quinta-feira, 28 de março

Uma estrutura centrada no Evangelho para ministrar aos solteiros

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Eu me encontro regularmente com um homem cristão solteiro, com seus quarenta e poucos anos (vamos chamá-lo de Martin), que foi durante anos um viciado em drogas, com sua vida de roubo, saúde frágil e indignidade. Desde que ele veio a Cristo, passou por uma metamorfose guiada pelo evangelho e colheu as bênçãos espirituais e materiais da sobriedade. Martin agora tem seu próprio apartamento, comida, saúde e transporte, tudo pago através de assistência pública (ele é fisicamente incapacitado para trabalhar). Para um homem que uma vez sobrevivera de forma infernal, de trocados que ocasionalmente conseguia engraxando sapatos, a generosidade relativa de Martin parecia impedi-lo de reclamar, eu diria, de qualquer coisa. Por isso, fiquei surpreso quando, há algumas semanas, Martin me confessou quão solitário ele era e como parecia não haver como fugir disso. Apesar de tudo o que ele tinha agora, ele ainda sentia um tremendo vazio e falta de relacionamentos humanos.

Esse momento esclareceu algo para mim: outras coisas boas da vida não podem preencher a necessidade de companheirismo de um ser humano.

Mas o mundo parece estar prestando menos atenção à máxima de Gênesis 2 de que não é bom estar sozinho. Em nossa época, um dos aspectos sorrateiros e relativamente novos (alguns poderiam dizer, patológicos) da vida americana tem sido o aumento do distanciamento relacional. Desde os anos 80, a porcentagem de adultos americanos que se dizem solitários dobrou de 20% para 40%. Na área de Washington, DC, onde eu moro, 81% dos indivíduos de 20 a 34 anos são solteiros, e as estatísticas são praticamente as mesmas para outros centros urbanos que provaram ser uma atração irresistível para a geração do milênio.

A linha de tendência de crescente isolamento e permanecer solteiro é clara. Então, como a igreja local ministrará a um número crescente de pessoas que permanecem solteiras? Como pastores e presbíteros servirão a congregações de crentes para os quais ser solteiro não significa apenas ser solteiro, mas estar sozinho?

Ministrar àqueles que são solteiros começa com o reconhecimento do relacionamento especial, íntimo e eterno de Jesus com o crente. Os crentes que lutam com a sensação de não serem amados, de estarem abandonados ou isolados podem recorrer às promessas da Bíblia de serem intimamente amados e conhecidos pelo Deus de toda a criação. Ele nunca nos deixa ou nos abandona. Ele habita em nós. Ele chama suas ovelhas pelo nome. Ele está conosco até o final dos tempos. E um dia estaremos com ele face a face por toda a eternidade, de uma forma tão satisfatória que não haverá casamento.

Mas devemos exercer um alto grau de sabedoria pastoral para saber quando e como usar essa porção da teologia como encorajamento. Para alguém que pode estar sofrendo de solidão, essas palavras podem parecer paternalistas, um remédio inerte para os momentos cinzentos de ausência e infelicidade.

As pessoas solteiras que vivem no “agora” sabem muito bem que Jesus não pode ser o “mais um” para a festa de Natal do escritório. Ele não pode pegar sua receita quando você está de cama. E ele não apoia a cabeça suavemente no seu ombro enquanto assiste a um filme no sofá. Às vezes, reconhecer e simpatizar com a dor que um indivíduo pode estar sentindo é o melhor bálsamo relacional para a tristeza, e muitas vezes oferece uma base de confiança para futuras interações pastorais. Use a discrição ao mitigar a mágoa da solidão, de modo que sua preocupação bem-intencionada não pareça uma atitude superficial em resposta a tristezas e frustrações práticas.

Além disso, sua teologia deve ser acompanhada de ação ministerial. Aqui estão algumas dicas:

Primeiro, verifique se você está investindo tempo ouvindo pessoas solteiras.

