Pelo que sabemos, identidade e conceito de bondade vieram juntos ao mundo. Quando Deus criou Adão e Eva, ele os fez, em primeiro lugar, à sua imagem. Ele queria que ambos fossem diferentes das estrelas, das plantas e dos animais. Não existiriam como as outras coisas criadas, tanto as belas como as desprovidas de alma. Adão e Eva seriam capazes de refletir Deus na Terra, em corpo, mente e alma. O fato de serem portadores da imagem seria sua principal identidade. E isso faria com que contassem ao mundo, enquanto vivessem, por quem e por que razão haviam sido criados. Ao mesmo tempo, eles também foram criados de forma distinta um do outro.
Deus os fez homem e mulher — duas palavras não inventadas por uma pessoa, um grupo, cultura ou nacionalidade, mas usadas por Deus para descrever o que ele fez e exatamente aquilo que ele os projetou para ser. Do mesmo Deus, vieram dois corpos distintos e, depois de criá-los, por fim, depois de todo o resto ter sido criado, Deus olhou para eles e para tudo o mais e os chamou “bons”. As plantas? Boas. As estrelas? Boas. As nadadeiras dos peixes? Boas. “E quanto a Adão e Eva? E quanto aos seus olhos, e como suas mentes foram formadas para ver as mesmas coisas através de lentes diferentes? Ou quanto às suas mãos? Como as de Adão tinham largura suficiente para segurar o casco de um animal e as de Eva eram pequenas o bastante para segurar um passarinho? Ou como a voz de Eva soava como o amanhecer, enquanto a dele soava como algo jorrando de uma montanha. O osso da testa de Adão era forte como um punho. O rosto de Eva, macio como um amém. Tudo isso Deus disse que era muito bom. Por quê? Porque foi um Deus bom quem os fez.
O pecado odeia tudo que é bom e, quando Adão e Eva decidiram habitar no pecado, algo interessante aconteceu. Eles comeram o fruto e pecaram contra Deus, seus olhos se abriram, e a primeira coisa que eles notaram foram seus corpos. Eles estavam nus e agora sabiam disso. Até então, nada havia mudado, embora tudo houvesse mudado. Ambos os corpos eram os mesmos de antes de eles terem acreditado no diabo, mas agora o pecado desempenhava um papel na forma como viam a si mesmos. O que antes era belo agora era objeto de vergonha, lembrando-os de seu relacionamento quebrado com Deus, e de um com o outro.
Do mesmo jeito que o pecado tomara meus afetos para seus próprios interesses, desejando e sentindo prazer em tudo que não era natural, tinha ambas as mãos agarrando também minha mente. Voltando meus pensamentos contra mim, como um telescópio invertido e incapaz de enxergar verdadeiramente, mas apenas de forma turva. O corpo no qual eu morava sentia como se me tivessem dado a roupagem errada. Outra camisa ficaria melhor, mais quentinha, mais fácil de vestir. A minha era estranha, desconfortável, dava coceira, era impossível de tirar. Se eu pudesse ver a bondade de Deus em tudo que ele havia feito, incluindo a mim e minha feminilidade, eu teria facilmente compreendido que meu corpo não fora deixado de fora das palavras de Colossenses 1.16: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”. Minhas mãos, minha cabeça, meu rosto, minhas pernas, meus quadris, meus hormônios, meus pés, meus dedos, minhas partes íntimas, meus sentimentos, minha voz — tudo foi feito por ele e para ele. Aparentemente, esse meu corpo nunca foi meu, desde o começo — ele me foi dado por Alguém, para Alguém. Alguém que o criou para a glória, e não para a vergonha. Mas, até que eu viesse a conhecer esse Alguém, minha identidade seria composta de todo tipo de sujeira voando dos pés do diabo enquanto ele percorria a terra.
Artigo adaptado do livro Garota Gay, Bom Deus, de Jackie Hill Perry.