sábado, 23 de novembro
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Alguém foi salvo na cruz?

“Afirmamos que Cristo morreu para assegurar a salvação de uma tão grande quantidade de pessoas que ninguém é capaz de enumerar, pessoas que mediante a morte de Cristo não somente podem ser salvas, mas são salvas, têm de ser salvas; e não existe a possibilidade de, por meio de qualquer casualidade, elas serem outra coisa, exceto pessoas salvas” (Charles Haddon Spurgeon).

Houve um tempo em que eu me qualificava como um “calvinista de quatro pontos”. Existem muitos que utilizam essa expressão e, durante quase todo aquele tempo, o único ponto que eu rejeitava era o da “expiação limitada”. Existe algo nessas palavras que não soa corretamente. Como pode a expiação realizada por Cristo ser limitada? Isso é exatamente o que eu pensei quando comecei a meditar com seriedade sobre todo o assunto. A minha experiência é que muitos dos que rejeitam a expiação limitada ou específica de Cristo realmente não crêem na completa soberania de Deus, na total depravação do homem e na eleição incondicional da parte de Deus. Muitas das objeções apresentadas contra essa doutrina são objeções a algum dos assuntos que acabamos de mencionar, e não contra a própria expiação limitada. A “quebra” em minha maneira de pensar resultou da leitura do livro de Edwin Palmer, Os Cinco Pontos do Calvinismo (The Five Points of Calvinism; Grand Rapids, Baker Book House, 1980, pp. 41-55). Ao realizar uma transmissão de rádio a respeito da verdade da graça eletiva de Deus, um ouvinte desafiou-me em relação à morte de Cristo. “Por que Cristo morreu em favor de todo o mundo, se Deus não tencionava salvar todos?” Olhei para meu companheiro de programa, ele olhou para mim; fiz uma decisão mental de estudar mais sobre aquele assunto em particular. Logo que voltei para casa, peguei o livro de Edwin Palmer e comecei o capítulo que se referia à obra de expiação realizada por Cristo.

Tornei-me um calvinista de “cinco pontos”, ao ler a seguinte seção:

“A pergunta que necessita de uma resposta exata é esta: Cristo realmente fez ou não fez um sacrifício vicário pelos pecados? Se Ele o fez, não foi em favor de todo o mundo, pois, se assim fosse, todo o mundo seria salvo” (Palmer, Os cinco Pontos do Calvinismo, p. 47).

Fui confrontado com uma decisão. Se eu continuasse afirmando uma expiação “universal”, ou seja, se eu dissesse que Cristo morreu vicariamente no lugar de todo homem e toda mulher no mundo inteiro, seria obrigado a dizer: 1) que todos seriam salvos; 2) que a morte de Cristo não foi suficiente para salvar sem obras adicionais. Eu sabia que não estava disposto a crer que a morte de Cristo não podia salvar sem as obras humanas. Por conseguinte, eu tive de entender que a morte de Cristo foi realizada em favor dos eleitos de Deus e que ela realiza seu propósito: salva aqueles em favor dos quais ela aconteceu. Nesse ponto, compreendi que durante todo o tempo havia “limitado” a expiação. Na verdade, se você não crê na doutrina reformada da “expiação limitada”, você crê em alguma forma de expiação limitada! Como pode ser isso? A menos que você seja um universalista (ou seja, crê que todas as pessoas serão salvas), então, você crê que a expiação realizada por Cristo, se foi realizada em favor de todos os homens, é limitada em seus efeitos. Você crê que Cristo morreu em favor de alguém e, apesar disso, aquela pessoa pode ficar perdida por toda a eternidade. Você limita o poder e o efeito da expiação. Eu limito o escopo da expiação, enquanto afirmo que seu poder e efeito são ilimitados! Um escritor expressou isso muito bem, quando disse:

