Em primeiro lugar, o desejo por crescimento espiritual é bíblico ou é apenas um exemplo da mania de progresso da cultura moderna? Amamos o progresso em tudo e, por isso, o importamos ao nosso entendimento do cristianismo? Ou toda esta conversa sobre o crescimento espiritual talvez seja um tipo de egocentrismo espiritual em que nos tornamos narcisistas cristãos, excessivamente preocupados com nossas próprias virtudes espirituais?
Examinando as Escrituras, descobrimos que o crescimento espiritual não é simplesmente um interesse de pessoas vanguardistas; é um interesse da Bíblia.
No primeiro capítulo das Escrituras, você percebe que Deus ordenou às suas criaturas da terra e do mar que se multiplicassem: “E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves” (Gn 1.22). Um pouco depois, Adão e Eva recebem de Deus essa mesma ordem: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (v. 28).
Mais tarde, depois que Deus limpou completamente o mundo com o julgamento do Dilúvio, qual foi a primeira ordem que Noé e seus filhos receberam? “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 9.1). Se você continuar lendo o livro de Gênesis, verá que Deus prometeu a Abraão que o número de seus descendentes seria enorme e cresceria. Quando os filhos de Israel desceram ao Egito e se tornaram cativos, eles se multiplicaram e crescerem em número. Isso foi um sinal da bênção de Deus. Ele os abençoou novamente quando foram à terra prometida. E, quando foram levados ao exílio na Babilônia, o que aconteceu? O Senhor os instruiu por meio de Jeremias: “Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais” (Jr 29.6).
Deus não subscreve a ideia de que o pequeno é belo! Embora o seja às vezes, o pequeno não é necessariamente o melhor. Não estou dizendo que Deus é de algum país imenso — mas somente que ele parece ver a abundância como uma bênção. Uma das maneiras como Deus estimula a prática da justiça no Antigo Testamento é mostrando a abundância de bênçãos que ele derrama na forma de crescimento e prosperidade. Por isso, lemos em Salmos 92.12-13:
O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano. Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus.
No livro de Provérbios, Deus nos dá instruções sobre como podemos crescer desta maneira. Somos ensinados a crescer em poder por meio do crescer em sabedoria e a crescer em sabedoria por meio do andarmos com os sábios (Pv 24.5; 13.20).
É claro que não buscamos o tipo errado de crescimento. Não devemos ficar impressionados pelo crescimento do que é material, como riqueza e bens. Como nos adverte Salmos 49.16-17:
Não temas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa; pois, em morrendo, nada levará consigo.
A morte colhe de nós todas as posses que acumulamos neste mundo. Por isso não devemos nos impressionar com elas.
Uma das verdades que aprendemos da Bíblia a respeito do crescimento é que o reino de Deus crescerá. Isso foi profetizado no Antigo Testamento, e Jesus também o prometeu. Todos os anos cantamos na época do Natal aquela profecia de Isaías 9.7, na qual o Senhor prometeu que o reino do seu Messias cresceria:
Para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.
O próprio Senhor Jesus falou como seu reino cresceria para cumprir esta profecia. Ele disse que seu reino cresceria desde a menor semente até a maior planta do jardim — “O qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos” (Mt 13.32).
É claro que a semente caiu no solo e morreu. Mas, embora Jesus tenha sido crucificado e sepultado, ele ressuscitou, e o reino de Deus, que Jesus começou a edificar, passou exatamente por aquilo que Jesus profetizou que passaria. Começou a crescer. Se lermos o livro de Atos dos Apóstolos, acharemos diversas vezes este refrão:
Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos… Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé (At 6.1, 7).
Entretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava (At 12.24). E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região (At 13.49).
Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente (At 19.20).
