domingo, 17 de novembro
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O centro do ministério de mulheres deve ser a palavra de Deus

Quais imagens as palavras “ministério de mulheres” trazem à mente? Viemos de diferentes contextos, todas nós. Algumas imaginarão um pequeno círculo de mulheres vestidas de jeans, reunidas ao redor da mesa da cozinha de uma amiga, ou talvez sentadas em cadeiras dobráveis em uma sala de reunião da igreja. Outras se recordarão de conversas particulares importantes em uma cafeteria do bairro. Outras pensarão em visitas regulares de uma mulher mais jovem a uma mais idosa que está muito frágil para sair de seu pequeno apartamento repleto de fotos antigas. Outras serão levadas de volta aos tempos de crise, com algumas poucas mulheres reunidas na sala de uma amiga, com orações e o fluir das lágrimas. Outras se lembrarão de momentos adoráveis de chás com flores sobre toalhas de mesa e de mulheres perfumadas vestidas com cores que combinam com as flores. Para outras, o cenário pode ser de uma cozinha de igreja, onde mulheres com rostos corados e focados usam luvas térmicas para manejar as panelas fumegantes. Outras talvez imaginem salas de aula, com mulheres se inclinando sobre crianças tagarelas em pequenas cadeiras em torno de mesas baixas, ou então auditórios cheios de mulheres atentas ouvindo uma mulher de pé atrás de um púlpito. E outras terão conjuntos de imagens completamente diferentes – esses são apenas alguns exemplos do meu conjunto!

Como podemos reunir todas as nossas variadas imagens em um único álbum que possamos legitimamente nomear de “ministério de mulheres”? Nunca haveria páginas suficientes – ou gigabytes. E isso é uma coisa boa. Este livro aborda o ministério de mulheres não simplesmente como programas específicos de ministério, mas também como um fluxo contínuo de ministério acontecendo de diversas formas entre as mulheres em congregações de igrejas locais. Nossa pergunta: Como podemos incentivar esse fluxo para que seja forte e cheio de vida – e como podemos começar a falar sobre esse fluxo de alguma forma coerente? Como? Somente por meio de um foco central na Palavra de Deus.

Todas as nossas diversificadas ilustrações se unificarão se enxergarmos cada um desses cenários como um lugar em que a obra da Palavra está acontecendo. Poderíamos imaginar cada uma dessas imagens de mulheres (e muitas outras) sobrepostas em uma página em que o fundo está repleto de versículos bíblicos? O ministério de mulheres deve ser, antes de tudo, fundamentado na Palavra. Não devemos começar com as necessidades das mulheres – embora devamos chegar a essas necessidades. Como no caso de qualquer ministério da igreja, no ministério de mulheres devemos começar com a Palavra de Deus no cerne de tudo o que fizermos. Para falar sobre as Escrituras como tendo o papel central, começarei com Isaías 55 e retornarei frequentemente a esse capítulo, pois ele nos diz por que precisamos da Palavra de Deus. Esta não será uma exposição completa, mas, à medida que nos movermos pelos versículos de Isaías 55, o meu objetivo será deixar que as suas palavras poderosas nos apontem para as verdades básicas sobre a Palavra de Deus que devem moldar nossas vidas e ministérios como seguidoras de Jesus Cristo.

A palavra de Deus é Deus falando

Vamos começar pelo meio do capítulo. Penso que não existam versículos mais bonitos do que Isaías 55.10-11 para nos ajudar a compreender a verdade básica de que a Bíblia é Deus falando a nós. Pode parecer difícil acreditar quando pensamos sobre isto: aqui estamos nós, em Isaías, ouvindo um profeta que trouxe a Palavra de Deus ao seu povo há mais de setecentos anos antes de Cristo, em um reino dividido que estava em declínio e se dirigindo para o desastre. Essas palavras foram escritas há milhares de anos por um profeta que há muito já se foi. E, ainda assim, nós, crentes, confiamos nossas vidas nessas palavras e em outras como essas, colocando a nossa esperança na nítida mensagem central do livro de Isaías: o Senhor salva o seu povo. Como podemos então confiar nessas palavras antigas? Aqui está a Palavra de Deus acerca da palavra de Deus:

Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. (Isaías 55.10-11)

A primeira verdade a se afirmar sobre a Bíblia é que ela é Deus falando. Não é apenas um livro sobre Deus. Qual é a imagem que Isaías usa para a Palavra de Deus? É a imagem da chuva e da neve descendo do céu, dando vida à Terra e fazendo as coisas crescerem. É a imagem de uma dádiva celestial – uma dádiva que vem, notavelmente, da boca de Deus.

A imagem de Isaías corrige uma série de equívocos. Tantas vozes atualmente nos dizem que, a fim de chegar à verdade, precisamos olhar para dentro de nós mesmos, ou, pelo menos, temos que começar por ali. Mas essa imagem nos mostra algo que se origina fora de nós mesmos – como precipitação do céu, algo que precisamos desesperadamente, mas não temos em nós mesmos – de forma que não somos chamados a olhar para o nosso interior a fim de recebê-lo, mas a olhar para fora, olhar para cima e estender as nossas mãos.

Muitas que estão lendo este livro podem estar percebendo uma tendência geral crescente nos dias de hoje de nos focarmos em nossa própria experiência pessoal ao pensarmos e ao falarmos – e até mesmo ao estudarmos a Bíblia. Essa tendência, é claro, é tão antiga quanto Eva, que foi atraída pelo sabor tentador daquele fruto em sua boca, pelo encanto daquele fruto bem diante de seus olhos e pelo fascínio de que aquele fruto a tornaria sábia (veja Gênesis 3.6). Eva foi atraída pela Serpente para o mal, por meio do foco em suas próprias sensações, desejos e autopercepção – em oposição ao foco na palavra clara que Deus havia falado.

Certos tipos de frases pairam regularmente sobre as mulheres, em especial nos dias de hoje, chamando as mulheres a prestarem atenção em quem elas são, a libertarem seu potencial dado por Deus, a ouvirem seus anseios por significância, a abraçarem suas dúvidas, a sonharem os sonhos em seus corações e assim por diante. Tais jornadas interiores podem ser boas e necessárias algumas vezes. Talvez seja importante dizer que tal ênfase possa representar uma reação reprimida à ênfase exagerada das gerações mais antigas quanto ao decoro externo em oposição à transparência e transformação internas.

O apelo para não negligenciarmos nossa experiência interior é válido, mas tudo gira em torno da questão de qual voz está nos orientando, seja a nossa própria, ou as vozes ao nosso redor, ou a voz de Deus, que nos foi dada em sua Palavra. Em nossa sede por um sentido pessoal profundo, podemos esquecer o quão profundamente pessoal são as  Escrituras.

Às vezes, as vozes ao nosso redor falam sobre a Bíblia como se fosse um texto de fórmulas teológicas que precisamos aprender, como para um teste na escola. E assim, podemos passar a enxergar as Escrituras como algo seco e acadêmico – e na verdade preferimos fazer algo caloroso e pessoal.

Esta é uma luta perene nos círculos de estudo bíblico das mulheres. Dois tipos distintos de ideias parecem se desenvolver: Devemos ser calorosas, acolhedoras e pessoais, ou seremos acadêmicas e estudaremos o texto? Que infeliz distinção! Aqui está a pergunta: O que poderia ser mais pessoal do que sentir o próprio sopro de Deus – realmente ouvi-lo falar? De acordo com 2 Timóteo 3.16, toda a Escritura é inspirada, ou expirada, por Deus. Isaías, ao entregar a palavra de Deus, proclamou essa mesma verdade sobre a própria palavra que ele estava entregando: ela sai da boca de Deus (55.11). De fato, todas as palavras reunidas dos textos canônicos são o próprio sopro da boca de Deus – sopradas pelo seu Espírito por meio das mentes e imaginação dos autores que as escreveram, que “falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.21). Isso é o mais pessoal que se pode ser: o próprio sopro de Deus, vindo da boca de Deus, recebido pelo povo de Deus. No Antigo Testamento, o mesmo termo hebraico é traduzido tanto por “sopro” quanto por “espírito”. A palavra de Deus é viva com seu sopro, seu próprio Espírito.

