quinta-feira, 25 de abril

Deus é soberano sobre o coronavírus?

Providência agridoce. É isso que o coronavírus é. Descrever algumas das obras de Deus como amargas não é blasfêmia. Naomi, a sogra de Rute, que perdeu o marido, os dois filhos e uma nora por fome e exílio, disse:

[…] o Todo-poderoso tornou minha vida muito amarga! De mãos cheias eu parti, mas de mãos vazias o SENHOR me trouxe de volta. […] O Todo-poderoso me trouxe desgraça! (Rt 1.20-21).

Ela não estava mentindo, exagerando ou acusando. Era um fato simples e terrível. A “providência agridoce” não é uma depreciação dos caminhos de Deus. É uma descrição.

Porém, a doçura da palavra de Deus não diminui no meio dessa providência agridoce — não se tivermos aprendido o segredo de “entristecidos, mas sempre alegres” (2Co 6.10): a soberania que poderia parar a crise do coronavírus, ainda que não o faça, é a mesma soberania que sustenta a alma durante esse tempo. Saber disso faz toda a diferença. Será, então, verdade?

O que Deus quer, ele faz

Meu objetivo neste capítulo e no próximo é mostrar que Deus governa sobre tudo e é totalmente sábio. Ele é soberano sobre o coronavírus. Quero mostrar que isso é uma boa nova — na verdade, é o segredo de experimentar a doçura de Deus em suas providências agridoces.

Dizer que Deus governa sobre tudo significa que ele é soberano. Sua soberania significa que ele pode fazer, e de fato faz, tudo o que ele decididamente deseja fazer. Eu digo decididamente pois Deus, em certo sentido, deseja coisas que ele não leva a cabo. Ele pode expressar desejos que ele próprio escolhe não atuar. Nesse sentido, eles não são decisivos. Ele próprio não deixa que esse desejo ou vontade chegue ao patamar da realização.

Por exemplo, considere Lamentações 3.32-33:

Ainda que entristeça alguém, terá compaixão

segundo a grandeza das suas misericórdias.

Porque não aflige nem entristece de bom grado

os filhos dos homens.

Ele nos entristece de fato, mas não de bom grado. Entendo que isso significa que, embora existam aspectos de seu caráter (seu coração) que se inclinam contra nos entristecer, outros aspectos de seu caráter ditam a santidade e a justiça de nos entristecer.

Ele não é indeciso. Existe uma perfeita beleza e coerência na forma como todos os seus atributos cooperam. Mas ele também não é sem complexidade. Seu caráter é mais como uma sinfonia do que uma performance solo.

Então, quando digo que a soberania de Deus significa que ele pode fazer, e de fato faz, tudo o que ele decididamente deseja fazer, quero dizer que não há força fora dele que possa impedir ou frustrar sua vontade. Quando ele decide que algo deve acontecer, isso acontece. Ou, dito de outra maneira, tudo acontece porque Deus deseja que aconteça.

Soberania universal

Isaías ensina que isso faz parte da própria essência do que significa ser Deus:

[…] eu sou Deus, e não há outro;

eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim.

Desde o princípio anuncio o que há de acontecer

e desde a antiguidade revelo as coisas que ainda não sucederam.

Eu digo: o meu conselho permanecerá em pé,

e farei toda a minha vontade (Is 46.9-10).

Ser Deus é fazer com que seu próprio conselho permaneça em pé — sempre. Deus não apenas declara quais eventos futuros acontecerão; ele os faz acontecer. Ele fala a sua palavra e depois acrescenta: “eu velo sobre a minha palavra para a cumprir” (Jr 1.12).

Isso significa aquilo que Jó aprendeu por meio de uma difícil experiência: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2). Ou como Nabucodonosor aprendeu por meio de sua humilhação misericordiosa:

Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada;

e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu

e os moradores da terra;

não há quem lhe possa deter a mão,

nem lhe dizer: Que fazes? (Dn 4.35, com paralelismo poético).

