quinta-feira, 12 de dezembro
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Sim, as ordenanças realmente mudam as pessoas

Os evangélicos são descendentes da Reforma Protestante. Acreditamos que a salvação é apenas pela graça, apenas pela fé, apenas em Cristo. Entre outras coisas, os reformadores rejeitaram o sistema sacramental da Igreja Católica, que interpretava o batismo e a Ceia do Senhor como instrumentos para a salvação.

Entretanto, apenas porque os protestantes rejeitaram as ordenanças como instrumentos para a salvação não significa que elas não sejam necessárias na vida cristã. Acreditamos que o Senhor Jesus instituiu as ordenanças para o povo de Deus observar quando estão reunidos para adoração. Elas são um sinal da união do cristão tanto com Cristo quanto uns com os outros. 

E então, acreditamos que as ordenanças realmente mudam as pessoas. Deixe-me dar-lhe três razões. 

1. As ordenanças são a Palavra tornada visível 

As ordenanças estão inerentemente ligadas à Palavra de Deus. Além disso, é pela Palavra de Deus que os incrédulos chegam à fé (Rm 10.13-17) e os cristãos se tornam como Jesus (Jo 17.17). À medida que a igreja se reúne para adoração, a Palavra permanece no centro de nossas reuniões — por meio de nossa oração e pregação, nossa leitura e nosso canto, e por meio da nossa prática do batismo e da Ceia do Senhor. Essas ordenanças são a Palavra tornada visível. 

Nosso Senhor Jesus instituiu tanto o batismo (Mt 28.18-20) quanto a Ceia do Senhor (Lc 22.14-20; 1Co 11.23-30). Elas são parte dos planos de Deus para edificação de sua igreja. Ele ordena que sua igreja observe o batismo e a Ceia do Senhor porque são proveitosos para nós como meio de nossa santificação. Assim como a Palavra do Senhor, as ordenanças não são mágicas em si mesmas. Mas sim! Elas realmente mudam as pessoas. 

2. As ordenanças apontam para nossa união com Cristo — e nossa união uns com os outros. 

As ordenanças são sinais visíveis do evangelho. O que isso significa? Deixe-me explicar. 

No batismo, vemos o evangelho representado na imersão do pecador arrependido. Por meio do batismo, seu pecado foi “lavado” (At 22.16); seu batismo proclama que eles estão unidos a Cristo em sua morte e ressurreição (Cl 2.11-12; cf. Rm 6.3-4).

Na Ceia do Senhor, vemos o evangelho retratado quando uma igreja local, como um corpo, participa do Pão e do Cálice (1Co 10.16-17). A Ceia do Senhor é uma refeição memorial na qual o corpo de Cristo lembra o corpo dele que ele deu no lugar de seu povo e o seu sangue que ele derramou para estabelecer a nova aliança. 

Esses símbolos não são abstratos. Eles exibem visivelmente verdades invisíveis — de salvação, regeneração e união com Cristo. É por isso que Cristo deu esses símbolos à igreja. Aqueles que participam das ordenanças devem ser cristãos, de modo que a representação visível corresponda à realidade invisível. Em outras palavras, sim, as ordenanças mudam as pessoas. Mas elas também apontam para pessoas mudadas. Aqui está o que quero dizer. 

Quando fomos batizados, nos identificamos tanto com nosso arrependimento (At 2.38; cf. Rm 6.3-4) quando com nossa regeneração, isto é, nossa nova vida em Cristo (Jo 3.5-7; Rm 6.4). Além disso, afirmamos publicamente nosso compromisso não apenas com Deus, mas também com seu povo. Este último compromisso é cristalizado por meio da Ceia do Senhor, na qual a igreja local se reúne para lembrar da morte do Senhor Jesus e antecipar o dia em que ele retornará (1Co 11.23-26).

Se lermos em 1 Coríntios 11, fica claro que uma participação adequada na Ceia do Senhor requer auto-exame (1Co 11.28). Requer fazer pelo menos duas perguntas: “Como está nosso relacionamento com o Senhor?” e “Como está nosso relacionamento com os irmãos crentes?”.

A Ceia do Senhor nos convida a lembrar da obra de Cristo em nosso favor e a entregar novamente nossas vidas a Deus. Esse tipo de auto-exame leva ao arrependimento. A mudança é uma parte inerente das ordenanças. Em outras palavras, sim, as ordenanças realmente mudam as pessoas.

3. As ordenanças realmente significam algo.

Finalmente, a maneira como as Escrituras falam sobre as ordenanças deve nos convencer de que elas realmente mudam as pessoas. Em sua primeira carta, Pedro diz que “o batismo […] agora também salva vocês, não sendo a remoção das impurezas do corpo, mas o apelo por uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe 3.21; cf. Rm 6.3-4; Cl 2.11-12). Observe que não é a água que salva, mas o apelo a Deus por meio da ressurreição de Jesus Cristo. Ainda assim, é significativo poder dizer que o batismo “salva”. Como podemos entender isso, considerando o que eu disse anteriormente, sobre o batismo não ser necessário à salvação?

Podemos compará-lo a um casal se casando. O homem e a mulher poderiam apenas ficar juntos e ter um acordo privado e mútuo. Mas uma cerimônia pública com juramento público diante de testemunhas — esse é um contato visível e muda tudo. Em uma cerimônia de casamento, o homem e a mulher, sob juramento público, são declarados marido e mulher. Do mesmo modo, no batismo, a pessoa — mediante sua profissão pública de fé — é reconhecida pela igreja como cristã. A pessoa batizada agora entra em uma nova vida, uma nova identidade, uma nova fidelidade. Eles pertencem a um povo novo.

A respeito da Ceia do Senhor, Paulo pergunta aos Coríntios: “Não é fato que o cálice da bênção que abençoamos é a comunhão do sangue de Cristo? E não é fato que o pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão” (1Co 10.16-17; cf. Jo 6.53-58). 

O cálice e o pão são sinais visíveis, materiais. Mas quando os membros de uma igreja local participam desses elementos, eles se tornam algo mais. Eles se tornam o meio pelo qual temos comunhão com Cristo e uns com os outros. É por isso que Paulo, mais tarde, diz que “vocês não podem ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (1Co 10.21). Quando participamos corretamente, há verdadeira comunhão com Deus e uns com os outros. Quando não participamos corretamente, estamos tendo comunhão com outra coisa.

É claro que a água batismal, a fatia do pão e o cálice não possuem propriedades mágicas. Assim como as palavras das Escrituras precisam ser cridas para serem proveitosas para nós, também as ordenanças precisam ser recebidas em fé para serem proveitosas para nós. Em outras palavras, sim, as ordenanças realmente mudam as pessoas. Mas a fé deve vir em primeiro lugar.

 

Por: Tiago Oliveira. ©️ 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Yes, The Ordinances Really Do Chance People. ©️ Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradutor: Julia Maria. Editor e revisor: Vinicius Lima.


Autor: Tiago Oliveira

Tiago Oliveira é membro da Capitol Hill Baptist Church e doutorando (Estudos Bíblicos) no Puritan Reformed Theological Seminary.

Parceiro: 9Marks

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