domingo, 1 de dezembro
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A primeira marca uma igreja saudável

Pregação expositiva

A primeira marca de uma igreja saudável é a pregação expositiva. Não é somente a primeira marca; é a mais importante de todas as marcas, porque, se você desenvolvê-la corretamente, todas as outras a seguirão. Esta é a marca essencial. Se você quer ler apenas um capítulo deste livro, escolheu o capítulo certo. Este é o capítulo que você deve ler primeiro, antes de todos os demais. Isto o ajudará a entender aquilo ao que os pastores devem se dedicar e o que as igrejas devem exigir deles. Minha principal tarefa, e a principal tarefa de todo pastor, é a pregação expositiva.

Isto é tão importante que, se você falhasse nisto e entendesse bem todas as outras oito marcas, estas outras seriam, de certo modo, acidentais. Elas podem ser descartadas ou distorcidas, porque não fluirão da Palavra e não serão continuamente modeladas e renovadas pela Palavra. Mas, se você estabelecer a prioridade da Palavra, terá no seu devido lugar o aspecto mais importante e singular da vida da igreja, e com certeza haverá crescimento, porque Deus determinou agir mediante seu Espírito, por meio de sua Palavra.

Então, o que é esta prática tão importante chamada de pregação expositiva? Ela é geralmente descrita em contraste com a pregação tópica. Um sermão tópico é semelhante a este capítulo — toma um assunto e o considera, em vez de usar um texto específico das Escrituras como o seu assunto. O sermão tópico começa com um assunto particular sobre o qual o pregador deseja falar. O assunto poderia ser a oração, a justiça, a paternidade, a santificação ou até a pregação expositiva. Depois de estabelecer o tópico, o pregador reúne vários textos, de diferentes partes da Bíblia, e os combina com histórias ilustrativas e piadas. O material é reunido e entrelaçado ao redor de um único assunto. O sermão tópico não é elaborado em torno de uma passagem da Escritura, e sim em torno de uma única ideia que eu escolho.

Um sermão tópico pode ser expositivo. Eu poderia resolver pregar sobre um assunto e tomar apenas uma passagem que aborda exatamente aquele assunto. Ou poderia pregar usando várias passagens que tratam deste mesmo tema. Mas ainda seria um sermão tópico, porque o pregador sabe o que deseja dizer e examina a Bíblia, a fim de encontrar o que poderá dizer sobre aquele tema. Por exemplo, quando preguei uma versão deste material na forma de um sermão, eu sabia exatamente quando limitar o que eu queria dizer. Isso não acontece quando prego de modo expositivo. Quando preparo um sermão expositivo, frequentemente me surpreendo com o que acho numa passagem, à medida que a estudo. De modo geral, não escolho as séries de sermões expositivos por causa dos assuntos específicos sobre os quais penso que a igreja deve ouvir. Pelo contrário, admito que toda a Bíblia é relevante para nós em todo o tempo. Creio que Deus pode nos guiar a alguns livros, mas, quando estou labutando em um texto bíblico, lendo-o em meu tempo devocional, na semana anterior à pregação, e preparando-o com seriedade na sexta-feira, encontro nele aquilo que não esperava encontrar. Sou surpreendido pela verdade primordial da passagem bíblica e, consequentemente, pelo que tem de se tornar o principal alvo de meu sermão.

A pregação expositiva não é apenas um comentário falado sobre determinada passagem da Bíblia. Antes, a pregação expositiva é aquela pregação que tem como alvo primordial do sermão aquela verdade bíblica salientada em uma passagem específica da Bíblia. É isso. O pregador abre a Palavra e a expõe para o povo de Deus. Isso não é o que estou fazendo neste capítulo, mas é o que normalmente tenciono fazer, quando me dirijo ao púlpito no domingo.[1]

A pregação expositiva é pregar estando a serviço da Palavra. Pressupõe a crença na autoridade das Escrituras — a crença no fato de que a Bíblia é realmente a Palavra de Deus. Contudo, é muito mais do que isso. Um compromisso com a pregação expositiva é um compromisso em ouvir a Palavra de Deus — é não somente uma afirmação de que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas também uma submissão de si mesmo à Palavra. Os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento receberam não uma comissão pessoal de ir e falar, mas uma mensagem particular que deveriam proclamar. De modo semelhante, os pregadores cristãos de nossos dias têm autoridade para falar da parte Deus somente quando falam a mensagem dele e expõem sua Palavra. Embora alguns pregadores sejam bastante eloquentes, eles não foram comissionados apenas para ir e pregar. Eles foram comissionados especificamente para ir e pregar a Palavra. Essa é a comissão dos pregadores.

