O texto abaixo foi extraído do livro Mulheres da Palavra, de Jen Wilkin, da Editora Fiel.
Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança. Romanos 15.4
Um pequeno aviso: este é o capítulo que você não quer ler. Este é o capítulo com o qual você ficará desconfortável e desejará me dizer para cuidar da minha própria vida. Este é o capítulo no qual falaremos sobre conhecimento bíblico: o que é isso, se o estamos adquirindo e por que é importante que o tenhamos.
Permita-me deixá-la à vontade: a maioria de nós não o possui, e eu me incluo nisso. O conhecimento bíblico é algo que a maioria de nós jamais se sentirá confortável para alegar tê-lo alcançado durante a vida. Portanto, este é um capítulo que também me deixa desconfortável.
Todas nós carregamos o vago desconforto da nossa falta de conhecimento, e a sentimos vir à tona quando conversamos com o descrente, o amigo do nosso pequeno grupo, a mulher mais velha e sábia. Às vezes, quando a categoria de um jogo de TV como o americano Jeopardy abrange um tema bíblico, experimentamos um momento de pânico absoluto em torno do texto sagrado, sobre o qual o apresentador Alex Trebek mostra mais conhecimento do que nós. Seria difícil dizer sob pressão o nome dos doze apóstolos ou dizer a ordem da história da criação. Já ouvimos falar de Tamar, mas ela foi um exemplo positivo ou negativo? Quando dois pregadores que amamos tomam posições diferentes sobre uma mesma passagem, somos lançadas na confusão.
Nós guardamos aquilo que sabemos, mas ficamos perturbadas por aquilo que não sabemos. Fazemos o nosso melhor para costurar juntos os retalhos do conhecimento das Escrituras, pedaços de sermões, de estudos e da hora silenciosa; mas, muitas vezes, somos confrontadas com os buracos e costuras soltas na roupa de nosso entendimento, principalmente quando a vida fica difícil. Não conhecemos nossa Bíblia como precisamos — algumas de nós que são novas na fé realmente não a conhecem, e muitas que estão na igreja há décadas raramente estão em uma situação melhor.
Mas o que podemos fazer para conhecer a Bíblia melhor? Já começamos a responder à pergunta sobre o que fazer para ter um estudo bíblico saudável: um bom estudo bíblico transforma o coração por meio do treinamento da mente e coloca Deus no centro da história. Entretanto, o estudo bíblico saudável faz mais do que isso — ele leva o estudante a uma compreensão melhor da Bíblia, superior a que ele tinha anteriormente. Falando em outras palavras, o estudo bíblico saudável aumenta o conhecimento bíblico.
O conhecimento bíblico acontece quando uma pessoa tem acesso à Bíblia em uma linguagem que ela entende e quando está constantemente indo na direção do conhecimento e da compreensão do texto.
Se for verdade que o caráter e a vontade de Deus estão proclamados nas Escrituras, então toda tentativa séria de se tornar equipada para a obra do discipulado deve incluir um desejo de desenvolver o conhecimento bíblico, costurando seus retalhos e transformando-os em uma veste de entendimento sem emendas.
Se você estiver lendo este livro, então você provavelmente teve acesso à Bíblia em uma linguagem que você entende. Isso não é pouco. O que você precisa é de um movimento contínuo na direção do conhecimento e do entendimento. Esse movimento contínuo não acontece por acaso, nem acontece sempre de forma intuitiva. Talvez tenhamos um desejo sincero de desenvolver o conhecimento bíblico, mas se formos deixadas sem treinamento, talvez desenvolvamos o hábito de nos ocuparmos com um texto que, na melhor das hipóteses, não fará coisa alguma para aumentar o nosso conhecimento e, na pior delas, agirá contra ele de fato. Antes de podermos desenvolver bons hábitos, devemos fazer um inventário sincero dos hábitos ruins que talvez já estejamos praticando.
Você já teve um hábito ruim que desejou interromper?
No início dos meus vinte e poucos anos, percebi que tinha o hábito de completar as frases das pessoas. Lembro-me de como fiquei surpresa quando alguém destacou amorosamente que eu não deveria fazer isso. Não que eu não soubesse que completava as frases das outras pessoas — mas eu não via nada de errado nisso. Na verdade, eu acreditava que estava ajudando a conversa ao me intrometer. Mas quando me tornei ciente de que estava fazendo isso, percebi a frequência com que isso acontecia e o quão desrespeitoso era para com os outros. Estava constrangida e envergonhada, e fui tomada por um desejo imediato de parar. Mas na época em que percebi o problema, eu havia formado um padrão bem estabelecido de comunicação que era difícil de romper. Aprender a parar com esse hábito ruim exigia que eu reconhecesse a extensão do meu problema e, depois, trabalhasse duro para mudar esse comportamento.
Isso acontece com qualquer hábito ruim que possamos desenvolver, principalmente se esse hábito foi cultivado no decorrer de anos. A fim de rompê-lo, devemos primeiro reconhecer a extensão de sua influência e, depois, dar alguns passos para mudar.
Quando se trata de estudar a Bíblia, os hábitos ruins são abundantes
Dentro da nossa cultura cristã, temos adotado uma frase coringa para o nosso hábito de interagir com as Escrituras: “gastar tempo na Palavra”. Os líderes da igreja nos estimulam a fazer isso. Os escritores e blogueiros nos exortam a valorizar isso. Mas o que deve acontecer durante o nosso “tempo na Palavra” pode continuar sendo uma informação vaga; os hábitos específicos que isso representa variam amplamente de pessoa para pessoa.
O perigo potencial dessa imprecisão é que podemos assumir que a nossa versão de “gastar tempo na Palavra” esteja nos levando na direção do conhecimento bíblico simplesmente porque temos sido obedientes nessa prática. Nem todo contato com as Escrituras desenvolve o conhecimento bíblico. Aprender o que a Bíblia diz e, posteriormente, trabalhar para interpretá-la e aplicá-la requer práticas bem diferentes de muitas daquelas que geralmente associamos com o “gastar tempo na Palavra”. Não podemos nos dar ao luxo de supor que nossas boas intenções sejam suficientes.
Estamos crescendo no conhecimento bíblico?
Se o conhecimento bíblico deve ser o nosso alvo, precisamos de uma avaliação sincera daquilo que estamos fazendo no momento para alcançá-la. Alguns dos nossos hábitos atuais talvez não sejam “ruins” no sentido de não realizarem nada para nos ajudarem a aprender a Palavra de Deus — mas eles podem ser simplesmente limitadores, ou seja, só podem nos levar até determinado ponto em nosso entendimento. Outros hábitos talvez precisem ser completamente abandonados. A princípio, podemos não ser capazes de perceber que a nossa abordagem atual seja limitadora ou inútil, mas com um exame mais minucioso, começaremos a observar as lacunas que ela pode deixar no entendimento.
Em meus anos de ensino bíblico com mulheres, tenho descoberto vários hábitos comuns e inúteis de “gastar tempo na Palavra”. Eu me pergunto se algum deles parece familiar a você.