Ou como o salmista diz:

Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez,

nos céus e na terra,

no mar e em todos os abismos (Sl 135.6).

Ou como o apóstolo Paulo resume:

[Ele] faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade (Ef 1.11).

“Todas as coisas.” Não algumas coisas. E “conforme o conselho da sua vontade”, não de acordo com vontades ou forças externas a si mesmo.

Em outras palavras, a soberania de Deus é totalmente abrangente e universal. Ele tem domínio absoluto sobre este mundo. Ele governa vento (Lc 8.25), raios (Jó 36.32), neve (Sl 147.16), sapos (Êx 8.1-15), piolhos (Êx 8.16-19), moscas (Êx 8.20-32), gafanhotos (Êx 10.1-20), codornizes (Êx 16.6-8), vermes (Jn 4.7), peixes (Jn 2.10), pardais (Mt 10.29), grama (Sl 147.8), plantas (Jn 4.6), fome (Sl 105.16), sol (Js 10.12-13), portas da prisão (At 5.19), cegueira (Êx 4.11; Lc 18.42), surdez (Êx 4.11; Mc 7.37), paralisia (Lc 5.24-25), febre (Mt 8.15), toda doença (Mt 4.23), planos de viagem (Tg 4.13-15), coração de reis (Pv 21.1; Dn 2.21), nações (Sl 33.10), assassinos (At 4.27-28) e morte espiritual (Ef 2.4-5) — e todos eles fazem sua vontade soberana.

Não é uma época para visões sentimentalistas de Deus

Portanto, o coronavírus foi enviado por Deus. Esta não é uma época para visões sentimentalistas de Deus. É uma época agridoce. E Deus a ordenou. Deus governa sobre ela. Ele a trará ao fim. Nenhuma parte está fora do seu domínio. Vida e morte estão em suas mãos.

Jó não pecou com os lábios (Jó 1.22) quando disse:

Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei. O SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR (Jó 1:21, ênfase acrescida).

O Senhor deu. E o Senhor tomou. O Senhor tomou os dez filhos de Jó.

Na presença de Deus, ninguém tem direito à vida. Cada respiração que damos é um presente da graça. Cada batida do coração, imerecida. A vida e a morte estão, em última instância, nas mãos de Deus:

Vejam, agora, que eu, sim, eu sou Ele,

e que não há nenhum deus além de mim;

eu mato e eu faço viver;

eu firo e eu saro;

e não há quem possa livrar alguém da minha mão (Dt 32.39).

Portanto, ao refletirmos sobre o nosso futuro com o coronavírus — ou qualquer outra situação de risco de vida — Tiago nos diz como devemos pensar e falar:

Em vez disso, deveriam dizer: “Se Deus quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tiago 4:15).

Se ele quiser, viveremos. Caso contrário, não.

Quiçá, não viverei para ver este livro publicado. Eu tenho pelo menos um parente infectado com o coronavírus. Tenho setenta e quatro anos e meus pulmões estão comprometidos com um coágulo de sangue e bronquite sazonal. Mas esses fatores, em última instância, não decidem. Deus decide. Essas são boas notícias? Sim. Vou tentar mostrar o porquê no próximo capítulo.

Artigo adaptado do livro Coronavírus e Cristo, de John Piper.


Autor: John Piper

John Piper é um dos ministros e autores cristãos mais proeminentes e atuantes dos dias atuais, atingindo com suas publicações e mensagens milhões de pessoas em todo o mundo. Ele exerce seu ministério pastoral na Bethlehem Baptist Church, em Minneapolis, MN, nos EUA desde 1980.

Parceiro: Desiring God

Desiring God
Ministério de ensino de John Piper que, há mais de 30 anos, supre ao corpo de Cristo com livros, sermões, artigos.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

Veja Também

Descanso para os viciados em trabalho

É no coração que encontramos as raízes dos problemas do trabalho excessivo. Cada vez mais, a escravidão ao trabalho é impulsionada a partir de dentro, e não de fora.