quinta-feira, 26 de dezembro
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Quando alguém recebe uma falsa profecia

Efeitos das falsas profecias na vida de indivíduos

O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Profetas, de Augustus Nicodemus, Editora Fiel (em breve).

 

Não bastassem os efeitos catastróficos que a falsa profecia exerce sobre a confissão de fé da igreja, ela ainda tem o poder de arruinar a vida de indivíduos, já que o ministério profético de muitos consiste em repassar palavras diretivas supostamente da parte de Deus para pessoas em particular. A definição problemática e antibíblica de profeta apenas como aquele a quem Deus revela as coisas ocultas do passado ou do futuro acaba por resultar, de modo frequente, em abusos psicológicos gravíssimos e por gerar repercussões desastrosas para um indivíduo, as quais se estenderão, não raramente, por toda a sua vida.

Caso uma mulher creia que o próprio Deus falou com ela por meio do profeta que lhe disse: “Assim diz o Senhor: ‘case-se com fulano, pois ele é o seu ‘Boaz’”, como ela poderá deixar de seguir o caminho que, conforme ela crê, o próprio Deus lhe ordenou trilhar, ainda que ela saiba que o homem com quem, alegadamente, o próprio Deus quer que ela se case já tenha se divorciado três vezes, além de haver sido infiel a cada uma de suas ex-esposas? Essa mulher se acha num dilema, visto que, por um lado, a sabedoria prática e até mesmo bíblica que ela já adquiriu ao longo da vida a impele a ficar o mais longe possível desse homem. Por outro lado, não obstante a sua instintiva e salutar hesitação de se casar com um homem que dá todos os indícios de que a levará a sofrer terrivelmente, ela não pode deixar de obedecer a uma ordem particular que Deus lhe deu por meio de seu servo.

Infelizmente, o impasse vivido por essa mulher fictícia, por certo, ilustra a agonia em que se acham muitos outros crentes que, em decorrência de falsas profecias, foram colocados diante da mesma bifurcação. Eles podem seguir a palavra profética, tendo as suas vidas profunda e negativamente impactadas como resultado dessa escolha, ou optar pelo caminho mais sóbrio que a sabedoria comum lhes propõe — embora, nesse caso, tenham de carregar o peso esmagador de não terem tido a coragem de fazer a vontade de Deus, o qual, então, poderá castigá-los das mais distintas e cruéis formas, como por meio do desemprego, enfermidade, morte de pessoas queridas. A angústia opressiva que essas pessoas sentem surge da tensão entre a sensatez da mente e a aparente insensatez da palavra profética. Porém, já que os caminhos de Deus são mais altos que os nossos, os crentes que enfrentam esse dilema, mesmo sem entender por que o Senhor quer que sigam uma vereda cujo chão é de espinhos, tendem a seguir a orientação do profeta, confortando-se com o pensamento de que, de alguma maneira, tudo fará sentido eventualmente. Eles creem que, como no caso de Jó, Deus, no fim, revelará a elas algo que as leve a compreender todo o caos em que as inseriu.

Contudo, essas palavras proféticas de origem supostamente divina costumam provir, quase sempre, do coração do próprio profeta, o qual, de maneira sincera ou insincera, conduz os destinatários de sua mensagem a erros que podem ter consequências sísmicas e profundamente danosas, erros que, por vezes, reverberarão por todo o resto de seus dias e que serão irreparáveis. Muitas pessoas, lamentavelmente, ao serem levadas por supostos profetas de Deus a tomarem decisões péssimas e terem áreas de suas vidas arrasadas, acabam por abandonar a fé, completamente decepcionadas com o Deus que as fez entrar no vale da sombra da morte, mas que nunca esteve com elas ao longo do trajeto sombrio. A falsa profecia não é um fenômeno banal e indiferente. Trata-se de um equívoco sério, uma vez que ela tem o potencial de acarretar as mais nefastas e deploráveis consequências, incluindo a apostasia, para as pessoas que enxergam o profeta como alguém a quem Deus concede o conhecimento das coisas ocultas do passado e do futuro.

A existência de falsos profetas é um fato, embora não seja uma inconveniente peculiaridade de nossos dias. Os apóstolos tiveram de lidar com esse fenômeno, e, muito antes deles, a igreja do Antigo Testamento também se defrontou com pessoas que clamavam falsamente ter recebido ensinos inovadores de Deus. A falsa profecia é um fenômeno amplamente documentado nas páginas bíblicas. A maneira como devemos lidar com os falsos profetas se acha explicitada com clareza na Palavra de Deus. A influência deletéria que a falsa profecia exerce sobre a vida e a fé das pessoas não é, definitivamente, um assunto de pouca importância nas Escrituras.


Autor: Augustus Nicodemus

Augustus Nicodemus é bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife, mestre em Novo Testamento pela Universidade Cristã de Potchefstroom, na África do Sul, e doutor em Hermenêutica e Estudos Bíblicos pelo Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia (EUA), com estudos adicionais na Universidade Reformada de Kampen, na Holanda. Foi chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie por dez anos, é professor do Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper. Autor de diversos livros, dentre eles, Apóstolos, publicado pela Editora Fiel. É autor de vários livros, entre eles Apóstolos, publicado por Editora Fiel. É casado com Minka Lopes e tem quatro filhos: Hendrika, Samuel, David e Anna.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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