segunda-feira, 23 de dezembro
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Por que precisamos dos puritanos

O hipismo é conhecido como esporte de reis. O esporte do “atiralama”, porém, possui mais ampla adesão. Ridicularizar os Puritanos,em particular, há muito é passatempo popular nos dois lados do Atlântico,e a imagem que a maioria das pessoas tem do Puritanismo ainda contém bastante da deformadora sujeira que necessita ser raspada. “Puritano”, como um nome, era, de fato, lama desde o começo. Cunhado cedo, nos anos 1560, sempre foi um palavra satírica e ofensiva, subentendendo mau humor, censura, presunção e certa medida de hipocrisia, acima e além da sua implicação básica de descontentamento, motivado pela religião, para com aquilo que era visto como a laodicense e comprometedora Igreja da Inglaterra, de Elizabeth. Mais tarde, a palavra ganhou a conotação política adicional de ser contra a monarquia Stuart e a favor de algum tipo de republicanismo; sua primeira referência, no entanto, ainda era ao que se via como um forma estranha, furiosa e feia de religião protestante. Na Inglaterra, o sentimento antipuritano disparou no tempo da Restauração e tem fluído livremente desde então; na América do Norte edificou-se lentamente, após os dias de Jonathan Edwards, para atingir seu zênite há cem anos atrás na Nova Inglaterra pós-Puritana. No último meio século, porém, estudiosos têm limpado a lama meticulosamente.

E, como os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina têm cores pouco familiares depois que os restauradores removeram o verniz escuro, assim a imagem convencional dos Puritanos foi radicalmente recuperada, ao menos para os informados. (Aliás, o conhecimento hoje viaja devagar em certas regiões.) Ensinados por Perry Miller, William Haller, Marshall Knappen, Percy Scholes, Edmund Morgan e uma série de pesquisadores mais recentes, pessoas bem informadas agora reconhecem que os Puritanos típicos não eram homens selvagens, ferozes e monstruosos fanáticos religiosos, e extremistas sociais, mas sóbrios, conscienciosos, cidadãos de cultura, pessoas de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas virtudes domésticas e sem grandes defeitos, exceto a tendência de usar muitas palavras ao dizer qualquer coisa importante, a Deus ou ao homem. Afinal está sendo consertado o engano.

Mas, mesmo assim, a sugestão de que necessitamos dos Puritanos — nós, ocidentais do final do século vinte, com toda nossa sofisticação e maestria de técnica tanto no campo secular como no sagrado — poderá erguer algumas sobrancelhas. Resiste a crença de que os Puritanos, mesmo se fossem de fato cidadãos responsáveis, eram ao mesmo tempo cômicos e patéticos, sendo ingênuos e supersticiosos, super-escrupulosos, mestres em detalhes e incapazes ou relutantes em relaxarem. Pergunta-se: O que estes zelotes nos poderiam dar do que precisamos? A resposta é, em uma palavra, maturidade. A maturidade é uma composição de sabedoria, boa vontade, maleabilidade e criatividade. Os Puritanos exemplificavam a maturidade; nós não. Um líder bem viajado, um americano nativo, declarou que o protestantismo norte-americano— centrado no homem, manipulativo, orientado pelo sucesso, auto-indulgente e sentimental como é, patentemente — mede cinco mil quilômetros de largura e um centímetro de profundidade. Somos anões espirituais. Os Puritanos, em contraste, como um corpo eram gigantes. Eram grandes almas servindo a um grande Deus.

Neles, a paixão sóbria e a terna compaixão combinavam. Visionários e práticos, idealistas e também realistas, dirigidos por objetivos e metódicos, eram grandes crentes, grandes esperançosos, grandes realizadores e grandes sofredores. Mas seus sofrimentos, de ambos os lados do oceano (na velha Inglaterra pelas autoridades e na Nova Inglaterra pelo clima), os temperaram e amadureceram até que ganharam uma estatura nada menos do que heróica. Conforto e luxo, tais como nossa afluência hoje nos traz, não levam à maturidade; dureza e luta, sim, e as batalhas dos Puritanos contra os desertos evangélico e climático onde Deus os colocou produziram uma virilidade de caráter, inviolável e invencível, erguendo-se acima de desânimo e temores, para os quais os verdadeiros precedentes e modelos são homens como Moisés e Neemias, Pedro, depois do Pentecoste, e o apóstolo Paulo.

