sábado, 27 de abril

O estilo musical pode atrapalhar o canto congregacional?

Sendo um músico meio focado na criatividade, escrever com clareza sempre tem sido um desafio. Eu tenho um ponto em mente, e ele parece claro e envolvente — até escrevê-lo. As palavras que eu uso para fazer meu ponto às vezes atrapalham meu próprio ponto. Eu tento demais. Eu penso que estou fazendo algo legal, tipo um trocadilho, mas na verdade eu estou turvando a água. Eu tenho que me esforçar no meu estilo de escrita para esclarecer meus pontos, não atrapalhar meus pontos.

O mesmo pode ser dito do estilo musical das músicas de louvor na igreja. O estilo esclarece ou atrapalha o ponto principal, isto é, o canto congregacional? Uma igreja que canta é um meio de graça, visto que uma congregação habitada pelo Espírito, reunida pela graça, exorta à fidelidade enquanto louva a Deus. A igreja toda fala a rica Palavra de Cristo uns aos outros.

Então aqui está a pergunta: será que o seu estilo musical deixa claro que esse é o evento principal? Ou será que o canto da igreja se perde porque o estilo está tentando fazer demais?

Eu quero desenvolver um ponto simples: quanto mais claramente o estilo do nosso louvor puser o foco no canto congregacional, menos nós vamos atrapalhar esse meio de graça. Para expor essa ideia, vamos observar o canto congregacional como um meio de graça. Então eu definirei o que quero dizer com estilo de louvor e concluirei aplicando o que nós aprendemos.

UM MEIO DE GRAÇA ENVOLVENTE

O canto congregacional é o som de um povo salvo pela graça. Depois de Deus salvar seu povo pela graça, eles cantam (Ex 15; At 2; Ap 15). Libertos do mundo, eles não mais pertencem nem parecem com o mundo.

Na Nova Aliança, qual é a forma que o Espírito nos guia à piedade? Pelo canto da igreja (Ef 5:18-19). Como nós sabemos que a rica Palavra de Cristo habita em nós? Pelo canto da igreja (Cl 3:16). A Palavra de Cristo reverbera conforme o povo de Cristo, habitado pelo Espírito, exortando e encorajando uns aos outros.

E que meio de graça envolvente esse é! Uma igreja cantando é difícil de ignorar. É audível e visual. É tangível e místico. É individual e corporativo. É cognitivo e emocional.

Se o Espírito quer que cresçamos em graça pelo som do canto da igreja, então é aí que deveríamos pôr todo o foco. Como líder de louvor na nossa igreja, eu quero que as pessoas saiam das nossas reuniões tendo ouvido a Palavra de Deus nas bocas do povo de Deus. Como nós tentamos fazer isso? Isso nos traz à questão do estilo.

ESTILO — ELE ESCLARECE OU ATRAPALHA?

O estilo pode esclarecer ou atrapalhar o canto congregacional. Se canto congregacional é o que estamos fazendo, estilo é como estamos fazendo. É a forma que a música da igreja toma através de coisas como gênero, instrumentos, e uso de luz e som. Devemos nos lembrar: há liberdade e alegria em diferentes estilos! Afinal, nenhum estilo em particular é prescrito, mas um objetivo em particular é — o canto congregacional.

Então devemos perguntar algumas coisas em seguida: será que nosso estilo apresenta com clareza o canto congregacional como o evento principal? Ou ele turva a água? Conseguimos ouvir nossa igreja? As melodias são cantáveis? Como um pregador se afiando em seu ofício para apresentar claramente a Palavra de Deus, nós queremos nos afiar em nosso ofício para apresentar a Palavra de Deus através do canto. A parte complicada do estilo é que ele pode se tornar um fim em si mesmo. Quando o estilo se torna o “que” em vez de o “como”, a riqueza do canto congregacional é atrapalhada.

Eu ainda estou aprendendo como fazer isso melhor. Eu tenho tocado em grupos de louvor desde que tinha doze anos. Tenho liderado o louvor por mais de vinte anos. Eu sou grato pela variedade de experiências que eu tenho tido — de pequenas a grandes igrejas, de acampamentos a parques de skate e estádios lotados, de palcos iluminados com grandes caixas de som a pouca amplificação e nenhuma luz extra, de hinos clássicos a canções modernas. A cada passo no caminho, eu sinceramente queria ver o povo de Deus louvá-lo de todo coração e voz. Mas essas experiências e a instrução paciente de Deus me convenceram de que o estilo é mais importante do que imaginamos.

Eu poderia fazer muitas aplicações sobre isso, mas vou focar em três — gênero, som e iluminação, e criatividade.

