O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Deus, tecnologia e a vida cristã, de Tony Reinke, Editora Fiel
A tecnologia nunca é suficiente
A tecnologia pode parecer forte, mas é fraca – fraca demais para satisfazer os desejos internos da humanidade. Quando Carl Sagan terminou de mapear uma possibilidade multiplanetária para a sobrevivência da humanidade, ele alertou que poderíamos estar a salvo da morte deste planeta, mas nunca estaríamos a salvo de nós mesmos. Nós, humanos, carregamos dentro de nós uma propensão à autodestruição — na Terra, em Marte ou em qualquer planeta que escolhermos depois. “Se nos tornarmos só um pouco mais violentos, míopes, ignorantes e egoístas do que somos agora”, alertou, “quase certamente não teremos futuro”. Somos egoístas. Não nos satisfazemos facilmente, certamente não por nossas tecnologias.
As coisas efêmeras são mais brilhantes do que as eternas, e as novas inovações são sempre mais atraentes do que as ideias antigas. Microprocessadores e smartphones expandem o que significa ser humano. As ferramentas nos ensinam mais sobre nós mesmos e nos ajudam a nos expressar mais plenamente. Ferramentas tecnológicas não são como chaves e martelos que usamos para propósitos limitados; são ferramentas de autodescoberta e autoexpressão. Nossas ferramentas mais poderosas expandem nossas vidas, nossas aspirações e até nossos amores. Porém, à medida que abraçamos novas possibilidades, também ficamos com um novo e enorme dilema.
O dilema espiritual da era tecnológica é profundo porque nossa economia moderna é construída sobre a falsa promessa de que as inovações são a chave para satisfazer os anseios do coração. “Se formos honestos, devemos admitir que um aspecto das atualizações incessantes do eterno devir do technium é fazer buracos em nosso coração”, admite Kevin Kelly. Somos descontentes de fábrica. “Um dia, não muito tempo atrás, nós (todos nós) decidimos que não poderíamos viver mais um dia a menos que tivéssemos um celular; uma dúzia de anos antes, essa necessidade nos teria deixado estupefatos”, escreve ele. “Agora ficamos com raiva se a rede estiver lenta, mas antes, quando éramos inocentes, não tínhamos nenhum pensamento sobre a rede. Continuamos inventando coisas novas que criam novos anseios, novos buracos que devem ser preenchidos”. O descontentamento tecnológico não é desumanizante, diz ele; é uma ampliação humana. Nossas novas ferramentas nos tornam mais do que já somos. Elas nos expandem. Mas, ao nos expandir, eles abrem novos buracos a serem preenchidos.
“O impulso das tecnologias nos leva a perseguir o mais novo, que está sempre desaparecendo sob o advento da próxima novidade, então a satisfação continua a se afastar de nosso alcance”. Então, qual é a solução? No final, Kelly recorre ao technium para “celebrar o descontentamento sem fim que a tecnologia traz”, porque esse “descontentamento é o gatilho para nossa engenhosidade e nosso crescimento”.
A inovação tecnológica é desencadeada pelo descontentamento dentro de nós. Nunca estamos satisfeitos, sempre procuramos, sempre dispostos a adotar novas tecnologias na busca da autorrealização que nunca chega. É de partir o coração ver um homem honesto lidar com as decepções da tecnologia.
Cada nova dádiva de inovação promete que seremos melhores, mas nessa promessa somos perfurados com novos buracos de carência que devem ser perpetuamente preenchidos com mais massa tecnológica. Mais adoção de tecnologia significa mais necessidades, mais buracos, menos satisfação e mais necessidade de mais tecnologia para adotar. As ações do mercado de tecnologia se alimentam dessa insatisfação, mas, para a alma humana, isso é uma projeção do pesadelo das páginas de Eclesiastes. As inovações nos deixam desamparados porque intencionalmente ignoram Deus. E qualquer empreendimento científico ou tecnológico que tente deixar Deus de fora “torna-se seu próprio oposto e desilude todos os que nele depositam suas expectativas”. As decepções do universo tecnológico provam isso repetidamente. Já vimos essa desilusão tecnológica duas vezes na história, no final do século XIX e no Vale do Silício do século XXI. Esse desencanto sempre estará presente. Dois males simultâneos sempre subvertem a felicidade do homem: primeiro, renunciar a Deus como nosso “manancial de águas vivas” totalmente satisfatório e, segundo, substitui-lo por algumas promessas de engenharia humana que nada são além de “cisternas rotas”, tanques cheios de buracos irreparáveis que não podem reter água (Jr 2.13). Quando buscamos a felicidade na mais recente façanha tecnológica humana, devemos primeiro assumir (conscientemente ou não) que Deus não é suficiente. Nosso mais recente aparelho promete nos completar. Mas Deus sabe que não é verdade. Somos almas eternas que não podem ser satisfeitas nas ambições do homem. Deus sabe disso, e ele subverteu as falsas promessas do Evangelho da Tecnologia desde o início. Você pode encher seu coração com substitutos de Deus feitos pelo homem, mas eles nunca serão suficientes. Você pode perseguir a próxima ferramenta, o mais novo poder inovador, o mais novo aprimoramento ou a próxima fronteira na exploração espacial. Mas se você está fazendo essas coisas para satisfazer seu coração, você estará tapando buracos com massinha de modelar.
As tecnologias são maravilhosas. O potente chip de computador muda tudo. O poder das câmeras digitais é fascinante. O celular é impressionante. A Internet que une cristãos de todo o mundo é notável. As viagens espaciais que expandem o que sabemos sobre o universo são de tirar o fôlego.
Avanços módicos, como o fim da poliomielite, do câncer, da demência e dos defeitos genéticos — se alcançarmos essas vitórias — seriam surpreendentes, e daríamos a Deus toda a glória por criar mentes para lidar com esses problemas. Mas os cristãos devem sempre voltar é questão da confiança. O mesmo balde de piche pode ser usado para edificar nossa confiança em Deus ou para construir torres de incredulidade.
A vida sábia na era tecnológica não é estabelecida pelos cristãos que ignoram as possibilidades materiais, nem pelos tecnólogos que descartam as maravilhas espirituais. A sabedoria começa no temor e se expressa na gratidão. Posso — em Sã consciência — agradecer a Deus por uma inovação? A ética do que é permitido ou proibido está enraizada na gratidão. “Pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado” (1Tm 4.4–5). Isso vale para churrascos, casamentos, celulares e avanços médicos. Se pudermos agradecer honestamente a Deus por aquilo, podemos adotá-lo. A gratidão a Deus nos dá fé para ver que somente Cristo pode preencher os buracos em nossas almas. Cristo é o segredo para prosperar na era da IA, robôs autônomos e avanços antienvelhecimento.
A alegria em Cristo nos ensina a sermos gratos pelas inovações que precisamos e estarmos contentes sem aquelas que não precisamos.
Trecho adaptado com permissão do livro Deus, tecnologia e a vida Cristã, de Tony Reinke, Editora Fiel.
Por: Tony Reinke. © Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Editor: Renata Gandolfo.