O fato de toda miséria ser resultado da queda — resultado da entrada do pecado desdenhoso no mundo — não significa que todo sofrimento individual seja um julgamento específico de pecados pessoais. Por exemplo, o sofrimento de Jó não era devido a seus pecados particulares. A primeira frase desse livro deixa isso claro: “[Jó] era íntegro e reto, temia a Deus e se desviava do mal” (Jó 1.1).
O próprio povo de Deus experimenta muitos dos efeitos físicos de seu juízo. O apóstolo Pedro colocou desta forma:
Porque chegou o tempo de começar o juízo pela casa de Deus; e, se começa por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, “se é com dificuldade que o justo é salvo, que será do ímpio e do pecador?” (1Pe 4.17-18).
Para “a casa de Deus”, esse juízo divino é purificador, não punitivo — não é uma condenação. Portanto, nem todo sofrimento é devido aos juízos específicos de Deus sobre pecados específicos. Contudo, às vezes, Deus usa doenças para trazer juízos particulares sobre aqueles que o rejeitam e se entregam ao pecado.
Exemplos de juízos específicos sobre pecados específicos
Vou dar dois exemplos de juízos específicos sobre pecados específicos.
Em Atos 12, o rei Herodes se exaltou, deixando-se chamar de deus. “No mesmo instante, um anjo do Senhor feriu Herodes, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, morreu” (At 12.23). Deus pode fazer isso com todos os que se exaltam. O que significa que devemos nos surpreender que mais de nossos governantes não caiam mortos todos os dias por causa de sua arrogância diante de Deus e do homem. É uma grande misericórdia Deus se refrear.
Outro exemplo é o pecado da relação homossexual. Em Romanos 1.27, o apóstolo Paulo diz: “Da mesma forma, também os homens, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo indecência, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro”. Essa “merecida punição” é o efeito doloroso “em si mesmos” do pecado.
Essa “merecida punição” é apenas um exemplo do juízo de Deus que vemos em Romanos 1.18, o qual diz: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e injustiça dos seres humanos que, por meio da sua injustiça, suprimem a verdade”. Portanto, embora nem todo sofrimento seja um juízo específico para pecados específicos, alguns o são.
Que toda alma seja sondada
Portanto, o coronavírus nunca é de forma simplista um castigo a qualquer pessoa. O cristão mais amoroso e cheio do Espírito, cujos pecados foram perdoados por meio de Cristo, pode morrer da doença do coronavírus. Mas é apropriado que todos nós sondemos nosso próprio coração para discernir se nosso sofrimento é o juízo de Deus sobre a maneira como vivemos.
Se formos a Cristo, podemos saber que o nosso sofrimento não é o juízo punitivo de Deus. Podemos saber disso porque Jesus disse: “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). É disciplina, não destruição. “Porque o Senhor corrige a quem ama e castiga todo filho a quem aceita” (Hb 12.6).
Artigo adaptado do livro Coronavírus e Cristo, de John Piper.