terça-feira, 3 de dezembro
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Três lições sobre evangelismo transcultural

Na nossa igreja em Dubai, nós temos nos maravilhado em testemunhar conversões de pessoas da Eritreia e do Uzbequistão, da Síria e da África do Sul, da Escócia e da Espanha, do Irã e da Índia, da Holanda e da Bolívia, da Alemanha e da China e de outros países. Elas vêm de contextos religiosos e seculares, tradicionais e progressivos, muçulmanos e hindus, jovens e idosos.

Qual é a chave para abrir os corações dessas pessoas de contextos culturais e religiosos tão diversos?

A resposta é que não “chave transcultural”. Em nosso evangelismo aqui, nós não fazemos nada diferente do que faríamos em qualquer outro lugar. Nossos métodos evangelísticos não têm qualquer criatividade. Sugerir que algumas pessoas são mais fáceis de se converter do que outras é avesso às Escrituras. Todos nós, por natureza, estamos longe do Senhor. Então, em nosso evangelismo devemos testemunhar, orar e aguardar o mover soberano do Espírito.

Não existe “chave” para entrar em um necrotério espiritual.

Mas isso não significa que a diversidade cultural seja irrelevante para o evangelismo. A maioria das cidades do mundo estão se tornando cada vez mais etnicamente diversas. Com 202 nacionalidades em seu mercado de trabalho, Dubai está adiantada nessa área. O mundo voltou os olhos para a Arábia, trazendo desafios e oportunidades para o evangelismo.

Três lições

Eis aqui três lições que aprendemos pelo fato de vivermos e ministrarmos em um ambiente ultra-multicultural:

1. Comunique-se claramente

Primeiro, comunique-se claramente. Muçulmanos são ensinados desde a infância que Deus não tem Filho algum. Os hindus negam a existência de um Criador transcendente que fundamenta toda a existência e moralidade. Humanistas seculares pensam que a verdade religiosa é relativa. Então, com quem quer que estejamos falando, devemos definir nossos termos de forma clara. Com muçulmanos, nós analisamos o que a Bíblia quer dizer a respeito do Filho de Deus: não que o Pai e Maria tenham fisicamente produzido descendentes, semelhante a Zeus e Dânae, mas que a imagem eterna do Deus invisível, cuja existência precedeu a do universo, veio por si mesmo e encarnou.

Com hindus, nós trabalhamos para explicar um universo moral, onde bem e mal são definidos pelo caráter de Deus e sua vontade revelada. É inútil falar sobre “pecado” (Rm 3.23) ou apontar as pessoas para o “Filho” (Jo 3.16), a menos e até que tenhamos explicado esses conceitos. Em contextos multiculturais, devemos, como D.A. Carson disse: “começar nosso evangelismo muito mais atrás para fornecer mais do enredo da Bíblia, a fim de que as boas novas tenham coerência […] então temos que explicar mais da doutrina de Deus e, consequentemente, do Filho, para uma geração que não sabe nada a respeito da Trindade”.[1]

É por isso que quando Thabiti Anyabwile publicamente dialogou com o ativista muçulmano Shabir Ally em Dubai no ano passado, sua declaração de abertura foi um rápido panorama da teologia do Antigo Testamento, que os conduziu à vida e ao ministério de Jesus. A menos que os ouvintes tenham compreendido o enredo da Bíblia, o significado da expiação não faria sentido para eles.

Trata-se simplesmente de comunicação clara, que é de máxima importância quando vivemos entre pessoas que são iletradas biblicamente e vacinadas contra uma cosmovisão bíblica.

2. Proclame a Palavra

Segundo, proclame a Palavra. Tiago ensina que Deus “nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.18). Onde quer que estejamos, o agente da regeneração é a revelação bíblica, lida e proclamada. É por isso que, em nosso evangelismo, se a pessoa sabe ler, nosso objetivo deve ser estudar a Bíblia com ela, independente de sua cultura.

