domingo, 28 de abril

O que você ensina no Ministério Infantil?

Pedro, 30 anos, pai de duas crianças pré-escolares, olha para uma sala com sete crianças de seis anos. Com grande expectativa, ele se ergue em uma cadeira e grita com uma voz forte: “Eu sou o gigante Golias. Quem aqui acredita que é forte o suficiente para lutar comigo?”. As crianças são instantaneamente capturadas pela dramatização, e várias levantam as mãos para se voluntariar. A aula segue com Pedro ensinando-as a nunca ter medo dos gigantes em suas vidas. As crianças balançam suas fundas imaginárias com todas as suas forças e deixam suas pedras de mentira voarem. Então eles observam como Pedro cai lentamente em um dramático movimento até o chão e, em seguida, lidera a classe em uma comemoração. “Nós conseguimos! Nós vencemos! Obrigado, Deus!”

As crianças retornam aos seus assentos e pintam Davi e Golias em suas folhas, enquanto Pedro passa de mesa em mesa para ajudar a classe a escrever seus nomes no canto superior direito. A turma ainda está agitada quando os pais voltam para pegar seus filhos. “Então, o que vocês aprenderam hoje?”, Jennifer pergunta à sua filha de seis anos, Keila.

A menina grita sua resposta: “Nós vencemos o gigante Golias! Nós vencemos, mamãe, nós vencemos!”.

Pedro acrescenta rapidamente: “Deus nos ajuda a lutar contra os gigantes. Não é, Keila?”. Ele garante que Keila se lembre de que Deus está por trás de cada vitória.

Keila assente com a cabeça e pega a mão de sua mãe. Jennifer a leva pelo corredor e sai pela porta dos fundos. Ela está agradecida. “Estou tão feliz por ter começado a vir a esta igreja. Pedro é um grande professor.”

Pedro observa enquanto o último dos garotos sai da sala de aula. Ele está feliz em ensinar, mas ele se pergunta o quanto sua lição terá uma influência duradoura sobre as crianças.

O que está certo ou errado no que Pedro fez aqui?

Você está construindo sobre um fundamento sólido?

Ao longo do ano passado, bem atrás de nossa casa, eu (Deepak) assisti aos trabalhadores construírem cinco casas de tijolos de três andares. Nossa família tinha um lugar na primeira fileira para acompanhar tudo. Antes de começarem a construir, eles cavaram e estabeleceram uma fundação sólida.

Antes de respondermos à pergunta sobre o Pedro (“O que está certo ou errado no que Pedro fez aqui?”), vamos definir alguns blocos de construção para o ministério infantil, como a base para um edifício. Tudo que você faz se firma sobre algum tipo de fundação. Quando os tsunamis da vida vêm arrasando, edifícios com fundações defeituosas desmoronarão, como uma casa de brinquedos atingida por uma marreta. Seu edifício fica de pé ou cai com base na qualidade de sua fundação.

Dois fundamentos cruciais estabilizam o ministério infantil: a autoridade da Bíblia e a prioridade do evangelho.

Primeiro fundamento: a autoridade da Bíblia

O primeiro fundamento para o ministério infantil — na verdade, a pedra angular de tudo — é a autoridade da Bíblia. 2 Timóteo 3.16-17 nos lembra: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.

A Bíblia não é um livro qualquer. É o livro dos livros. É a norma de todas as normas. É inspirada por Deus. Deus é o autor. O texto foi moldado, definido e escrito por Deus, embora o Senhor tenha usado humanos como meio para escrevê-la. Ele está por trás dos homens que inspirou a escrever. A Bíblia tem autoridade porque Deus — que é a autoridade suprema neste universo — a escreveu. Então, quando a Bíblia fala, Deus fala. Um e outro são iguais.

À luz dessa verdade, podemos extrair duas implicações.

  1. Porque a Bíblia é a própria Palavra de Deus, ela é confiável e verdadeira, inerrante.

Não precisamos de uma Bíblia de Thomas Jefferson. O fundador dos Estados Unidos usou uma tesoura e cola para juntar as partes da Bíblia que ele gostava. Ele se livrou de todas as partes que não gostava. O resultado foi uma Bíblia que ele mesmo criou. Jefferson não acreditava em milagres (incluindo a ressurreição), então ele literalmente os cortou.

Ao contrário de Jefferson, cremos que cada livro da Bíblia é digno da atenção de nossos filhos, porque todos vêm de Deus. Embora as crianças se atraiam mais por histórias, não podemos evitar usar os Salmos, profetas ou epístolas do Novo Testamento. Não devemos criar nossa própria “Bíblia de Jefferson”, cortando as partes sobre pecado e julgamento ou tentando desvendar os milagres de Jesus. Toda a Escritura é útil para o ensino!

