Edward Donelly é ministro da Trinity Reformed Presbyterian Church, em Newtownabbey, na Irlanda; professor de Novo Testamento no Reformed Theological College (Belfast), preletor em conferências teológicas internacionais, autor de diversos artigos e livros, um deles publicado em português pela Editora PES: “Depois da morte: o que?”.
Por que Richard Baxter? A teologia dele não era completamente sã. O desejo de Baxter promover a unidade da igreja às vezes o traía, ao ponto de tentar estabelecer consenso com aqueles que se encontravam distantes da fé bíblica. Embora Richard Baxter tenha sido um controvérsia lista hábil, ele confessou: “Sinto-me bastante inclinado a dirigir palavras de controvérsia em meus escritos e propenso a provocar a pessoa contra a qual eu escrevo”. Na “época clássica da literatura evangélica”, não existem outros modelos ou exemplos mais seguros de pregação?
A resposta se encontra no valor especial de Richard Baxter para a nossa necessidade atual. Na providência de Deus, estamos vendo um renovado interesse pela fé reformada e um conseqüente aumento do número de homens que têm sido impulsionados a pregar as doutrinas da graça. Mas qualquer novo progresso pode chegar a extremos; e sempre existe o perigo de um homem, no primeiro ímpeto de entusiasmo em favor daquilo que descobriu, se tornar, em seus esforços para ser completamente reformado, uma caricatura daquilo que ele admira. É exatamente nisso que Baxter pode ajudar-nos, pois, naquilo em que ele foi vigoroso, muitos são fracos em nossos dias. Consideraremos três características da pregação de Baxter que fala à nossa situação contemporânea.
1. A Pregação de Baxter era Caracterizada por Instrução Clara e Notável.
Ele acreditava que um pregador deve argumentar com seus ouvintes. “Devemos estar munidos com todo tipo de evidência, de modo que cheguemos com uma torrente ao entendimento de nossos ouvintes; e munidos com todos os argumentos e postulações, para que envergonhe mos as suas objeções vãs e vençamos todas elas, para que eles sejam forçados a renderem-se ao poder da verdade.” Ainda que Baxter estava bem consciente das trevas da mente não-regenerada, ele sempre se preocupou em esclarecer todos os mal-entendidos possíveis e em explicar aquilo que dizia. Os sermões de Baxter tinham uma estrutura lógica: primeiro, a “introdução” do texto bíblico; em seguida, a explicação das dificuldades; depois, “as aplicações” e a exortação. Mesmo estando em meio à mais comovente argumentação, Baxter recorreria ao auxílio da razão. Após implorar com grande ternura e poder, com o propósito de “fazer Cristo e a salvação resplandecerem”, Baxter terminava enumerando nove falsos fundamentos da certeza de salvação, seguidos pelos oito testes pelos quais seus ouvintes poderiam comprovar sua própria sinceridade. Um orador erudito consideraria um desperdício o não utilizar esse “impacto emocional”, mas Baxter se propunha em deixar que a verdade causasse seu próprio impacto; e ele pregava não primariamente para mover os homens, e sim para ensiná-los.
As verdades que ele proclamava eram fundamentais. “Durante todo o nosso ministério, temos de insistir principalmente sobre as verdades primordiais, as verdades mais seguras e as verdades mais necessárias; e temos de ser mais escassos e esparsos nas demais verdades. Há muitas outras coisas que são desejáveis de conhecermos; algumas, porém, têm de ser conhecidas, pois, de outro modo, o nosso povo ficará despreparado para sempre.” Isto é muitíssimo diferente da pregação que elabora um exame superficial de algumas passagens muito usadas ou, mais habitualmente, um exame de alguns versículos das Escrituras e da pregação que descarta qualquer outra coisa como algo que não “faz parte do evangelho”. Baxter fazia uma abordagem profunda e argumentava com um conhecimento íntimo do texto bíblico. Ele apresentava as verdades fundamentais em toda a plenitude de seu inter-relacionamento, bem como em toda a plenitude de sua aplicação. Todavia, ele acreditava que a pregação deve alcançar as necessidades das pessoas; que se comete um erro quando as grandes necessidades delas deixam de ser alcançadas; e que a “questão das necessidades” deveria estar sempre à frente.
