Domínio Próprio é um tema da vida cristã que muitas vezes pode desanimar o crente, porém se lermos atentamente as Escrituras, renovando a nossa mente, é possível ganhar graça e discernimento para usufruir dessa disciplina espiritual. Seja encorajado com os trechos bíblicos selecionados abaixo. Todas as seções de comentários adaptadas da Bíblia de Estudo da Fé Reformada com Concordância, Editora Fiel.
- Provérbios 25.28
Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio.
Essa comparação (v. 11, nota) ilustra a vulnerabilidade da pessoa que não tem autocontrole.
- Gálatas 5.22-24
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
Paulo usa a metáfora de fruto para descrever a conduta do crente em Romanos 6.22; Efésios 5.9 e Filipenses 1.11. João Batista afirmou, de modo semelhante, que o verdadeiro arrependimento produziria o “fruto” de um comportamento ético concreto (Mt 3.8; Lc 3.8), e Jesus prometeu que os crentes que obtêm vida dele, como ramos unidos à videira, produzirão fruto que glorifica seu Pai (Jo 15.1-8). O amor produzido pelo Espírito é semelhante ao amor de Cristo. Vai muito além de desempenho de justiça própria legalista (Lc 10.25-37).
Crucificaram a carne. Ver 2.20; 6.14; Romanos 6.6. Para o povo de Cristo, a cruz destruiu o grilhão da lei (2.19), bem como o grilhão da carne. Pela fé, eles reconhecem a realidade de sua união com Cristo em sua morte. Foram também ressuscitados para uma nova vida no Espírito de Cristo e, por isso, andam no Espírito (Cl 3.1, 3, 5).
Vós, que sois espirituais – Aqueles que andam nos passos do Espírito (5.25) devem buscar a restauração do crente que o pecado enredou, mas devem ser cautelosos para que, nesse processo, o pecado não os enrede também. Paulo disse que todo crente em Cristo nasceu do Espírito (4.29) e o recebeu e cumprimento da promessa de Deus feita a Abraão (3.2-5, 14). Portanto, a responsabilidade de restaurar um irmão caído pertence a todos os que estão em Cristo.
Espírito de brandura – Paulo pode estar se referindo a uma atitude de gentileza, e não de condenação severa, mas também pode estar sugerindo que o Espírito de Deus, cujo fruto inclui mansidão (v. 23), capacita os crentes a restaurar uns aos outros.
- 1 Pedro 4.7
Ora, no fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações.
Aqui, o “fim de todas as coisas” pode referir-se à destruição de Jerusalém em 70 d.C. ou, mais ampla e provavelmente, à consumação final do reino de Cristo em sua vinda, que pode acontecer a qualquer momento. O chamado à vigilância é frequente no Novo Testamento. Todo o período entre a ressurreição de Cristo e sua segunda vinda para julgar os vivos e os mortos é visto como os “últimos dias” (1.20, nota; At 2.17; 1Tm 4.1, nota).
- Marcos 9.43-48
E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível [onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga]. E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés, seres lançado no inferno [onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga]. E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.
A admoestação – corta-a – deve ser entendida como uma espécie de exagero na linguagem, com vistas a enfatizar a ideia (ver vv. 45-47). Jesus está falando das renúncias de alto custo e radicais em relação aos hábitos pecaminosos. Ele já identificou o coração humano decaído como a origem de todos os pecados corrosivos (7.20-23). Ver nota teológica “Inferno”, na página 1753.
Os vv. 44 e 46 não aparecem em alguns manuscritos antigos, mas a frase também aparece no v. 48. As imagens que Jesus traça do verme que não morre e do fogo que não apaga ensinam o tormento infindável que aguarda aqueles que morrem sob a ira de Deus e, assim, a significação eterna da resposta de cada indivíduo à santa lei de Deus e ao seu evangelho.
- 1 Coríntios 10.13
Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.
10.13 Este versículo bem conhecido tem provido grande encorajamento aos cristãos que enfrentam tentações. Ao mesmo tempo, as palavras de Paulo contém uma repreensão implícita. Se Deus nos guarda de tentações maiores do que podemos suportar, não podemos alegar nossas tentações como desculpa para pecar. O pecado nunca é uma necessidade para o crente.
As palavras de Paulo cuidadosamente escolhidas – proverá livramento, de sorte que a possais suportar – dão a entender que, às vezes, o “livramento” de uma tentação não envolverá uma mudança das circunstâncias, e sim o poder do Espírito Santo para resistirmos e suportarmos (2Co 12.2-10).
- Salmo 141.3-5
Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.
Não permitas que meu coração se incline para o mal, para a prática da perversidade na companhia de homens que são malfeitores; e não coma eu das suas iguarias.
Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me,
será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo.
Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade.
A Oração por livramento da tentação.
Põe guarda… à minha boca. O escritor prevê que seria tentado a falar de forma insensata, razão pela qual mostra franca humildade, rogando a Deus para que o detenha.
- Tiago 1.19-20
Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.
Pronto para ouvir, tardio para falar. Embora a comunidade cristã dê elevada consideração ao talento de fala eloquente, Tiago coloca a ênfase em ouvir. É a pessoa que ouve atentamente a Palavra de Deus, que progride em santidade.
- Romanos 8.13
Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.
O corpo não é mau em si mesmo. O pecado tem origem no coração, o centro espiritual de nosso ser, incluindo à vontade (Mc 7.18-23). Mas, como vivemos em nosso corpo físico, o pecado se expressa por meio do corpo. Portanto, não somente nos pontos mais interiores de origem, mas também em suas expressões no corpo, o pecado tem de ser mortificado, ou seja terminado (6.12, 13; 12.1).
Ver nota teológica “O Espírito Santo como Santificador”, na p. 2023.
- 1 Coríntios 9.24-27
Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.
Em outras passagens, Paulo usa a ilustração de uma corrida e seu prêmio para enfatizar a necessidade de singularidade, determinação e perseverança (Fp 3.12-14; 2Tm 4.7-8).
Ele prossegue com a metáfora esportiva – esmurro o meu corpo – ao lembrar a seus leitores que os lutadores, quando esperam vencer, devem disciplinar o corpo. De modo semelhante, os cristãos devem estar dispostos a deixar de lado seus interesses egoístas em benefício de seu alvo primário (cf. 1Tm 4.7-8; 2Tm 2.5).
A afirmação – para que… não venha eu mesmo a ser desqualificado – tem sido usada frequentemente como evidência de que os cristãos podem perder sua salvação. O testemunho do Novo Testamento — e, em particular, o de Paulo — é que aqueles que Deus atraiu para si mesmo são dele para sempre (Rm 8.28-30), porque a vida que receberam em Cristo é eterna em caráter (Jo 5.24; cf. Hb 7.16). O que Deus começou será levado por ele à conclusão (Fp 1.6). Entretanto, seria errado ignorar ou minimizar a preocupação de Paulo (cf. 15.2; Fp 3.11; Cl 1.23) ao sugerir que isso é meramente hipotético ou que se relaciona apenas às recompensas, e não à salvação. Paulo confiava em que nada seria capaz de separá-lo do amor de Deus (Rm 8.38-39), mas nunca presumia que seria salvo independentemente do que fizesse. Nenhum cristão pode tomar com leviandade as advertências da Escritura (10.12), pois essas advertências são os meios designados por Deus pelos quais os verdadeiros crentes perseveram até o fim. Aqueles que têm fé atentam para essas advertências, pois o Espírito opera neles para fazê-los querer e realizar “segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12-13).
- 2 Pedro 1.5-9
Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé ia virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
A ordem das virtudes aqui (“fé… amor”) não é uma sequência temporal, como se os estágios da vida cristã estivessem sendo descritos (vv. 8, 9). Pedro está usando uma figura retórica que constrói uma série de elementos e os leva a um clímax. O começo e a conclusão da seção são significativos. Listas de virtudes cristãs antigas começavam com “fé”, o ponto de partida da vida crista, e terminavam com “amor” (Rm 5.5-15; 1Co 13), o fruto preeminente da vida crista. Esses frutos refletem o caráter de Deus.
Fraternidade, do grego philadelphia, aferição familiar entre os crentes como irmãos e irmãs na família de Deus (Rm 12.10; Hb 13.1; 1Pe 1.22).
Estas coisas, existindo em vós… fazem com que não sejais… inativos – isso diz que as qualidades de Deus que eles devem refletir são entendidas como “frutos” de conhecerem “nosso Senhor Jesus Cristo”; são os resultados inevitáveis da fé, e não coisas acrescentadas a fé, a fim de conseguirem uma posição correta diante de Deus (cf. Rm 3.21-26; Tg 2.14-26).
A combinação dos termos – cego, vendo só o que está perto – aqui é singular, visto que as duas condições físicas são mutuamente excludentes. Alguns sugerem, com base na etimologia da palavra grega traduzida por “vendo só o que está perto”, que Pedro está se referindo ao fechamento ou ao estreitamento dos olhos e que uma rejeição deliberada da verdade está em vista. No entanto, como a pessoa de pouca visão estreita os olhos para ver melhor, é possível que Pedro esteja simplesmente multiplicando palavras relacionadas para impactar. É claro que as qualidades que os crentes devem refletir são resultados inevitáveis de haverem sido purificados dos “pecados de outrora”.
Este artigo faz parte da série Versículos-chave.
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