O excedente de momentos tranquilos de pessoas solteiras às vezes é usado para “ruminar” de forma pouco saudável os aspectos da vida que ele ou ela não gosta. Esse ciclo de “feedback” de negatividade autocentrada pode prejudicar o reconhecimento de um cristão solteiro sobre o que o Senhor provê em sua vida, criando um foco muito profundo no que ele ou ela não tem. Certifique-se de ouvir o que seus fiéis solteiros estão pensando e sentindo, para que você possa corrigir pastoralmente um monólogo interior que, se deixado sem controle, pode se tornar sombrio e pecaminoso.

Sua orientação pastoral deve começar com a certeza de que as pessoas solteiras estão respondendo ao desespero pela solidão comunicando-se com Deus, como faz Davi no Salmo 142. Nos versos 1 e 2, Davi confessa uma profunda necessidade de que Deus seja misericordioso em sua aflição. No versículo 4, ele mostra o total desespero e solidão que está sentindo. No versículo 5, ele não cede ao desespero, mas sim, ele declara confiança a Deus em meio ao seu desespero. Ele conclui no versículo 7 com confiança que Deus acabará por libertá-lo.

Segundo, ajude os cristãos solteiros desencorajados a se concentrarem em como Deus pode e usa os crentes solteiros para realizar o ministério que os cristãos casados não teriam a capacidade de realizar.

Incentive-os a se confortarem no fato de Deus estar usando seu tempo de solteiro para completar seu trabalho eternamente significativo, como Paulo faz em 1 Coríntios 7. Nós pertencemos ao Senhor de qualquer maneira, e ele está apto a usar nossa vida de qualquer maneira que escolher. Na minha vida, se isso significa passar um tempo em um apartamento sujo com um ex-viciado em drogas em vez de tirar férias com a esposa, a ele seja a glória.

Terceiro, atenção individual para os solitários.

Elvis Presley comentou certa vez: “Eu fico solitário ocasionalmente. Às vezes fico sozinho no meio de uma multidão”. Uma experiência comum para as pessoas solitárias é sentir-se mais desconhecida e esquecida em meio à multidão de pessoas. Identifique as pessoas de sua igreja que estejam “à margem” e construa um relacionamento real com elas de forma individual.

Eu penso que possa ser mais conveniente, digamos, para uma família, ter várias pessoas solteiras de uma só vez para o jantar. Isso é perfeitamente correto, mas uma tática melhor, sempre que possível, poderia ser a de convidar um indivíduo por vez. Consistentemente gastar tempo exclusivamente com um único indivíduo reforçará para ele que ele é uma pessoa distinta e valiosa no corpo local de Cristo, não apenas um entre muitos em um rebanho de solteiros.

Quarto, verifique seu próprio orgulho em seus relacionamentos.

O mundo pode considerar um indivíduo que “passou” da idade de casar-se como um “perdedor”, “solteirão”, “esquisito”, “alguém que nunca saiu do armário” etc. Mas assim como todos nós nascemos como párias separados de Deus, devemos refletir Cristo ao chamar a nós mesmos aqueles ao quais o mundo olha de cima para baixo. Paulo escreve em Romanos 12.16: “em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde”; Assim como Tiago claramente nos exorta: “não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com favoritismo”. (Tg 2.1 NVI).

A triste realidade da vida em um mundo decaído é que muitas pessoas solteiras podem realmente ter padrões comportamentais, características físicas desfavoráveis ou peculiaridades de personalidade que afastam potenciais cônjuges ou outras pessoas em geral. Mais uma razão pela qual devemos buscar ativamente seu bem espiritual.

Por último, ore.

Ore, do púlpito, pelo solteiro e solitário em sua congregação (mas não mencione nomes!). Ore por solteiros que estão sentindo frio sejam aquecidos pelo amor de Cristo. Ore para que eles encontrem cônjuges maravilhosos para se casar. E ore para que sua igreja e seus membros tenham uma estrutura para ministrar àqueles para quem a vida rotineiramente pode se mostrar um pouco mais difícil.

Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.
Fonte: A Gospel-Centered Framework for Ministering to Lonely People.


Autor: DW

DW é escritor em Washington, D.C.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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