A guerra espiritual fez dos Puritanos o que eles foram. Eles aceitaram o antagonismo como seu chamado, vendo a si mesmos como os soldados peregrinos do seu Senhor, exatamente como na alegoria de Bunyan, sem esperarem poder avançar um só passo sem oposição de uma espécie ou outra. John Geree, no seu folheto “O Caráter de um Velho Puritano Inglês ou Inconformista” (1646), afirma: “Toda sua vida ele a tinha como uma guerra onde Cristo era seu capitão; suas armas: orações e lágrimas. A cruz, seu estandarte; e sua palavra [lema], Vincit qui patitur [o que sofre, conquista]”.

Os Puritanos perderam, em certa medida, toda batalha pública em que lutaram. Aqueles que ficaram na Inglaterra não mudaram a igreja da Inglaterra como esperavam fazer, nem reavivaram mais do que uma minoria dos seus partidários e eventualmente foram conduzidos para fora do anglicanismo por meio de calculada pressão sobre suas consciências. Aqueles que atravessaram o Atlântico falharam em estabelecer Nova Jerusalém na Nova Inglaterra; durante os primeiros cinqüenta anos suas pequenas colônias mal sobreviveram, segurando-se por um fio. Mas a vitória moral e a espiritual que os Puritanos conquistaram permanecendo dóceis, pacíficos, pacientes, obedientes e esperançosos sob contínuas e aparentemente intoleráveis pressões e frustrações, dão-lhes lugar de alta honra no “hall” de fama dos crentes, onde Hebreus 11 é a primeira galeria. Foi desta constante experiência de forno que forjou-se sua maturidade, e sua sabedoria relativa ao discipulado foi refinada. George Whitefield, o evangelista, escreveu sobre eles como se segue:

Ministros nunca escrevem ou pregam tão bem como quando debaixo da cruz; o Espírito de Cristo e de glória paira então sobre eles. Foi isto sem dúvida que fez dos Puritanos… as lâmpadas ardentes e brilhantes. Quando expulsos pelo sombrio Ato Bartolomeu (o Ato de Uniformidade de 1662) e removidos dos seus respectivos cargos para irem pregar em celeiros e nos campos, nas rodovias e sebes, eles escreveram e pregaram como homens de autoridade. Embora mortos, pelos seus escritos eles ainda falam; uma unção peculiar lhes atende nesta mesma hora… Estas palavras vêm do prefácio de uma reedição dos trabalhos de Bunyan que surgiu em 1767; mas a unção continua, a autoridade ainda é sentida, e a amadurecida sabedoria permanece empolgante, como todos os modernos leitores do Puritanismo cedo descobrem por si mesmos. Através do legado desta literatura, os Puritanos podem nos ajudar hoje na direção da maturidade que eles conheceram e que precisamos. De que maneiras podemos fazer isto? Deixe-me sugerir alguns pontos específicos. Primeiro, há lições para nós na integração das suas vidas diárias. Como seu cristianismo era totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu estilo de vida de “holístico”: toda conscientização, atividade e prazer, todo “emprego das criaturas” e desenvolvimento de poderes pessoais e criatividade, integravam- se na única finalidade de honrar a Deus, apreciando todos os seus dons e tomando tudo em “santidade ao Senhor’’. Para eles não havia disjunção entre o sagrado e o secular; toda a criação, até onde conheciam, era sagrada, e todas as atividades, de qualquer tipo, deviam ser santificadas, ou seja, feitas para a glória de Deus. Assim, no seu ardor elevado aos céus, os Puritanos tornaram- se homens e mulheres de ordem, sóbrios e simples, de oração, decididos, práticos. Viam a vida como um todo, integravam a contemplação com a ação, culto com trabalho, labor com descanso, amor a Deus com amor ao próximo e a si mesmo, a identidade pessoal com a social e um amplo espectro de responsabilidades relacionadas umas com as outras, de forma totalmente consciente e pensada.

