O apóstolo Paulo expressou uma frase bastante famosa quando disse que “a boa vontade do seu coração”, e sua “súplica a Deus”, era de que seus patrícios, os judeus, fossem salvos. (Romanos 10:1). O problema era que esses seus “compatriotas segundo a carne” estavam perdidos – destinados a uma eternidade sem Deus – fato que enchia Paulo de “grande tristeza e incessante dor no coração”. (Romanos 9:2-3)
Porque somos pecadores, podemos tomar uma doutrina verdadeira (a absoluta soberania de Deus) e torná-la incompatível com uma emoção, que é tão apropriada (constante angústia pelos que se perdem). Em um sermão pregado anos atrás, John Piper expôs três maneiras pelas quais chegamos a experimentar uma desconexão entre uma doutrina bíblica e um legítimo estado emocional:
- Primeiro, a doutrina da Soberania de Deus poderá levar-nos a não sentirmos tristeza por aqueles que estão perecendo.
- Segundo, a doutrina da Soberania de Deus poderá levar-nos a não sentirmos o desejo de que aqueles sejam salvos.
- E, em terceiro lugar, a doutrina da Soberania de Deus poderá levar-nos a desistirmos de orar para que eles sejam salvos.
- Não nos esqueçamos da realidade dessa terrível condição
- Medite sobre a suficiência de Cristo
- Medite no poder do Espírito para convencer e atrair
- Imagine a alegria na conversão de um pecador perdido
- Considere a Maravilhosa Graça de Deus para consigo em Cristo
- Ponha em ação seus desejos afetuosos
- Ore e peça a Deus que aumente o seu amor pelos que se perdem
Mas que faremos se [acaso] cremos nas doutrinas de Paulo, porém não participamos de sua angústia? Existirá um meio de cultivarmos um coração que sente pelos que se perdem – um coração como o de Paulo?
Piper nos oferece sete diferentes passos:
Nunca esqueça o fato de que aqueles que não obedecem a Cristo, não têm a vida eterna e passarão a eternidade sob a ira de Deus. João 3:36: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”
Pergunte-se: “Se eu tivesse o conhecimento de que uma praga estava se proliferando e eu soubesse que meu colega ainda não foi vacinado para proteger-se, não perguntaria porque ainda se recusa? Não trataria de persuadi-lo a escolher a vida?” Pergunte-se o que diria no Dia do Julgamento se o seu amigo incrédulo, voltando-se, lhe perguntasse porque você não lhe falou mais seriamente sobre esta questão da vida eterna.
Em outras palavras, pense sobre esta terrível realidade de entrar na eternidade sem Cristo.
Medite com frequência na completa eficiência da morte de Cristo para cobrir os pecados de, absolutamente, qualquer um que se arrependa e creia em Cristo. Constantemente exalte Cristo, em seu próprio coração, pela superabundante graça que nos vem por Sua cruz. Lembre-se, vez trás vezes, em benefício de seus parentes e colegas, de que a obediência de Cristo trouxe a justificação e a vida em favor de todo aquele que crê, não importa quantos pecados tenha cometido. Glorie-se na obra da cruz por você mesmo e logo você começará a gloriar-se na obra da cruz em benefício de outros.
Lembre-se frequentemente do testemunho de Paulo, em 1 Timóteo1:15-16, que diz:
“Fiel é a Palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo, a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.”
Deus primeiramente salvou o pior para mostrar-nos a esperança que há para os demais, mesmo que, ao nosso parecer, achemos que estes sejam demasiadamente maus.
Enquanto você considera a suficiência e a eficiência da cruz em cobrir os pecados de todo aquele que crê, pondere igualmente sobre o poder do Espírito Santo em convencer pecadores e em atraí-los ao Salvador (João 16:8; 6:44). Não se deixe afundar em um sentimento pessimista, dizendo: “Sim, Deus pode perdoar aos que crêem, mas eles são tão endurecidos e indiferentes que nunca chegarão a crer.”