Assim, vemos o crescimento numérico acontecendo tanto no Novo como no Antigo Testamento. Mas o crescimento sobre o qual falamos, insistimos e oramos, no Novo Testamento, não é apenas numérico. Se a sua igreja tem mais pessoas agora do que tinha alguns anos atrás, isso significa que ela é uma igreja saudável? Não necessariamente. Existe outro tipo de crescimento. O Novo Testamento nos dá a ideia de um crescimento que envolve não somente um maior número de pessoas, mas também pessoas que estão crescendo, amadurecendo e aprofundando-se na fé. Por isso, lemos em Efésios 4.15-16:
Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.
Como acontece esse crescimento? Em última instância, ele acontece pela obra de Deus. Crescemos, como corpo de Cristo, à medida que Deus nos faz crescer. Essa é a razão por que lemos em Colossenses 2.19 que Cristo é “a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”.
Não é o pregador que faz uma igreja crescer. Deus pode usá-lo. Isso está nas mãos dele. Paulo escreveu sobre este assunto aos cristãos de Corinto. Eles eram inclinados a valorizar pregadores eloquentes. Então, Paulo lhes escreveu, recordando-lhes: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1Co 3.6-7). Paulo era um bom discípulo de Jesus, o qual, ele mesmo, tinha ensinado que o crescimento do Reino de Deus vem de Deus e, em última análise, não depende de nós. Em Marcos 4, Jesus compara o Reino de Deus a uma semente que se desenvolve enquanto o agricultor dorme. Quer ele acorde, quer não, a semente continua a crescer: “quer esteja ele dormindo à noite, quer acordado de dia, a semente acaba brotando e crescendo, sem ele saber como” (Mc 4.27, A21). O ponto de Jesus não é que devamos ser preguiçosos ou indolentes, mas que o crescimento do Reino de Deus não depende, em última análise, de nós. O próprio Deus está comprometido em garantir o crescimento de sua igreja.
Esta é a razão por que, ao escrever aos cristãos de Tessalônica, Paulo não os congratulou por haverem crescido — “Oh! como vocês cresceram tão bem!” Pelo contrário, ele agradeceu a Deus pelo crescimento deles. “Irmãos, cumpre-nos dar sempre graças a Deus no tocante a vós outros, como é justo, pois a vossa fé cresce sobremaneira, e o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando” (2Ts 1.3). O crescimento não deve produzir orgulho. Pode causar humildade e reconhecimento de que é Deus quem dá o crescimento.
É por isso que, quando Paulo desejava que uma igreja crescesse, ele orava por ela. Paulo compreendia que o crescimento vem de Deus. Em 1Tessalonicenses, ele ora:
Ora, o nosso mesmo Deus e Pai, e Jesus, nosso Senhor, dirijam-nos o caminho até vós, e o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco, a fim de que seja o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos (1Ts 3.11-13).
Se voltarmos a Colossenses, acharemos novamente Paulo orando para que seus leitores crescessem espiritualmente:
Não cessamos de orar por vós… a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus (Cl 1.9-10).
Ora, não estou sugerindo que não devemos fazer nada em benefício de nosso próprio crescimento espiritual. O fato de que me preocupei em escrever este livro significa que creio devemos, como cristãos, fazer algo por nosso próprio crescimento espiritual. Em 2 Pedro 3.18, o apóstolo terminou sua epístola com a exortação “crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. É um imperativo. “Crescei” — ele disse.
Devemos ter o desejo de crescer espiritualmente. Mas como o fazemos? No primeiro capítulo desta epístola, Pedro disse: Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (2Pe 1.8).
Quais qualidades?
Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (2Pe 1. 5-8).
Portanto, devemos ter o desejo de crescer. E crescemos por cultivar estas qualidades. Em outra passagem, Pedro enfatiza a importância de conhecer a Palavra de Deus. Se você quer crescer, ele disse, faça isto:
Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1Pe 2.2-5).
Assim, vemos que o crescimento espiritual é um sólido conceito bíblico. Este crescimento não é algo com o que somente nós estamos preocupados; não é algo peculiar de nossa cultura. É uma ideia que está na Bíblia e que parece estar ali desde a própria criação.
O artigo acima é um trecho adaptado com permissão do livro Nome Marcas de uma igreja saudável, 2ª Edição, por Mark Dever, Editora Fiel.
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