sexta-feira, 22 de novembro
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Quanto ao vir a Cristo – parte 1

“Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” (Is 55.1-3).

Vir é Comer Crer é Beber

Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.35).

Um comentário acerca de João 6.35: “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos” (Jo 6.53).

No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7.37).

O primeiro convite de nosso Senhor encontra-se em Mateus 11.28- 30: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”.

O último convite dEle encontra-se em Apocalipse 22.17: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.

A expressão “vir a Cristo” é boa, mas está rodeada por muita ignorância e confusão, quando se torna parte de métodos errados de evangelismo. O que esta expressão significa para os ouvintes? Com certeza, é necessário que pecadores venham a Cristo para serem salvos. Mas, quando um pregador chama os pecadores à frente da igreja, enquanto a congregação cria o ambiente com um “hino de apelo”, é bem provável que a maioria dos ouvintes considerará iguais o “vir a Cristo” e o “vir à frente”.

Se for questionado acerca do “vir à frente”, o pregador dirá que isto não salva. Contudo, ao mesmo tempo, por sua linguagem e métodos, ele está equiparando o “vir à frente” ao “vir a Cristo”, e, portanto, muitas pobres almas são enganadas.

Vir a Cristo é uma expressão boa, uma expressão bíblica. Ela é usada para descrever um ato da alma. Vir a Cristo inclui abandonar toda a auto-justiça e o pecado; envolve receber a justiça de Cristo para ser nossa justiça e o sangue dEle para nossa expiação. Vir a Cristo inclui arrependimento para com Deus e fé no Senhor Jesus Cristo. Vir a Cristo é o primeiro efeito da regeneração.

Quando o pregador diz: “Venha a Cristo”, ao final do culto, para muitos isso significa vir à frente da igreja. O que as crianças pensam quando o pregador diz: “Venha a Cristo” e, ao mesmo tempo, as convida a virem à frente da igreja? Todo verdadeiro pregador e evangelista sabe que o vir à frente de uma igreja não equivale a vir a Cristo. Alguns podem até dizer “vir à frente não salvará você”, mas continuam e “fazem o apelo”, como se os ouvintes achassem que tal apelo equivale a vir a Cristo.

Alguns pregadores não se mostram sensatos em seu suposto convite, e o resultado é que muitos dentre o nosso povo, talvez a maioria, considera como iguais o ato físico de ir à frente e o vir a Cristo. Novamente, afirmo que todo verdadeiro pregador está consciente de que não há um único caso na Bíblia, ou sequer uma linha das Escrituras, que dê apoio a essa concepção errada (o igualar o vir a Cristo e o ir à frente, ao final de um culto na igreja). Isto não apenas não se encontra na Bíblia, mas também jamais foi praticado pelo Senhor ou pelos apóstolos. Aliás, jamais foi praticado na igreja até uns 150 ou 200 anos atrás. O famoso avivalista Charles G. Finney introduziu e popularizou o uso da “sala dos decididos” e do “banco dos ansiosos”. Mas ele jamais considerou iguais o “vir à sala dos decididos” e o “vir a Cristo”.

O Sistema de Apelo

Por que me preocupo tanto com este assunto? Porque muitos são enganados; e ser enganado acerca da salvação é o pior engano que pode sobrevir a uma pessoa. Muitos pastores estão enganados exatamente neste ponto.

Dois textos bíblicos costumam ser usados para dar sustentação ao sistema de apelo, Marcos 1.17 e Mateus 10.32-33. Observe que eu não disse convite, massistema de apelo.

Marcos 1.17: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”. Os discípulos largaram suas redes e seguiram a Jesus. Ele estava ali fisicamente, e eles O seguiram fisicamente.

Suponha que hoje eu fosse a uma praia repleta de pescadores e dissesse: “Vinde após Jesus, e Ele vos fará pescadores de homens”. Eu estaria querendo dizer que os pescadores deveriam abandonar suas redes, no sentido físico? Ou seguir a Jesus, em termos físicos? Não. Isto seria impossível, porque Jesus já não está aqui fisicamente.

O que significa seguir a Jesus hoje? Seguir a Jesus significa aprender de seus ensinos; viver sob a influência desses ensinos, aplicando-os ao nosso dia-a-dia.

Nos dias em que Jesus estava aqui, em carne e osso, segui-Lo fisicamente seria possível. Os pescadores O seguiram literalmente. Zaqueu desceu da árvore, de maneira física e literal, e seguiu a Jesus. Mas, mesmo nos dias da presença visível de Jesus, o sentido fundamental das palavras “Vinde após mim” e “Vinde a mim” era claramente uma identificação de arrependimento e fé. Portanto, Marcos 1.17 não é um texto adequado para dar sustentação a qualquer ato físico ou sistema de apelo.