  1. Tudo o que fazemos deve ser moldado pela Bíblia, porque ela é a própria Palavra de Deus.

Essa segunda implicação flui da primeira. Se a Bíblia é escrita por Deus, então devemos seguir o que ela diz. O que Deus valoriza, devemos valorizar. O que Deus odeia, nós odiamos. Suas prioridades devem ser nossas prioridades. Se Deus nos diz para amá-lo acima de tudo, para servir aos outros, para negar a nós mesmos, para fazer sacrifícios, então mostramos que confiamos nele seguindo tudo o que ele ordena.

A verdade das Escrituras deve colorir tudo o que dizemos e fazemos na sala de aula. Quando o fio de lã cru é tingido, os trabalhadores mergulham todo o novelo no tanque de tinta. Um respingo aqui e ali não é suficiente. O objetivo é que a cor permeie cada fibra. É assim que devemos usar a Bíblia em nossa sala de aula. As Escrituras devem moldar o que ensinamos, o que cantamos, os jogos que jogamos e as ilustrações que usamos para apresentar nossas lições. Nossas crianças são a lã que mergulhamos no tanque da verdade da Bíblia para que ela penetre em seu coração e alma.

Você quer que os pensamentos de Deus, as palavras de Deus e o amor de Deus ecoem por todo o seu trabalho.

Não devemos permitir que nossos pontos de vista, opiniões ou filosofia de vida superem o que o texto bíblico diz. A Bíblia deve ser o batimento cardíaco de seu trabalho.

Aplicamos o que a Bíblia diz às nossas vidas e permitimos que ela molde como vivemos. Se você permitir que a Bíblia determine seu ensino e permeie tudo o que você faz, estará construindo uma base sólida para o seu ministério. Parabéns, essa é uma ótima maneira de começar!

Segundo fundamento: o evangelho

A segunda pedra angular é o evangelho. Evangelho significa “boas novas”. É a boa notícia de Deus sobre seu único Filho, Jesus Cristo.

Esse evangelho é o tema geral do plano de salvação de Deus; ele perpassa toda a Bíblia. Quando você aprende a reconhecê-lo, pode ver como cada história se conecta ao quadro maior do evangelho. A aplicação do evangelho é o objetivo de cada história. Queremos que nossas crianças conheçam a Deus pessoalmente por meio de seu Filho, Jesus.

Considere as palavras do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 2.2: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado”. Ele diz aos coríntios que ele não ensinou com discurso eloquente ou qualquer tipo de sabedoria mundana (v. 1). O foco de seu ministério era proclamar a morte de Jesus em uma cruz no Calvário. De fato, todo o cristianismo pode ser resumido em quatro palavras: Cristo morreu por pecadores.

O plano de resgate de Deus pode ser resumido com apenas quatro palavras: DEUS, HOMEM, CRISTO e RESPOSTA.

Deus. Deus criou homem e mulher e os colocou no Éden, seu paraíso perfeito (Gn 1.26-28; 2.15).

Homem. Adão e Eva pecaram. Eles se rebelaram contra Deus e duvidaram de seu comando (Gn 3). Eles escolheram confiar nas palavras de Satanás em vez de nas de Deus. O pecado é nossa violação da lei de Deus. Toda a humanidade virou as costas para Deus; todos nós declaramos que queremos viver a vida do nosso jeito (Is 53.6).

Cristo. Deus enviou seu único Filho, Jesus, para nos redimir. Ele assumiu o castigo que merecíamos, suportou a ira de Deus, e então ressuscitou ao terceiro dia, quando Deus o declarou vitorioso sobre a própria morte (Mc 10.45; Rm 3.21-26; 6.9).

Resposta. O que é exigido de todos nós (incluindo nossos filhos) é uma resposta a essa verdade (Jo 1.12; At 17.30). Não podemos ignorá-la ou suprimi-la. Devemos decidir se daremos nossa vida a Cristo, como nosso Senhor e Salvador, ou se o rejeitaremos.

Ensinamos o plano de salvação de Deus aos nossos filhos. O desafio é enorme. Se diluirmos o evangelho ou o substituirmos por uma lição moral, privamos nossos filhos do verdadeiro poder de Deus. O apóstolo Paulo disse que o evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Nossa salvação está enraizada em crer e confiar na morte substitutiva de Jesus; isto é, que Jesus absorveu a ira de Deus contra nosso pecado na cruz. Tire isso de uma lição bíblica, e você tira o poder de Deus da história e deixa seus filhos vazios. Há muitas pessoas que vão à igreja, tentam seguir os Dez Mandamentos e fazer boas ações, mas que não estão confiando em Cristo para a sua salvação. Elas permanecem perdidas.

