Artigo adaptado do livro Quando os problemas aparecem, de Philip Ryken.
“No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” — João 16.33 ARC
Então, é daqui a uma semana, ou daqui a um ano, ou talvez em uma década, e você estará em apuros. Problemas reais. Não é outra pessoa que está passando por dificuldades – dessa vez, é você mesmo.
Neste mundo vocês terão aflições
Não posso lhe dizer que tipo de problemas você terá. Talvez você sofra de uma doença debilitante ou repentinamente enfrente uma doença com ameaça de morte. Talvez perca alguém quem ama. Talvez seja sobrecarregado pela pobreza, derramamento de sangue e as lutas de uma raça caída. Jesus mesmo disse: “Neste mundo vocês terão aflições” (Jo 16.33 NVI).
Jesus disse essas palavras no cenáculo quando partilhava sua Última Ceia com seus discípulos. Ele sabia que sua hora havia chegado e que logo sofreria pelos pecados do mundo. Ao antever o tempo em que não estaria mais ali, sabia que seus discípulos enfrentariam um problema após o outro.
Esse tema surge repetidamente em seus discursos finais. Jesus falou aos discípulos que os deixaria (Jo 13.33, 36; 16.28). Disse-lhes que o mundo os odiaria tanto quanto odiou a ele (Jo 15.18–19). Disse-lhes que as pessoas procurariam matá-los (Jo 16.2) e que eles chorariam e lamentariam em tristeza e angústia (Jo 16.20). Disse-lhes que eles o abandonariam e se espalhariam por todo lado (Jo 16.32). Finalmente, resumiu todas as suas tribulações na simples declaração: “Neste mundo vocês terão aflições”.
Embora essas palavras tenham sido ditas especificamente aos primeiros discípulos, permanecem relevantes hoje para qualquer pessoa que queira fazer diferença no mundo por Jesus Cristo. Uma coisa é certa: os problemas estão a caminho.
É a experiência normal do povo sofrido de Deus neste mundo pecaminoso. O que Jesus disse aos discípulos tem sido verdade para a sua igreja no decorrer dos séculos: “Neste mundo vocês terão aflições”.
Tende bom ânimo
Jesus foi sincero quanto aos muitos problemas que certamente enfrentariam, mas nem por um momento considerou isso algo sobre o qual tivessem que se preocupar. De fato, Jesus disse-lhes repetidamente que não turbassem o coração.
Vemos isso no começo de João 14. Jesus havia acabado de profetizar que Pedro, entre todas as pessoas, iria negá-lo três vezes naquela mesma noite. Os discípulos devem ter ficado chocados quando ouviram aquilo e seus rostos provavelmente demonstravam isso, porque a próxima coisa que Jesus disse foi: “Não se turbe o vosso coração” (Jo 14.1a).
Jesus disse o mesmo posteriormente no capítulo ao explicar como seria a vida para os discípulos sem ele. Ele sabia quanto ficavam desanimados toda vez que lhes dizia que iria deixá-los — algo que ele disse repetidamente na noite em que foi traído. Mas Jesus os tranquilizou dizendo que enviaria o Espírito Santo e os encorajou dizendo: “Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo 14.27). De uma forma simples, Jesus nos ordena a não nos perturbarmos com os nossos problemas.
Ouvimos a mesma ordem em João 16.33, onde Jesus diz: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Essa declaração é um imperativo divino. Jesus Cristo não está apenas nos encorajando a fazer algo; ele nos manda fazê-lo. Não importam os problemas que virão, não deixem seus corações ficarem perturbados, mas encham-se de coragem.
Essa não foi a primeira vez que Jesus disse a alguém para ter bom ânimo. A presença dessa ordem em outras narrativas dos Evangelhos (Mt 9.22; Mc 6.50) nos dá a impressão de ser essa uma das declarações favoritas do Salvador. Mas dessa vez, veio com uma promessa. Jesus nos deu uma razão excepcionalmente boa para nos encher de ânimo. Disse ele: “No mundo, passais por aflições” para então continuar: “mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33).
Eu venci o mundo
O que pode parecer estranho sobre essa promessa é o tempo verbal usado por Jesus. Lembre-se de que Jesus disse essas palavras na noite anterior à sua morte na cruz. Jesus ainda não havia consumado a obra para a qual veio ao mundo. Contudo, afirmou: “Eu venci o mundo”.
No tocante a Jesus, o trabalho da nossa salvação era como se já tivesse sido feito. Ele já havia resistido toda tentação de pecar. Estava então totalmente preparado para oferecer sua vida em sacrifício perfeito. Os eventos históricos que o levariam à cruz, ao túmulo e depois para fora do túmulo vazio já haviam começado. Jesus estava olhando adiante, pela fé, para o dia em que sua promessa seria realizada, quando venceria o mundo.
O que essa promessa significa para nós nos dias de hoje?
Se Jesus venceu o mundo, então a morte foi derrotada, a dívida do pecado foi cancelada e a porta para a vida eterna já está aberta. Portanto, nossos problemas são apenas temporários, e qualquer sofrimento que experimentamos jamais nos separará do amor de Deus por nós em Jesus Cristo.
Se Cristo venceu o mundo, nós podemos vencer o mundo. Podemos resistir à tentação. Podemos perseverar em meio à perseguição. Podemos viver por Cristo e por seu reino. Também podemos morrer por Cristo e por seu reino, tendo plena esperança de receber tudo o que Deus prometeu às pessoas que venceram o mundo:
- comeremos da árvore da vida (Ap 2.7),
- nos assentaremos no trono do céu (3.21),
- receberemos a plena herança dos filhos de Deus (21.7),
- veremos o fim de toda opressão e toda lágrima será limpa de nossos olhos (v. 4).
É por essa razão que nos animamos: porque Cristo venceu o mundo. Em seu sermão sobre João 16.33, Charles Spurgeon afirmou: “As palavras do meu Senhor são verdadeiras quanto às aflições. Sem dúvida, tenho tido a minha parcela delas”.
Ao dizer isso, com certeza Spurgeon se referia a própria luta, ao longo de toda sua vida, com a depressão, entre outros sofrimentos. Mas prestando cuidadosa atenção na ordem de Cristo, “tende bom ânimo”, o famoso pregador perguntou em voz audível qual seria o argumento que seu Salvador usaria para dar apoio a uma ordem tão ousada.
“Ora, é a sua própria vitória”, Spurgeon respondeu. Estamos, portanto, lutando contra um inimigo que já foi derrotado.
“O mundo”, disse ele, “Jesus já te venceu; e em mim, por sua graça, ele novamente te vencerá. Portanto, tenho bom ânimo e canto ao meu Senhor vencedor”.