Nessa minuciosidade eram extremos, diga-se, muito mais rigorosos do que somos, mas ao misturar toda a variedade de deveres cristãos expostos na Escritura eram extremamente equilibrados. Viviam com “método” (diríamos, com uma regra de vida), planejando e dividindo seu tempo com cuidado, nem tanto para afastar as coisas ruins como para ter certeza de incluir todas as coisas boas e importantes — sabedoria necessária, tanto naquela época como agora, para pessoas ocupadas! Nós hoje que tendemos a viver vidas sem planejamento, ao acaso, em uma série de compartimentos incomunicantes e que, portanto, nos sentimos sufocados e distraídos a maior parte do tempo, poderíamos aprender muito com os Puritanos nesse ponto. Em segundo lugar, há lições para nós na qualidade de sua experiência espiritual. Na comunhão dos Puritanos com Deus, assim como Jesus era central, a Sagrada Escritura era suprema. Pela Escritura, como a Palavra de instrução de Deus sobre relacionamento divino-humano, buscavam viver, e aqui também eram conscienciosamente metódicos. Reconhecendo- se como criaturas de pensamento, afeição e vontade, e sabendo que o caminho de Deus até o coração (a vontade) é via cabeça humana (a mente), os Puritanos praticavam meditação, discursiva e sistemática, em toda a amplitude da verdade bíblica, conforme a viam aplicando- se a eles mesmos. A meditação Puritana na Escritura se modelava pelo sermão Puritano; na meditação o Puritano buscaria sondar e desafiar seu coração, guiar suas afeições para odiar o pecado, amar a justiça e encorajar a si mesmo com as promessas de Deus, assim como pregadores Puritanos o fariam do púlpito.

Esta piedade racional, resoluta e apaixonada era consciente sem tomar- se obsessiva, dirigida pela lei sem cair no legalismo, e expressiva da liberdade cristã sem vergonhosos deslizes para a licenciosidade. Os Puritanos sabiam que a Escritura é a regra inalterada da santidade, e eles nunca se permitiram esquecer disto. Conhecendo também a desonestidade e a falsidade dos corações humanos decaídos, cultivavam humildade e auto-suspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente em busca dos pontos ocultos e males internos furtivos. Por isso não poderiam ser chamados de mórbidos ou introspectivos; pelo contrário, descobriram a disciplina do autoexame pela Escritura (não é o mesmo que introspecção, notemos), seguida da disciplina da confissão e do abandono do pecado e renovação da gratidão a Cristo pela sua misericórdia perdoadora como fonte de grande gozo e paz interiores. Hoje nós que sabemos à nossa custa que temos mentes não esclarecidas, afeições incontroladas e vontades instáveis no que se refere a servir a Deus e que freqüentemente nos vemos subjugados por um romanticismo emocional, irracional, disfarçado de superespiritualidade, nos beneficiaríamos muito do exemplo dos Puritanos neste ponto também. Em terceiro lugar, há lições para nós na sua paixão pela ação eficaz. Embora os Puritanos, como o resto da raça humana, tivessem seus sonhos do que poderiam e deveriam ser, não eram definitivamente o tipo de gente que denominaríamos “sonhadores”! Não tinham tempo para o ócio do preguiçoso ou da pessoa passiva que deixa para os outros o mudar o mundo. Foram homens de ação no modelo puro reformado — ativistas de cruzada sem qualquer autoconfiança; trabalhadores para Deus que dependiam sumamente de que Deus trabalhasse neles e através deles e que sempre davam a Deus a glória por qualquer coisa que faziam, e que em retrospecto lhes parecia correta; homens bem dotados que oravam com afinco para que Deus os capacitasse a usar seus poderes, não para a auto-exibição, mas para a glória dEle. Nenhum deles queria ser revolucionário na igreja ou no Estado, embora alguns relutantemente tenham-se tornado tal; todos eles, entretanto, desejavam ser agentes eficazes de mudança para Deus onde quer que se exigisse mudança. Assim Cromwell e seu exército fizeram longas e fortes orações antes de cada batalha, e pregadores pronunciaram extensas e fortes orações particulares sempre antes de se aventurarem no púlpito, e leigos proferiram longas e fortes orações antes de enfrentarem qualquer assunto de importância (casamento, negócios, investimentos maiores ou qualquer outra coisa).

