segunda-feira, 25 de novembro
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Revolucione sua leitura bíblica: deixe que a bíblia fale de Deus

A primeira coisa que estava de trás para frente parecia tão óbvio de percebermos que é até embaraçoso admitir: falhei em compreender que a Bíblia é um livro sobre Deus. A Bíblia é um livro que revela em cada página, de forma audaciosa e clara, quem é Deus. Em Gênesis, ela faz isso colocando Deus como o sujeito da narrativa da criação. Em Êxodo, ela revela a autoridade de Deus sobre faraó e os deuses do Egito. Nos Salmos, Davi exalta o poder e a majestade do Senhor. Os Profetas proclamam sua ira e justiça. Os Evangelhos e as Epístolas revelam seu caráter na pessoa e obra de Cristo. O livro de Apocalipse exibe seu domínio sobre todas as coisas. Do início ao fim, a Bíblia é um livro sobre Deus.

Talvez eu soubesse de fato que a Bíblia era um livro sobre Deus, mas não percebia que não a estava lendo como se fosse.

Foi aqui que coloquei as coisas de trás para frente: eu iniciava meu devocional fazendo as perguntas erradas. Eu lia a Bíblia, perguntando: “Quem eu sou?” e “O que devo fazer?” E a Bíblia realmente respondeu a essas perguntas em alguns lugares. Efésios 2.10 me disse que eu era feitura de Deus. O Sermão do Monte me disse para pedir pelo pão de cada dia e para acumular tesouros no céu. A história do rei Davi me disse para buscar um coração segundo o coração de Deus. Mas as perguntas que eu estava fazendo revelaram que eu tinha uma sutil má interpretação em relação à própria natureza da Bíblia: eu acreditava que a Bíblia era um livro sobre mim.

Eu cria que deveria ler a Bíblia para ensinar a mim mesma sobre como viver e para ter a garantia de que eu era amada e perdoada. Eu acreditava que ela era um guia para a vida e que, em qualquer circunstância, alguém que realmente soubesse como ler e interpretá-la poderia encontrar uma passagem que oferecesse conforto ou orientação. Eu acreditava que o propósito da Bíblia era me ajudar.

Com esse pensamento, eu não era muito diferente de Moisés, em pé diante da sarça ardente no Monte Sinai. Imediatamente em sua visão estava a revelação do caráter de Deus: uma sarça em chamas, conversando com ele de forma audível, a qual não era consumida miraculosamente. Quando foi encarregado por essa visão de Deus para ir até faraó e exigir a libertação dos cativos, Moisés, autoconsciente, responde: “Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” (Êx 3.11)

Deus responde com paciência, fazendo de si mesmo o sujeito da narrativa: “Eu serei contigo” (Êx 3.12). Em vez de se tranquilizar com essa resposta, Moisés pergunta em seguida: “Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?” (v. 13)

Observe que em vez de dizer a Moisés o que ele deveria fazer, Deus, ao contrário, diz o que ele mesmo tem feito, está fazendo e fará:

Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isa-que e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração. Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: OSENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito. Portanto, disse eu: Far-vos-ei subir da afl ção do Egito […]. E ouvirão a tua voz; e irás, com os anciãos de Israel, ao rei do Egito e lhe dirás: O SENHOR, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus. Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte. Portanto, estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os meus prodígios que farei no meio dele; depois, vos deixará ir. Eu darei mercê a este povo aos olhos dos egípcios; e, quando sairdes, não será de mãos vazias. (Êx 3.14-22)

O diálogo continua dessa maneira. Por todo esse capítulo e metade do livro de Êxodo, Moisés faz as perguntas erradas: Quem sou eu? O que eu devo fazer? Em vez de lhe dizer: “Moisés, você é meu servo escolhido. Você é minha criação preciosa, um líder sábio e talentoso”, Deus responde removendo completamente Moisés da posição de sujeito da discussão e inserindo a si mesmo. Ele responde à pergunta autocentrada de Moisés “Que sou eu?” com a única resposta que importa: “Eu sou”.

