Quando cheguei à Capitol Hill Baptist Church, esperei três meses, antes de pregar meu primeiro sermão no culto de domingo de manhã. Eu apenas assistia aos cultos. Havia pedido esse tempo nas conversas que tivemos antes de minha chegada. Quando expliquei minhas razões, eles concordaram. Essa espera mostrou respeito pela congregação, me deu tempo para aprender com o que eles estavam acostumados e lhes mostrou que eu não estava com pressa para mudar tudo. Compreendo que nem todos nós temos esse luxo de esperar três meses para começar a pregar, depois de chegar à igreja. Mas, se for possível tê-lo, eu o recomendo.
A melhor maneira de perder seu lugar de influência como pastor é ser apressado, forçando uma mudança radical (embora bíblica), antes que as pessoas estejam preparadas a seguir você e reconhecer a mudança. Diminuir nossas expectativas e ampliar nosso horizonte de tempo seria prudente para muitos de nós. Realizar nas igrejas mudanças saudáveis para a glória de Deus e a pureza do evangelho não ocorre no primeiro ano depois que o novo pastor chega. Deus está trabalhando em direção à eternidade e tem trabalhado desde a eternidade. Ele não está com pressa; também não deveríamos estar. Portanto, é sábio demonstrar cuidado pela igreja e interesse por sua unidade, não correndo tão rápido à frente deles, que comecem a desfalecer atrás de você. Corra a uma velocidade que a igreja possa acompanhá-lo.
É claro que há algumas ações que você precisará mudar imediatamente. Mas, tanto quanto possível, faça isso com tranquilidade e um sorriso encorajador; não o faça com estardalhaço ou com uma carranca de reprovação. De fato, temos de corrigir, repreender e exortar, porém devemos agir “com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2). Assegure-se de que as mudanças a serem implementadas são bíblicas. Em seguida, com base na Palavra de Deus, dê-lhes, pacientemente, instrução sobre as mudanças, antes de esperar que aceitem as mudanças que você está sugerindo. Essa instrução paciente é a maneira bíblica de semear concordância ampla com as recomendações bíblicas entre o rebanho de Deus. Quando essa concordância ampla é semeada, a mudança talvez não cause divisões, e a unidade da igreja fica menos sujeita a rupturas. À medida que você trabalha em favor da mudança, se empenhe também por demonstrar genuína benevolência cristã às pessoas. “O servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2Tm 2.24-25). Diminua a pressa — e seja cordial.
O segredo para desenvolvermos esse tipo de paciência é possuirmos uma perspectiva correta quanto ao tempo, à eternidade e ao sucesso.
1. Tempo. Muitos de nós pensamos somente nos cinco ou dez anos que estão à nossa frente (se realmente pensamos). Contudo, a paciência no pastorado exige que pensemos em termos de vinte, trinta, quarenta ou, até cinquenta anos de ministério. Isso coloca todas as nossas dificuldades na perspectiva correta. Em uma entrevista para o Ministério 9Marcas, John MacArthur fez uma retrospectiva de seus quarenta anos de fidelidade pastoral na mesma igreja, Grace Community Church, em Sun Valley, Califórnia.[1] O seu quinto ano de ministério experimentou tumulto e divisão entre os líderes. Mas ele perseverou em todo esse longo tempo e agora está vendo o que acontece quando um pastor permanece trinta e cinco anos além dos anos que ele deveria ter permanecido de acordo com a perspectiva humana — frutos abundantes, graciosidade e regozijo santos. Você está em sua igreja para um ministério de longo tempo — vinte, trinta, quarenta anos — ou está imaginando “ascender” e assumir uma igreja maior, nos próximos cinco ou dez anos? Você está edificando uma igreja ou uma carreira? Fique com eles. Continue ensinando. Continue moldando. Continue liderando. Continue amando.
