quinta-feira, 26 de dezembro
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Não consigo esquecer o que ela fez contra mim

O trecho abaixo foi adaptado do livro Lindando com a rejeição, de C. John Miller, Série Aconselhamento, Editora Fiel.

Não consigo esquecer o que ela fez contra mim

Durante quarenta anos tenho rejeitado todos os pensamentos negativos. Mas essa ferida é tão profunda… minha mente está cheia de uma raiva da qual não consigo me livrar.”

“Você também está amargurada?”, perguntei e esperei que Mary Thomas respondesse, enquanto estávamos sentados na sala de estar de sua casa.

“Sim”, ela respondeu vagarosamente. “Parece que não consigo parar isso. Minha religião me ensinou que os pensamentos negativos não são reais e que devem ser mantidos fora da mente. Mas parar de pensar nisso dói demais”.

Em seus quase setenta anos de idade, Mary era a figura de uma avó gentil. Eu a conheci por meio de uma mulher, membro de nossa igreja. Ela tinha visto a tristeza no rosto de Mary, enquanto estavam na fila do caixa do supermercado e, então, puxou conversa com ela. Após ter ouvido a história de Mary, ela me pediu que eu a visitasse.

Agora a dor no coração de Mary derramava-se para fora de sua boca. Susan, sua nora, a tinha rejeitado completamente. Seu filho tinha se casado com Susan em uma idade tardia e Susan tinha ciúmes do relacionamento próximo entre Mary e seu filho. Gradualmente, Susan virou o filho contra a mãe e, na semana passada, sua nora tinha lhe dito: “Você não é mais bem-vinda em nossa casa”.

“Nem mesmo para visitar!”, Mary disse com pesar, “e meu filho concordou com isso”.

Esse golpe estilhaçou as convicções religiosas que Mary sustentava tão fortemente. Ela sempre crera que o mal e o pecado eram miragens que deviam ser rejeitadas. Mas agora ela teve que admitir que havia visto o mal operando em sua vida e na vida de sua nora. Ela sentiu fortemente que Susan fizera um grande mal contra ela; a memória daquela ofensa não poderia ser esquecida. Agora Mary estava chocada ao descobrir que seus sentimentos amargos contra Susan estavam vindo para dominar a sua vida, através de seus pensamentos.

O que fazer quando você foi profundamente ferido por outra pessoa? O que Mary deveria fazer?

Quando alguém lhe causa danos, há pelo menos quatro respostas básicas que muitas pessoas escolhem. A primeira resposta é instintiva e popular.

1. Dar o troco 

Mas “dar o troco” não vai limpar a mente de Mary da amargura que lhe é tão perturbadora. Invariavelmente, essas atitudes irão agravar o conflito. Mary se vingará de Susan, mas então Susan se vingará de Mary. O que Mary faz quando Susan, por sua vez, retalia – contra-ataca – ainda mais vigorosamente? Essa é a história da típica briga familiar, com os antagonistas avançando em direção a uma amargura mais profunda e resultando em mais vinganças.

Se essa opção parecer muito arriscada, Mary poderia responder de outra forma.

2. Suprimir a sua ira

Quando essa opção é escolhida, a pessoa ferida suprime os sentimentos de ira rapidamente e quase que inconscientemente. A pessoa ferida pode então praticar uma forma sutil de retaliação, caindo em autocomiseração e depressão. Quando isso acontece, a mensagem enviada ao agressor é “veja o que você me fez”. A intenção é usar seu suplício para fazer o ofensor sentir-se culpado e arrepender-se do seu comportamento.

Mas, suprimir a sensação de ser injustiçado não vai livrar Mary das emoções que a incomodam. A supressão simplesmente força os sentimentos amargos a respeito de Susan para um lugar mais profundo dentro dela – para cozinhar e ferver todo tipo de odores desagradáveis no porão da alma, que mais tarde virão à tona para a sala de estar da vida.

Se o resultado dessa estratégia for alguma forma de comportamento autodestrutivo, uma pessoa sensível como Mary se sentirá mais culpada do que nunca. E não é provável que isso leve a uma reconciliação honesta com sua nora.

3. Não se deixar afetar

A terceira opção é tentar superar o relacionamento doloroso, utilizando pensamentos positivos. Se alguém lhe faz mal, você deve encontrar os recursos em si mesmo para não ser afetado pelo que foi feito para feri-lo. Mary deve colocar o comportamento de Susan fora de sua mente e dizer a si mesma: Eu nem vou pensar nisso – eu vou apenas me concentrar em pensamentos positivos. Ela deve acreditar em sua própria autoestima positiva e em seu poten- cial ilimitado. Ao se basear em sua própria bondade interior, para que o raciocínio seja válido, Mary pode aprender a estimar a si mesma e a não con- denar Susan.

