Vamos fazer uma breve excursão pelo mais conhecido capítulo sobre os heróis da fé nas Escrituras, em Hebreus 11. Lembre-se de que o livro de Hebreus foi escrito aos crentes judeus que sofriam profundamente por causa de sua fé, e, Hebreus 11, em particular, foi escrito para lembrá-los da fé dos santos que vieram antes deles.
O capítulo começa com Abel, que “ofereceu a Deus um sacrifício mais aceitável do que Caim” (Hb 11.4), foi elogiado por isso e, então, assassinado por seu próprio irmão. O texto logo prossegue para Enoque, que teve este testemunho: ele agradou tanto a Deus, que o Senhor o tomou para si, sem que Enoque precisasse morrer. Todas nós sabemos da história de Noé, a quem Deus salvou da destruição. Jeremiah Burroughs, um inglês puritano do século XVII, disse:
Vocês sabem como Noé foi colocado na arca, com todos os tipos de criatura fechadas com ele por doze meses — foi algo poderoso, ainda que Deus o tenha fechado, mesmo que as águas tivessem abrandado, Noé não sairia da arca até que Deus mandasse.
Você já pensou como deve ter sido a vida de Noé naqueles doze meses? Tenho certeza de que ele almejava ser liberto da prisão que também era a sua salvação, mas tinha que esperar até que Deus completasse a obra que se comprometeu a realizar nele e no mundo.
Considere comigo as jornadas de Abraão. Ele foi, graciosamente, escolhido por Deus para ser o pai da nossa fé (veja Rm 4.16); e deixou o seu lar sem saber para onde estava indo. Ele ansiava pelo cumprimento das promessas de Deus para ele e sua esposa, mas foi afligido por muitos anos enquanto esperava pela provisão de
Deus. Ele foi extremamente testado quando Deus lhe pediu que oferecesse Isaque. Você já pensou como foi grande a aflição dele enquanto viajava ao monte Moriá para matar o filho prometido que havia esperado por tantos anos?
Sara, igualmente, sofreu os efeitos devastadores da infertilidade; em incredulidade, recorreu às medidas carnais para tentar cumprir a promessa sozinha, e depois teve que viver com as consequências de tal incredulidade. Cada um desses santos “morreram em fé, sem terem recebido as coisas prometidas”, mas eles reconheceram que eram “estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 11.13). Você já pensou, de forma profunda, nessas palavras “estrangeiros e peregrinos na terra”? Muitas preocupações que temos com os nossos problemas não derivam do conceito de que este mundo é o nosso lar, e que ele deve ser um bom lugar para viver? Eu me pergunto, como os exilados vivem em outros países?
O capítulo continua para falar de Moisés, que preferiu ser “maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito” (Hb 11.25-26). Podemos dizer que Moisés quis pérolas no lugar de miçangas, não podemos?
E quanto ao sofrimento de José? Pense por um momento sobre as aflições que ele enfrentou: ele foi desprezado pelos seus irmãos e jogado em um poço para que fosse executado. Somente a retidão de um irmão, Rubem, o salvou da morte, mas ele foi condenado a uma vida de escravidão. Foi arrancado de seu pai e de seu irmão Benjamim, e enviado para ser escravo no Egito. Enquanto esteve ali, ele foi falsamente acusado e enviado à prisão. Na prisão, ele ajudou os oficiais do Faraó e, quando ele podia ter esperança de que eles o ajudariam, a Bíblia diz: “O copeiro-chefe, todavia, não se lembrou de José, porém dele se esqueceu.” (Gn 40.23). O Salmo 105.17-19 nos dá um retrato claro das suas provações: “José, vendido como escravo; cujos pés apertaram com grilhões e a quem puseram em ferros, até cumprir-se a profecia a respeito dele, e tê-lo provado a palavra do Senhor”.
E quanto ao sofrimento de Raabe, a prostituta, ou de “Gideão, Baraque, Sansão, Jefté… Davi e Samuel”, os quais por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, [isso parece bem emocionante até agora!], fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força [isso não parece tão legal!]… outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados. (Hb 11.33-34, 36-37).
Esse é o testemunho dos santos que foram elogiados por sua fé, embora fraca. Eles não sabiam nada sobre um cristianismo que prometia “saúde, abundância e vitória”. Eles sabiam que este mundo era caído e que não era o lar deles.
Os santos sofredores e você
Certa vez, ouvi alguém citar um cristão africano que disse: “Quando vocês, cristãos na América, estão com um fardo pesado, vocês oram para que o Senhor o tire de suas costas. Quando nós, cristãos na África, estamos com um fardo pesado, oramos para que o Senhor fortaleça as nossas costas”.
É óbvio que vivemos em um tempo e em um contexto que pregam o consolo, a riqueza e o sucesso focados em nós mesmas, não é? Ele nos dá somente o que podemos suportar e permite isso somente pelo tempo que for absolutamente necessário. Somos tão prósperas, tão abençoadas. Porém, enquanto lutamos para nos amarrarmos em toda essa prosperidade e bênção, estamos lutando contra o bom plano de Deus em nossas vidas; ele quer adornar as nossas almas com pérolas, e a nossa tendência é nos contentarmos com miçangas.
O encorajamento de Paulo aos seus amados irmãos em Coríntios, enquanto eles enfrentavam aflição e provações, era: “sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58).
Você crê que o trabalho para o qual Deus a está chamando não é “em vão”? Enquanto se junta a todos os outros santos sofredores que já viveram, você pode orar para que Deus fortaleça as suas costas, a fim de que ele lhe dê a graça de ser inabalável, firme e sempre abundante no trabalho ao Senhor. Como você pode fazer isso? Ao lembrar-se de que, embora a sua fé na tempestade pareça insignificante, ela não é! O que fazemos por ele, a forma pela qual sofremos na fé, nunca é sem sentido. Ela sempre tem um propósito — mesmo que você e eu não saibamos qual é o propósito correto. Você também pode se lembrar de que essa aflição, que parece prender a sua atenção tão frequentemente, é uma pérola em formação.
Artigo adaptado do livro Coração Inabalável, de Elyse Fitzpatrick.