Se você é um pastor jovem que ainda espera receber um convite para ser o ministro de uma igreja, decida com sabedoria. Ninguém pode prever o futuro nem ver todos os resultados possíveis. Mas seria imprudente aceitar um convite de uma igreja ou localidade na qual você não imagina ficar mais do que poucos anos. Vá àquele lugar em que você pode imaginar, com satisfação, que criará raízes ali, para o resto de sua vida, e assuma o compromisso.
2. Eternidade. Como pastores, um dia prestaremos contas a Deus pela maneira como lideramos e alimentamos as ovelhas dele (Hb 13.78; Tg 3.1). Todos os nossos atos estão diante de Deus. Ele sabe se usamos as igrejas apenas para construir uma carreira. Sabe se deixamos os cristãos prematuramente, tendo em vista nossa conveniência e benefício. Sabe se guiamos muito rápido as suas ovelhas. Pastoreie o rebanho de um modo que você não se envergonhe no Dia de prestação de contas. “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas” (Cl 3.23-25).
3. Sucesso. Se você define sucesso em termos de tamanho, seu desejo por crescimento numérico provavelmente será maior do que sua paciência com a igreja e, talvez, sua fidelidade aos métodos bíblicos. Até o seu ministério entre as pessoas será encurtado (ou seja, você será demitido), ou você recorrerá a métodos que atraem multidões e excluem a pregação do verdadeiro evangelho. Você tropeçará em sua própria ambição. Mas, se você define sucesso em termos de fidelidade, está em condição de perseverar, visto que se libertou da exigência de resultados imediatos e observáveis e se mantém fiel à mensagem e aos métodos do evangelho, deixando os números com o Senhor. A princípio talvez pareça irônico dizer que substituir tamanho por fidelidade, como o critério para o sucesso, é com frequência o caminho para legitimar o crescimento numérico. Deus sente mais prazer em confiar seu rebanho aos pastores que agem à maneira dele.
Nossa paciência floresce quando cultivamos gratidão e contentamento com o lugar onde o Senhor nos colocou. Portanto, se você está em uma congregação menor e está no início de seu ministério, aproveite a simplicidade e a doçura dessa dimensão enquanto durar. Não deixe sua ideia de perfeição se tornar inimiga do que já é bom na igreja que você serve. Ame a congregação como ela é, não como você espera que ela se torne. Recuse-se a comparar sua situação de maneira desfavorável com a de outros ministros que você conhece. E, se possível, procure um grupo de pastores com ideias semelhantes em sua região que possam compartilhar suas alegrias, falar sobre suas tristezas, ajudá-lo a manter suas ações em perspectiva e encorajá-lo ao longo do caminho.
No ministério cristão, a confiança não resulta de competência, carisma ou experiência pessoal. Também não resulta de possuirmos os programas corretos ou de seguirmos a última moda em modelo de ministério. Tampouco resulta de obtermos a graduação “correta”. À semelhança de Josué, a nossa confiança precisa estar no poder, na presença e nas promessas de Deus (Js 1.1-9). Ainda mais especificamente, a nossa confiança referente ao pastorado vem de dependermos do poder do Espírito para nos tornarmos adequados por meio do ministério de preparação realizado pela Palavra de Cristo. “É por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar em algo, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2Co 3.4-6). Como o Espírito nos torna adequados? Que instrumento ele usa? Não é um programa. É a Palavra de Cristo. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17; cf. Jr 1.9; Ez 2.1-7; 3.1-11). A única estratégia necessária é o poder da Palavra de Cristo. Essa é a razão por que a pregação e a oração serão sempre primordiais — não importa que moda produza grandes resultados. Firme o seu ministério no poder do evangelho (Rm 1.16).
O trecho acima foi retirado com permissão do Livro: Como edificar uma igreja saudável – Um guia prático para liderança intencional, de Mark Dever e Paul Alexander, Editora Fiel.
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[1] “Four Decades of Ministry, with John MacArthur”, gravada em 12 de julho de 2002. Disponível para ser ouvida online, download ou aquisição em www.9marks.org, sob a guia Audio.