O “evangelismo por amizade” está cada vez mais popular no Oriente Médio e em muitos outros lugares, devido à impressão (equivocada) de que não podemos ou não devemos comunicar direta e claramente o que é a mensagem cristã, mas, em vez disso, deveríamos fazer alusões e insinuações até que o nosso amigo demonstre uma abertura para ouvir mais. O evangelismo por amizade enfatiza que devemos conquistar o direito de falar do evangelho para outra pessoa. É claro, não devemos usar as pessoas meramente como projetos evangelísticos. Mas, como um evangelista me disse, existe o perigo de priorizar a amizade em detrimento do evangelismo. Uma preocupação excessiva quanto ao contexto e as técnicas tenderá a ofuscar o mandamento de simplesmente “pregar a Palavra”.

3. Use a igreja local

Terceiro, use a igreja local. Em qualquer continente que você esteja, a igreja é uma reunião de pessoas que habitam o Espírito de Deus, e que se reúnem semanalmente para a pregação, louvor, oração e ordenanças. Paulo esperava que a assembleia semanal não só edificasse os crentes, mas também convencesse os incrédulos que compareciam (1Co 14.25).

Ao longo dos anos, muitas pessoas de países de “acesso restrito” ou “fechados” silenciosamente frequentaram a nossa igreja ou, até mesmo, entraram em nosso prédio durante a semana, e pediram para aprender a respeito de Jesus. Ou ligaram para a secretaria da igreja, identificaram sua religião e pediram para encontrar com alguém a fim de considerar as reivindicações de Cristo. Nós todos ficávamos muito felizes em atender ao chamado — não a fim de pressionar ninguém, mas para oferecermos amizade, explicações claras e verdadeiras a respeito do evangelho, e a oportunidade de observar a exposição tridimensional do evangelho que é a igreja local.

Em muitos desses casos, tais pessoas nasceram de novo e se uniram a nós. Elas não só ouviram e entenderam o evangelho, mas viram como o poder de Cristo muda indivíduos e influencia comunidades inteiras que têm pouco em comum, exceto no que concerne a Cristo. A igreja, então, é o ressoar da confirmação do evangelho que está sendo proclamado.

Estranho a todas as culturas

Cada vez mais, cidades globais são o lar de igrejas multinacionais que adoram em inglês, a lingua franca do nosso tempo. Tais igrejas alcançam incontáveis grupos nacionais e étnicos, mesmo através do inglês como segunda língua. Quando expatriados retornam às suas terras, eles levam o evangelho com eles.

É verdade que o multiculturalismo impõe desafios para o evangelismo. Contudo, independentemente do lugar de onde viemos, devemos lembrar que o evangelho é estranho a todas as culturas. Independente de toda a nossa diversidade, ainda somos filhos e filhas de Adão e Eva, e necessitamos do único remédio que apenas Jesus pode garantir: redenção, o perdão dos pecados.

Igrejas em contextos multiétnicos devem trabalhar muito para se comunicarem de forma clara, respeitando cuidadosamente a teologia bíblica. Nós devemos estar centrados na verdade bíblica para que ultrapassemos toda espécie de barreira cultural e religiosa. E devemos sustentar a igreja como a exposição do evangelho para as nações.

 

Tradução: Alan Cristie

Revisão: Renata Cavalcanti

 

Notas:

1. Jesus the Son of God: A Christological Title Often Overlooked, Sometimes Misunderstood, and Currently Disputed (Crossway, 2012), p. 85.


Autor: John Folmar

John Folmar, casado com Keri, é pai de Ruth, Chloe e Andrew. Mudou-se para Dubai em 2005 para servir na UCCD como Pastor efetivo. Depois de formar-se no Southern Baptist Theological Seminary, John atuou na equipe de Capitol Hill Baptist Church, em Washington DC, por vários anos antes de ser chamado para servir na UCCD.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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