Muitos indivíduos são como o jovem rico ao ouvir Jesus dizer: “Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 19.18-19). Eles, do mesmo modo, prontamente respondem: “Tudo isso tenho observado” (v. 20). Uma pessoa pode argumentar que nunca matou, adulterou ou furtou – por mais inverídica que seja essa reivindicação. Contudo, nenhuma pessoa em sã consciência diria que jamais cobiçou.
O último dos Dez Mandamentos, “Não cobiçarás”, se distingue dos demais. Nessas poucas palavras, o próprio coração da lei de Deus nos é apresentado. A lei de Deus não se preocupa apenas com nossas ações. “Não cobiçarás” anuncia sem reservas que os nossos pensamentos, sentimentos e inclinações – questões do coração – têm grande importância para o Senhor.
O pecado que ele confronta é um companheiro nosso muito familiar. Ele vem à tona quando ouvimos da promoção de um colega de trabalho, quando vemos um carro novo na garagem ao lado ou quando refletimos sobre aquela família aparentemente perfeita na igreja. Esse inimigo ergue sua cabeça maligna num instante. Não precisamos procurar por ele ou ser ensinados nele. Em vez disso, ele vem naturalmente. E, embora esse pecado seja um familiar conhecido, ele não é nenhum amigo. É um adversário oportunista e mortal que captura o coração, altera as afeições, ocupa a mente e destrói uma vida. Onde há paz, ele traz hostilidade; onde há amor, ele suscita divisão; e onde há contentamento, ele gera reclamação.
Por que a cobiça é tão mortal? Porque ela nunca pode ser satisfeita. A cobiça implacavelmente anseia por mais deste mundo e alguém cujos pensamentos, afeições e coração se ocupem do mundo deixará de buscar os céus. A cobiça leva ao abandono do amor por Deus e leva o indivíduo a odiar o seu próximo. Ela empurra o coração no poço dos interesses egoístas e no atoleiro e no lamaçal da inveja, da calúnia, do adultério, do orgulho, da desonra, do homicídio, do furto e da idolatria. Tem-se dito corretamente que, quando quebramos qualquer dos primeiros nove mandamentos, também quebramos o décimo mandamento.
Como combatemos esse pecado do coração? Deixe-me oferecer três simples encorajamentos bíblicos: olhe para Cristo, viva em contentamento e regozige-se em gratidão.
Primeiro, olhe para Cristo e as coisas do alto. “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”, disse o Senhor (Mateus 6.33). Quanto mais valorizamos Cristo, menos atribuímos valor imoderado às coisas terrenas. Quanto mais desejamos Cristo, menos ansiamos pelas coisas deste mundo. Honra, riqueza, possessões materiais, reputação, sucesso mundano e até saúde possuem pouco brilho quando comparados à radiante glória de Deus na pessoa de Cristo (Hebreus 1.3). Quando o buscamos, descobrimos que os tesouros terrenos sustentam prazeres transitórios, mas a alegria em Cristo é eterna (Salmo 103.17). Eles possuem promessas vazias, mas as promessas de Cristo são seguras. Eles oferecem conforto, mas Cristo o garante (Mateus 11.28-30). Seguir a Cristo é um empreendimento diferente de todos os outros, pois ele nunca desaponta. A sua beleza, amabilidade, conforto, paz e alegria ultrapassam tudo o que este mundo tem a oferecer.
Segundo, se desejamos que a cobiça não tenha nenhuma influência em nossas vidas, devemos também buscar viver em contentamento. Contentamento não é algo que corremos para alcançar, mas algo em que descansamos. O apóstolo Paulo disse: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Filipenses 4.11b). Ele disse a Timóteo: “Grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1 Timóteo 6.6). Paulo cria em um Deus soberano que governa os céus e a terra, bem como confiava nele. Ele sabia que a providência de Deus proveria para as suas necessidades. O que quer que ele possuísse era suficiente, então ele podia descansar contente. Se Deus achasse que seria bom para nós ter mais, ele nos daria mais. Cada cristão corretamente busca manter essa mentalidade. E, quando esse é o caso, que alegria o contentamento traz à vida cristã! Contentamento é uma daquelas joias raras; uma vez encontrada e entesourada, preenche a alma de deleite.
Por fim, talvez a maior força que possamos reunir contra a cobiça seja nos regozijarmos em gratidão. A gratidão leva a vida cristã para longe da perigosa areia movediça do descontentamento. É difícil estar contente em todas as circunstâncias se a gratidão não habita em nossos corações. O apóstolo Paulo nos exorta, mesmo quando estamos lutando com a ansiedade, a “[tornarmos] conhecidas, diante de Deus, as [nossas] petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Filipenses 4.6). Nós desejamos agradecer a Deus por aquilo que temos recebido e aquilo que ele deu. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto” (Tiago 1.17). Portanto, nós não apenas nos alegramos naquilo que pessoalmente recebemos, mas também nas boas dádivas que o Senhor concedeu a outros. Nós e os outros não desfrutamos desses dons por mera coincidência. Com isto nós podemos nos regozijar em gratidão.
Amado cristão, olhe para Cristo, viva em contentamento e alegre-se em gratidão e mande a cobiça para longe do seu coração e da sua vida. Ela é um inimigo mortal com o qual não se deve brincar. Em vez disso, vivamos em amor por Deus e pelo próximo – ajuntando os nossos tesouros lá nos céus.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel