O que Deus uniu
Para servirmos a Deus com fidelidade, precisamos não apenas distinguir as coisas que diferem, mas também preservar a conexão entre as coisas que Deus uniu. A lei e o amor são esse tipo de coisa que Deus uniu. São parceiros inseparáveis.
Quando Martinho Lutero disse: “Ame a Deus e faça o que te parecer melhor”, ele tinha algo a comunicar, ou seja: se você verdadeiramente ama a Deus, fará aquilo que agrada a Ele. Mas isso ainda levanta uma pergunta: O que agrada a Deus? Por isso a frase de Lutero precisa de alguma explanação, para que não pareça uma questão demasiadamente simplificada ou confusa.
Uma das maiores dificuldades ao lidar com esse assunto são as muitas formas em que as palavras lei e amor são empregadas na Bíblia. Nas Escrituras lemos a respeito do amor a Cristo, do amor à esposa, do amor ao próximo, do amor aos nossos inimigos e de um amor especial e peculiar pelos irmãos. Inúmeros livros têm sido escritos acerca dessas duas pequenas palavras, lei e amor.
Todo o verdadeiro cristão quer saber como agradar a Deus. O desejo vem com o novo nascimento e imediatamente nos impulsiona rumo à Bíblia, onde a vontade de Deus é expressa. Mas como é que Deus expressa a sua vontade? Será que Ele diz: “Ame”; ou será que Ele expressa sua vontade ao nos dar seus mandamentos? A Bíblia claramente faz as duas coisas, o tempo todo, nos ensinando o relacionamento adequado entre a lei e o amor.
Precisamos fazer uso de nossos melhores esforços para discernir qual é esse relacionamento. Há uma vasta gama de livros, debates e opiniões sobre este assunto. Por isso mesmo, saber escolher entre essas várias possibilidades requer oração e uma obra plena do Espírito Santo, único verdadeiro Professor. Que Deus nos dê discernimento para distinguir as coisas que diferem e para juntar as coisas que precisam ser compreendidas como pertencentes uma à outra.
“Tudo o que se precisa é o amor”?
Todas as heresias e seitas fazem tremular a palavra amor como se fosse uma bandeira de virtude. É a palavra favorita deles, mas jamais está ligada à lei de Deus. O movimento hippie dos anos 60 também proclamou essa palavra, pintando-a em automóveis e cartazes, freqüentemente na forma de “amor livre”. Os políticos liberais continuam a falar do amor divorciado da responsabilidade individual.
Em março de 1965, a revista TIME falou sobre uma reunião de 900 pastores e alunos na Harvard Divinity School (Escola de Divindade de Harvard) na qual eles consideraram o assunto da “nova moralidade”. O título do artigo “Amor em Lugar da Lei?” propôs uma antítese. Sob o subtítulo “Fomos Libertos”, o artigo disse: “Obviamente, os palestrantes não chegaram a qualquer conclusão definitiva, mas concordaram genericamente que, em alguns aspectos, a nova moralidade é um avanço sadio no esforço genuíno de interpretar literalmente as palavras de Paulo, as quais ensinam que através de Cristo estamos livres da lei”.
Embora essas palavras venham do Novo Testamento, elas certamente não ensinam o que os palestrantes de Harvard subentenderam. Algumas perguntas precisam ser feitas acerca do contexto das palavras de Paulo: em relação a que nós precisamos ser libertados da lei, e de que leis somos libertos? As pessoas motivadas pelo genuíno amor certamente não são anárquicas. Elas amam o padrão moral e ético que Cristo amou e obedeceu, ao contrário das palavras do presidente de Princeton, Paul Ramsey, que disse no mesmo artigo: “As listas de “pode e não pode” não fazem mais qualquer sentido”.
Por outro lado, não nos surpreendemos com essa ignorância perigosa e destrutiva quando a encontramos nas seitas, entre os liberais e os agnósticos. Mas, quando pregadores, que crêem na Palavra de Deus, estipulam uma antítese falsa entre a lei e o amor, deveríamos ficar assustados, consternados, entristecidos, completamente tomados de desgosto.
Criar uma falsa antítese entre lei e amor (como se fossem idéias conflitantes e opostas) é uma das formas mais sutis de se minar os Dez Mandamentos, a moralidade e o verdadeiro cristianismo. Sabemos estabelecer a diferença entre lei e amor; mas existe uma conexão imutável. Deixar de enxergar esse relacionamento impossível de ser mudado tem levado pessoas a erros e heresias, a naufrágios espirituais incontáveis.
Uma conexão imutável
Abordemos algumas passagens bíblicas a fim de mostrar a conexão imutável entre a lei e o amor. Repare como o amor está inserido nos Dez Mandamentos, no seguinte ensinamento de Paulo: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterar ás, não matar ás, não furtar ás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13.8-10).
Além do mais, que melhor definição de amor, no sentido bíblico, poderemos ter do que a de João, o grande apóstolo do amor? “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (1 Jo 5.3).
Observe, também, a conversa do nosso Senhor com o intérprete da lei em Mateus 22.35-40. Quando perguntado no versículo 36: .Mestre, qual é o grande mandamento na lei?., o Senhor imediatamente fez a conexão entre os mandamentos de Deus e o amor de Deus. Jesus sempre ligou a lei ao amor. O que poderia ser mais claro do que os seguintes exemplos?
.Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele… Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha Palavra; e meu Pai o amar á, e viremos para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou. (João 14.21, 23-24)..Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço… O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei… Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. (João 15.10, 12, 14).
Essas afirmações deixam inequivocamente claro que existe um relacionamento eterno entre a lei e o amor de Deus.
Enfatizar que o amor em si é um mandamento é algo consistente com muitas passagens do Novo Testamento: “Amarás o teu próximo” (Mateus 5.43); “amai vossos inimigos” (Lucas 6.27, 35); “que vos ameis uns aos outros” (Romanos 13.8); “amai vossa mulher” (Efésios 5.25); “amai os irmãos” (1 Pedro 2.17).
Essas passagens são suficientemente claras para demonstrar que existe uma ligação vital entre a lei e o amor. Elas deveriam nos levar a renunciar qualquer ensinamento . quer empacotado em ilustrações sagazes ou ministrado via implicações sutis . que separe a lei do amor.
Se houve uma época em que o ensinamento bíblico acerca dos mandamentos foi necessário no lar, na igreja ou na nação, essa época é hoje! Com a anarquia cada vez mais exuberante, certamente não precisamos de pastores ou professores que separem aquilo que Deus juntou.
A doutrina de “somente o amor” é inimiga do verdadeiro cristianismo, da Bíblia e da alma dos homens. Essa doutrina não é o amor bíblico, de forma alguma, nem o .amor. sem a lei é algo que possa se assemelhar a Cristo.
O evangelho de Cristo exala o Espírito de amor santo, ou seja:
O amor é o cumprimento de todos os preceitos dos evangelhos.
O amor é a garantia de todas as alegrias do evangelho.
O amor é a evidência do poder do evangelho.
O amor é o fruto maduro do Espírito (ver Gálatas 5.22-23).
O espírito do genuíno amor jamais existe às custas da lei e da verdade. Nem, por outro lado, é o amor, em qualquer momento, separado das diretrizes bíblicas de um viver santo que são objetivas e determinadas nos Dez Mandamentos. Isso é enfatizado no grande capítulo do amor, escrito na Bíblia, quando Paulo diz que .o amor regozija-se com a verdade. (1 Coríntios 13.6).
A conexão entre a lei e o amor está profundamente encravada no Antigo Testamento, assim como no Novo Testamento. Isso é ilustrado em Êxodo 20, onde Deus deu o Decálogo, no monte Sinai.
Antes de dar os Dez Mandamentos, Deus relembrou os israelitas de seu amor redentor: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito” (v.2). Essa ação de Deus foi um ato redentor amoroso. Não é somente no prólogo aos Dez Mandamentos que Deus fala de seu amor redentor; mas mais tarde, tratando acerca do segundo mandamento, o v.6 fala acerca de Deus “fazer misericórdia” a seu povo. Amor e misericórdia estão harmoniosamente ligados no Decálogo.
Jesus reafirmou essa conexão em João 14.15: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. O resumo da lei que Ele deu em Mateus 22:37-40 ” a lei do amor a Deus e ao próximo ” ecoa o mandamento do amor dado na lei, em Deuteronômio 6.5. Não são apenas o Senhor Jesus e os apóstolos que unem a lei de Deus e o amor de Deus, mas a Bíblia toda o faz.
O amor como motivação
O amor não tem olhos exceto os da lei de Deus; não possui direção fora dos mandamentos de Deus. Paulo falou do amor de Cristo nos constrangendo. Ele nos impele ao dever. O amor é a única verdadeira motivação para toda adoração e dever, mas por si só não define nenhuma das duas coisas. Portanto, não podemos colocar o amor .no lugar da lei.. Eles caminham juntos. O comportamento cristão brota do amor a Deus e ao próximo. Se nós nos amássemos perfeitamente, nosso caráter e nosso comportamento seriam perfeitos porque nos conformariam à vontade de Deus. O amor é a motivação para a ação obediente, assim como se expressa em ação obediente.
Tal ação cumpre a lei: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13.10). Motivação e ação não podem estar mais atreladas uma a outra do que nessa passagem. Se o amor não nos constrange a cumprirmos a lei moral, não é o amor de que fala a Bíblia. O apóstolo Paulo deixou muito claro quando disse que “o amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5.14). É o amor de Deus que coloca a lei de Deus em funcionamento.
O amor genuíno por Deus é intensamente preocupado com Ele como Objeto Supremo. Ele está, portanto, intrinsecamente ativo ao fazer a vontade de Deus. O amor em si é ordenado tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Jesus disse: “Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros” (João 15.17). O amor também é descrito como um mandamento em Deuteronômio 6.5-7 “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te”.
Temos de perceber com clareza que o mandamento para amar não criará ou produzirá amor. Esse mandamento, como qualquer outro, não pode criar a disposição ou vontade de obedecermos. Mas o simples fato de que o amor é um mandamento deveria ser suficiente para silenciar aqueles que argumentam a favor de uma antítese entre lei e amor. Moisés, Jesus e Paulo, todos fizeram a conexão entre a lei e o amor, assim como o faz João, em 1 João 5.3: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos”.
Ai de qualquer pessoa que separar aquilo que Moisés, Cristo e os apóstolos afirmaram que não pode ser separado! O que Deus uniu, não o separe o homem.