foi frustrado na cruz. Ali, Ele era o Mestre-de-Cerimônias. Conforme declarou o apóstolo Pedro: “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23).
Os calvinistas não crêem que o decreto de Deus para salvar o homem o deixa passivo ou inerte. Não! Não! O que acontece é o contrário! A aliança da graça não aniquila o homem, não o reputa um robô ou um ser inanimado. Ela toma posse do homem, conquista todo o seu ser, com todas as suas faculdades, e se apossa dos poderes de sua alma e de seu corpo — no presente e para sempre.
A graça soberana de Deus não aniquila os poderes do homem; pelo contrário,vence a incapacidade do homem. Não destrói a vontade do homem, mas liberta-a do pecado. Não sufoca nem oblitera a consciência do homem; em vez disso, livra-a das trevas. A graça soberana regenera e cria de novo o homem em sua totalidade; e, ao regenerá-lo, leva-o a amar a Deus e a consagrar-se espontaneamente a Ele.
Considerando o passado
Tenho uma antiga convicção de que, além da Bíblia, da qual extraímos tudo o que se refere a Deus e à alma, não existem outros livros que eu recomendaria, para uso devocional e experimental, mais do que os livros escritos por nossos pais calvinistas, tais como John Bunyan, Andrew Fuller, Charles Haddon Spurgeon, Basil Manly, James P. Boyce e John L. Dagg.
Considerando nosso passado e olhando para a rocha da qual fomos cortados, não podemos esquecer alguns homens da Convenção Batista do Sul, pais e líderes que eram calvinistas firmes e comprometidos:
Basil Manly — um historiador disse que Manly desempenhou o papel de regente em orquestrar os acontecimentos que resultaram no surgimento de uma convenção batista conservadora. Manly produziu um resolução bem elaborada em seis pontos que causou a separação entre os batistas do Norte e os do Sul. Esta resolução foi aprovada por unanimidade. Basil Manly era um calvinista de primeira ordem.
James P. Boyce — este foi um dos principais fundadores de nosso primeiro seminário. Depois de sua morte, um de seus ex-alunos, Dr. David Ramsey, fez uma preleção na comemoração do Dia dos Fundadores, em 11 janeiro de 1924. Sua mensagem se intitulava “James Petigru Boyce: God´s Gentleman” (James P. Boyce, o Homem Nobre de Deus). Poucas citações da preleção do Dr. Ramsey contarão a história de que Boyce era um calvinista que amava a alma dos homens.
Dr. Ramsey disse: “Minha contenção é que nenhuma outra teologia, além daquela que envolve um amor avassalador e consumidor pela alma dos homens, pode explicar a vida e o ministério de James P. Boyce. Este amor apaixonado era o motivo que direcionava sua maneira de pensar naquelas primeiras conferências e na preparação daqueles artigos que levaram ao estabelecimento do seminário.
O propósito de ajudar seus colegas permeava todos os seus planos, sua conversa, seus escritos, sua pregação e seu ensino.
O zelo pelas almas exigiu o melhor de seu ser, assim como o sol faz as plantas e flores sobrecarregadas de orvalho se curvarem ao deus do dia.”
O Dr. Boyce não somente amava os homens, mas também a Deus. O Dr. Ransey disse, a respeito deste assunto: “Isto se refere tanto ao amor subjetivo como ao amor objetivo — o amor dos homens para com Deus e o amor de Deus para com os homens”.
Os amigos íntimos de Boyce e cooperadores no estabelecimento do seminário expressaram seus sentimentos a respeito da teologia de Boyce: “Tivemos o grande privilégio de ser dirigidos e instruídos por tal professor no estudo do sublime conjunto de doutrinas do apóstolo Paulo, que, tecnicamente, se chama calvinismo. Este conjunto de doutrinas compele o estudante zeloso a um raciocínio profundo. E, quando o estudo é ministrado por alguém que combina o pensamento sistemático com a experiência fervorosa, tal estudo deixa o aluno à vontade em meio aos mais inspiradores e elevados pontos de vista a respeito de Deus e do universo que Ele criou”.
O legado de Boyce à nossa posteridade é a teologia bíblica expressa emAbstract of Systematic Theology (Síntese de Teologia Sistemática), que não expressa outra coisa, além do que ele ensinava em classe. É o puro calvinismo.
