sábado, 16 de novembro
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Quem deve escolher as músicas do culto?

“Eu só quero saber quem está no comando”. Aquela frase trouxe luz à minha situação. Eu havia acabado de pregar meu sermão de candidatura, e estava prestes a fazer um rápido lanche antes da sessão de perguntas e respostas com a congregação. Mas, em vez de comer, o moderador do conselho de presbíteros e pastor executivo 1 interino me puxou para uma sala nos fundos para uma reunião de última hora com o pastor de adoração. Ele não fez rodeios, foi direto ao ponto:

Se eu fosse chamado para ser o pastor principal, quem iria decidir o que aconteceria nos domingos de manhã, antes do sermão? Quem escolheria a música? Quem escolheria a ordem? Quem, enfim, estaria no comando?

Era uma pergunta razoável. Ele era o responsável por aquelas decisões na igreja até aquele momento e, aparentemente, eu havia deixado pistas o suficiente no meu exame de candidato para que ele começasse a imaginar se as coisas não mudariam. E eu de fato planejava, como o novo pastor principal, assumir a responsabilidade última por todo o culto. Eu planejava até mesmo escolher a música. Então foi isso que eu lhe disse.

Embora haja princípios bíblicos que orientavam a minha resposta, no final, era uma questão de prudência e pragmática. Biblicamente, eu creio que algum presbítero deveria supervisionar a escolha da música e de todos os demais detalhes do culto. Prudencialmente, eu penso que é apropriado ao pastor principal, aquele responsável pela pregação, ser esse indivíduo.

Aqui estão três argumentos para essas convicções.

Cantar é ensinar

Nós geralmente pensamos acerca do nosso canto como a expressão da nossa adoração a Deus. E está certo. Mas isso não é tudo. Os nossos cânticos ensinam e reforçam aquilo que nós cremos acerca de Deus e, porque são postos em forma musical, os nossos cânticos com frequência exercem sobre os nossos membros uma influência mais profunda do que podemos perceber. Como R.W. Dale, um ministro congregacional inglês do século XIX, observou em uma série de palestras sobre pregação que proferiu na Universidade de Yale, “Deixe-me escrever os hinos e a música de uma igreja, e me importo muito pouco com quem escreve a teologia” (Nine lectures on preaching, 1878, p. 271). Talvez ele estivesse exagerando um pouco o argumento, mas não muito.

Paulo instruiu os Colossenses a admoestarem e ensinarem uns aos outros cantando “salmos, e hinos, e cânticos espirituais” (Colossenses 3.16). Uma vez que o ensino ocorre ao cantarmos corporativamente, os presbíteros são responsáveis pela supervisão e, particularmente, o pastor/presbítero a quem foi dada a resposabilidade primária pelo ministério de ensino da igreja (Tito 1.9). Se não estivermos dando atenção às palavras que estão sendo cantadas em nossa igreja, semana após semana, então não estamos sendo obedientes ao nosso chamado como presbíteros. É preciso reconhecer, isso não pressupõe que o pastor principal escolha todas as músicas pessoalmente. Mas isso de fato pressupõe que ele esteja familiarizado com elas e as aprove. Na minha própria igreja, eu trabalho próximo ao nosso líder de louvor, que está muito mais familiarizado com a música contemporânea do que eu, ao passo que eu estou mais familiarizado com os hinos. Nós formamos um bom time, mas, no final, como presbítero, sou eu o responsável.

A música molda a cultura

Além do evidente ensino que há em nossos cânticos, é inegável que a música que usamos e o modo como a usamos moldam e definem a cultura de nossa igreja. Dificilmente eu precisarei explicar isso àqueles que passaram por “guerras de adoração” em suas igrejas locais. Aquelas guerras eram tão intensas porque elas são essencialmente guerras culturais, nas quais a música é apenas o exemplo de um abismo muito maior entre as gerações. É por isso que todo plantador de igrejas deseja ter em sua equipe um músico que compartilhe com ele a mesma visão. É por isso que especialistas em crescimento de igreja o aconselham a adotar o estilo musical preferido da sua população-alvo. Assim, de uma perspectiva puramente pragmática, se o pastor deseja conduzir e moldar a cultura de sua igreja, ele precisa estar envolvido nas decisões acerca da música.

Mas e se você quiser conduzir a sua igreja é uma direção contracultural biblicamente orientada? E se você quiser uma congregação multigeracional desejosa de amar uns aos outros ao cantar as músicas uns dos outros? E se você quiser promover o canto congregacional, em vez da experiência passiva de um show? E se você quiser encorajar uma cultura de culto que não seja guiada pelos mesmos valores de um espetáculo? E se você quiser ter uma adoração corporativa que se expresse em outras melodias além da triunfante e da alegre?