Amo o jeito como o respeitado teólogo John Frame coloca isso no início de sua conceituada obra teológica chamada A Doutrina da Palavra de Deus. Para entender como funciona a Bíblia, de acordo com o Dr. Frame, você deve imaginar Deus ao pé de sua cama durante a noite conversando com você.1 Imagine o Deus do universo falando diretamente com você. É pessoal assim.

Nosso Deus é um Deus que fala. Como Deus criou o mundo? Falando. Ele disse: “Haja luz” (Gênesis 1:3), e houve luz, não depois, mas no momento em que as palavras foram proferidas. A Palavra de Deus deu forma à Terra; sua palavra sustenta tudo – inclusive nós. Você e eu fomos feitas para receber o fôlego de Deus, por meio da sua Palavra, e, assim, viver em um relacionamento com ele. Esse relacionamento foi quebrado na queda – quando o pecado entrou no mundo e nos separou de nosso santo Deus criador. Mas ele restaura esse relacionamento dando-nos a sua Palavra, em última instância, o seu Verbo feito carne; veremos Isaías 55 nos levando em direção a essa restauração encontrada somente em Jesus Cristo.

Por que Isaías usa todas essas imagens como chuva, neve, sementes e pão? Isso não é teologia abstrata, não é? Essa Palavra viva é tão real quanto o pão que desfrutamos no café da manhã, por meio do qual nossos corpos recebem energia. Isso é verdade pessoal – tão pessoal quanto sentir a respiração de alguém em seu rosto, ou olhar para um monte de flocos de neve vindo das nuvens, ou assistir à chuva cair sobre as flores murchas e vê-las se endireitando e se esticando em direção ao céu. Essas vívidas imagens transmitem a maravilha da forma como Deus nos fala do céu, enviando sua própria palavra fora de nós, para nos dar a vida que não temos dentro de nós mesmos.

Se a Bíblia realmente é Deus falando, então cada um de nós, seres humanos, precisamos, mais do que qualquer outra coisa no mundo, olhar para cima e receber essa Palavra todos os dias de nossas vidas. Essa é a nossa resposta lógica e a necessidade mais básica que temos tanto como indivíduos quanto como povo de Deus. Precisamos nos colocar debaixo da pregação e do ensino da Palavra, como a terra seca está debaixo dos céus e espera a chuva cair. É maravilhoso olhar para uma congregação ouvindo atentamente um sermão e perceber a irrigação vivificante que acontece na medida em que a Palavra é pregada, e as almas das pessoas começam a se endireitar e se a esticar em direção ao céu. O ideal é que esse processo de irrigação aconteça em cada parte da vida da igreja: em pequenos grupos, classes, conversas e aconselhamentos individuais – no coração de todos os diversos ministérios de uma congregação de pessoas que reconhecem a Bíblia como a Palavra de Deus vinda da boca de Deus. Essa é uma verdade urgente, que a Palavra de Deus é Deus falando. Essa verdade deve moldar as vidas e os ministérios do povo de Deus.

 

Este artigo é um trecho do livro Ministério de Mulheres, lançamento de Março/2016 da Editora Fiel.


Autor: Kathleen Nielson

Kathleen Nielson serve como diretora de Assuntos Femininos do ministério The Gospel Coalition. Ela é uma conferencista conhecida, autora e coautora de vários livros, incluindo Here is Our God.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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