Assim como Martinho Lutero permanece como o marco de uma nova época na História da Igreja, assim também Jonathan Edwards permanece como o limiar de um novo mundo evangélico, caracterizado por avivamentos. Entre Lutero e Edwards encontra-se John Owen, o Príncipe dos Puritanos, que representa três gerações de puritanos ingleses, que desdobraram a fé reformada em uma admirável combinação de doutrina, experiência e prática. Seguindo essa tradição, mas enfrentando diferentes pressões, Jonathan Edwards escreveu o clássico Religious Affections (Afeições Religiosas), no qual ele mostrou o que constitui e o que não constitui os elementos da conversão autêntica.
Jonathan Edwards ministrou como pastor em uma nação jovem que estava em desenvolvimento. Ele trabalhou arduamente nas fronteiras de perigo e conflito constantes, entre os índios, franceses, católicos e protestantes ingleses. Edwards foi um pensador arguto e um filósofo cristão que viveu no clímax do conflito espiritual contra o deísmo e o racionalismo. B. B. Warfield o descreveu como uma figura de verdadeira grandeza na vida intelectual da América colonial.1
O Teólogo do Avivamento
Jonathan Edwards foi o mais perspicaz dos primeiros filósofos da América, o mais brilhante e original de todos os teólogos da América. De modo contrário a George Whitefield, que pregava de improviso e, conforme os seus contemporâneos, nunca titubeava, Edwards escrevia todos os seus sermões; e, se tivesse de pregar utilizando breves anotações, teria dificuldade em fazê-lo. Até hoje o seu sermão Pecadores nas Mãos de um Deus Irado é um dos mais famosos na América.
Os batistas são fascinados pelo esforço de Edwards em direção a uma igreja pura, evidenciado na controvérsia sobre a Ceia do Senhor (Aliança Parcial), que foi uma das causas de sua demissão de Northampton, em 1750. Alguns são fascinados pelas obras-primas de Edwards, Freedom of the Will (Liberdade da Vontade) e The Nature of True Virtue (A Natureza da Verdadeira Virtude).
Embora estes assuntos sejam importantes, meu ponto de vista é que as principais contribuições de Edwards para a Igreja de Cristo, em todos os lugares, são os seus pensamentos e os seus livros sobre avivamento. Ele é digno do título “O Teólogo do Avivamento”. Os puritanos ingleses nunca utilizaram a palavra avivamento, embora a teologia deles fosse tendente ao avivamento.
Meu propósito é delinear o progresso do interesse e dos escritos de Edwards sobre avivamento.
Em 1734/35, um poderoso avivamento espiritual sobreveio a Northampton. Edwards o descreveu em um livro intitulado A Narrative of Surprising Conversions (Uma Narrativa de Conversões Surpreendentes).As definições de avivamento são diversas. A descrição de Edwards é, em si mesma, uma definição.
Nos últimos dias de dezembro de 1734, o Espírito de Deus começou a agir de modo extraordinário e a operar maravilhosamente entre nós. E houve, inesperadamente, cinco ou seis pessoas que, de acordo com todas as aparências, foram convertidas para a salvação, uma após outra… Nas primeiras semanas de 1735, uma preocupação sincera a respeito das grandes coisas do cristianismo e do mundo eterno envolveu, de modo abrangente, todas as pessoas de todas as idades e posições, bem como de todos os lugares da cidade. Todas as outras conversas, exceto as conversas sobre as coisas eternas e espirituais, eram logo deixadas de lado. Todas as conversas, em todos os lugares, entre todas as pessoas, em todas as ocasiões, se referiam apenas a estas coisas, a menos que fosse necessário as pessoas realizarem suas atividades seculares… As mentes das pessoas estavam admiravelmente desprendidas deste mundo, que, entre nós, era considerado algo de pouca importância. Tal mudança de convicção produziu rapidamente uma diferença visível na vida da cidade.
A maior de todas as mudanças ocorreu no próprio templo da igreja. Naquele tempo, as nossas reuniões eram lindas: a igreja se mostrava viva na adoração a Deus; todos estavam sinceramente atentos na adoração pública; todos os ouvintes anelavam ouvir as palavras do pastor, conforme estas saíam de seus lábios; a congregação geralmente derramava lágrimas, quando a Palavra de Deus era pregada. Alguns choravam de tristeza e consternação; outros, de alegria e amor; outros, de piedade e compaixão pelas almas de seus vizinhos.