GÊNERO

Mesmo que nossas igrejas sejam diversificadas, nossa música na igreja frequentemente não é. Nós deveríamos nos deleitar em cantar diversos tipos de música porque Deus está salvando um povo diverso! Em outras palavras, não cante só canções novas. Nem só canções velhas. Nem canções só da sua herança étnica. Nem só canções que você gosta, como líder de louvor. Cante músicas teologicamente ricas, que você mesmo talvez não goste, porque você sabe que alguém vai gostar. Cante músicas que edificaram a igreja no passado.

Isso muda nosso foco para além da expressão individual e nos leva a cantar de uma forma que glorifica a Deus e encoraja os outros membros. Somos forçados a perceber como a Palavra de Deus está habitando ricamente naqueles da minha igreja e como a Palavra de Deus tem habitado ricamente em igrejas ao redor do mundo, o que nos faz querer exaltar mais a Cristo!

Resumindo, nosso estilo deveria honrar a diversidade do povo que Deus salvou e continua a salvar.

SOM E ILUMINAÇÃO

O que o som e a iluminação dizem que o membro da igreja deveria experienciar? No passado, eu usei a frase “uma experiência de adoração” para falar sobre reuniões da igreja. Desde então eu percebi que essa frase não ajuda porque ela pode acidentalmente comunicar que o objetivo na adoração corporativa é algum tipo de experiência emocional subjetiva. Não é esse o caso.

No entanto, mesmo assim é verdade que nosso canto deveria cobrir todo o espectro da experiência humana. Considere o hinário de Israel, os Salmos.

Deveria ser óbvio que o som e a iluminação podem tanto atrapalhar quanto esclarecer que nosso objetivo na adoração corporativa é o canto congregacional. Deveríamos fazer tudo que pudermos para fazer disso a experiência primária — não o que quer que esteja acontecendo no palco. É um reducionismo dizer que o canto congregacional não pode acontecer quando as luzes estão apagadas sobre a congregação e o som do palco está alto.

Mas precisamos ser honestos sobre como estamos usando essas ferramentas — elas estão destacando a experiência de alguns ou de toda a congregação? Nós devemos abaixar o som o suficiente para que a congregação seja o motor principal. Nós devemos subir as luzes para que possamos de fato ver a congregação e, como resultado, concentrar nossa experiência em toda a igreja falar uns aos outros em salmos, hinos e cânticos espirituais.

CRIATIVIDADE

Com todo esse foco na congregação, estou insinuando que a criatividade musical e a beleza musical não são importantes? De forma alguma! Eu diria que é necessário criatividade para tocar músicas que esclareçam e não atrapalhem o canto congregacional. A criatividade informa o estilo. Então, como o estilo, a criatividade não é algo que fazemos, mas como fazemos algo. Em particular, eu argumentaria a favor de uma criatividade biblicamente informada e pastoralmente sensível.

Quem não quer ser conhecido como uma igreja com boa música? Mas a criatividade animada e dirigida pelo Espírito pergunta mais do que “Como soava a música?”, ela pergunta: “Será que tudo que fazemos serve ao canto de toda nossa igreja?” Isso não diminui a criatividade; isso a aponta para um alvo.

A criatividade amadurece para além da autoexpressão e chega ao serviço humilde a todos. Essa mudança deveria ser evidente. Aqui estão alguns exemplos:

A criatividade preza a simplicidade musical que não sobrepõe a voz da igreja; ela adorna a voz da igreja, levando-a para frente.

A criatividade molda nossos instintos de modo que nós sabemos quando destacar a alegria e quando ir em direção ao lamento.

A criatividade usa preenchimentos na música que não são somente para dar efeitos legais, mas que funcionam como sinais para que a congregação comece a cantar determinado trecho da música.

A criatividade ensina a banda, muitas vezes, a encontrar alegria em tirar algo da música para que a igreja se ouça cantar.

A criatividade ensina até mesmo engenheiros de som a operar o som da igreja de modo que a congregação seja o instrumento principal.

CONCLUSÃO

No último domingo eu estava liderando o canto e estava cansado. Tinha sido uma semana pesada e o peso da semana estava nas minhas costas. Mas o peso logo evaporou quando eu ouvi nossa igreja cantar “Tão Firme Fundamento” e “Cristo é Meu Para Todo o Sempre”. Enquanto as suas palavras me banhavam, eu lembrei do fiel e inabalável amor de Deus pelo seu povo. Eu precisava ser encorajado a crescer na graça de Jesus. E você quer saber? Isso é precisamente o que aconteceu… Enquanto a minha igreja inteira cantava salmos, hinos e cânticos espirituais.

Que meio de graça! Façamos tudo que pudermos para que nosso estilo traga clareza a esse meio de graça, e não o atrapalhe.

 

Por: Neal Woollard. © 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: Can Musical Style Dilute This Ordinary Means of Grace?
© Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradutor: Pedro Henrique Lima de Oliveira. Editor e revisor: Vinicius Lima.


Autor: Neal Woollard

Neal Woollard é o pastor associado de adoração e discipulado na Hinson Baptist Church em Portland, Oregon.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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