sexta-feira, 27 de dezembro
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Prioridades pastorais

Um dos maiores desafios que enfrento em minha vida pastoral é manter um equilíbrio adequado em minhas prioridades. Todo pastor precisa desempenhar vários papéis, a fim de permanecer fiel à sua chamada. Ele tem de ser um estudante da Palavra de Deus e um homem de oração; ele tem de liderar sua igreja, trabalhar muito para pregar e ensinar a Palavra, de modo que suas ovelhas estejam continuamente sendo transformadas por ela na imagem de Cristo. O pastor tem de realizar a obra de evangelista e dedicar-se à obra de lidar individualmente com os membros da igreja. Tudo isso e muito mais está incluído na obra de servir a Cristo como um pastor de almas.

Todo pastor é mais do que um pastor. Ele é primeiramente (e antes de tudo) um discípulo. Ele também é um esposo e, provavelmente, um pai. Além disso, o pastor pode assumir outros deveres relacionados ao seu ministério. De que maneira todos esses importantes papéis podem ser cumpridos, sem que o melhor do pastor seja sacrificado no altar daquilo que é bom? Mesmo nas melhores circunstâncias, esse é um desafio que nos causa temor.

Uma das perguntas que sempre faço aos meus aconselhados é esta: “Em ordem de prioridades, para o que Deus chamou você?” Essa é uma pergunta esclarecedora, porque força a pessoa a avaliar sua vida com base naquilo que é mais importante. Ocasionalmente, faço essa pergunta a mim mesmo e descubro que ela me ajuda a lutar por equilíbrio em minha vida.

Um Crente

Para o que Deus me chamou? Primeiramente, Ele me chamou para ser um sincero e dedicado seguidor de Cristo. Isso é tão elementar, que facilmente podemos esquecê-lo. O profissionalismo é um dos grandes perigos do ministério. Um pastor pode se tornar competente na realização do seu trabalho. Assim como todas as demais profissões, certas habilidades podem ser desenvolvidas e aprimoradas no ministério do evangelho. Ele pode se tornar tão proficiente em seu ministério público, que os outros o considerarão bem-sucedido.

Mas, quando a mentalidade do “profissionalismo” conquista um pastor, seu coração inevitavelmente começará a ser negligenciado. E o coração é a primeira ferramenta de todo pastor. Se você não está amando a Deus com todo o seu coração, porque tem negligenciado as responsabilidades básicas do discipulado, não importa o quanto você pode se tornar bem-sucedido profissionalmente. Na realidade, isso é uma vergonha.

Spurgeon nos fala sobre um pastor que “pregava tão bem e vivia tão mal, que, ao subir ele ao púlpito, todos diziam que ele nunca deveria sair dali; e, quando ele saía do púlpito, todos declaravam que tal pastor nunca mais deveria retornar ao púlpito”. Essa divisão da vida em áreas distintas pode ser aceitável em outras profissões; no entanto, dificilmente ela pode ser harmonizada com o cristianismo vital e, menos ainda, com a fidelidade no ministério pastoral.

Muitos homens bons têm tropeçado nesse primeiro nível da vida pastoral. Portanto, guarde o seu próprio coração. Leia a Palavra de Deus, antes e acima de tudo, como um crente. Um pastor precisa das mesmas coisas que ele declara que os outros necessitam. Ele deve seguir a sabedoria de Robert Murray M’Cheyne, o qual afirmou: “Deus abençoa muito mais a semelhança com Jesus do que os grandes talentos. Um pastor que vive em santidade é uma arma poderosa nas mãos de Deus”.

O apóstolo Paulo advertiu aos presbíteros de Éfeso: “Atendei por vós”. Quando ele repetiu essa advertência a Timóteo, acrescentou que fazer isso é um ingrediente essencial para salvar “tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16). Os pastores têm de transformar em um assunto de prioridade e disciplina o ler, o meditar e o memorizar as Escrituras. Eles precisam também orar pela obra do Espírito Santo em suas próprias vidas. Qualquer outro procedimento pastoral, que corresponda a menos do que isso, será uma prática espiritual incorreta.

Um Esposo

Depois de ser um crente, Deus me chamou para ser um esposo. Assim como muitos outros pastores, desfruto da bênção de ter uma esposa crente e leal. Minha esposa, Donna, e eu entendemos com muita seriedade nossos votos de casamento; isso significa que eu tenho de colocá-la e preservá-la acima de todas as demais pessoas. Depois do Senhor Jesus, ela é a minha maior prioridade.