As grandes verdades fundamentais eram ensinadas em linguagem simples, pois “não existe maneira melhor de fazermos uma boa causa prevalecer do que por meio de torná-la bastante clara”. Visto que o propósito do pregador é ensinar, ele tem de falar de maneira que seja entendido. Naqueles dias em que havia os provadores de sermões, Baxter era criticado pela clareza de sua linguagem e teve de lutar contra o orgulho de seu coração, que o pressionava a utilizar um estilo mais polido de linguagem. “Deus nos mandou ser tão claros quanto pudermos, a fim de que os ignorantes sejam instruídos… mas o orgulho permanece ao nosso lado e contradiz tudo, produzindo suas trivialidades e suas brincadeiras. Ele nos persuade a pintar a janela, para que a luz se torne menos brilhante.”
Isto certamente nos desafia, queridos irmãos. Nós temos como alvo o oferecer exposição argumentada da verdade para o nosso povo. No entanto, em nossa preparação, pro- curamos esclarecer qualquer dificuldade possível e fornecer argumentos que convencem as mentes de nossos ouvintes? Ou temos nos tornado negligentes por causa de sua aprovação sem críticas? Nos senti- mos tão receosos de ser rotulados como “fundamentalistas”, que gastamos maior parte de nosso tempo nos cantinhos menos conhecidos das Escrituras? É possível um homem adquirir a reputação de administrador de um restaurante para gourmets reformados, produzindo raridades teológicas que são obtidas em algum lugar — enquanto muitas das ovelhas famintas de seu rebanho olham para elas e não são alimentadas. É um erro trágico concentrar-se naquilo que “desejamos conhecer” e negligenciar aquilo que “temos de conhecer”. O nosso povo realmente entende as verdades centrais a respeito das alianças de Deus, da pessoa e obra de Cristo, do pecado, da regeneração, do arrependimento e da fé? Até que os fundamentos da fé dos membros de nossa igreja não estejam firmemente estabelecidos, faremos bem se atribuirmos menos ênfase sobre a imensa estrutura doutrinária das Escrituras. Pregamos em linguagem simples? Sem dúvida, procuramos evitar expressões super-acadêmicas. É verdade que muitos dos vocábulos poderosos das Escrituras nunca podem ser omitidos de nosso vocabulário. Sem dúvida, eles têm de ser explicados e, depois, incorporados à mente e à conversa de nossos ouvintes. Apesar disso, fazemos conscientemente todo o esforço necessário para evitar os chavões hipnóticos e paralisa- dores do pensamento, a fim de apresentarmos a verdade com uma roupagem nova e contemporânea? Baxter nos convida a realizarmos um ministério de pregação no qual os fundamentos da fé são apresentados com atratividade e clareza.
2. A Pregação de Richard Baxter era Caracterizada por um Ardente Apelo Evangelístico.
A grande realidade que moldava seu ministério era o fato de que todos comparecerão diante do tribunal de Cristo. Sua extrema fraqueza física aumentava sua consciência de que havia apenas um passo entre ele mesmo e a morte, que Baxter chamava de sua “vizinha”. Todos os deveres tinham de ser cumpridos, todos os sermões deveriam ser pregados à luz daquele grande Dia. “Todos os dias, eu sei e penso que está se aproximando a hora” — dizia Baxter. Sua congregação foi descrita como “um grupo de pecadores carnais, miseráveis e ignorantes, que tinham de ser transformados ou condenados. Parece que posso vê-los entrando na condenação final! Parece que eu os escuto clamando por socorro, pelo socorro mais urgente!”
Essa consciência da eternidade tornou Baxter um pregador emocional. “Se você deseja conhecer a arte de apelar, leia Richard Baxter”, disse Charles Spurgeon. Entretanto, a emotividade de Baxter não era indisciplinada; era motivada por uma compreensão da verdade, pois ele não tinha tempo para um “fervor simulado”.“Primeiramente, a luz; depois, o calor” — este era seu moto: em primeiro lugar, a exposição da verdade; em seguida, as pungentes palavras de apelo, resultantes da verdade. No final de seu livro “Uma Chamada ao Não-Convertido, Para que se Converta e Viva” (Nota do Editor: Leia “Convite para Viver”, resumido por John Blanchard e publicado pela Editora Fiel), Baxter apelou aos seus ouvintes com uma seriedade tão amável que podemos quase ver as lágrimas em sua face. “Meu coração está perturbado em pensar como deixarei vocês, para que eu não os deixe como os encontrei, até que acordem no inferno… Hoje, entre vocês sou um pedinte tão ardoroso, por causa da salvação da alma de vocês, como se estivesse pedindo algo para satisfazer minha própria necessidade e estivesse obrigado a vir como um mendigo às portas das casas de vocês. Portanto, se vocês pretendem me ouvir, ouçam-me agora. E, se vocês querem demonstrar piedade para comigo, suplico que nesse momento tenham piedade de vocês mesmos. Ó senhores, creiam: a morte e o julgamento, o céu e o inferno se tornam outra coisa quando nos aproximamos deles, diferentes daquilo que pensávamos quando deles estávamos distantes. Quando deles se aproximarem, vocês ouvirão a mensagem que lhes estou apresentando, com corações mais despertos e atenciosos.”