Hoje, porém, os cristãos ocidentais se vêem em geral sem paixão, passivos, e, teme-se, sem oração. Cultivando um sistema que envolve a piedade pessoal num casulo pietista, deixam os assuntos públicos seguirem seu próprio curso e nem esperam, nem, na maioria, buscam influenciar além do seu próprio círculo cristão. Enquanto os Puritanos oraram e lutaram por uma Inglaterra e uma Nova Inglaterra santas — sentindo que onde o privilégio é negligenciado e a infidelidade reina, o juízo nacional está sob ameaça — os cristãos modernos alegremente se acomodam com a convencional respeitabilidade social e, tendo feito assim, não olham além. Claro, é óbvio que a esta altura também os Puritanos têm muita coisa para nos ensinar. Em quarto lugar, há lições para nós no seu programa para a estabilidade da família. Não seria demais dizer que os Puritanos criaram a família cristã no mundo de língua inglesa. A ética Puritana do casamento consistia em primeiro se procurar um parceiro não por quem se fosse perdidamente apaixonado no momento, mas a quem se pudesse amar continuamente como seu melhor amigo por toda a vida e proceder com a ajuda de Deus a fazer exatamente isso. A ética Puritana de criação de filhos era treinar as crianças no caminho em que deveriam seguir, cuidar dos seus corpos e almas juntos e educá-los para a vida adulta sóbria, santa e socialmente útil. A ética Puritana da vida no lar baseava-se em manter a ordem, a cortesia e o culto em família. Boa vontade, paciência, consistência e uma atitude encorajadora eram vistas como as virtudes domésticas essenciais. Numa era de desconfortos rotineiros, medicina rudimentar sem anestésicos, freqüentes lutos (a maioria das famílias perdia tantos filhos quantos criava), uma média de longevidade um pouco abaixo dos trinta e dificuldade econômica para quase todos, salvo príncipes mercantes e pequenos proprietários fidalgos, a vida familiar era uma escola para o caráter em todos os sentidos.

A fortaleza com que os Puritanos resistiam à bem conhecida tentação de aliviar a pressão do mundo através da violência no lar e lutavam para honrar a Deus apesar de tudo, merece grande elogio. Em casa os Puritanos mostravam-se maduros, aceitando as dificuldades e decepções realisticamente como vindas de Deus e recusando-se a desanimar ou amargurar- se com qualquer uma delas. Também era em casa, em primeira instância, que o leigo Puritano praticava o evangelismo e ministério. “Ele esforçou-se para tornar sua família numa igreja”, escreveu Geree, “.. .lutando para que os que nascessem nela, pudessem nascer novamente em Deus.” Numa era em que a vida em família tornou-se árida mesmo entre os cristãos, com cônjuges covardes tomando o curso da separação em vez do trabalho no seu relacionamento, e pais narcisistas estragando seus filhos materialmente enquanto os negligenciam espiritualmente, há, mais uma vez, muito o que se aprender com os caminhos bem diferentes dos Puritanos.

Em quinto lugar, há lições para se aprender com o seu senso de valor humano. Crendo num grande Deus (o Deus da Escritura, não diminuído nem domesticado), eles ganharam um vívido senso da grandeza das questões morais, da eternidade e da alma humana. O sentimento de Hamlet “Que obra é o homem!” é um sentimento muito Puritano; a maravilha da individualidade humana era algo que sentiam pungentemente. Embora, sob a influência da sua herança medieval, que lhes dizia que o erro não tem direitos, não conseguissem em todos os casos respeitar aqueles que se diferenciavam deles publicamente, sua apreciação pela dignidade humana como criatura feita para ser amiga de Deus era intensa, e também o era seu senso da beleza e nobreza da santidade humana. Atualmente, no formigueiro urbano coletivo onde vive a maioria de nós, o senso da significação eterna individual se acha muito desgastado, e o espírito Puritano é neste ponto um corretivo do qual podemos nos beneficiar imensamente.

Em sexto lugar, há lições para se aprender com o ideal de renovação da igreja com os Puritanos. Na verdade, “renovação” não era uma palavra que eles usavam; eles falavam apenas de “reformação” e “reforma”, palavras que sugerem às nossas mentes do século vinte uma preocupação que se limita ao aspecto exterior da ortodoxia, ordem, formas de culto e códigos disciplinares da igreja. Mas quando os Puritanos pregaram publicaram e oraram pela “reformação”, tinham em mente nada menos do que isso, mas de fato muito mais. Na página de título da edição original de The Reformed Pastor (traduzido para o português sob o título “O Pastor Aprovado” — PES) de Richard Baxter, a palavra “Reformado” foi impressa com um tipo de letra bem maior do que as outras; e não se precisa ler muito para descobrir que, para Baxter, um pastor “Reformado” não era alguém que fazia campanha pelo calvinismo, mas alguém cujo ministério como pregador, professor, catequista e modelo para o seu povo demonstrasse ser ele, como se diria, “reavivado” ou “renovado”.