Os defensores dessa abordagem enxergam claramente o perigo de entreter pensamentos negativos sobre si ou sobre os outros. Ainda assim, o pensamento positivo tem sido a abordagem de Mary durante quarenta anos, e isso não tem ajudado Mary a resolver esse problema com a ira. O problema é que ela realmente foi enganada e seu senso moral interior lhe diz, com razão, que ela tem um bom motivo para estar com raiva. Como Mary pode dispensar com pensamentos positivos seu senso de traição, quando suas próprias convicções lhe dizem que Susan merece ser punida?

4. Perdoar completamente

A última resposta – e a única apropriada – é perdoar aquele que o feriu tão profundamente. Sim, Mary pode perdoar Susan completamente. Essa abordagem é ordenada por Jesus nos Evangelhos. Ele diz: “Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6.37). No Oração do Pai Nosso, ele ordena a seus seguidores que orem “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (Mt 6.12). Ele os ensina a perdoar os outros da mesma forma como foram perdoados por Deus (Mateus 18.23-35). Ele também enfatiza o perdão total e em todos os momentos. Ele fala perdoe “de coração” (Mt 18.35; NVI) e o faça quando você tiver “alguma coisa contra alguém” (Mc 11.25).

À primeira vista, é natural perguntar: Por que alguém iria querer perdoar da maneira como Jesus ordena?

Uma razão convincente é que perdoar completamente é a única maneira de nos libertarmos de ser dominados pelo mau comportamento de outra pessoa. As três primeiras opções para lidar com a má conduta de outra pessoa deixam a pessoa prejudicada emocionalmente ligada a quem a feriu. Se você decidir se vingar, será pego em um ciclo de ataque e contra-ataque, que naturalmente ocupará grande parte de sua vida, em pensamento. Da mesma forma, se você suprimir seus sentimentos de ira e mágoa, eles não desaparecerão. Ao invés disso, eles ainda o incomodarão e virão à tona de outras formas.

Finalmente, tentar se elevar acima do mal cometido pode funcionar com pequenas feridas. Mas quando somos confrontados com um erro que toca a parte mais profunda de nosso ser, o pensamento positivo não pode fazer desaparecer nossos sentimentos feridos. Pelo contrário, perdoar completamente libera outra pessoa da minha condenação e me liberta dos sentimentos de ira que me mantêm amarrado a ela. Se o ato de perdoar completamente traz benefícios tão positivos, por que mais pessoas não o fazem para lidar com as mágoas da vida? Por exemplo, por que Mary não perdoou a Susan? A resposta é que ela não entendeu o significado do perdão. Mary acreditava que perdoar era o mesmo que esquecer, e ela sabia que não podia esquecer o que Susan fizera. Mas eu lhe expliquei que perdoar significa mudar completamente a sua perspectiva sobre a sua vida e olhar com novos olhos para o mal cometido contra ela.

De que maneira você pode experimentar uma libertação semelhante da condenação? E encontrar o poder de amar o seu pior inimigo? O elemento crucial do qual você precisa é a fé. Você deve ter uma fé pessoal em Cristo. Isso deve ser sua própria rendição a ele como a única pessoa que realmente lhe ama até o fim, bem do jeito que você é. Você deve crer que o amor dele por você é incondicional. Ele morreu na cruz não porque você é uma boa pessoa, mas por causa da compaixão dele por você. Ele sofreu por seus pecados para que você pudesse ser completamente perdoado por Deus e ter a vida eterna pela fé.

Creia que ele morreu pelo seu orgulho e pela sua ira amarga, e você saberá que Deus é agora seu amigo e ouve todas as suas orações.

Mas Jesus não poderia ajudá-lo se ainda estivesse morto. Porém, ele não está morto – ele está vivo! Três dias após a sua morte, o seu corpo foi ressuscitado do túmulo pelo poder de Deus. Essa ressurreição é um fato histórico. Como tal, não é uma informação vazia, sem poder. Jesus está vivo AGORA, com poder para ajudar você. Ore a ele, e ele o libertará das memórias amargas e lhe dará poder para perdoar aos outros.

 

Autor: C. John Millier © Ministério Fiel. Website: ministériofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Renata Gandolfo.


Autor: C. John Miller

C. John "Jack" Miller, PhD., fundou a World Harvest Mission (WHM) e a rede de igrejas New Life Presbyterian. Pastor, professor de seminário e autor. Ele e sua esposa Rose Marie têm cinco filhos e vinte e quatro netos.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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