domingo, 15 de dezembro
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Edificando um ministério de jovens bíblico

Como começamos um ministério para jovens e adolescentes na igreja? Ou, como mantemos ou revitalizamos um ministério para jovens e adolescentes na igreja? Quais são as estruturas necessárias para garantir o sucesso do ministério com jovens e adolescentes? Ou ainda, o que é um ministério para jovens e adolescentes bem-sucedido?

Essas são algumas das muitas perguntas que escuto sobre o ministério com jovens e adolescentes no contexto da igreja local. Não sou um perito no assunto, mas me vejo na responsabilidade de tentar responder algumas dessas perguntas simplesmente porque sou um dos pastores de uma igreja que tem, inclusive, jovens e adolescentes.

Começando certo

O ponto de partida de qualquer reflexão irá conduzir seus esforços no pastoreio de jovens e adolescentes. O ponto de partida errado pode comprometer a efetividade de um ministério, ainda que pareça crescer ou “fazer barulho”!  Por exemplo, é comum falarmos do ministério jovem como se fosse um departamento a ser desenvolvido sem ou com pouca ligação com o restante da vida da igreja local. Olhamos para os jovens e adolescentes da igreja como pessoas “em potencial” que precisam ser entretidas ou distraídas para não caírem no mundo! Ironicamente, é justamente abordagens assim que têm ofuscado a mensagem do Evangelho para os jovens e adolescentes, empurrando-os para fora da igreja. Por isso, quero sugerir para você que a pergunta “como desenvolver um ministério jovem?” não é abrangente o suficiente para o cuidado pastoral dos jovens e adolescentes da igreja.

A Palavra de Deus estabelece parâmetros que levantam outras perguntas para a construção de uma visão para o ministério jovem dentro da igreja local. Precisamos de uma visão de ministério jovem que coopera com a missão específica da igreja: fazer discípulos de Jesus Cristo para a glória de Deus (Mateus 28.18-20). Caso contrário, iremos cumprir objetivos diferentes, tirando uma geração inteira da missão abrangente da Igreja: revelar a multiforme sabedoria de Deus (Efésios 3.10).

Portanto, o que está em jogo não é meramente uma questão administrativa da igreja. Pastores e líderes de jovens bem-intencionados falham ao encarar o ministério jovem da igreja como um departamento a ser desenvolvido. O ministério jovem não pode ser artificialmente separado do cuidado pastoral da igreja. Trata-se de uma questão que precisa de lentes espirituais providas pelo Espírito Santo na Palavra de Deus para uma abordagem ministerial correta.

Deixe-me sugerir três perspectivas bíblicas aplicadas ao ministério jovem que pastores e líderes precisam considerar:

1) Perspectiva antropológica

O que a Palavra de Deus ensina acerca do jovem? Se não respondermos adequadamente a essa pergunta, iremos direcionar esforços para solucionar um problema que a própria Bíblia nunca levantou. Se o jovem é apenas o “futuro” da igreja, o ministério jovem não irá incentivar os jovens a servirem nem assumirem responsabilidades diante da igreja local hoje. Ou ainda, se você acredita que o jovem encontrará seu “potencial” ingressando num grupo que o aceite como é e que será mantido com entretenimento, o ministério jovem irá focar em programações e eventos cujo foco principal é a diversão, na melhor das hipóteses, livre das contaminações do mundo — ou seja, um “clube Gospel”. Por isso, voltamos para a Palavra de Deus, e perguntamos: o que é o jovem?

Na perspectiva antropológica abrangente, o jovem faz parte da categoria única para todos os homens: pecador. O jovem e o adolescente são carentes do Evangelho de Jesus Cristo, capaz de redimi-los da condição caída em pecado. O jovem e o adolescente precisam ouvir as boas novas do Senhor Jesus. Isso inclui uma visão de quem Deus é em Sua santidade, a realidade do pecado que nos separa de Deus, o sacrifício substitutivo de Jesus Cristo e o chamado ao arrependimento e fé. O jovem precisa do Evangelho.

Na perspectiva antropológica específica[1], o jovem é descrito com peculiaridades de sua faixa etária, ou melhor, de seu estágio de vida. O livro de Provérbios foi escrito, entre outros objetivos, para dar conhecimento e bom siso aos jovens (Provérbios 1.4). Por isso, podemos esperar informações acerca do jovem nesse precioso livro de sabedoria divina. Muitas das informações acerca do jovem virão na forma de exortação. Ou seja, a exortação de Salomão reflete uma preocupação com seu filho jovem. Precisamos escutar a descrição implícita por trás da exortação explícita.