O segundo texto usado para amparar esse sistema é Mateus 10.32- 33: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus”.

Analisemos com cuidado o que nosso Senhor estava dizendo. Estaria Ele afirmando que pelo ato de confessar, ou por meio de algum ato físico, nos tornamos cristãos? Ou estaria Ele ensinando que uma das marcas indispensáveis dos verdadeiros cristãos é que estes O confessam vivem uma vida que, publicamente, O reconhece? Não deve haver qualquer dúvida quanto à resposta. Confessar a Cristo é um dever espiritual dos cristãos. Confessá-Lo não se refere a como se tornar um cristão.

Nesta passagem, Jesus não estava dizendo aos pecadores como fazerem uma decisão, não estava descrevendo a forma como ocorre o novo nascimento. Estava ensinando que confessá-Lo é um dever espiritual do cristão. Confessar a Cristo é um dever cristão. Quanto a isso, o Novo Testamento é bastante claro. Mas, pergunto eu, como isso era feito? Qual era a confissão pública?

No livro de Atos (o manual sagrado de evangelismo), encontramos, em sua maior pureza, exemplos dos apóstolos envolvidos no evangelismo. Ao ler o livro de Atos, pergunte-se: “Como as pessoas faziam esta confissão?” A resposta clara e simples é através do batismo.

O Que o Vir a Cristo Não Significa

Voltemos à pergunta: o que significa vir a Cristo? O melhor que posso fazer com essa pergunta é, primeiramente, dizer-lhe o que vir a Cristo não significa e, depois, o que está envolvido em vir a Cristo.

Primeiro, o que não significa. Vir a Cristo não é um ato físico evidente. Cristo não está aqui presente de maneira fisica; portanto, ninguém pode vir a Ele no sentido físico. Ele não está à frente do púlpito, pairando como um fantasma. Ninguém pode vir a Cristo utilizando-se dos pés.

Consideremos um versículo muito surpreendente, um versículo ofensivo à mente natural e confuso para muitos cristãos.

Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.44).

Alguns descrevem o vir a Cristo como a coisa mais fácil do mundo, e, em certo sentido, isto é verdade . se você vier, será bem-vindo. Mas esse versículo nos mostra que vir a Cristo por vontade própria é impossível. Embora esse texto seja ofensivo à mente carnal, precisamos lembrar que ofender a mente carnal é, quase sempre, o passo inicial para vir a Cristo, num relacionamento salvífico. Tal pessoa precisa ver sua condição de perdida, antes que tenha o desejo de ser salva.

Revisemos uma pequena lição de boa educação. Um velho amigo costumava ensinar seus filhos a dizer: “O senhor permite…?”. Se uma das crianças dissesse: “Posso ir lá fora, para brincar?”, ele responderia: “Não sei; será que você pode?” Ele estava, obviamente, ensinando os filhos a dizer: “O senhorme permite ir lá fora para brincar?”

Observe que o versículo afirma: “Ninguém pode”; isto significa que nenhum de nós possui a capacidade. Alguém pode receber permissão para fazer algo, mas, por si mesmo, não é capaz. Esse texto ensina claramente a incapacidade humana; porém, ao mesmo tempo, ensina de maneira cristalina o atrair gracioso do Pai. O texto nos apresenta uma doce consolação . esperança no Pai.

Onde Está a Incapacidade Humana?

1. Não está em qualquer defeito físico. Não significa que o homem é incapaz de movimentar seu corpo físico, de andar com seus próprios pés. O pecador consegue fazer isso . ele é capaz de caminhar até a frente, na igreja, pois ele tem pernas. Se a questão é proferir algumas palavras numa oração . ele também pode fazer isso. Muitas pessoas não-regeneradas oram. Não há falta de poder físico no vir a Cristo.

2. A incapacidade não está na mente, no intelecto. O não-convertido é capaz de aprender intelectualmente a Bíblia, assim como pode aprender matemática, história, física, música, etc. Sim, ele pode crer que a Bíblia é verdadeira. Há muitos livros verdadeiros que foram escritos por pessoas não-convertidas. É possível alguém crer em cada afirmativa de Cristo, assim como poderia crer em qualquer outra pessoa. Não deveríamos dizer aos homens que eles não podem crer. Isso não é verdade . eles podem crer em cada palavra da Bíblia e ainda estarem “tão perdidos quanto um porco em dia de feijoada”. A incapacidade não está no intelecto ou no corpo.

