domingo, 22 de dezembro
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Um interesse bíblico por discipulado e crescimento

Uma teologia bíblica de crescimento de crescimento espiritual

Em primeiro lugar, o desejo por crescimento espiritual é bíblico ou é apenas um exemplo da mania de progresso da cultura moderna? Amamos o progresso em tudo e, por isso, o importamos ao nosso entendimento do cristianismo? Ou toda esta conversa sobre o crescimento espiritual talvez seja um tipo de egocentrismo espiritual em que nos tornamos narcisistas cristãos, excessivamente preocupados com nossas próprias virtudes espirituais?

Examinando as Escrituras, descobrimos que o crescimento espiritual não é simplesmente um interesse de pessoas vanguardistas; é um interesse da Bíblia.

No primeiro capítulo das Escrituras, você percebe que Deus ordenou às suas criaturas da terra e do mar que se multiplicassem: “E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves” (Gn 1.22). Um pouco depois, Adão e Eva recebem de Deus essa mesma ordem: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (v. 28).

Mais tarde, depois que Deus limpou completamente o mundo com o julgamento do Dilúvio, qual foi a primeira ordem que Noé e seus filhos receberam? “Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gn 9.1). Se você continuar lendo o livro de Gênesis, verá que Deus prometeu a Abraão que o número de seus descendentes seria enorme e cresceria. Quando os filhos de Israel desceram ao Egito e se tornaram cativos, eles se multiplicaram e crescerem em número. Isso foi um sinal da bênção de Deus. Ele os abençoou novamente quando foram à terra prometida. E, quando foram levados ao exílio na Babilônia, o que aconteceu? O Senhor os instruiu por meio de Jeremias: “Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais” (Jr 29.6).

Deus não subscreve a ideia de que o pequeno é belo! Embora o seja às vezes, o pequeno não é necessariamente o melhor. Não estou dizendo que Deus é de algum país imenso — mas somente que ele parece ver a abundância como uma bênção. Uma das maneiras como Deus estimula a prática da justiça no Antigo Testamento é mostrando a abundância de bênçãos que ele derrama na forma de crescimento e prosperidade. Por isso, lemos em Salmos 92.12-13:

O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano. Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus.

No livro de Provérbios, Deus nos dá instruções sobre como podemos crescer desta maneira. Somos ensinados a crescer em poder por meio do crescer em sabedoria e a crescer em sabedoria por meio do andarmos com os sábios (Pv 24.5; 13.20).

É claro que não buscamos o tipo errado de crescimento. Não devemos ficar impressionados pelo crescimento do que é material, como riqueza e bens. Como nos adverte Salmos 49.16-17:

Não temas, quando alguém se enriquecer, quando avultar a glória de sua casa; pois, em morrendo, nada levará consigo.

A morte colhe de nós todas as posses que acumulamos neste mundo. Por isso não devemos nos impressionar com elas.

Uma das verdades que aprendemos da Bíblia a respeito do crescimento é que o reino de Deus crescerá. Isso foi profetizado no Antigo Testamento, e Jesus também o prometeu. Todos os anos cantamos na época do Natal aquela profecia de Isaías 9.7, na qual o Senhor prometeu que o reino do seu Messias cresceria:

Para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto.

O próprio Senhor Jesus falou como seu reino cresceria para cumprir esta profecia. Ele disse que seu reino cresceria desde a menor semente até a maior planta do jardim — “O qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos” (Mt 13.32).

É claro que a semente caiu no solo e morreu. Mas, embora Jesus tenha sido crucificado e sepultado, ele ressuscitou, e o reino de Deus, que Jesus começou a edificar, passou exatamente por aquilo que Jesus profetizou que passaria. Começou a crescer. Se lermos o livro de Atos dos Apóstolos, acharemos diversas vezes este refrão:

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos… Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé (At 6.1, 7).

Entretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava (At 12.24). E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região (At 13.49).

Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente (At 19.20).

Assim, vemos o crescimento numérico acontecendo tanto no Novo como no Antigo Testamento. Mas o crescimento sobre o qual falamos, insistimos e oramos, no Novo Testamento, não é apenas numérico. Se a sua igreja tem mais pessoas agora do que tinha alguns anos atrás, isso significa que ela é uma igreja saudável? Não necessariamente. Existe outro tipo de crescimento. O Novo Testamento nos dá a ideia de um crescimento que envolve não somente um maior número de pessoas, mas também pessoas que estão crescendo, amadurecendo e aprofundando-se na fé. Por isso, lemos em Efésios 4.15-16:

Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.