“Não deve haver qualquer mal-entendido quanto a este assunto. O arminiano limita a expiação assim como o faz o calvinista. Este limita a extensão da expiação quando afirma que ela não se aplica a todas as pessoas… o arminiano, por sua vez, limita o poder da expiação, pois ele afirma que ela não salva ninguém. O calvinista limita quantitativamente a expiação, mas não qualitativamente; o arminiano limita-a qualitativamente, mas não quantitativamente. Para o calvinista, a expiação é como uma ponte estreita que segue em todo o caminho por cima do rio; para o arminiano, a expiação é como uma ponte larga que vai somente até metade do caminho. Na realidade, o arminiano coloca mais limitações severas na obra de Cristo do que o faz o calvinista” (Lorraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination [A Doutrina Reformada da Predes-tinação]; Philipsburg, New Jersey, Presbiterian and Reformed Publish-ing Company, 1932, p. 153).

Não estamos falando sobre apresentar alguma terrível limitação na obra de Cristo, quando nos referimos à “expiação limitada”. Na verdade, estamos realmente apresentando um ponto de vista mais elevado sobre a obra de Cristo no Calvário, quando dizemos que a morte de Cristo realiza alguma coisa na realidade e não apenas na teoria. A expiação, nós cremos, foi autêntica, vicária e substitutiva; ela não foi uma expiação possível e teórica que, para ser eficaz, depende da ação do homem. E, quando alguém compartilha o evangelho com pessoas envolvidas em falsas religiões, eu afirmo que a doutrina bíblica da expiação realizada por Cristo é uma verdade poderosa e a única mensagem capaz de causar verdadeiro impacto em lidar com os muitos ensinos heréticos sobre a pessoa de Cristo apresentados em nossos dias. Jesus Cristo morreu em favor daqueles que o Pai, desde a eternidade, decretou que salvaria. Existe absoluta unidade entre o Pai e o Filho na salvação do povo de Deus. O Pai decretou a salvação deles, o Filho morreu no lugar deles, e o Espírito os santifica e os conforma à imagem de Cristo. Esse é o testemunho coerente das Escrituras.

O Intento da Expiação

Por que Cristo veio ao mundo para morrer? Ele veio simplesmente para tornar a salvação possível? Ou Cristo veio para obter a eterna redenção (Hebreus 9.12)? Consideremos algumas passagens das Escrituras para responder essas perguntas.

Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lucas 19.10).

Nesse versículo, o Senhor Jesus mesmo falou sobre a razão de sua vinda — buscar e salvar o perdido. Poucos vêem problema no vir de Jesus; muitos têm dificuldade com a idéia de que Ele realmente realizou toda a sua missão. No entanto, Jesus deixou claro que viera para salvar o perdido. Ele fez isso por intermédio de sua morte.

Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1.15).

Paulo afirmou que salvar pecadores foi o propósito da vinda de Cristo ao mundo. Nada nas palavras do apóstolo Paulo nos leva à conclusão que é tão popular em nossos dias — a morte de Cristo simplesmente torna a salvação em uma possibilidade, ao invés de torná-la uma realidade. Cristo veio para salvar. Foi isso mesmo que Ele fez? Então, como Ele o fez? Não foi por intermédio de sua morte? Com toda a certeza. A morte expiatória de Cristo outorga perdão de pecados para todos aqueles em favor dos quais ela aconteceu. Essa é a razão por que Cristo veio ao mundo.

A Obra Intercessória de Cristo

Este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hebreus 7.24-26).

O Novo Testamento relaciona de maneira íntima a obra de Cristo como nosso Sumo Sacerdote e Intercessor com a sua morte sobre a cruz. Nessa passagem de Hebreus, somos ensinados que o Senhor Jesus, devido ao fato de que Ele vive para sempre, possui um sacerdócio permanente e imutável. Ele não é semelhante aos antigos sacerdotes que morriam; o Senhor Jesus é um perfeito sacerdote, porque permanece para sempre. Por causa disso, Jesus é capaz de salvar totalmente os que por Ele se achegam a Deus. Por quê? Porque Ele vive sempre para interceder por eles.