Ser um esposo é uma responsabilidade extraordinária. Jesus Cristo, em seu relacionamento com a igreja, tem de ser nosso modelo. Ser o cabeça de um lar é um grande desafio. Uma esposa piedosa tanto deseja quanto necessita da liderança piedosa de seu esposo. A chamada para ser um bom esposo inclui providenciar tal liderança. Cristo chama um homem para lutar contra os erros mortais da passividade autoprotetora e do autoritarismo autopreservador na maneira como ele se relaciona com sua esposa.

A esposa do pastor pode ter o papel mais difícil a desempenhar em toda a igreja. Ela vê todos os erros e falhas de seu marido e, apesar disso, a cada semana, ela tem de receber, por intermédio dele, instrução da parte de Deus. A esposa do pastor vive em uma vitrine. Expectativas irreais dos crentes podem freqüentemente trazer estresse à vida da esposa do pastor. Comentários irrefletidos, que podem ou não ter o propósito de magoar, podem ferir profundamente a esposa do pastor. Se, além dessas e de outras pressões, ela sentir que seu esposo está negligenciando-a, o fardo pode se tornar muito pesado para ser suportado. O pastor, na função de esposo, tem a responsabilidade e o privilégio de assegurar à sua esposa que ela é mais importante do que qualquer outro dos seus relacionamentos ou das suas responsabilidades. O pastor é chamado para fortalecer, estimular e ajudar sua esposa a cumprir sua vocação como uma mulher de Deus.

Minha esposa, Donna, precisa saber que ela é mais importante do que meu ministério como pastor. Quando esta mensagem é clara e regularmente transmitida, aqueles períodos inevitáveis de elevadas exigências da parte da igreja são mais facilmente atravessados.

Um Pai

Em terceiro lugar, Deus nos chamou para ser pais. Donna e eu temos seis filhos. Portanto, adquiri muita experiência na prática da paternidade. Se as esposas dos pastores estão constantemente sendo observadas, muito mais os filhos deles se tornam passíveis de críticas. Com freqüência, eles são sacrificados “por amor ao ministério”. Quando eu era um jovem pastor, lembro-me de estar sentado em meu escritório, enquanto ouvia um pastor aposentado cujo ministério bem-sucedido era aclamado por todos. Ele me falou sobre muitas coisas maravilhosas que havia experimentado nas igrejas em que servira ao Senhor. Finalmente, ele acrescentou: “Eu paguei um preço elevado por meu ministério. Meus filhos não aprenderam o que deveriam ter aprendido de seu pai, e hoje eles abandonaram o Senhor e a igreja”.

Enquanto ele chorava, eu pensava em suas palavras. Naquela época, meu único filho era simplesmente uma criança que estava aprendendo a andar. A atração de necessidades que nunca se acabam e de oportunidades para ministrar estava me tentando a negligenciar minha família por amor ao “meu ministério”. Deus, porém, me fez lembrar que, em termos de prioridade, Ele me chama para ser um pai, antes de me chamar para ser um pastor. Meus filhos precisam saber que, juntamente com minha esposa, eles são as pessoas mais importantes de minha vida. Minha igreja também precisa saber disso.

Um pastor pode negligenciar seus filhos facilmente, ainda que sem intenção e motivado por um conceito errôneo de que ele tem de estar sempre pronto para ministrar a outras pessoas. Mesmo nos melhores momentos, haverá algumas separações na vida familiar de um pastor. A sua chamada envolve as 24 horas diárias. Se acontecer a morte ou um acidente trágico com um dos membros da igreja, antes do pastor sair para levar seu filho a uma pescaria, seus planos têm de ser necessariamente mudados. Ele deve estar pronto para esperar tais exigências.

Por causa disso, todo pastor sempre enfrentará duas tentações. A primeira tentação é a de esperar que seus filhos simplesmente entendam as mudanças dos planos, da mesma maneira como seu pai a entende. Um pastor sabe que, às vezes, é necessário interromper certos planos, a fim de ministrar o evangelho a pessoas entristecidas. No entanto, dependendo da idade, tudo o que seu filho pode saber é que ele não precisava deixar de pescar, porque outra pessoa necessitava e recebeu o tempo e a atenção de seu pai. Quando surgirem tais ocasiões, o pastor precisa conversar com seu filho, mostrando-lhe simpatia e procurando compensá-lo de maneira intencional e razoável.

