Pergunte a qualquer pastor sobre as coisas que ele mais gostaria de ver em sua igreja, e em algum lugar no topo da lista estará a unidade. “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” (Sl 133.1). É bom, e nossas igrejas se tornam mais agradáveis quando são marcadas pela unidade.
Dessa forma, os membros fiéis da igreja devem buscar a unidade. A Bíblia chama a nos esforçarmos “diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).
Mas, ironicamente, em nossa busca pela unidade bíblica, podemos nos tornar excessivamente autocentrados. Podemos pensar no chamado à unidade apenas com relação a nossos próprios relacionamentos individuais com outros cristãos. “Tenho algum conflito interpessoal que precisa ser resolvido?” “Sou gentil e caridoso com aqueles com opiniões divergentes sobre questões secundárias e terciárias?” “Estou me submetendo alegremente à liderança da igreja?” Essas são grandes perguntas que devemos fazer para que possamos, naquilo que depender de nós, viver pacificamente com todos. Mas o chamado bíblico à unidade é mais profundo e mais amplo. Ou seja, a Bíblia estabelece um padrão mais elevado para nós do que apenas não estar em conflito com outros em nossa congregação.
Por isso, quero oferecer quatro sugestões práticas que o ajudarão a trabalhar pela unidade em seu corpo local. Mas lhe darei um aviso prévio: não são tarefas tão fáceis. Algumas delas exigem muito trabalho, outras podem levar a conversas embaraçosas, e todas chamarão você a sair da sua zona de conforto. Mas é por isso que somos ordenados a “nos esforçar diligentemente” pela unidade. Se fosse fácil e ocorresse naturalmente, não teríamos que ser ordenados a “nos esforçar diligentemente”. Ninguém precisa ser instruído a se “esforçar diligentemente” para comer mais batatas fritas. Temos que “nos esforçar diligentemente” apenas para comer coisas como couve.
1. Seja um pacificador
Ser um pacificador vai além de apenas garantir que seus próprios relacionamentos sejam reconciliados. Ele o chama para encorajar e catalisar a reconciliação entre os membros que estão em desacordo em sua congregação.
Ao lidar com um conflito potencialmente perturbador da unidade na igreja de Filipos, Paulo primeiro dirigiu-se diretamente aos culpados: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor.” (Fp 4.2). Mas observe que ele não para por aí. Ele então pede a ajuda de outros membros: “A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida” (Fp 4.3).
Suponha que você saiba que dois membros de sua igreja têm um conflito. Você poderia sentar e não fazer nada; e esse certamente seria o caminho mais fácil a seguir. Mas você é chamado a se “esforçar diligentemente” pela unidade. O que exatamente é isso depende da situação. Em alguns cenários, você pode convocar uma reunião; em outros, você pode ir a uma festa e encorajá-los, com base na Bíblia, a se reconciliarem. Isso requer sabedoria. Porém, em todos os casos, trabalhar pela unidade significa ser um pacificador proativo. E como Jesus disse, bem-aventurados são os pacificadores.
2. Seja alguém que conecta
Somos, em nossa natureza pecaminosa, facciosos e exclusivistas. Por nós mesmos, naturalmente orbitamos em torno de certas pessoas em detrimento de relacionamentos mais amplos. Contudo, tais tendências naturais podem ser inúteis para estabelecer a unidade.
Então, no nível mais básico, precisamos ter certeza de que não estamos em torno de um único grupo de amigos. De fato, trabalhar pela unidade nos chama a fazer mais, a unir as pessoas como alguém que as conecta.
Aqui está uma ideia de como você pode fazer isso: da próxima vez que você oferecer um almoço em sua casa, convide duas pessoas de círculos sociais completamente separados dentro de sua igreja. Permita que sua casa seja o lugar onde eles possam se conhecer e começar a formar uma amizade que, de outra forma, eles nunca teriam desenvolvido.
3. Saiba o tempo de se alegrar e de chorar.
Paulo aponta que, semelhante a um corpo humano, na igreja “há muitos membros, mas um só corpo” (1Co 12.20). Uma inferência importante que ele tira dessa analogia é que, “se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1Co 12.26).
De modo muito prático, se trabalharemos pela unidade, precisamos nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12.15). Isso implica ir a chás de bebê e a funerais. Implica escrever cartões de parabéns e mensagens de condolências. Tudo isso exige que nos conheçamos bem o suficiente para estarmos realmente cientes quando nosso irmão ou irmã está se alegrando ou chorando, algo que envolve esforço intencional. Estar com os membros de sua igreja nos altos e baixos de suas vidas ajudará muito a construir uma unidade maior e mais duradoura.
4. Seja centrado no evangelho.
Mais importante ainda, se você vai trabalhar pela unidade em sua igreja, você precisa ser centrado no evangelho.
Por meio do evangelho, cada membro da igreja foi unido a Cristo. Portanto, cada membro da igreja está unido um ao outro. Observe como Paulo aponta especificamente que os crentes em Filipos: aqueles que precisavam fazer todo esforço para a unidade em seu corpo; todos têm seus nomes no livro da vida (Fp 4.3). Considerando que todos vamos passar a eternidade juntos adorando nosso Salvador comum, como concidadãos do céu, a unidade aqui e agora é algo pelo qual vale a pena lutar!
Devemos nos lembrar do evangelho, porque é somente pelo poder do evangelho que uma igreja tão eclética como a sua (e como a minha!) pode ser unida por um interesse comum e demonstrar amor e união verdadeiros. Na verdade, é esse amor e unidade que capacita o ministério do evangelho na igreja “como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica” (Fp 1.27).
Portanto, irmãos e irmãs, vão em frente e se esforcem diligentemente para buscar a unidade. Sei que é difícil, mas é bom para você. Assim como comer mais couve.
Publicado originalmente em 9 Marks.
Tradução: João Costa. Revisão: Renan A. Monteiro.