William A. Muller, autor de A History of Southern Baptist Theological Seminary(História do Seminário Teológico Batista do Sul), disse: “Como teólogo, o Dr. Boyce não teve medo de permanecer nas ‘veredas antigas’. Ele era conservador e eminentemente bíblico. Abordava com muita eqüidade pontos de vista que, discutidos os seus diversos aspectos, ele se recusava a aceitar. Apesar disso, seu ensino era decisivamente calvinista, de acordo com o modelo dos ‘antigos teólogos’. Ele abordava as dificuldades relacionadas a certas doutrinas (tais como: Adão – o cabeça de toda a raça humana, a eleição e a expiação) não com o objetivo de silenciar a controvérsia, mas com o propósito de auxiliar o inquiridor sincero.
O Rev. E. E. Folk, escrevendo no Baptist Reflector (Refletor Batista), comentou a respeito das habilidades e dos resultados de Boyce como professor de teologia: “Você tinha de conhecer bem sua própria teologia sistemática, pois, do contrário, não poderia apresentá-la ao Dr. Boyce. E, embora muitos dos jovens seminaristas fossem arminianos, quando chegavam ao seminário, poucos terminavam o curso sem converterem-se às fortes posições do Dr. Boyce, no transcorrer do curso ministrado por ele”. James P. Boyce era um calvinista convicto.
W. B. Johnson, primeiro presidente da Convenção Batista do Sul, era calvinista.
R. B. C. Howell, segundo presidente da Convenção Batista do Sul, era calvinista.
Richard Fuller, terceiro presidente da Convenção, era calvinista.
Patrick Hues Mell, conhecido como “o Príncipe dos Parlamentares”, era professor de grego e latim na Universidade Mercer (Geórgia). Uma das coisas admiráveis a respeito de Mell é que ele foi o presidente da Convenção por dezessete vezes (duas vezes mais do que qualquer outro homem). Mell era um defensor polêmico do calvinismo. A Sra. D. B. Fitzgerald, que morou vários anos na casa de Mell e era membro da Igreja Antioquia, recordou os esforços iniciais dele na igreja:
“Quando chamado a assumir o pastorado da igreja, o Dr. Mell a encontrou em um estado de confusão. Ele disse que certo número de membros estava se desviando para o arminianismo. Ele amava muito a verdade e não poderia respirar dois ares ao mesmo tempo. A igreja era batista e tinha de afirmar as doutrinas peculiares que a denominação lhe havia ensinado. Com aquela ousadia, clareza e vigor de linguagem que o caracterizava, ele pregava aos membros as doutrinas da predestinação, da eleição, da graça gratuita, etc. Dr. Mell disse que sempre tinha de pregar a verdade como a encontrava na Palavra de Deus e deixar o restante com Deus, sentindo que Ele cuidaria dos resultados” (A Southern Baptist Looks at the Doctrine of Predestination – Um Batista do Sul Considera a Doutrina da Predestinação), pp. 58, 59).
Poderíamos multiplicar os nomes de líderes batistas do Sul que eram calvinistas comprometidos e firmes no evangelismo. No entanto, apenas mais um nome será suficiente.
John A. Broadus, um grande pregador e um dos fundadores de nosso seminário, disse: “Aqueles que zombam do que chamamos calvinismo, deveriam também zombar do Monte Blanc. Não pretendemos defender todos os atos e opiniões de Calvino. Entretanto, não compreendo como alguém que realmente entende o grego do apóstolo Paulo ou o latim de Calvino e de Turrentino pode deixar de perceber que estes apenas interpretaram e estruturaram o que o apóstolo ensinou”.
Desde os dias dos apóstolos, nenhum evangelista ou pregador jamais enfatizou tanto a absoluta soberania de Deus como o fez Jonathan Edwards, o grande ganhador de almas. E os atuais promotores do evangelismo centralizado no homem talvez fiquem surpresos, ao descobrirem que a pregação da soberania de Deus produziu muitos frutos. Durante o ministério de Edwards, o avivamento varreu a sua igreja. Ele disse: “Descobri que nenhuma outra mensagem foi mais poderosamente abençoada do que as mensagens em que enfatizamos a doutrina da absoluta soberania de Deus na salvação dos pecadores”.
O Dr. Martin Lloyd-Jones foi um homem que, com alcance internacional, fez mais do que muitos outros em favor do evangelismo bíblico. Ele se via primeiramente como um evangelista. Aqueles que o conheciam de perto também o viam desta maneira. A Sra. Lloyd-Jones foi apresentada, em certa ocasião, a um grupo de homens que, na ausência de seu esposo, elogiavam as habilidades dele. Enquanto os ouvia, a Sra. Lloyd-Jones observou que eles estavam esquecendo a principal característica do ministério de seu esposo e os surpreendeu, afirmando com tranqüilidade: “Ninguém entenderá meu esposo, se não reconhecer que, em primeiro lugar, ele foi um homem de oração e, depois, um evangelista”.