Felizmente, muitos pastores aceitam a autoridade da Palavra de Deus e professam crer na inerrância das Escrituras. Mas, se não praticam com regularidade a pregação expositiva, estou convencido de que nunca pregarão mais do que sabiam quando começaram todo o seu aprendizado. Um pastor pode tomar uma parte das Escrituras e exortar a igreja quanto a um assunto importante, mas este assunto não é o ensino principal daquela passagem bíblica. Você pode pegar a Bíblia agora mesmo, fechar seus olhos, abri-la em certo livro, pôr o seu dedo sobre um versículo, abrir seus olhos, ler o versículo e obter grande bênção para sua alma, mas não aprendeu necessariamente o que Deus tencionava dizer por meio daquela passagem. O que se diz a respeito de imóveis também é verdadeiro no que se refere ao entendimento da Bíblia: os três fatores mais importantes são a localização, a localização e a localização. Você entende um texto bíblico onde ele está, no contexto em que ele foi inspirado.

O pregador deve ter sua mente moldada incessantemente pelas Escrituras. Ele não deve apenas usá-las como uma desculpa para o que ele já sabe e deseja dizer. Quando isso acontece, quando alguém prega regularmente de um modo que não é expositivo, os sermões tendem a ser apenas os tópicos que interessam ao pregador. O resultado é que o pregador e a congregação ouvem na Bíblia somente o que já pensa vam quando chegaram àquele texto. Não há nada novo a ser acrescentado ao entendimento deles. Não estão sendo constantemente desafiados pelas Escrituras.

Se estamos comprometidos em pregar uma passagem bíblica em seu contexto, expositivamente — isto é, tomando a principal verdade da passagem como o principal ensino da mensagem — devemos ouvir de Deus aquilo que não tencionávamos ouvir, quando começamos a estudar a passagem. Às vezes, Deus nos surpreende. E, desde o nosso arrependimento e conversão até às últimas verdades que o Espírito Santo nos tem ensinado, não é isso o que significa ser um cristão? Repetidas vezes, você não percebe que, ao começar a revelar a verdade de seu coração e a verdade de sua Palavra, Deus o desafia e lhe diz o que você nem imaginava um ano atrás? Encarregar alguém da supervisão espiritual de uma igreja, alguém que não mostra, na prática, um compromisso de ouvir e ensinar a Palavra de Deus significa dificultar o crescimento da igreja, permitindo, em essência, que ela cresça somente ao nível do pastor. A igreja se conformará, lentamente, à mente do pastor, e não à de Deus. E o que desejamos, o que anelamos, como cristãos, são as palavras de Deus. Queremos ouvir e saber, em nossa alma, o que ele tem dito.


O artigo acima é um trecho adaptado com permissão do livro Nome Marcas de uma igreja saudável, 2ª Edição, por Mark Dever, Editora Fiel.

CLIQUE AQUI para ler outros artigo que são trechos deste livro.


[1]  Veja Mark Dever e Greg Gilbert, Pregue: Quando a Teologia Encontra-se com a Prática (São José dos Campos: Fiel, 2018). Para algumas precauções cuidadosas sobre o abuso de exposições de passagens consecutivas das Escrituras, veja Iain Murray, Archibald G. Brown (Carlisle: Banner of Truth, 2011), p. 353-63. Murray quer garantir que a pregação inspiradora, emocionante e que promova conversão não seja substituída por um compromisso equivocado com um certo estilo de palestra, que muitos rotulam “Pregação EXpositiva”.


Autor: Mark Dever

Mark Dever é diretor do Ministério 9 Marcas, nos Estados Unidos, e pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, em Washington D.C. Graduado na Universidade de Duke, obteve mestrado em Divindade no Gordon Conwell Theological Seminary e Ph.D. em História Eclesiástica na Universidade de Cambridge.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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