De acordo com Provérbios, o jovem tende a não valorizar a sabedoria e é carente de juízo (Provérbios 3.1-4 e 7.7). Não é à toa que Salomão insiste em mostrar o valor da sabedoria para seu filho. “Filho meu” é uma expressão repetida inúmeras vezes para chamar a atenção de seu filho para o valor da sabedoria e seus ensinos. O livro de Provérbios ainda descreve o jovem com dificuldades na escolha de suas companhias (Provérbios 1.10ss) e mais suscetível à tentação sexual (Provérbios 2.16; 5; 6.20-35; 7). O livro mostra que o jovem não tem, de uma forma geral, uma perspectiva escatológica madura. Ou seja, jovens tem dificuldades em entender consequências de longo prazo de suas decisões de curto prazo. Muitos acreditam que serão jovens para sempre e que o amanhã não importa. Por isso que grande parte do livro se volta para a construção de uma mentalidade capaz de discernir o certo do errado, mostrando o relacionamento de causa e efeito na ordem criada por Deus. No centro de tudo isso, o livro de Provérbios mostra que o jovem tende a por pouco foco no coração (Provérbios 4.23). Por isso, gostam de testar seus limites numa visão legalista da lei. Jovens e adolescentes tendem a fazer o mínimo necessário para não terem problemas com seus pais, autoridades e igreja. Constroem um estilo de vida mais próximo de seus desejos, ainda que isso custe o relacionamento com Cristo.

2) Perspectiva eclesiológica

Um ministério jovem fiel precisa de uma visão eclesiológica madura. É comum vermos “ministérios jovens” fortes desligados da vida da igreja. Bem-intencionados, mas equivocados, líderes de jovens criam um ambiente competitivo dentro da própria igreja. O ministério jovem, ao invés de servir a igreja e seus propósitos de proclamação do Evangelho, cria um grupo fechado em si mesmo, repleto de pessoas semelhantes. Isso é um erro que cometemos por décadas e que precisa de uma reavaliação. O ministério jovem não é uma igreja numa versão mais legal (ou mais “descolada”) dentro da igreja.

Ao isolarmos o grupo de jovens, tornamos a vida da igreja difícil de ser vivida dentro dos moldes bíblicos. A unidade em meio a diversidade sofre um golpe brutal. Um grupo exclusivo de jovens reunidos é incapaz de mostrar a beleza da diversidade que o Evangelho conquistou. Um grupo repleto de pessoas da mesma faixa etária deixa de usufruir dos benefícios do ministério intergeracional.

Portanto, antes de definir o ministério jovem, é preciso uma definição madura e bíblica sobre a igreja local. A Igreja Universal do Senhor Jesus Cristo é conhecida por meio de suas representações locais. Por isso, qualquer proposta de igreja focada e fechada num grupo exclusivo erra em demonstrar a diversidade do povo de Deus. O Evangelho criou a unidade rompendo a barreira de inimizade que existia entre judeus e gentios (Efésios 2.13, 14). Essa unidade reflete o caráter de Cristo e, por isso, deve ser diligentemente preservada (Efésios 4.1-6).

A preservação da unidade da igreja tem seu início no ministério da Palavra de Deus (Efésios 4.7-13). A Palavra de Deus equipa a todos os ouvintes dentro da igreja para o desempenho do serviço e edificação do corpo de Cristo. Quando a igreja vive isso, cada parte coopera para o mesmo objetivo: edificação da igreja, santuário do Espírito Santo (Efésios 2.22).

Considere alguns sinais de que o ministério com jovens e adolescentes estão desligados da igreja local e competindo com o restante da igreja:

  • Uma valorização da reunião de jovens (células ou grupos pequenos de jovens) em detrimento do culto público quando a igreja toda se reúne;
  • Um apego a líderes carismáticos (líder da “pegada louca” apenas) em detrimento de líderes bíblicos com caráter provado;
  • Uma ênfase no entretenimento em detrimento da verdade;
  • Construção de relacionamentos superficiais – não centrados em Cristo, mas simplesmente porque “são legais” – em detrimento da graça e verdade dos relacionamentos que devem imperar nos relacionamentos entre cristãos;
  • Círculos de relacionamentos limitados a jovens;
  • A mentalidade dos pais de que “enquanto estão na reunião de jovens, está bom”.

Sinais de que os jovens estão integrados ou caminhando para serem integrados no contexto da igreja local como um todo:

  • Participação ativa de jovens e adolescentes no culto público;
  • Existe uma identificação do jovem com toda a equipe pastoral e diversidade de liderança bíblica madura com acesso ao grupo de jovens e adolescentes;
    • Isso não quer dizer que não possa haver uma referência entre o grupo de jovens na equipe pastoral. O ponto é que não existe uma exclusividade artificial e o jovem compreende os líderes reconhecidos como seus pastores.
  • Interesse pela verdade bíblica e crescimento em discernimento;
  • Existe uma disposição de servir o restante da igreja (em termos de faixas etárias);
  • Existe uma disposição de criar relacionamentos com outros grupos da igreja, aprendendo com os mais velhos e discipulando os mais novos;
  • A mentalidade dos pais é de enxergar o ministério jovem como um apoio à responsabilidade bíblica de criarem seus filhos, não de terceirização de seus papéis.

