sexta-feira, 22 de novembro
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Qual a diferença entre providência e destino?

O texto abaixo foi retirado com permissão do livro Providência, de John Piper, Editora Fiel

Qual a diferença entre providência e destino?

Às vezes, as afirmações fortes sobre Deus dirigir, dispor e governar todas as criaturas, ações e coisas conduzem à pergunta sobre como o ponto de vista bíblico a respeito da providência de Deus difere de destino. A ideia de destino tem uma longa história — desde a mitologia grega até a física moderna. O que incomoda as pessoas é, em geral, o fato de que destino e providência envolvem uma espécie de fixidez em relação ao futuro que parece tornar a vida sem significado. Eis a resposta de Charles Spurgeon (1834–1892) a essa preocupação.

Em primeiro lugar, ele nos oferece sua surpreendente convicção sobre a abrangência minuciosa da providência divina. A citação que se segue é de um sermão sobre a providência baseado em Ezequiel 1.15-19:

Creio que toda partícula de poeira que voa debaixo do sol não se move um milímetro a mais ou a menos do que Deus deseja; toda partícula de espuma que colide com o barco a vapor tem sua órbita, assim como o sol nos céus; toda palha que voa da mão do joeireiro é conduzida como as estrelas em seus percursos. O rastejar de um pulgão sobre o botão de uma rosa é tão fixo quanto a marcha de uma pestilência devastadora; a queda […] das folhas de um álamo é tão ordenada quanto o rolar de uma avalanche. 

Isso é impressionante. Cada minúscula bolha que estoura na espuma no topo de uma lata de Coca-Cola recém-aberta. Cada grão de poeira flutuante que você só pode ver sob a luz do sol, logo pela manhã, ainda na cama de seu quarto. Cada ponta de cada haste de grãos que se estende pelas intermináveis planícies do Nebraska. Todos eles, com todos os seus mais leves movimentos, são governados especificamente por Deus.

Spurgeon prevê a objeção e prossegue no mesmo sermão:

Você dirá nesta manhã: Nosso pastor é fatalista. Seu pastor não é tal coisa. Alguns dirão: Ah! Ele acredita no destino. Ele não acredita no destino de maneira alguma. O que é o destino? O destino é isto: o que tem de ser será. Mas há uma diferença entre isso e a providência. A providência diz: o que Deus ordena será; mas a sabedoria de Deus nunca ordena algo sem um propósito. Tudo neste mundo está trabalhando para alguma grande finalidade. O destino não diz isso. O destino diz apenas que a coisa tem de ser; a providência, por sua vez, diz: Deus move as rodas adiante, e lá estão elas.

Se alguma coisa daria errado, Deus a corrige. E, se há alguma coisa que quer se mover obtusamente, Deus coloca sua mão e a altera. Então, chega-se à mesma coisa; mas há uma diferença quanto ao objetivo. Entre destino e providência, há toda a diferença que existe entre um homem de olhos bons e um homem cego. O destino é cego; é a avalanche que soterra a vila lá embaixo e destrói milhares de pessoas. A providência não é uma avalanche; é um rio ondulante, agitado, a princípio, como um riacho que desce dos lados da montanha, seguido por rios menores, até que chega ao oceano amplo do amor eterno, que trabalha para o bem da raça humana. A doutrina da providência não é: o que tem de ser será. Antes, a doutrina da providência é: aquilo que existe trabalha para o bem de nossa raça e, em especial, para o bem do povo eleito de Deus. As rodas estão cheias de olhos; não são rodas cegas. 

Espero que fique evidente no restante do livro, especialmente na Parte 2, que o propósito supremo de Deus em sua providência todo-pervasiva é tão intencional, tão sábio, tão santo, tão gracioso e tão exultante que a última coisa que alguém chamaria é de destino.

Para o gozo sempre crescente de todos que amam a Deus

Concordo com todas as descrições da providência de Deus que já vimos, a descrição das confissões de fé históricas e a de Spurgeon. Acho que são coerentes entre si e fiéis à Escritura. Isso é o que quero dizer com a palavra providência neste livro. Mas talvez seja proveitoso fazer mais uma citação para esclarecer meu próprio ponto de vista.

Durante os meus trinta e três anos como pastor da Bethlehem Baptist Church, os presbíteros elaboraram cuidadosamente um documento denominado Declaração de Fé dos Presbíteros da Bethlehem Baptist Church. Como participei desse processo, a afirmação sobre a providência de Deus expressa uma ênfase que desdobrarei neste livro. Eis as citações essenciais sobre a providência:

3.1. Cremos que, desde toda a eternidade, Deus ordenou e conheceu de antemão, livre e imutavelmente, pelo mui sábio e santo conselho de sua vontade, tudo que acontece, a fim de manifestar a plena extensão de sua glória para a alegria eterna e sempre crescente de todos os que o amam.

3.2. Cremos que Deus sustenta e governa todas as coisas — de galáxias a partículas subatômicas, de forças da natureza aos movimentos das nações, dos planos públicos de políticos aos atos secretos de pessoas solitárias —, tudo de acordo com seus propósitos eternos e sábios de glorificar a si mesmo, mas de maneira tal que ele nunca peca, nem mesmo condena uma pessoa injustamente; mas cremos que esse ordenar e esse governar todas as coisas são compatíveis com a responsabilidade moral de todas as pessoas criadas à imagem de Deus. 

Essa afirmação de que Deus manifesta sua glória “para o gozo eterno e sempre crescente de todos os que o amam” está implícita, creio, nos credos históricos, como, por exemplo, quando o Catecismo de Westminster diz que o fim principal do homem é “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”.  Mas considero esse objetivo do gozo de Deus e sua relação com a glorificação de Deus tão cruciais ao propósito de Deus na providência que as torno explícitas e proeminentes. Espero que, na Parte 2, fique claro que isso não é apenas o que eu faço. É o que a Escritura faz.

 

Por: John Piper. ©️ Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Editor e revisor: Renata Gandolfo.


Autor: John Piper

John Piper é um dos ministros e autores cristãos mais proeminentes e atuantes dos dias atuais, atingindo com suas publicações e mensagens milhões de pessoas em todo o mundo. Ele exerce seu ministério pastoral na Bethlehem Baptist Church, em Minneapolis, MN, nos EUA desde 1980.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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