O texto abaixo foi extraído do livro Faça Mais e Melhor, de Tim Challies, lançamento de julho de 2018 da Editora Fiel.
Produtividade é administrar seus dons, talentos, tempo, energia e entusiasmo com eficácia pelo bem das pessoas e para a glória de Deus. Isso significa que você tem a responsabilidade de dedicar tudo o que tem a esse grande objetivo. Você tem a responsabilidade diante de Deus de se sobressair em produtividade. E deve ser algo simples, não é? Você precisa apenas fazer a melhor coisa (o bem às pessoas) pelo melhor objetivo (a glória de Deus). E, ainda assim, se você for como eu e como muitos outros, talvez tenha enfrentado muita dificuldade ao longo de toda a sua vida para continuar produtivo. Mas, se o seu propósito é assim tão claro, por que ainda enfrenta tanta dificuldade?
Ladrões de produtividade
Tenho certeza de que você seria capaz de elaborar uma lista com uma quantidade infinita de razões que explicam por que você não é mais produtivo. Mas acredito que, por trás da maior parte das suas razões, e das minhas, você encontrará três principais culpados, três ladrões de produtividade: preguiça, excesso de ocupações e uma péssima combinação de cardos e abrolhos.
Preguiça
O primeiro ladrão de produtividade é a preguiça. Não é necessário aprofundar-se muito na Bíblia para ver que a preguiça sempre foi uma preocupação. O livro de Provérbios tem muito a dizer para e sobre os preguiçosos. Em seu pequeno comentário sobre esse grande livro, Derek Kidner destaca que o preguiçoso é “uma figura da tragicomédia, com sua preguiça totalmente animal (ele está mais do que ancorado à sua cama — é atado a ela com gonzos, 26.14), suas desculpas esfarrapadas (‘Um leão está lá fora!’, 26.13; 22:13) e sua incapacidade final”.1 Ao estudar o preguiçoso do livro de Provérbios, você percebe que ele é um homem que não quer começar novos empreendimentos, um homem que não termina o que começou, um homem que não quer enfrentar a realidade e, em todas essas coisas, é um homem inquieto, impotente e inútil. Sua vida é caótica porque sua alma é caótica. Ele dá pouca importância a Deus, razão pela qual também dá pouca importância às coisas que honram e glorificam a Deus — coisas como trabalhar duro e fazer o bem às pessoas.
A maioria de nós tem um pouco dessa preguiça — talvez até mesmo você. Se você quiser uma desculpa para ser improdutivo, certamente encontrará e, mesmo que não consiga encontrar, acabará inventando uma. E é possível que o mundo de hoje ofereça mais maneiras de ser preguiçoso e procrastinar do que antes. Quando você trabalha no computador, está sempre a somente um ou dois cliques de se conectar com seus amigos no Facebook ou de passar alguns minutos se entretendo no YouTube. Mensagens no whatsapp são formas fáceis de impedir uma reflexão mais profunda e fazer uma maratona da mais nova série da Netflix pode fazer você desperdiçar uma semana inteira. Você é cercado de tentações à preguiça e talvez sucumba com mais frequência do que imagina. Talvez a preguiça seja o que o impede de se tornar verdadeiramente produtivo.
Excesso de ocupações
O segundo ladrão da produtividade é o excesso de ocupações, algo que, evidentemente, é o exato oposto da preguiça: fazer demais em vez de fazer pouco. Mas essa não é uma característica mais nobre.
O excesso de ocupações é um problema que pode ser enganoso. Embora tenha sido um problema e uma tentação em todas as épocas, eu me pergunto se não sofremos mais com isso em nossos dias do que no passado. Afinal, com frequência, a sociedade nos julga e nos classifica com base em quanto estamos ocupados. Embora reclamemos sobre quanto estamos ocupados, também é algo que acreditamos que nos valida, como se só tivéssemos duas opções à nossa frente: fazer muito pouco ou fazer demais. De alguma maneira, acreditamos que nosso valor está ligado a quanto estamos ocupados.
Mas o excesso de ocupação não pode ser confundido com diligência. Não pode ser confundido com fidelidade ou fecundidade. “Superocupado não significa que você é um cristão fiel ou frutífero. Só quer dizer que você está ocupado, como todo mundo.” Ter muitas ocupações pode fazer você se sentir bem consigo mesmo e também criar a ilusão de que você está realizando muitas tarefas, porém é mais provável que você esteja dando uma parcela muito pequena de sua atenção a muitas coisas diferentes, priorizando todas as coisas erradas, e que sua produtividade esteja prejudicada.
Preguiçosos ocupados
O que é surpreendente e também absurdo é que essas duas características podem colidir entre si para formar uma grande tempestade. Aliás, uma das razões para eu ter desenvolvido uma necessidade e um apreço tão grandes pela produtividade é que essa combinação foi exatamente o que eu constatei na minha vida. Sou naturalmente preguiçoso, o que significa que tendo a ignorar e procrastinar minhas responsabilidades. Aquele ensaio pode esperar mais alguns dias, aquele livro pode ficar ali mais um pouco, ainda não recebi a carta de notificação de atraso daquela conta, posso ter aquela conversa franca com minha filha amanhã. Mas o prazo da conta acabou vencendo, o ensaio precisava ser entregue, minha filha simplesmente precisava do pai e eu mudei de preguiçoso para frenético, de ocioso para louco. O período de muita ocupação me deixava tão cansado que eu perdia as forças e acabava me convencendo de que havia conquistado o direito de relaxar e passar algum tempo inativo.
Cardos e abrolhos
Tanto a preguiça como o excesso de ocupação constituem problemas que surgem de nosso interior. São defeitos em nosso caráter que se desenvolvem em nossas vidas. E, como se não fossem problemas suficientemente difíceis, também enfrentamos os desafios externos.
Deus nos criou para viver perfeitamente em um mundo perfeito, em que tudo funcionava para nos favorecer. Mas, quando o homem se rebelou contra Deus, Deus explicou que haveria consequências. Haveria consequências até mesmo para o trabalho, para a produtividade. “Maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo” (Gn 3.17b-18). O castigo não foi o próprio trabalho, mas a dificuldade que o acompanharia. O que antes era fácil iria se tornar difícil. A terra que só produzia boas plantas agora seria um campo de batalha entre boas plantas e os cardos e abrolhos que ameaçariam sufocá-las.
O que é verdade para a agricultura se aplica a todos os outros trabalhos. Toda tarefa terá de enfrentar esses “cardos e abrolhos”, essas dificuldades que constantemente ameaçam a produtividade. E, até o dia de hoje, seja qual for nossa vocação, cada um de nós precisa lidar com eles e mantê-los a distância. O motorista de caminhão é insultado no trânsito, o médico tem pacientes que não aparecem para a consulta, o conferencista perde o voo, a dona de casa recebe a ligação da escola informando que seu filho está muito mal de gripe e precisa voltar para casa.