Somos como Moisés. A Bíblia é a nossa sarça ardente — uma declaração fiel da presença e da santidade de Deus. Nós pedimos que ela fale acerca de nós mesmos, mas em todo o tempo ela nos fala a respeito do “Eu sou”. Nós pensamos que se ela ao menos nos dissesse quem somos e o que devemos fazer, então nossas inseguranças, temores e dúvidas desapareceriam. Mas as nossas inseguranças, temores e dúvidas jamais podem ser banidos pelo conhecimento de quem nós somos. Eles só podem ser banidos pelo conhecimento do “Eu sou”. Devemos ler e estudar a Bíblia com nossos ouvidos treinados para ouvir a declaração que Deus faz de si mesmo.

Isso significa que a Bíblia não tem nada a dizer sobre quem nós somos? De modo nenhum. Nós apenas tentamos responder àquela pergunta de trás para frente. A Bíblia realmente nos fala sobre quem somos e sobre o que devemos fazer, mas o faz através das lentes de quem é Deus. O conhecimento de Deus e o conhecimento do eu sempre andam de mãos dadas. De fato, não pode haver um conhecimento verdadeiro do eu desvinculado do conhecimento de Deus. Ele é o único ponto de referência que é confiável. Portanto, quando leio que Deus é longânimo, percebo que não sou longânima. Quando leio que Deus é tardio em se irar, percebo que sou rápida em me irar. Quando leio que Deus é justo, percebo que sou injusta. Perceber quem ele é me revela quem eu sou diante da verdadeira luz. Uma visão de um Deus elevado e exaltado revela o meu pecado e aumenta o meu amor por ele. Tristeza e amor levam ao arrependimento genuíno, e eu começo a me conformar à imagem daquele que contemplo.

Se eu ler a Bíblia procurando a mim mesma no texto antes de procurar por Deus, eu posso de fato aprender que não devo ser egoísta. Posso até tentar mais arduamente não ser egoísta. Entretanto, até que eu enxergue o meu egoísmo através das lentes do absoluto altruísmo de Deus, não compreenderei adequadamente a pecaminosidade disso. A Bíblia é um livro a respeito de Deus. Assim como Moisés aprenderia durante o Êxodo, quem ele era não exerceu qualquer impacto no desfecho de sua situação. Quem Deus era fez toda a diferença.

No Novo Testamento, encontramos Jesus tratando do mesmo problema com os líderes judeus. “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida.” (Jo 5.39-40) Os líderes judeus investigavam as Escrituras fazendo a pergunta errada, procurando pela imagem errada a ser revelada.

Se a vida eterna se encontra nas Escrituras, ela só é descoberta por meio das lentes de quem Deus é. Se a nossa leitura da Bíblia concentrar os nossos olhos em qualquer outra pessoa que não seja Deus, temos virado o processo de transformação de trás para frente. Todo estudo da Bíblia que busca estabelecer a nossa identidade sem antes proclamar a identidade de Deus nos prestará uma ajuda parcial e limitada. Devemos desvirar o nosso hábito de perguntar “Quem eu sou?” Devemos perguntar primeiro: “O que esta passagem me ensina a respeito de Deus?”, antes de pedirmos para que ela nos ensine qualquer coisa acerca de nós mesmos. Devemos reconhecer que a Bíblia é um livro a respeito de Deus.

 

Fonte: trecho do livro Mulheres da Palavra de Jen Wilkin, lançamento de Março de 2015 da Editora Fiel.


Autor: Jen Wilkin

É palestrante, escritora e professora de estudos bíblicos para mulheres. Ela tem organizado e liderado estudos para mulheres nos lares, na igreja e em contextos paraeclesiásticos. Jen e sua família são membros da Village Church, na região de Dallas.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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