Ora, antes de considerarmos a relação entre a morte de Cristo e a sua intercessão, desejo enfatizar o fato de que a Bíblia afirma a capacidade de Cristo para salvar totalmente o homem. Ele não está limitado a um papel secundário como o grande Auxiliador que torna possível o homem salvar a si mesmo. Aqueles que se achegam a Deus por intermédio de Cristo encontrarão nEle uma salvação abundante e completa. Além disso, temos de recordar que Cristo intercede por aqueles que se achegam a Deus. Sinto que é óbvio o fato de que Cristo não intercede por aqueles que não se aproximam de Deus por intermédio dEle. A intercessão de Cristo se realiza em favor do povo de Deus. Logo veremos o quanto isso é importante.

Sobre que fundamento Cristo intercede diante do Pai? Ele comparece na presença de Deus e Lhe suplica que esqueça sua santidade, sua justiça e simplesmente ignore os pecados dos homens? É claro que não. O Filho intercede diante do Pai fundamentado em sua própria morte. A inter- cessão de Cristo repousa sobre o fato de que Ele morreu como substituto do povo de Deus; e, visto que o Senhor Jesus levou sobre o seu corpo os pecados de seu povo, na cruz (1 Pedro 2.24), Ele pode apresentar sua oferta diante do Pai em lugar deles e, com base na sua morte, interceder em favor deles. O Filho não pede que o Pai comprometa a sua santidade ou simplesmente ignore o pecado. Cristo cuidou do pecado na cruz. Conforme lemos em Hebreus 9.11-12:

Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”.

Quando Cristo entrou no Santo dos Santos, Ele o fez “pelo seu próprio sangue”. Ao realizar isso, somos informados que obteve “eterna redenção”. Novamente, essa não é uma afirmação teórica, e sim a declaração de um fato. Cristo não entrou no Santo dos Santos para tentar conseguir a redenção para seu povo! Ele entrou ali depois de já ter conseguido a redenção. Então, o que Ele está fazendo agora? A sua obra de intercessão é outra obra que se realiza independentemente de sua morte sacrificial? A morte de Cristo é ineficaz sem esta “outra” obra? A intercessão de Cristo não é uma segunda obra, independente de sua morte. Pelo contrário, Cristo está apresentando diante do Pai o seu perfeito e completo sacrifício. Ele é o nosso Sumo Sacerdote, e o sacrifício que Ele oferece em nosso lugar é o seu próprio sacrifício. Ele é o nosso Advogado, como disse o apóstolo João:

Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2.1-2). [Essa passagem freqüentemente é utilizada para negar a expiação específica de Cristo; mas, quando consultamos a passagem correspondente em João 11.51-52, se torna evidente que João tencionava que a palavra “mundo” fosse entendida no mesmo sentido em que é explicado para nós em Apocalipse 5.9-11, onde a morte de Cristo comprou homens de “toda tribo, língua, povo e nação”, ou seja, de todo o mundo.]

A expiação realizada pela morte de Cristo está claramente vinculada à sua advocacia diante do Pai. Por essa razão, podemos reconhecer as seguintes verdades:

1) É impossível que o Filho não interceda por alguém em favor de quem Ele morreu. Se Cristo morreu como Substituto deles, como não poderia Ele apresentar seu próprio sacrifício em lugar deles diante do Pai? Podemos crer que Cristo realmente morreu por alguém que Ele não tencionava salvar?

2) É impossível que alguém em favor de quem Cristo não morreu receba a intercessão dEle. Se Cristo não morreu em favor de determinado indivíduo, como poderia Ele interceder por esse indivíduo, visto que não tem bases sobre as quais Ele pode buscar a misericórdia do Pai?

3) É impossível que se perca alguém em favor de quem Cristo intercede. Podemos imaginar o Filho rogando ao Pai, apresentando sua perfeita expiação em favor de uma pessoa que Ele deseja salvar, e o Pai rejeitando a intercessão do Filho? O Pai sempre ouve o Filho (João 11.42). O Pai não ouvirá as súplicas do Filho em favor de todos os que o Filho deseja salvar? Além disso, se cremos que Cristo pode interceder por alguém que o Pai não salvará, temos de crer que: a) há divisão na Divindade — o Pai deseja uma coisa, e o Filho, outra; b) o Pai é incapaz de fazer o que o Filho deseja que Ele faça. Ambas as idéias são completamente impossíveis.