Então, onde está a incapacidade humana? Ela se encontra arraigada profundamente na natureza do homem. Através da queda e de nosso próprio pecado, a natureza do homem se tornou tão pervertida, depravada e corrupta, que é impossível ao homem vir a Cristo sem a poderosa obra de Deus, o Espírito Santo.

Vemos isso no mundo animal. Os animais agem de acordo com sua natureza. As ovelhas não comem lavagem, assim como um porco não se alimenta de grama. Não há qualquer problema físico . ambos possuem boca, dentes, orelhas e pernas. A razão pela qual a ovelha não come lavagem é sua natureza. A natureza do homem impede-o de vir a Cristo.

Dê uma faca a uma mãe e diga-lhe: “Crave-a em seu bebê”. Se ela for normal, dirá: “Não posso fazer isso, não posso!” Isto significa que ela não possui força física ou capacidade para fazê-lo? Não, de modo nenhum! A natureza da mãe torna aquilo impossível.

Novamente, onde está a incapacidade de alguém vir a Cristo? Na obstinação da vontade humana. Oh! sim, os homens podem ser salvos, se quiserem. Creio que todo pecador que ainda está do lado de fora do inferno pode ser salvo, se quiser. Esta é exatamente a raiz do problema . se ele quiser.

B. B. Warfield disse: “Qual a utilidade de argumentar a respeito de quem quiser em um mundo tão repleto de ‘eu não quero’? Estamos pregando e testemunhando a um mundo de ‘eu não quero’ ”.

O versículo mais pessimista da Bíblia é João 5.40: “Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida”. Por esse motivo, João 6.44 é o versículo mais otimista da Bíblia. Você sabia que este é um dos mais agradáveis versículos da Palavra de Deus? Não houvesse aquela palavrinha “se” em João 6.44, todas as pessoas iriam para o inferno. Ninguém seria salvo. Abençoado “se”! “Se o Pai” . graças a Deus pelo que Ele faz. O que estou dizendo é que os pecadores precisam de um novo “querer”. Onde o novo querer é outorgado, o desejo e o poder surgem como conseqüência.

O Pai Traz Pecadores a Cristo

De que maneira o Pai traz pecadores a Cristo? Todos certamente concordarão que a pregação do evangelho é o instrumento de trazer os homens. Mas a pregação sozinha não traz ninguém. A pregação de nosso Senhor, por si mesma, não trouxe nenhum pecador.

3. Vir a Cristo não é alguma experiência mística que não se fundamenta na verdade, uma experiência divorciada da verdade das Escrituras.

4. Vir a Cristo não é meramente um ato da vontade e volição, ou seja, um ato de querer, um ato de escolha. Certamente inclui um exercício da vontade, mas não é semelhante a votar em alguém, ou seja, “eu voto em Jesus”, “eu me decido por Jesus”; amanhã você poderá tomar uma decisão diferente.

Vir a Cristo não é algo físico ou puramente intelectual; vir a Cristo não é algo místico sem fundamentos na Verdade ou algo meramente volitivo.

“Ótimo, meu caro pregador; você se saiu bem nos dizendo o que vir a Cristo não significa . mas o que significa vir a Cristo?” Esta pergunta será respondida em nosso próximo artigo.


Autor: Ernest Reisinger

Ernest Reisinger (1919 - 2004), um pastor batista reformado, ajudou a lançar o fundamento do que se tornou o Founders Ministries, ministério que busca trazer os Batistas do Sul de volta a seus princípios reformados. Ele deu início ao Jornal Founders, em 1990, do qual permaneceu como Editor Associado até a morte. Foi convertido aos vinte e poucos anos, fez sua profissão pública de fé em uma reunião do Salvation Army e, em 1943, foi batizado na Southern Baptist Church, em Havre de Grace, Maryland. Apesar de ser um batista, Reisinger teve uma estreita associação com os pedo-batistas, participou de uma Escola Dominical Presbiteriana e tornou-se membro de uma igreja pedo-batista em Carlisle, Pensilvânia, antes de ser batizado. Mais tarde, em 1946, Reisinger foi comissionado pelo Presbitério de Carlisle como um “pregador leigo”. Apesar de sua precoce filiação com o presbiterianismo, na década de 1950, ele ajudou a estabelecer a Grace Baptist Church, em Carlisle, Pensilvânia. Com o passar do tempo, a igreja de Carlisle decidiu que Reisinger deveria ser ordenado a pastor. Em 1971, Reisinger foi ordenado em um culto ministrado pelo popular Dr. Cornelius Van Til, do Seminário Westminster. Reisinger serviu como pastor em Islamorada e Pompano Norte, na Flórida. Estas eram Igrejas Batistas do Sul e, na década de 80, aproximadamente, Reisinger trabalhou na recuperação das doutrinas da graça desta denominação.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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