É através do evangelho que nossas crianças passam a conhecer a Deus e a encontrar alegria, paz e contentamento que transcendem suas circunstâncias. É assim que nossa esperança viva é transmitida para a próxima geração. Porque somente o evangelho tem o poder de Deus para salvar, ele é a chave para garantir que nossos filhos um dia estarão com Deus no céu e se juntarão a nós em nossa missão de alcançar os perdidos (caso contrário, eles passarão a eternidade no inferno longe do Senhor).

Devemos ensinar o evangelho. Não temos escolha. A eternidade está em jogo.

Vamos agora responder à nossa pergunta original: O que está certo ou errado no que Pedro fez na lição no início deste capítulo? Pedro certamente deu tudo de si em sua imitação de Golias. Claramente, ele se preocupa com as crianças em sua sala de aula. Mas Pedro se esqueceu do evangelho ao recontar a história. Ele pegou a famosa história sobre Davi e Golias e a transformou em azarões derrotando os campeões. O baixinho vence o gigante grande e mau. Devemos enfrentar os “Golias” de nossos dias — o que quer que seja grande e assustador em nossa vida, seja um valentão na escola ou uma doença em casa. Era esse realmente o objetivo desta história de 1 Samuel 17? Em nossa avaliação, a lição de Pedro não é melhor do que conselhos proverbiais genéricos que você recebe de um biscoito da sorte ou de um treinador do ensino médio no vestiário (“Eu sei que temos um histórico de derrotas, mas podemos vencer os atuais campeões!”). Quando Pedro tirou os olhos de seu roteiro e deu às crianças sua própria interpretação da história, ele a transformou em uma lição moral moderna sobre como vencer as coisas grandes e ruins em sua vida — valentões, doenças ou coisas assim. Ele entendeu errado.

Uma olhada cuidadosa em 1 Samuel 17 mostra qual é o ponto da história: em nossa fraqueza, devemos lutar para preservar a honra do Senhor em todas as coisas.

  1. Golias desafia os exércitos do Deus vivo (v. 26-36). Como pecadores, muitas vezes fazemos o mesmo; desafiamos a Deus e seus caminhos.
  2. Davi nos mostra como deve ser a fé: como é confiar em Deus, mesmo quando as circunstâncias são sombrias (v. 46-47). A libertação passada de Deus é a base da nossa esperança de que ele continuará a nos preservar (v. 37).
  3. A fraqueza de Davi mostra a força de Deus (v. 28-40). Apesar de o irmão mais velho de Davi, Eliabe (v. 28) e Saul desprezarem Davi (v. 33), a confiança de Davi estava no Senhor (v. 37). Saul tentou compensar o tamanho ou força menor de Davi (em comparação com Golias), dando a Davi sua própria armadura (v. 38; 39).
  4. Davi não é o herói da história; Deus é. Deus é o grande libertador de Israel. A esperança de Davi está no Senhor, não na sua própria força. Assim, também, é em Deus que devemos colocar nossa esperança. Essa história não é sobre caras pequenos vencendo gigantes grandes e maus. É sobre Deus, que entregará o gigante nas mãos de Davi (“Hoje mesmo, o SENHOR te entregará nas minhas mãos, v. 46).
  5. Davi prenuncia Jesus. Golias pede um representante para se colocar em lugar de todo o Israel. Nenhum israelita confia em Deus. Eles ficam pelos cantos, com medo de lutar. Eles precisam que Deus providencie um salvador, e Deus provê o jovem Davi. Ao recontar a história, não devemos nos comparar a Davi. Devemos nos comparar com os israelitas pecadores que precisavam de um resgate. Jesus veio, nascido na cidade de Davi, da linhagem real de Davi, como um homem que representaria os pecadores (isto é, todos nós) e venceria a batalha sobre o pecado e a morte (Rm 5.15). Todos que colocam sua esperança e confiança em Jesus compartilham a vitória de Cristo e viverão para sempre no céu com Deus.

Se um de seus professores ensinasse 1 Samuel 17 no próximo domingo no ministério infantil, o que ele diria? Ensinaria uma lição moral ou conectaria a história com a verdade do evangelho? Quais seriam os principais pontos que ele comunicaria sobre esse texto? Aqui está o nosso desafio para você: indicar esse texto a um de seus professores e ver o que acontece. Pode ser instrutivo.

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O trecho acima foi extraído com permissão do livro Ministério Infantil, de Deepak Reju e Marty Machowski, Editora Fiel.

 


Autor: Deepak Reju

Deepak Reju é pastor auxiliar na Capitol Hill Baptist Church em Washington, DC. Reju serve na área de aconselhamento e famílias.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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