3) Perspectiva pastoral

O ministério jovem e adolescente precisa de uma “teologia pastoral” bíblica. O que significa cuidar/pastorear ovelhas? O que significa pastorear ovelhas jovens e adolescentes? São perguntas que precisam de respostas bíblicas. É comum reduzir o ministério com jovens e adolescentes a uma mentalidade de “babá”, com bastante entretenimento e repleto de superficialidades que não promovem maturidade.

O objetivo pastoral é a edificação da Igreja promovendo maturidade individual à semelhança de Cristo (Colossenses 1.28, 29). O pastor faz isso ensinando e aconselhando. Expandindo um pouco a ideia, o pastor precisa de uma visão ministerial centrada na Pessoa e obra de Cristo, anunciada por meio do ensino e do aconselhamento. Tanto no ministério público como individual (Atos 20.20).

Como que isso acontece no contexto do ministério com jovens e adolescentes? A Bíblia aponta para a responsabilidade dos pais na tarefa. Uma teologia pastoral bíblica irá funcionar numa eclesiologia bíblica. Então, a prática do ministério dos pastores e líderes de jovens e adolescentes começa com uma disposição em equipar os pais. Obviamente que estamos falando um conjunto amplo de possibilidades uma vez que alguns jovens já são adultos formados e devem ser encarados como tal. Mas, principalmente com adolescentes, o envolvimento com os pais precisa ser levado em consideração.

Além do engajamento dos pais, devemos considerar o envolvimento de adultos maduros no discipulado de jovens e adolescentes. Nem todos os jovens e adolescentes irão contar com pais interessados no cumprimento de suas responsabilidades ou terão pais comprometidos com Cristo. Em situações como essas, vemos a participação da igreja local como família espiritual de jovens e adolescentes criando o ambiente propício para relacionamentos saudáveis intergeracionais (Tito 2; 1 Pedro 5.5).

Mãos à obra

Baseado nas 3 perspectivas acima, como você irá pensar o ministério jovem? Veja, não se trata apenas de um modelo a ser implementado, mas uma cultura a ser desenvolvida ao redor das verdades da Escritura. Cada uma das perspectivas nos ajuda a construir uma mentalidade capaz de enxergar o jovem e o adolescente de forma bíblica. O Evangelho deve ser visto na vida da igreja, pregado para os jovens da igreja e cuidadosamente usado na construção de relacionamentos dentro do contexto da igreja.

De forma prática, considere os seguintes passos iniciais:

  • Ore para que Deus levante líderes (entre os jovens). Quando o trabalho pareceu maior que a capacidade dos trabalhadores, Jesus nos chamou a orar.
  • Treine homens líderes no grupo de jovens.
  • Enfatize o estudo da Palavra de Deus de forma sistemática e relevante.
  • Encoraje os jovens e adolescentes a viverem a Palavra de Deus, implementando mudanças em suas decisões e relacionamentos.
  • Ensine sobre a importância da igreja local.
  • Reflita sobre as diferenças entre “reunião de jovens x culto público da igreja local”. As diferenças irão ajudá-lo a aproveitar as oportunidades da reunião de jovens que não estão disponíveis no culto local sem criar uma competição danosa para a unidade da igreja.

Notas:

[1] A perspectiva antropológica específica é resultado do estudo do excelente artigo “O Caminho do Sábio: como falar sobre sexo com os adolescentes” por Paul David Tripp na coletânea de aconselhamento bíblico, vol. 4, SBPV.


Autor: Alexandre Mendes

Pr. Alexandre Chiaradia Mendes é natural de Belo Horizonte (1979), criado em São Paulo e chamado para o pastorado em Atibaia. É casado com Ana e pai de três filhos. Sacha é formado em Economia e atuava na área quando direcionou seus esforços para o preparo pastoral (2003). Desde então, tem estudado teologia, aconselhamento bíblico e pregação expositiva. É pastor na Igreja Batista Maranata desde novembro de 2012, liderando os jovens e adolescentes e ministrando na área de ensino e aconselhamento bíblico. Além de pastor, Sacha é professor no Seminário Bíblico Palavra da Vida, Centro de Estudos Teológicos do Vale do Paraíba, Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares (Brasília, DF) e conselheiro associado da ABCB (Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos), atuando também como intérprete de palestrantes/pastores.

Ministério: Ministério Fiel

Ministério Fiel
Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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