Pregue a si mesmo o fato de que estes são os dias da Nova Aliança. O Sangue da aliança eterna que foi derramado. O Santo Espírito tem sido derramado sobre toda a carne, e a promessa desta Nova aliança é:
“Porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos.”
Tampouco seja fatalista dizendo que: “Bem, a conversão está nas mãos de Deus. Se Ele quiser salvar, deixe-O que salve.” Ao contrário, diga: “O desejo do meu coração é de que eles sejam salvos!” e, “Visto que a conversão está nas mãos de Deus, ó há esperança de conversão para o mais endurecido e frio dos pecadores!”. “Ó Senhor, permita que eles se arrependam e venham ao conhecimento da verdade.” (2 Timóteo 2:25)
Não seja pessimista quanto ao poder do Espírito Santo para transformar pecadores. Quando João Wesley chegou a Newcastle-upon-Tyne, nos Estados Unidos da América, em Maio de 1742, ele escreveu estas palavras: “Fiquei surpreendido; tanta bebedeira, vulgaridades e palavrões (até mesmo da boca de criancinhas), do que não me recordo haver ouvido em tão curto tempo. Sem dúvida, este lugar está maduro para Aquele que “veio não para chamar os justos, mas pecadores ao arrependimento.” E Deus honra este tipo de expectação audaz. Portanto, pregue a si próprio o poder de Deus de trazer convicção de pecado aos pecadores.
Imagine a alegria que você terá por um pecador que se arrependa e venha a Cristo através de suas orações e do seu testemunho. Paulo chamava a seus convertidos de sua “esperança, ou alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus Cristo em sua vinda.” (1 Tessalonicenses 2:19). E João disse, “Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade.” Deixe que sua imaginação sinta o gozo de haver sido usado por Deus, a fim de trazer uma pessoa da morte à vida eterna.
Sim, considere quão gratuita e imerecida foi a graça de Deus que lhe trouxe a Cristo. Poderá haver sido através de seus pais, ou de um amigo, ou de um pastor, ou de um evangelista, ou de um livro. Mas, não importando o que tenha sido, você não merecia. Seu reavivamento espiritual, a sua convicção de pecados, seu entendimento do Evangelho e a sua consequente submissão a Cristo foram dons gratuitos da graça de Deus.
Quanto mais você possa apreciar quão graciosa e imerecida foi a obra de Deus em sua vida, mais você sentirá que sua própria graça, ou compaixão para com outros deverá ser, igualmente, gratuita – não levando em consideração o valor ou a falta deste nas pessoas. “E andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós. (Efésios 5:2). Quando a sua dispensa está repleta de alimentos, os quais você nada fez para ganhá-los, e outros estão famintos ao seu redor, o coração diz: “de graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8 cf. 2 Reis 7:9)
Coloque em ação aqueles desejos afetuosos que você já tem. Eu conheço, por experiência, o quão difícil é saber se realmente amamos uma pessoa. Será que eu realmente me preocupo com os perdidos? São minhas orações uma farsa? Realmente desejo que sejam salvos? Estas são perguntas honestas e boas para que nos perguntemos. Mas como elas poderão ser respondidas? Nossos corações e nossas motivações são tão enganosas…
1 João 3:18-19 nos fornece uma resposta:
“Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade. E nisto conheceremos se somos da verdade, bem como, perante ele, tranquilizaremos os nossos corações.”
Em outras palavras, se nós não apenas falarmos sobre ter cuidado pelos outros, mas tomarmos os passos necessários para ajudá-los, nossa confiança em Deus crescerá e saberemos se estamos sendo genuínos e autênticos quando falamos em compaixão. Colocar em ação os desejos que reconhecemos haver em nós, fará com que a genuinidade de nossos desejos aumente.
Finalmente, ore para que Deus possa fazer com que seu amor pelos perdidos abunde ainda mais. Ouça a oração do Apóstolo por nós em 1 Tessalonicenses 3:12: “e o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também para conosco.” O amor por todos os homens é uma obra de Deus em nossos corações. Não é algo que possamos dizer ser “natural” para nós mesmos. É um dom da graça.