Fragilidade: O Problema Primário Com A Deificação Do Eu
Quando nos deificamos, exigimos que a realidade se adapte aos nossos próprios desejos, ao invés do contrário (nos conformarmos à realidade). E quer saibamos ou não, essa autodeificação exige que nos adoremos, que nos sustentemos, que nos convençamos de que somos suficientes e dignas de sermos seguidas.
Quando nos tornamos nossa própria fonte de significado, também nos tornamos nossa única fonte de satisfação e de realização. Nós nos colocamos em um ciclo de definição de nós mesmas e de adoração a nós mesmas.
Para manter essa cosmovisão, devemos nos tornar nossos próprios mestres. Ironicamente, na verdade, não nos tornamos livres. Nós temos não apenas que reunir nosso próprio significado, objetivos e sonhos, como também fornecer nossa própria energia e a capacidade de cumpri-los. Estando no trono, nós devemos ser verdadeiramente mulheres feitas por nós mesmas: devemos conjurar tudo, desde o sentido da vida até a energia e a capacidade de vivê-la.
Isso nos torna frágeis. Tudo depende de nós. Hoje temos que criar nossos mundos e fazê-los girar.
A Deficiência: Quando A Deificação Do Eu Não É Suficiente
O problema da autodeificação é que ela se limita a si mesma. Nós nos incapacitamos por não nos permitirmos olhar para algo maior – algo de fora (ou alguém de fora, como investigaremos no próximo capítulo) – para obter nosso significado e propósito. Nossa única esperança é acreditar em nós mesmas quando dizemos que somos suficientes.
E devemos nos alimentar de uma dieta constante de elogios dos outros. Como você sabe que chegou ao ponto de ser tudo o que você quer ser se você não receber elogios por suas conquistas? Uma vida tediosa não é suficiente para saber que você está no pináculo de seus sonhos. Temos que estar lá fora, recebendo os aplausos das multidões.
Mas o apetite pela aprovação é insaciável. E nunca temos a certeza de que estamos no caminho certo. Quantos likes na mídia social são suficientes para saber se você finalmente alcançou as estrelas?
Os mantras de autoestima de nossa infância acabam por soar vazios. O slogan “Eu posso fazer acontecer” repetido por nossos professores, pais, cultura pop e, até mesmo, pelas leis não nos dá a vida que pensávamos que nos daria. Ironicamente, a cosmovisão que supostamente nos dá a vida nos suga.
Se você e eu não podemos ser quem nos propusemos a ser, então nós nos perdemos. Como diz o pastor e autor Timothy Keller: “O eu moderno é esmagador”.14 Seguir nossos corações não funciona quando nossos corações também devem dizer para onde estamos indo e como chegar lá. Somos como um cão perseguindo seu próprio rabo. Não há começo. Não há fonte externa para a energia e a alegria necessárias, e direção para onde estamos tentando seguir.
E assim acabamos perseguindo freneticamente o nosso “rabo” até ficarmos exaustas. À medida que traçamos o mapa das cosmovisões históricas, vemos que o caminho que nos levou a fazer o eu triunfar acima de tudo também nos levou à nossa própria destruição.
Estamos nos destruindo ao tentar seguir a nós mesmas.
Desde a segunda metade do século vinte, pressupusemos que temos autoridade para nos criar e viver nossa própria realidade. Mas essa visão é fatalmente falsa. É o que está afligindo a minha e a sua geração.
Artigo adaptado do livro Que Eu Diminua, de Jen Oshman. Publicado pela Editora Fiel.