A essência deste tipo de “reforma” era um enriquecimento da compreensão da verdade de Deus, um despertar das afeições dirigidas a Deus, um aumento do ardor da devoção e mais amor, alegria e firmeza de objetivo cristão no chamado e na vida de cada um. Nesta mesma linha, o ideal para a igreja era que através de clérigos “reformados” cada congregação na sua totalidade viesse a tornar-se “reformada” — trazida, sim, pela graça de Deus a um estado que chamaríamos de reavivamento sem desordem, de forma a tornar-se verdadeira e completamente convertida, teologicamente ortodoxa e saudável, espiritualmente alerta e esperançosa, em termos de caráter, sábia e madura, eticamente empreendedora e obediente, humilde mas alegremente certa de sua salvação. Este era em geral o alvo que o ministério pastoral Puritano visava, tanto em paróquias inglesas quanto nas igrejas “reunidas” do tipo congregacional que se multiplicaram em meados do século dezessete. A preocupação dos Puritanos pelo despertamento espiritual em comunidades se nos escapa até certo ponto por seu institucionalismo. Tendemos a pensar no ardor de reavivamento como sempre impondo-se sobre a ordem estabelecida, enquanto os Puritanos visualizavam a “reforma” a nível congregacional vindo em estilo disciplinado através de pregação, catequismo e fiel trabalho espiritual da parte do pastor. O clericalismo, com sua supressão da iniciativa leiga, era sem dúvida uma limitação Puritana, que voltou-se contra eles quando o ciúme leigo finalmente veio à tona com o exército de Cromwell, no quacrismo e no vasto submundo sectarista dos tempos da Comunidade Britânica. O outro lado da moeda, porém, era a nobreza do perfil do pastor que os Puritanos desenvolveram — pregador do evangelho e professor da Bíblia, pastor e médico de almas, catequista e conselheiro, treinador e disciplinador, tudo em um só. Dos ideais e objetivos Puritanos para a vida da igreja, os quais eram inquestionável e permanentemente certos, e dos seus padrões para o clero, os quais eram desafiadora e inquisitivamente elevados, ainda há muito que os cristãos modernos podem e devem levar a sério. Estas são apenas algumas das maneiras mais óbvias como os Puritanos nos podem ajudar nestes dias. Em conclusão, elogiaria os capítulos do Professor Ryken [autor de Santos no Mundo], que estas observações introduzem, como uma detalhada apresentação da perspectiva Puritana. Tendo lido vastamente a recente erudição Puritana, ele sabe o que está dizendo. Ele sabe, como o sabem a maioria dos estudantes modernos, que o Puritanismo como uma atitude distinguidora começou com William Tyndale, contemporâneo de Lutero, uma geração antes de ser cunhada a palavra “Puritano”, e foi até o final do século dezessete, várias décadas depois que o termo “Puritano” havia caído do uso comum. Ele sabe que na formação do Puritanismo entrou o biblicismo reformador de Tyndale, a piedade de coração que rompeu a superfície com John Bradford, a paixão pela competência pastoral exemplificada por John Hooper, Edward Dering, e Richard Greenham, entre outros, a visão da Escritura como o “princípio regulador” de culto e ordem ministerial que incendiou Thomas Cartwright, o abrangente interesse ético que atingiu seu apogeu na monumental Christian Directory, de Richard Baxter, e a preocupação em popularizar e tomar prático, sem perder a profundidade, tão evidente em William Perkins e que tão poderosamente influenciou seus sucessores. O Dr. Ryken também sabe que, além de ser um movimento pela reforma da igreja, renovação pastoral, e reavivamento espiritual, o Puritanismo era uma visão de mundo, uma filosofia cristã total, em termos intelectuais, um medievalismo protestantizado e atualizado, e em termos de espiritualidade um tipo de monasticismo fora do claustro e dos votos monásticos. Sua apresentação da visão e do estilo de vida Puritanos é perspicaz e exata. Esta obra [Santos no Mundo] deveria conquistar novo respeito pelos Puritanos e criar um novo interesse em explorar a grande massa de literatura teológica e devocional que eles nos deixaram, para descobrir as profundidades da sua percepção bíblica e espiritual. Se tiver este efeito, eu pessoalmente, que devo mais aos escritos Puritanos do que a qualquer outra teologia que tenha lido, ficarei transbordante de alegria.


Autor: J. I. Packer

James Ian Packer (Gloucester, 22 de julho de 1926) é um teólogo anglicano e professor de teologia no Regent College, em Vancouver, Canadá. Seus livros já venderam mais de três milhões de exemplares. Entre os seus livros publicados em português estão O Conhecimento de Deus, Esperança, Na Dinâmica do Espírito, Entre os Gigantes de Deus e Os Vocábulos de Deus. Foi editor da revista Christianity Today (Cristianismo Hoje) e membro do comitê de novas traduções da Bíblia.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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