O assunto central da pregação de Baxter era um urgente convite para que o ouvinte recebesse a Cristo. Richard Baxter pregava esperando um veredicto; ele procurava “levar os pecadores a perceberem que tinham de ser, inevitavelmente, convertidos ou condenados”. As palavras finais de Baxter em seu livro “Desprezando a Cristo e a Salvação” são poderosas e pungentes: “Quando Deus remover de seus corpos aquelas almas descuidadas, e você, leitor, tiver de responder, em seu próprio nome, por todos os seus pecados; então, o que você não daria por um Salvador? Quando você perceber que o mundo o abandonou, que seus companheiros de pecado iludiram a si mesmos e a você e que todos os seus dias de felicidade se acabaram; então, o que você não daria por Cristo e pela salvação que você agora não considera ser uma coisa digna de se esforçar por ela? Você que não menospreza uma pequena enfermidade, uma necessidade ou a morte natural, não, nem mesmo uma dor de dente, mas lamenta como se estivesse arruinado; como você despreza a fúria do Senhor, que arderá contra aqueles que condenam a sua graça? Agora posso reconhecer qual será a sua determinação para os dias futuros. O que você tem a dizer? Você pretende continuar desprezando a Cristo e a salvação, como o tem feito até agora, e, apesar disso, ser o mesmo homem? Espero que não.”
O gume afiado estava sempre presente nas mensagens de Baxter — uma decisão tinha de ser tomada, um veredicto precisava ser dado, e uma oferta de misericórdia, aceitada ou rejeitada.
No entanto, isso está bem longe de corresponder ao decisionismo superficial. O pregador arminiano tem receio do que a mente pode dizer ao coração, depois que terminar o culto; por isso, ele tenta compelir os ouvintes a uma decisão da vontade, antes que pensamentos posteriores deles os afastem de Cristo. Baxter não somente se mostrava corajoso em lidar com os pensamentos posteriores, mas também contava com tais pensamentos, esperando que seus ouvintes refletiriam profundamente sobre aquilo que havia sido pregado. Assim, vemos Baxter plantando bombas-relógios nas mentes de seus ouvintes, aplicações que continuariam a falar, depois que a voz de Baxter silenciasse. “Não posso acompanhá-los até suas casas, para aplicar a Palavra às necessidades diárias de vocês. Oh! que eu possa transformar a consciência de vocês em um pregador, e que ela pregue para vocês mesmos, pois está sempre acompanhando-os! Da próxima vez que forem deitar-se ou dirigirem-se ao trabalho, sem haver orado, que a consciência de vocês grite bem alto: Você não se preocupa mais com Cristo e com a salvação de sua alma? Da próxima vez que se apressarem para a prática de um pecado conhecido, que a consciência de vocês clame: A salvação e Cristo não são mais dignos, para que você os despreze ou os arrisque por causa de suas concupiscências? Da próxima vez que vocês passarem o dia do Senhor em ociosidade ou esportes vãos, que a consciência lhes diga o que estão fazendo.” Baxter tomava cada um dos aspectos da vida e os arregimentava como um pregador, de modo que os pecadores ficassem cercados por um ambiente em que cada parte declarasse as reivindicações divinas.