Como acontece esse crescimento? Em última instância, ele acontece pela obra de Deus. Crescemos, como corpo de Cristo, à medida que Deus nos faz crescer. Essa é a razão por que lemos em Colossenses 2.19 que Cristo é “a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus”.

Não é o pregador que faz uma igreja crescer. Deus pode usá-lo. Isso está nas mãos dele. Paulo escreveu sobre este assunto aos cristãos de Corinto. Eles eram inclinados a valorizar pregadores eloquentes. Então, Paulo lhes escreveu, recordando-lhes: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1Co 3.6-7). Paulo era um bom discípulo de Jesus, o qual, ele mesmo, tinha ensinado que o crescimento do Reino de Deus vem de Deus e, em última análise, não depende de nós. Em Marcos 4, Jesus compara o Reino de Deus a uma semente que se desenvolve enquanto o agricultor dorme. Quer ele acorde, quer não, a semente continua a crescer: “quer esteja ele dormindo à noite, quer acordado de dia, a semente acaba brotando e crescendo, sem ele saber como” (Mc 4.27, A21). O ponto de Jesus não é que devamos ser preguiçosos ou indolentes, mas que o crescimento do Reino de Deus não depende, em última análise, de nós. O próprio Deus está comprometido em garantir o crescimento de sua igreja.

Esta é a razão por que, ao escrever aos cristãos de Tessalônica, Paulo não os congratulou por haverem crescido — “Oh! como vocês cresceram tão bem!” Pelo contrário, ele agradeceu a Deus pelo crescimento deles. “Irmãos, cumpre-nos dar sempre graças a Deus no tocante a vós outros, como é justo, pois a vossa fé cresce sobremaneira, e o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando” (2Ts 1.3). O crescimento não deve produzir orgulho. Pode causar humildade e reconhecimento de que é Deus quem dá o crescimento.

É por isso que, quando Paulo desejava que uma igreja crescesse, ele orava por ela. Paulo compreendia que o crescimento vem de Deus. Em 1Tessalonicenses, ele ora:

Ora, o nosso mesmo Deus e Pai, e Jesus, nosso Senhor, dirijam-nos o caminho até vós, e o Senhor vos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco, a fim de que seja o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos (1Ts 3.11-13).

Se voltarmos a Colossenses, acharemos novamente Paulo orando para que seus leitores crescessem espiritualmente:

Não cessamos de orar por vós… a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus (Cl 1.9-10).

Ora, não estou sugerindo que não devemos fazer nada em benefício de nosso próprio crescimento espiritual. O fato de que me preocupei em escrever este livro significa que creio devemos, como cristãos, fazer algo por nosso próprio crescimento espiritual. Em 2 Pedro 3.18, o apóstolo terminou sua epístola com a exortação “crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. É um imperativo. “Crescei” — ele disse.

Devemos ter o desejo de crescer espiritualmente. Mas como o fazemos? No primeiro capítulo desta epístola, Pedro disse: Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (2Pe 1.8).

Quais qualidades?

Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (2Pe 1. 5-8).

Portanto, devemos ter o desejo de crescer. E crescemos por cultivar estas qualidades. Em outra passagem, Pedro enfatiza a importância de conhecer a Palavra de Deus. Se você quer crescer, ele disse, faça isto:

Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1Pe 2.2-5).

Assim, vemos que o crescimento espiritual é um sólido conceito bíblico. Este crescimento não é algo com o que somente nós estamos preocupados; não é algo peculiar de nossa cultura. É uma ideia que está na Bíblia e que parece estar ali desde a própria criação.


O artigo acima é um trecho adaptado com permissão do livro Nome Marcas de uma igreja saudável, 2ª Edição, por Mark Dever, Editora Fiel.

CLIQUE AQUI para ler outros artigo que são trechos deste livro.


Autor: Mark Dever

Mark Dever é diretor do Ministério 9 Marcas, nos Estados Unidos, e pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, em Washington D.C. Graduado na Universidade de Duke, obteve mestrado em Divindade no Gordon Conwell Theological Seminary e Ph.D. em História Eclesiástica na Universidade de Cambridge.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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