Na oração sacerdotal de Cristo (João 17), podemos ver claramente que Ele não age como Sumo Sacerdote em favor de todos os homens. O Senhor Jesus distinguiu claramente entre o “mundo” e aqueles que, em toda a oração, são mencionados como pertencentes a Ele mesmo. E o versículo 9 ressalta fortemente esse argumento:

É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.

Quando Cristo ora ao Pai, Ele não ora em favor do “mundo”, e sim em favor daqueles que Lhe foram dados do mundo, pelo Pai (João 6.37).

Por quem Cristo morreu?

Existem muitas passagens bíblicas que nos ensinam que o escopo da morte de Cristo limitou-se aos eleitos. Em seguida, apresentamos algumas delas.

Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20.28).

Os “muitos” em favor dos quais Cristo morreu são os eleitos de Deus, como Isaías havia dito muito tempo antes:

O meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Isaías 53.11).

O Senhor Jesus deixou claro que sua morte aconteceu em favor de seu povo, quando falou sobre o Pastor e as ovelhas.

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas… assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (João 10.11,15).

O Bom Pastor entregou a sua vida em favor das ovelhas. Todos os homens são ovelhas de Cristo? É claro que não, pois muitos homens não conhecem a Cristo, e Ele disse que as suas ovelhas O conhecem (Jo 10.14). Depois, Jesus falou especificamente aos judeus que não creram nEle: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (João 10.26). Devemos observar que, em contraste com a idéia de que, se cremos, nos tornamos ovelhas do Senhor Jesus, Ele disse que os judeus não creram porque não eram suas ovelhas. Se uma pessoa é uma ovelha de Cristo, esta é uma decisão do Pai (João 6.37; 8.47), e não da ovelha!

Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave… Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5.2,25-27).

Cristo entregou-se a Si mesmo em favor de sua igreja, o seu corpo, com o propósito de purificá-la e torná-la seu corpo. Se este era seu propósito para com a igreja, por que Ele se entregaria por aqueles que não constituem a igreja? Ele não desejava santificar esses “outros” também? Mas, se Cristo morreu por todos os homens, há muitos, muitos, que permanecerão impuros durante toda a eternidade. A morte de Cristo foi insuficiente para purificá-los? É claro que não. Ele tinha outro objetivo em mente quando morreu por eles? [Não estou negando que a morte de Cristo teve efeitos para todos os homens e, na realidade, para toda a criação. Creio que a morte dEle é uma parte da “consumação de todas as coisas” em Cristo. Entretanto, estamos falando aqui apenas sobre o efeito salvífico da expiação vicária de Cristo. Alguém poderia argumentar que a morte de Cristo tem efeito sobre aqueles em favor de quem ela não tencionava ser um sacrifício expia-tório.] Não, o sacrifício de Cristo em favor da igreja resulta em sua purificação; isso era o que Cristo tencionava para todos em favor dos quais Ele morreu.

Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Romanos 8.32-34).

O Pai ofereceu seu Filho em nosso lugar. A quem se refere o pronome “nós” nesses versículos? O texto esclarece que são os eleitos do Pai, ou seja, “os eleitos de Deus”. Novamente, a obra intercessora de Cristo, à direita de Deus, é apresentada em perfeita harmonia com sua morte — aqueles em favor de quem Cristo morreu são os mesmos por quem Ele intercede. E, como essa passagem demonstra, se Cristo intercede por alguém, quem pode trazer acusação contra tal pessoa e esperar vê-la condenada? Portanto, reconhecemos o que já consideramos: Cristo morreu em lugar de alguém, Ele intercede por tais pessoas, que infalivelmente são salvas. A obra de Cristo é completa e perfeita. Ele é o Salvador poderoso, que jamais falha em realizar seu propósito.

Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15.13).