Quer com justiça, quer não, em muitos lugares os pregadores reformados têm uma reputação de serem restritos e impessoais em suas mensagens. Isso pode ser uma reação contra os excessos de nossa época, contra o zelo sem discernimento, o calor sem a luz, a sã doutrina sem o bom senso. Não tem sido esta uma reação excessiva? Nós, que vemos Deus em todos os aspectos de nossa vida, poderíamos ser mais profundamente impressionados pela realidade das coisas eternas. Compreendendo a miséria da depravação humana e a maravilha da graça soberana, deveríamos nos sentir profundamente comovidos, quando essa verdade nos envolvesse. A evolução de nossa mente atrofiou de tal modo nosso coração, que nos leva a suspeitar das emoções autênticas? Hesitamos em pregar com insistência o evangelho aos homens, por medo de sermos considerados arminianos? Um pregador reformado pode considerar os cinco pontos do calvinismo como um campo minado pelo qual ele anda na ponta dos pés; e isto pode levá-lo a sentir-se tão temeroso de explodir em meio a uma expressão mal-utilizada, que ele não chega a almejar a conversão de seus ouvintes. O poder e o impacto de um sermão se perdem no emprego de milhares de termos qualificativos utilizados na mensagem. Nossa pregação será uma caricatura, se faltar um apelo sincero para que os homens recebam o Cristo todo-suficiente, que se oferece livremente a todos os que vierem a Ele. As verdades do calvinismo não são barreiras que têm de ser ultrapassadas, antes que o evangelho seja pregado; antes, elas são uma plataforma da qual pregamos com mais poder. É exatamente porque a graça é soberana e livre, que podemos proclamá-la com mais paixão; porque a redenção adquirida por Cristo é completa e certa, podemos recomendá-la com muito brilho; porque Deus, de acordo com sua própria vontade, escolheu alguns homens para a salvação, podemos pregar confiantemente. Se os pastores reformados têm de permanecer em harmonia com as Escrituras, temos de gravar esse elemento da pregação de Baxter.
3. A Pregação de Baxter era Acompanhada por Aconselhamento Pastoral Sistemático.
Ele não fazia qualquer divisão, como a que existe hoje, entre pregação e trabalho pastoral, pois ele entendeu o que Paulo quis dizer, quando recordou aos crentes de Éfeso, que lhes havia ensinado “publicamente e de casa em casa”. A tarefa do pastor é uma só — a mesma verdade comunicada ao mesmo povo, tendo o mesmo propósito: a glória de Deus, por meio da salvação ou da condenação. Talvez nisto Baxter se mostre mais útil aos pastores de nossos dias — em estabelecer uma forte ligação entre o púlpito e o pastorado.
Baxter esperava que conversões resultassem de sua pregação. Ele aconselhou seus colegas de ministério: “Se vocês não desejam ardentemente ver a conversão e a edificação de seus ouvintes, se não pregam nem estudam com esta esperança, provavelmente vocês não obterão muito sucesso”. Baxter dependia completamente do Senhor para obter sucesso em sua pregação; ele atacava com todo o vigor a abominável atitude de um pregador utilizar a soberania de Deus, em conceder ou não a salvação, como uma desculpa para a negligência. O pregador tem de desejar muito a conversão de seus ouvintes e encher-se de tristeza se eles não responderem ao convite do evangelho. “Sei que um pastor fiel pode consolar-se, quando lhe falta sucesso… mas o pastor que não empenha- se por ser bem sucedido em seu trabalho não pode ter qualquer consolo, porque não é um trabalhador fiel.”
Esse desejo intenso por resultados levou Baxter a visitar as casas de seus ouvintes e fazer a obra de catequização pessoal. Ele procurava descobrir quanto os seus ouvintes haviam entendido da pregação, que efeito a pregação tivera sobre eles e se haviam ou não recebido a oferta de misericórdia por meio do evangelho. A semente que ele havia plantado precisava de cultivo posterior? As ervas daninhas precisavam ser arrancadas daquele solo? Essas perguntas poderiam ser respondidas somente através da conversa pessoal. A princípio, Baxter esquivou-se da obra — “Muitos de nós temos uma vergonha tola que nos faz recuar em começar a obra com os ouvintes e conversar claramente com eles”. Mas, à medida que ele ganhou experiência, esse aconselhamento pastoral se tornou “a obra mais confortável, exceto a pregação pública, na qual eu já coloquei minhas mãos a realizarem”. Devemos ressaltar que foi a seriedade de Baxter como pregador que o tornou um pastor tão diligente. Sua visitação aos lares serviu-lhe de instrumento para explicar e aplicar posteriormente aquilo que havia dito no púlpito. Na verdade, ele descobriu que as pessoas não receberiam a sua pregação com a devida seriedade, a menos que ela fosse reforçada por uma abordagem pessoal e achegada.
