quarta-feira, 24 de abril

Quem é o Deus que a igreja adora?

O trecho abaixo foi extraído do livro O Credo dos Apóstolos, de Franklin Ferreira.

O preâmbulo do Credo, em meu entendimento, é “creio em Deus”. Gastamos um bom tempo elaborando o que significa “creio”, mas o Credo começa afirmando “creio em Deus”. Tudo o mais é desdobramento desta declaração.

O Credo começa afirmando que nossa fé repousa em Deus. Quem é esse Deus? Quem é o Deus que a igreja adora? Quem é o Deus que é confessado no Credo dos Apóstolos? No relato natalino de Lucas, quando os anjos, em uníssono, confessam: “Glória a Deus nas maiores alturas” (Lc 2.14): “Deus dos altos céus”, ser presente, vivo, atuante e que se faz conhecer. Quem é o Deus confessado no Credo?

O Deus enunciado no Credo, de acordo com as Escrituras, é aquele que reina nos céus, o Deus altíssimo, aquele Deus que habita nas maiores alturas. O Deus como afirmado no Credo é o Deus que vem a nós — e digo isso com muito temor — de um lugar onde não há tempo, não há história, não há cronologia. Isso é muito difícil de pensar. Nós somos escravos do tempo. Nós somos escravos de nosso momento histórico, de nossa cronologia, mas o Deus que nós confessamos, o Deus que a igreja confessa e adora, não está preso a tempo, a espaço, a matéria ou a energia. Falando das galáxias, nós, leigos em astronomia, costumamos pensar que há, no máximo, a Via-Láctea, e não pensamos mais nisso. Mas a Via-Láctea é uma das várias galáxias que existem, tendo uma extensão de 100.000 anos-luz. Existem provavelmente mais de 170 bilhões de galáxias no universo observável! Há, inclusive, galáxias maiores que a Via-Láctea. Andrômeda, localizada a cerca de 2,54 milhões de anos-luz de distância da Terra, tem 110.000 anos-luz de extensão.

Para mim, é surpreendente lembrar que o Deus revelado na Escritura está muito acima de todos os planetas e estrelas que existem. Ele reina acima de todos eles. Esse é o Deus que é confessado no Credo. Ele não é somente o Deus altíssimo. A noção em Lucas 2.14 de “glória a Deus nas maiores alturas”, de Deus nos lugares altos, é que esse Deus que também está nos lugares altos é o Deus vivo, o Deus que também é por nós, o Deus que vem a nós.

Se, de um lado, os protestantes têm seus estranhamentos com católicos e ortodoxos, o Credo é uma expressão comum de todo o cristianismo. E algo muito importante aqui é que só o cristianismo ensina tal verdade sobre Deus. Nenhuma outra religião, nenhum sistema de pensamento ensina que o Deus que reina sobre tudo, o Deus altíssimo, o Deus santíssimo, o Deus que está acima e além da criação, é também o Deus vivo, o Deus presente, o Deus que vem a nós, o Deus que nos encontra. Se a Via-Láctea é uma entre tantas galáxias do universo, quem somos nós? Um pontinho perdido na criação. O Deus afirmado e confessado no Credo é o Deus que se revela na Escritura, o Deus que reina sobre toda criação, é também o Deus que se dirige a nós, o Deus que vem a nós. Lembre-se do contexto de Lucas 2.14. Os anjos, diante dos pastores no campo, estão celebrando que o Deus das maiores alturas veio à humanidade em Jesus Cristo, nascido num estábulo, num lugar em que eram colocados animais do campo, e ele repousava em uma manjedoura. Uma imagem impressionante. Esse é o Deus que confessamos, quando nós começamos dizendo a uma voz “creio em Deus”. O Deus que se revela na Escritura e é confessado pela igreja não é uma qualquer divindade, e isto é vital para a fé cristã.

Mais à frente focaremos nossa atenção em Jesus Cristo, o coração do Credo. Porém, todo mundo hoje fala em Deus. Curiosamente, segundo o último senso do IBGE, começou uma espécie de ressurgência de ateus no Brasil. Uma parcela significativa destes ateus é composta de “ex-crentes”, mas fora os ateus, todo mundo fala em Deus. Todo mundo tem o nome de Deus na boca, mas não o nome de Cristo Jesus. Mas esse Deus que é mencionado pelas pessoas de forma tão banal em nosso meio não é o Deus da Bíblia. Aquele que supomos poder manipular como se estivesse em uma reunião xamã ou animista “declarando”, “tomando posse”, dando ordens, não é o Deus da Escritura, confessado pelo Credo. “Creio em Deus”, mas qual Deus? Aquele que reina nas maiores alturas, o Deus altíssimo, o Deus vivo. Eclesiastes 5.1-2 afirma uma verdade importante. O autor de forma realista diz: “Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras”. É por isso que precisamos reaprender a orar os Salmos. Deus está nos céus, nós estamos na terra. Deus é o altíssimo. Para usar a expressão provocadora de Karl Barth, Deus é o totalmente outro.

Não há sequer um ponto de contato entre nós e este Deus que não Jesus Cristo vindo a nós na Palavra. Nós não chegamos a ele pela razão, nós não chegamos a ele por mera experiência ou por dedução. Nós não chegamos a ele nem mesmo por meio de sua criação. Nós somente nos chegamos ao Deus confessado no Credo por meio de Jesus Cristo. Por isso, o coração do Credo é a pessoa bendita de Jesus Cristo.


Autor: Franklin Ferreira

Franklin Ferreira é bacharel em Teologia pela Universidade Mackenzie e mestre em Teologia pelo Seminário Batista do Sul (RJ). Diretor do Seminário Martin Bucer e consultor acadêmico de Edições Vida Nova, Franklin é co-autor do livro “Teologia Sistemática” e autor dos livros “Servos de Deus” (Fiel) e “A Igreja Cristã na História” (Vida Nova).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

Veja Também

Descanso para os viciados em trabalho

É no coração que encontramos as raízes dos problemas do trabalho excessivo. Cada vez mais, a escravidão ao trabalho é impulsionada a partir de dentro, e não de fora.