Em 1739, com 36 anos de idade, Edwards pregou uma extensa série de sermões na qual ele examinou toda a história da raça humana, desde a Criação até à segunda vinda de Cristo. Esta série de sermões foi publicada como A History of the Work of Redemption (Uma História da Obra de Redenção). Edwards antecipava que através de derramamentos do Espírito Santo todos os inimigos de Cristo serão finalmente derrotados, em especial o Anti-cristo (que Edwards, assim como todos os reformadores e puritanos ingleses, considerava ser o papado) e o falso profeta. De acordo com Romanos 11, Edwards acreditava que os judeus serão convertidos e que isso será o prenúncio de um crescimento massivo da Igreja, em todo o mundo. O evangelho será, então, pregado com mais clareza e será mais eficaz em sua aplicação, levando à paz. Distorções do evangelho serão removidas, e as seitas, reduzidas a nada. Tudo isto será realizado não por príncipes, ou seja, não por poderes humanos ou líderes políticos, e sim por intermédio do Espírito Santo, utilizando os meios da graça (Zacarias 4.6). Toda a Criação, argumentava Edwards, é apenas o palco da grande obra de redenção. Todas as coisas trabalham juntas em direção ao objetivo de tudo, que é a glória do Deus Triúno, na redenção e na formação da nova terra e dos novos céus.
O avivamento ocorrido em Northampton, que se espalhou por outras cidades, inspirou aquela série de sermões. Ora, um avivamento ainda mais abrangente sobreveio à Nova Inglaterra. Em 1740/41, o Grande Despertamento “irrompeu nas igrejas dormentes da Nova Inglaterra, como um trovão e relâmpago surgindo de um céu límpido”. De modo diferente de 1735, este avivamento alcançou todo o país. O principal instrumento deste aviva-mento foi George Whitefield, que tinha apenas 25 anos de idade. O caráter deste avivamento pode ser vislumbrado nas palavras seguintes.
O agricultor Natan Cole relatou sua experiência. Ele estava trabalhando quando um vizinho lhe contou que George Whitefield estava chegando.
Eu estava trabalhando em minha lavoura. Trouxe as ferramentas e o arado para casa, ordenei à esposa que se aprontasse para ouvirmos o Sr. Whitefield, em Middletown. Corri com todas as minhas forças para apanhar o cavalo no pasto, temendo que chegaria atrasado para ouvir o Sr. Whitefield. Trouxe o cavalo até a casa, montei rapidamente, bem como a minha esposa, e fomos com tanta rapidez quanto o cavalo podia agüentar… Eu desceria, correria e diria à esposa que cavalgasse tão rápido quanto pudesse; e correria… até que ficasse quase sem fôlego… fiz isso várias vezes, para favorecer o cavalo, pois tínhamos quase 19 quilômetros para percorrer em pouco mais do que uma hora. Em terras mais altas, vi diante de mim uma nuvem ou nevoeiro surgindo e ouvi um barulho semelhante ao estrondo de cascos de cavalos vindo pela estrada… Quando cheguei a 100 metros da estrada, pude ver uma torrente de cavalos, com seus cavaleiros… Chegamos até eles, e não ouvi nenhum homem falando palavra alguma, durante todo o caminho. Todos seguiam com grande pressa; e, quando chegamos à velha casa de reuniões, ali havia uma grande multidão — disseram que três ou quatro mil pessoas estavam reunidas. Descemos de nossos cavalos e sacudimos a poeira, e os pastores estavam vindo à casa de reuniões. Virei-me, olhei em direção ao grande rio e vi barcos navegando rapidamente, para lá e para cá, trazendo grande número de pessoas, que pareciam lutar pela vida. Em um raio de 19 quilômetros, não vi ninguém trabalhando nos campos.
Nos lugares em que George Whitefield pregava na Nova Inglaterra, o Espírito Santo era derramado e grandes multidões se reuniam. Em determinado lugar, 25.000 pessoas se reuniram para ouvir Whitefield. Este número representa a maior concentração de pessoas daquela época.
Jonathan Edwards defendia, em especial, o avivamento, resguardando-o dos seus críticos. Em 1746, depois de pregar uma série de sermões sobre este assunto e depois de muita revisão, ele publicou o seu Treatise on Religious Affections (Tratado sobre Afeições Religiosas), que é o seu livro mais lido.
Em 1747, ele publicou um tratado sobre Zacarias 8.20-22, que saiu da imprensa com o longo e descritivo título
Uma Tentativa Humilde de Promover Harmonia Explícita e União Visível do Povo de Deus na Oração Extraordinária, em Favor do Avivamento do Cristianismo e do Avanço do Reino de Cristo na Terra, conforme as Escrituras — Promessas e Profecias Sobre os Últimos Dias.
Este livro, de 180 páginas, formato pequeno e acabamento em brochura, foi enviado pelos correios a John Erskine (1721-1803), na Escócia. Nesse tempo, John Ryland Jr. estava se correspondendo com Erskine; e foi através deste que Jonhn Ryland Jr. recebeu uma cópia de Uma Tentativa Humilde. John Ryland compartilhou o tratado com John Sutcliff (1752-1814). O interesse se espalhou, e foram organizadas reuniões de oração mensais suplicando avivamento. A oração especial em favor de avivamento se espalhou por todas as denominações. A atividade de intercessão foi o início de uma época notável de despertamento espiritual nas ilhas britânicas. Também é digno de nota o fato de que esse tempo de oração especialmente intercessória marca o início do Grande Despertamento Missionário, no qual William Carey foi o pioneiro.