Todos os homens são amigos de Cristo? Todos possuem o nome dEle? Todos se prostram diante dEle e O aceitam como Senhor? Todos obedecem os mandamentos de Cristo (João 15.14)? Isso não acontece, portanto, todos eles não são amigos de Cristo.

Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2.13-14).

Tanto o elemento de substituição da cruz (Cristo se entregou por nós) quanto o propósito (remir-nos… purificar) da crucificação foram vigorosamente apresentados a Tito. Se o propósito de Cristo era redimir e purificar aqueles em favor dos quais Ele morreu, porventura, isso não aconteceu?

Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1.21).

Cristo salvará o seu povo dos pecados deles. Eu pergunto o que

Edwin Palmer me perguntou antes: Cristo realmente o fez? Cristo salvou ou não o seu povo?

Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;

e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2.20).

Essa é a confissão peculiar de todo verdadeiro crente em Jesus. Nós morremos com Ele, nosso Substituto, Aquele que nos amou e se entregou em nosso lugar.

Temos visto que a Palavra de Deus nos ensina que Cristo morreu por muitos, por suas ovelhas, pela igreja, pelos eleitos de Deus, por seus amigos, por um povo zeloso de boas obras, por seu povo, por todos os crentes.

Purificados e Santificados

É provável que alguém poderia escrever muitos volumes com estudos sobre a expiação realizada por Cristo. Não é nosso propósito fazer isso neste artigo. Ao invés disso, concluiremos nosso breve exame das Escrituras com as palavras de Hebreus 10.10-14:

Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.

Ao mesmo tempo que consideramos algumas razões lógicas para crermos na expiação limitada e vimos várias referências sobre a morte de Cristo em favor de seu povo, essa passagem de Hebreus, acima de todas as outras, para mim, transforma essa doutrina em um imperativo. Ouça com atenção o que essa passagem nos diz. Primeiramente, qual é o efeito do único sacrifício do corpo de Jesus Cristo? O que nos diz o versículo 10? “Temos sido santificados.” A língua grega usa o tempo perfeito nesse versículo, indicando uma ação completa realizada no passado. A morte de Cristo realmente nos tornou santos. Cremos nisso? A morte de Cristo verdadeiramente santifica aqueles em favor dos quais ela foi realizada? Ou simplesmente torna possível que eles se tornem santos? Essas perguntas não podem ser negadas com facilidade. O autor de He- breus prossegue descrevendo como esse Sacerdote, Jesus, assentou-se à direita de Deus, de maneira diferente do que acontecia aos antigos sacerdotes, que tinham de permanecer fazendo sacrifícios continuamente. Ao contrário disso, a obra de Cristo é perfeita e completa. Ele pode descansar, pois seu único sacrifício se tornou perfeito para todos aqueles que em suas vidas estão experimentando a obra santificadora da parte do Espírito Santo. Cristo os tornou completos, perfeitos. Esse vocábulo se refere a um término, um fim. Cremos que a morte de Cristo fez isso? Se percebemos com clareza este ensino das Escrituras, estamos dispostos a alterar nossa crença e nossos métodos de proclamar o evangelho, para ajustar-se à verdade?

Uma crença comum precisa ser apresentada quando transmitimos a verdade. Muitos que acreditam em uma expiação “universal” ou não-específica afirmam que, enquanto Cristo morreu por todos, sua expiação é eficaz somente para aqueles que crêem. Em outra oportunidade falaremos sobre o fato de que a própria fé é um dom de Deus, dada somente aos seus eleitos. Agora, ao responder esse argumento, queremos apenas referir-nos ao grande puritano John Owen:

“Poderia acrescentar esse dilema aos universalistas: Deus impôs a sua devida ira, e Cristo suportou as dores do inferno por todos os pecados de todos os homens, ou por todos os pecados de alguns homens, ou por alguns pecados de todos os homens. Se este último for correto — alguns pecados de todos os homens, isso significa que todos os homens têm alguns pecados pelos quais têm de responder a Deus, e, portanto, nenhum homem será salvo; pois, se Deus entra em juízo conosco, embora Ele o fizesse com toda a humanidade por apenas um pecado, nenhuma carne seria justificada diante dEle. ‘Se observares, Senhor, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá?’ (Salmo 130.3). Se a segunda opção for correta (o que nós afirmamos), isso significa que Cristo sofreu por todos os pecados de todos os eleitos no mundo. Se a primeira é correta, por que, então, todos os homens não se encontram livres da punição de todos os seus pecados? Você dirá: ‘Por causa de sua incredulidade, eles não crêem’. Mas esta incredulidade é pecado ou não? Se não é, por que eles devem ser punidos por sua causa? Se esta incredulidade é pecado, Cristo sofreu a punição devida a ela, ou não? Se Ele sofreu, então, por que esse pecado os impede, mais do que quaisquer outros pecados pelos quais Cristo morreu, de participar dos benefícios da morte dEle? Se Cristo não sofreu por esse pecado, isto significa que Ele não morreu por todos os pecados deles. Eles devem escolher que posição têm de assumir” (John Owen, A Morte da Morte na Morte de Cristo; Londres, Banner of Truth, 1985, pp. 61-62.)

Conclusão

Alguns rejeitam a doutrina da expiação limitada utilizando fundamentos bastante pragmáticos. “Essa doutrina destrói o evangelismo, porque você não pode dizer às pessoas que Cristo morreu por elas, visto que você não sabe disso!” Mas, perguntamos, existe alguma vantagem em apresentar uma expiação teórica, um Salvador cuja obra é incompleta e um evangelho que é apenas uma possibilidade? Que tipo de proclamação Deus honrará com seu Espírito: uma proclamação elaborada tendo em vista o “sucesso” ou uma proclamação que está presa à verdade da Palavra de Deus? Quando os apóstolos pregavam o evangelho, eles não diziam: “Cristo morreu por todos os homens de todos os lugares; agora cumpre a vocês tornarem eficaz a obra dEle”. Os apóstolos ensinavam que Cristo morreu pelos pecadores e que o dever de todo homem é arrepender-se e converter-se. Eles sabiam que somente a graça de Deus podia produzir arrependimento e fé no coração do homem. E, ao invés de ser um obstáculo à obra de evangelização dos apóstolos, essa mensagem era o poder que estava por trás da evangelização que eles realizavam. Eles proclamavam um Salvador “poderoso”, cuja obra é todo-suficiente e que salva total e completamente os homens! Os apóstolos sabiam que Deus estava trazendo os homens para Si mesmo, e, visto que Ele é o soberano do universo, não há poder no mundo que seja capaz de parar a sua mão! Ora, existe um fundamento sólido para a evangelização! E o que poderia ser mais estimulante para um coração dilacerado por culpa do que saber que Cristo morreu em favor de pecadores e que a obra dEle não é apenas teórica, e sim real?

A igreja precisa desafiar novamente o mundo com a proclamação ousada de um evangelho que é ofensivo — ofensivo porque fala sobre Deus que salva a quem Ele quer; ofensivo porque proclama um Salvador soberano que redime o seu povo.


Autor: James White

Dr. James White é Diretor do Ministério Alfa e Ômega, uma organização apologética cristã sediada em Phoenix, Estado do Arizona, nos Estados Unidos. Ele é professor de grego, hebraico e apologética. Escreveu diversos livros, incluindo: The Forgotten Trinity (A Trindade Esquecida), The Potter’s Freedom (A Liberdade do Oleiro) e The God Who Justifies (O Deus que Justifica). Ele é um apologista talentoso, que já envolveu importantes proponentes do catolicismo romano, do islamismo e do mormonismo em debatews públicos equilibrados. É um dos pastores da Igreja Batista Reformada de Phoenix, casado há vinte anos com Kelli; eles têm dois filhos: Joshua e Summer. A maior prioridade do Dr. James é honrar a verdade de Deus através do ensino e da proclamação dessa verdade. O desejo do Dr. James é que os crentes estejam “preparados para responder” sobre o que creem, e que sejam consistentes em como apresentar sua resposta.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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