quarta-feira, 1 de maio

O que é um bom sermão?

Enquanto redescobre a igreja, você pode encontrar uma variedade de estilos e durações de sermões. Você não encontrará na Bíblia nenhuma fórmula clara. Toda a Bíblia é inspirada por Deus, mas você ainda consegue perceber as personalidades dos diferentes autores. Paulo não soa como Pedro, que não soa como João. Você pode preferir seus sermões com fervor emocional. Pode preferi-los com referências abundantes ao hebraico e ao grego. Uma delas ou ambas as abordagens, no mesmo sermão, podem ser usadas por Deus para nos mover em direção ao amor e à obediência.

Você também pode ouvir pregadores debatendo se os sermões devem ser tópicos ou expositivos. Algumas situações podem justificar sermões tópicos sobre uma eleição próxima, uma pandemia global ou uma injustiça racial, para citar apenas três tópicos de interesse recente. Mas muitas mensagens em tópicos correm o risco de corroer a autoridade dos pregadores ao tentá-los a contorcer o significado da Bíblia para afirmar seus pontos de vista. É melhor, acreditamos, fazer dos sermões expositivos a dieta constante da igreja, a qual expõem o texto ao tornar o ponto da passagem bíblica o ponto da mensagem. Como muitos pregadores já disseram, Paulo não ordena apenas que os pregadores preguem, mas que preguem a Palavra.

A pregação que se move sequencialmente semana após semana ao longo de versículos e capítulos da Bíblia também permite que Deus, e não o pregador, defina a agenda. Lembre-se de que o pregador é um carteiro que entrega a correspondência. “Esta semana, vamos aprender tudo o que Deus tem para nós em Romanos 1; na próxima semana, em Romanos 2; e, na semana seguinte, em Romanos 3”. Quando ouvimos a Bíblia dessa forma, descobrimos que a agenda de Deus não se alinha perfeitamente à nossa. Por exemplo, podem existir tópicos em Romanos que um pregador não tem vontade de pregar. Mas lá está o envelope, uma carta de Deus, pedindo para ser aberta.

Afinal, qual agenda realmente queremos: a nossa ou a de Deus? Seus caminhos são mais elevados e melhores (Is 55.9). Devemos receber nossos direcionamentos dele, e não do mundo. Algo especial acontece quando você ouve o Espírito falar por meio da Palavra de Deus nas ocasiões em que, aparentemente, o pregador está apenas retomando de onde parou na semana anterior.

Quando redescobrir a igreja, você provavelmente também irá se deparar com o debate entre sermões gravados e sermões ao vivo e presenciais. Anos atrás, conversei com um pregador especialmente talentoso. Em outra vida, ele teria sido um comediante de stand-up de sucesso. Na verdade, ele estudou comediantes para aprender como interagir com o público enquanto pregava. Ele também entendia os conceitos bíblicos e teológicos com profundidade e podia explicá-los com criatividade para audiências céticas. Sua igreja havia se expandido para vários locais na região e até mesmo no país, transmitindo seus sermões gravados, em vez de apresentar pregadores locais pessoalmente. Nunca esquecerei seu raciocínio. Ele disse que não fazia sentido dar às pessoas um pregador classe B quando elas poderiam ter um pregador classe A como ele. Se seu objetivo era acumular muitos seguidores, eu não poderia discutir com ele.

No entanto, refletindo posteriormente, percebi que seu argumento funcionava até demais. No cenário que sugeriu, ele não estava competindo apenas com seus pastores auxiliares e estagiários. Ele estava competindo contra qualquer outro pregador, vivo ou morto. Por que não reproduzir gravações de um pregador classe A+, como Billy Graham? E se as igrejas contratassem um ator para interpretar os melhores sermões de Charles Spurgeon? Talvez pudéssemos compor uma chave de torneio do tipo usado para eliminatórias de jogos universitários e pedir aos cristãos que votassem, a cada rodada, em seu pregador favorito até que definíssemos um orador supremo. Então ninguém estaria sujeito a um pregador classe B (ou pior) nunca mais. Teríamos apenas o melhor — se isso é o que Deus considera o melhor para nós.

Mas não é. O melhor pregador para você é aquele que é fiel à Palavra de Deus. Melhor ainda se ele estiver disposto a encontrá-lo para um café ou visitá-lo no hospital. Há uma razão por que não somente lemos as Escrituras juntos em cada culto de adoração. A pregação exerce a autoridade da Palavra de Deus, por meio da personalidade mediadora e da experiência de quem ensina, em um contexto contemporâneo com demandas locais e pessoais particulares. O homem que acabei de mencionar pode, na verdade, ser um pregador melhor do que o seu, mas seu pregador conhece melhor sua igreja. E isso conta muito quando se trata de aplicar a Bíblia a você e à sua congregação.

Certamente, os pastores não podem saber todos os detalhes íntimos de cada pessoa em sua audiência. Mas há um motivo por que tiveram dificuldades para pregar para uma câmera durante os isolamentos da COVID-19. Eles oram para sentir o movimento do Espírito em nossas reações à sua pregação em tempo real. Quando eles nos veem face a face, o Espírito traz às suas mentes consolo para nossos infortúnios. Há muitas razões para uma igreja não diminuir as luzes sobre a congregação durante os cultos de adoração, como se fosse um concerto ou cinema. E esta é uma delas: para que os pastores possam responder com sensibilidade ao impulso do Espírito no ato da pregação.

Artigo adaptado do livro Igreja É Essencial, de Collin Hansen e Jonathan Leeman, publicado pela Editora Fiel.


Autor: Collin Hansen

Editor associado da revista Christianity Today, Collin Hansen atua como diretor editorial do The Gospel Coalition e é autor de “Young, Restless, Reformed: A Journalist’s Journey with the New Calvinists” é co-autor com John Woodbridge de “A God-Sized Vision: Revival Stories That Stretch and Stir”.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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