Por ser um calvinista convicto, o Dr. Lloyd-Jones se opunha a algumas das características mais populares do evangelismo moderno. Isto levou alguns que se sentiam desagradáveis com a firmeza do Dr. Lloyd-Jones a alegar que ele era um “professor e não um evangelista”. Em certa ocasião, um crítico desafiou o comprometimento de Lloyd-Jones com o evangelismo, fazendo a seguinte pergunta: “Quando vocês realizaram a última campanha de evangelização na Capela de Westminster”. A resposta de Lloyd-Jones não tinha propósitos humorísticos: “Realizamos campanha todos os domingos”. Quando preparava alunos para o ministério pastoral, ele disse: “Contesto com firmeza e insisto que toda igreja deveria realizar um culto evangelístico todas as semanas”. No ministério de Lloyd-Jones, era o culto de domingo à noite que satisfazia este propósito. Ele manteve essa prática desde o inicio do seu ministério, em 1927, até que o concluiu em 1968.
Onde está a esperança de sucesso no evangelismo?
O calvinismo é a certeza de que seremos bem-sucedidos na obra de evangelismo. É o fundamento e a esperança dos esforços missionários. Se a esperança de pregadores e missionários estivesse no poder e habilidade de converterem pecadores, ou se nossa esperança estivesse no poder e habilidade de os pecadores mortos vivificarem a si mesmos, deveríamos nos desesperar. Mas, quando a esperança dos resultados do trabalho de um obreiro de Deus está na obra do Espírito Santo, o único que pode outorgar vida espiritual, trabalhamos com a expectativa de que Deus fará aquilo que nenhum pregador é capaz de fazer. Podemos estar certos de que Ele chamará eficazmente as suas ovelhas, pelo seu poder, de acordo com a sua vontade, por intermédio da oração e da pregação da Palavra.
Grande parte da confusão moderna a respeito do calvinismo resulta de distorções de seus ensinos. Por esta razão, é vital compreendermos o que o calvinismo não ensina.
O que o calvinismo não é
O calvinismo não é antimissionário. Pelo contrário, o calvinismo fornece o alicerce bíblico para missões (Jo 6.37; 17.20,21; 2 Tm 2.10; Is 55.11; 2 Pe 3.9,15).
O calvinismo não destrói a responsabilidade do homem. Os homens são responsáveis por toda luz que possuem, quer seja a consciência (Rm 2.15), quer seja a natureza (Rm 1.19,20), quer seja a Lei escrita (Rm 2.17-27), quer seja o evangelho (Mc 16.15,16). A incapacidade do homem para fazer o que é reto não o isenta de responsabilidade, assim como esta mesma incapacidade em Satanás não o isenta de responsabilidade.
O calvinismo não torna Deus injusto. A salvação que Ele outorga a incontáveis hostes de pecadores indignos não é uma injustiça para com os demais pecadores indignos (1 Ts 5.9).
O calvinismo não desestimula pecadores convencidos, mas os incentiva a virem a Cristo. “Aquele que tem sede venha” (Ap 22.17). O Deus que convence é o Deus que salva. O Deus que salva é o mesmo que elegeu homens para a salvação. É o mesmo Deus que os convida.
O calvinismo não desestimula a oração. Pelo contrário, o calvinismo nos impulsiona a buscarmos a Deus, pois Ele é o único que pode salvar. A verdadeira oração é motivada pelo Espírito Santo e, por esta razão, está em harmonia com a vontade de Deus (Rm 8.26).
Palavra de Cautela
1. Não é prudente fazer comentários depreciativos a respeito do que a Bíblia ensina, quer você o entenda, quer não.
2. Não é prudente rejeitar o que a Bíblia ensina a respeito de qualquer assunto, especialmente se você não tem estudado o que as Escrituras dizem a respeito daquele assunto.
3. Não é prudente transformar qualquer doutrina em um assunto predileto. Embora a doutrina tenha vital importância, não pode ser separada de toda a verdade do cristianismo.
4. Não é prudente rejeitar qualquer doutrina somente porque ela tem sofrido abusos, tem sido mal utilizada ou confundida. Todas as principais doutrinas da Bíblia têm sido pervertidas e utilizadas com abuso.
5. Não é prudente tentar aprender o que é um calvinista daqueles que não são calvinistas.