O que serviu de excepcional encorajamento para Edwards foi a entrada de David Brainerd em sua vida —um assunto sobre o qual se expressou mais tarde. Em uma terça-feira, 28 de maio de 1747 (na época em que Edwards preparava-se para a publicação de um tratado que convocava os crentes a um pacto de oração), David Brainerd entrou no jardim da casa pastoral, em Northampton. Edwards, cujos pensamentos estavam engajados na visão de uma obra missionária de alcance mundial, havia se encontrado com Brainerd apenas uma vez. Agora, por meio de um contato mais achegado, eles conversariam mais profundamente sobre a experiência de trabalhar entre os índios e, em particular, sobre um conhecimento detalhado do despertamento espiritual entre eles. A história de David Brainerd nos comove profundamente: suas lutas com a total depravação e rejeição do evangelho por parte dos índios, seu desespero íntimo por causa dessa rejeição e, acima de tudo, sua piedade transparente.
Embora limitado em vigor físico, Brainerd se entregou, de modo incansável e sacrificial, aos índios entre os quais ele testemunharia um maravilhoso despertamento espiritual. Ele morreu de tuberculose, na casa de Edwards, com a idade de 29 anos, deixando seu diário na posse de Edwards. Este diário constituiu a base de sua biografia, escrita por Jonathan Edwards, que, no devido tempo, se tornou seu livro mais popular. Este livro foi reconhecido como a primeira biografia de um missionário impressa nos Estados Unidos e causou grande impacto na causa de missões, mais do que qualquer outro livro. Foi o avivamento entre os índios que deu poder à biografia de Brainerd e que tanto nos prende o interesse.
James I. Packer, em uma palestra apresentada na Conferência Puritana de Londres, em 1961, resumiu de modo proveitoso o ensino de Edwards sobre o avivamento, empregando três tópicos:
1. O avivamento é uma obra extraordinária de Deus, o Espírito Santo, revigorando e propagando a piedade cristã em uma comunidade.
O avivamento é uma obra extraordinária porque marca uma reversão abrupta de uma tendência arraigada e um estado de coisas entre aqueles que professam ser o povo de Deus. Contemplar Deus revigorando sua igreja significa pressupor que a igreja estivera, anteriormente, moribunda e se tornara dormente.
2. Os avivamentos têm um lugar central nos propósitos revelados de Deus.
“O objetivo de Deus em criar o mundo”, declarou Jonathan Edwards, “era preparar um reino para o seu Filho (pois Ele foi designado o herdeiro do mundo)”. Este objetivo tem de se cumprir, primeiramente por intermédio da realização da obra redentora da parte de Cristo, no Calvário; depois, por intermédio do triunfo do seu reino. “Todas as dispensações da providência divina, desde a ascensão de Cristo até à consumação final de todas as coisas, têm o propósito de outorgar a Cristo a sua recompensa e cumprir seu objetivo naquilo que Ele fez e sofreu na terra.” Um domínio universal está prometido a Cristo e, nesse ínterim, antes da consumação final, o Pai implementa esta promessa, em parte, por meio de derramamentos sucessivos do Espírito, os quais comprovam a realidade do reino de Cristo para um mundo céptico e servem para estender seus limites entre seus antigos inimigos.
3. Os avivamentos são as mais gloriosas obras de Deus no mundo.
Edwards insistia nisto, para envergonhar todos aqueles que não professavam qualquer interesse no avivamento divino que sobreviera à Nova Inglaterra e insinuavam, por sua atitude, que a mente de um crente deveria se ocupar mais proveitosamente com outros assuntos.
“Em sua natureza e realização, esta obra é a mais gloriosa de qualquer das obras de Deus” — Edwards protestou. “É a obra da redenção (o grande objetivo de todas as outras obras de Deus e da qual a obra de criação foi apenas uma sombra). É a obra da nova criação, que é infinitamente mais gloriosa do que a velha criação. Ouso dizer que a obra de Deus na conversão de uma alma… é uma obra mais gloriosa do que a criação de todo o universo material.”
Conclusão
A igreja universal possui dimensões tão amplas, que não sabemos quantos dos seus membros sentem este mesmo fardo de Jonathan Edwards. O Espírito Santo é o Espírito de graça e de súplicas. Ele impulsiona o seu povo a orar. A intercessão é quase sempre o precursor de um avivamento espiritual. É impossível pensarmos em qualquer outra maneira pela qual o mundo será ganho para Cristo.