Em uma passagem clássica de seu livro O Pastor Aprovado, Baxter disse: “Os seus ouvintes lhe darão oportunidade de pregar contra os pecados que eles cometem, assim como clamar do púlpito em favor da piedade, se você não os confrontar depois, ou em contato pessoal posterior for favorável ou demasiadamente amigável com eles… Eles consideram o púlpito como um palco, um lugar onde os pregadores têm de apresentar-se e realizar o seu papel; onde você tem a liberdade de falar, durante quase uma hora, sobre o que você escreveu em seu esboço; e o que você pregou eles não levam em consideração, se não lhes mostrar, por falar-lhes face a face, que você estava pregando com seriedade e realmente pretendia dizer o que pregou em sua mensagem”. A obra pastoral de Baxter não somente reforçava o que ele havia pregado, mas também o ajudava a pregar com mais pungência e relevância no futuro. “Conversar uma hora ou mais com um pecador ignorante e obstinado lhe fornecerá, tão bem quanto uma hora de estudo no escritório, assuntos úteis a serem apresentados em seus sermões; pois você saberá sobre que assunto precisa insistir e quais objeções desses pecadores você terá de repelir.” Baxter conheceu o seu povo — a personalidade, os problemas, as tentações, a maneira de viver deles. Ele se assentava onde eles se assentavam; assim foi capacitado a pregar sermões elaborados para as necessidades particulares deles. Para um homem ser um verdadeiro pregador, ele tem de ser um verdadeiro pastor. Temos de reconhecer a centralidade da pregação, mas será que não utilizamos isso como desculpa para a covardia e a indiferença pastoral? O fato de que pregamos publicamente contra os pecados dos homens nos absolve da responsabilidade de confrontá-los, em seus lares, a respeito dos mesmos pecados? Somos chamados para ser estudantes diligentes, para trabalhar na Palavra, para estar em nosso lugar secreto. No entanto, o estudo pode se tornar um refúgio conveniente para fugirmos da realidade, e podemos facilmente por meio da leitura de mais um livro tranqüilizar nossa consciência no que diz respeito a uma visita não realizada. Muitos de nós temos descoberto, para nossa vergonha, que a coragem com que temos pregado pode evaporar-se durante o trajeto até à porta da casa da pessoa para a qual estamos nos dirigindo, a fim de visitá-la. Havendo trovejado, com ousadia, contra o pecado, nos encontramos procurando conciliar-nos, por meio de um sorriso e de um aperto de mãos, com aquelas mesmas pessoas cujas consciências estávamos procurando ferir; “estamos procurando ser amigos e nos alegrarmos com eles”; estamos preferindo que Deus fique irado com eles, ao invés de eles ficarem irados conosco.
Na tentativa de ressaltarmos a importância da pregação, é possível reagirmos de maneira errônea, por minimizarmos a obra pessoal. O aconselhamento pessoal não pode ser um substituto para a Palavra pregada, mas, como um instrumento de reforçar e aplicar a Palavra à consciência do indivíduo, o aconselhamento pastoral cumpre uma função singular. Além disso, serve também para nos tornar pregadores melhores, e não piores. Quando visitamos de casa em casa, a neblina de nosso estudo será desfeita e voltaremos a fim de preparar sermões de acordo com a vida e na linguagem do povo.
Este foi Richard Bartex de Kidderminster, um pregador que trabalhou muito para tornar clara a verdade de Deus, que falava com um coração ardente, enquanto apelava ao seu povo que se aproximasse de Cristo; um pastor que conhecia suas ovelhas por nome, que falava com elas pessoalmente a respeito das grandes preocupações de sua alma. Richard Baxter não é simplesmente uma curiosidade histórica, um fóssil para ser admirado; ele é um estímulo, uma reprovação, um encorajamento. Em suas Meditações Sobre a Morte, Baxter revela o coração do pregador: “Meu Senhor, não tenho nada a fazer neste mundo, exceto buscar-Te e servir-Te; não tenho nada a fazer com o coração e suas afeições, exceto amar-Te intimamente; não tenho nada a fazer com os lábios e com a caneta, exceto falar sobre Ti, a favor de Ti, e publicar a tua glória e a tua vontade”.