Carl Trueman perguntou de modo incisivo: “O que cristãos miseráveis podem cantar?”. Essa é uma boa questão em nosso mundo gospel sempre feliz e saltitante. Se tudo o que você deseja é um clube para jovens de vinte-e-poucos anos, ou para os cinqüentões, ou para os hipsters urbanos, então entregue a música nas mãos do grupo de louvor. Eles farão um ótimo trabalho. Mas se você deseja uma cultura que seja ricamente estruturada e diversa, profundamente congregacional e alérgica aos padrões do mundo do entretenimento, então, pastor, você precisa liderá-la naquela direção, pois ela não chegará lá por si mesma.

O culto inteiro serve a Palavra

Há pouquíssima instrução explícita na Bíblia acerca do que deveria acontecer em nossos cultos corporativos. Mas, como protestantes, nós estamos convencidos de que a Palavra é o centro e o clímax, porque é a pregação da Palavra que nos dá Cristo e é o ouvir a Palavra que dá à luz a fé pelo poder do Espírito (Romanos 10.14). Por causa dessa verdade singular e profunda, faz sentido que a pessoa encarregada de pregar a Palavra dedique tempo e atenção para planejar o restante do culto, incluindo escolher os cânticos, de modo que o culto inteiro sirva como preparação, e depois como resposta, à Palavra pregada.

Na minha igreja, isso significa estabelecer um tema teológico que sobressaia na passagem em que eu pregarei, e então escolher uma variedade de cânticos e leituras bíblicas que desenvolvam e interajam com aquele tema. Além disso, uma vez que o foco da adoração cristã é a exaltação de Cristo no evangelho, há uma oportunidade de organizar os cânticos, orações e leituras de modo que o evangelho seja explorado a partir da perspectiva temática do texto do sermão, antes que o evangelho seja pregado a partir do texto do sermão. Todo o culto, então, está não apenas a serviço da Palavra pregada, mas é uma exibição pública do próprio evangelho. Embora outros presbíteros possam fazer esse trabalho, parece-me que a pessoa encarregada de pregar o texto está em melhores condições de escolher e ordenar os cânticos, tendo em mente as ênfases específicas do sermão.

Na prática, eu faço isso pensando, com bastante antecedência, acerca da minha agenda de pregação e então dos temas dos cultos. Eu então passo alguns dias pensando nos cânticos que cantaremos, nas Escrituras que serão lidas, e na ordem de tudo isso. Joel Harris, nosso líder de música, está profundamente envolvido comigo nesse processo, contribuindo com suas habilidades e sua sensibilidade musical reconhecidamente superior. Uma vez que isso esteja feito, a cada semana eu me reúno com minha equipe pastoral e reviso a ordem de culto para aquele domingo. Ocasionalmente, nós não mudamos coisa alguma. Mas, com muita frequência, a equipe traz ótimas sugestões e, juntos, nós mudamos minha ordem de culto original. Afinal, a responsabilidade de planejar o culto não significa infalibilidade! Mas todo esse ajuste fino (e, algumas vezes, completa revisão) se dá no contexto de algo que a equipe pastoral não pode fazer por mim, isto é, a cuidadosa meditação no texto do sermão.

Se for possível, o pastor pode ceder a liderança na seleção musical. Se há outros que podem ajudar, ele deve usá-los. Mas, de um modo ou de outro, os presbíteros, e não o grupo de louvor, deve escolher a música. Eu não sou a única pessoa na conversa acerca do que acontece a cada domingo, mas, como servo da Palavra, eu começo a conversa e estabeleço o alvo. Meu objetivo não é microgerenciar ou controlar tudo. É simplesmente assegurar que, do começo ao fim, cada canção que cantarmos, e cada um dos outros elementos do culto, sirvam a Palavra. Porque é por meio da Palavra que nós temos a Cristo.

Notas:

1 – Nos EUA, a denominação “pastor executivo” é usada para designar um pastor encarregado de cuidar de assuntos referentes à organização, planejamento, direção e supervisão dos ministérios da igreja, com o objetivo de deixar o pastor principal mais livre para cuidar do ministério da palavra e da oração.


Autor: Michael Lawrence

Michael Lawrence é o pastor principal da Hinson Baptist Church em Portland, Oregon, EUA, e o autor de Biblical Theology in the Life of the Church (publicado em inglês pela editora Crossway, sem tradução em português).

Parceiro: 9Marks

9Marks
O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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