A outra tentação é a de tornar-se tão dominado pelo sentimento de culpa, por ter mudado seus planos, que o pastor chega a permitir que seu filho o manipule, levando a ações e decisões que, de outro modo, ele não seguiria propositadamente. Exercer a paternidade motivado por sentimento de culpa se tornou muito comum em nossa cultura, e infelizmente os pastores não estão imunes a isso. Os pastores têm de separar, em sua agenda, tempo para os filhos e cumpri-lo rigorosamente. Quando os planos que afetam nossos filhos tiverem de ser mudados, por causa de emergências do pastorado, precisamos ser diligentes em compensá-los.

Um Pastor

Deus me chamou também para ser um pastor. Esta é a minha chamada vocacional e ocupa a maior parte do meu tempo. Constantemente, eu me admiro do fato de que Deus me deu o privilégio de servi-Lo desta maneira. O ministério pastoral é a chamada vocacional mais sublime do mundo. Minhas responsabilidades pastorais têm precedência sobre quaisquer atividades que envolvam recreação ou não façam parte do ministério. Tudo o que está envolvido no pastorear o rebanho de Deus (e a Bíblia o descreve de maneira bastante compreensiva) constitui o meu dever. Neste ministério, a minha tarefa mais importante é trabalhar fielmente na pregação da Palavra e na oração. Todavia, essas duas atividades não devem ser realizadas simplesmente em um nível de profissionalismo. Pelo contrário, elas devem ser praticadas em meio à minha busca por santidade.

Existe uma solidão inevitável que acompanha o pastorado. A maior parte do trabalho no ministério pastoral pode ser feita somente quando um homem está sozinho com seu Deus. Sem esse tempo de intimidade com Deus, o tempo gasto com as pessoas não terá muito valor. Em nossos dias, existem milhares de “recursos” disponíveis aos pastores, para capacitá-los a deixar de lado a árdua tarefa de estudar as Escrituras e orar. Sermões “poderosos” e programas “garantidos” são constantemente oferecidos aos pastores com intrépida fanfarrice. Um homem com um pouco de esperteza, com pouca integridade e muitos recursos financeiros pode se manter bem suprido com uma fonte inesgotável de tais recursos. Mas ele nega a sua chamada por viver à custa do trabalho de outros, ao invés de fazer a obra de seu próprio ministério.

Um Auxiliador

Além dessas quatro chamadas, em minha vida, também estou envolvido em ajudar com outros esforços proveitosos. Meu trabalho no Foun-ders Ministries(editando a revista Founders Journal, publicando livros, etc.) e meu envolvimento na associação de pastores de minha cidade são importantes. Mas, em termos de prioridade, todas essas coisas ficam em um nível inferior às quatro coisas que já mencionei. Guardando isso em meu coração, posso poupar-me de muitas dores e confusão.

Mantendo o Equilíbrio

Como essas prioridades funcionam? Bem, aqueles que nos conhecem sabem que não praticamos sempre aquilo que escrevemos. Embora meu desejo e intenção sejam nunca me desviar dessas prioridades, muitas vezes já tive de corrigir minhas atitudes no transcorrer dos anos. Entretanto, esse é o valor de ter as prioridades definidas com clareza. Elas nos fornecem um mapa confiável para fazermos os devidos ajustes. Cada prioridade se fundamenta sobre a que a precede.

Quero ser fiel em meu trabalho no Founders Ministries. Mas eu não o poderei ser, se realizar aquele ministério à custa de minhas responsabilidades pastorais na Igreja Batista da Graça. Além disso, eu posso ser um pastor fiel sem estar envolvido em outros ministérios. No entanto, não posso ser um ministro fiel, se negligenciar as prioridades de minha esposa e meus filhos. Na verdade, de acordo com 1 Timóteo 3.4-5, estou desqualificado para o ministério, se tal negligência qualificar minha vida. Também não poderei ser um pai fiel, se falho em relação à minha esposa. Pelo contrário, uma das melhores coisas que posso fazer por meus filhos é amar a mãe deles. E não posso ser um esposo fiel, se negligenciar meu relacionamento com Cristo.

Todas as prioridades de minha vida podem funcionar com importância apropriada, à medida que eu me mantenho no lugar certo. Mas, quando uma prioridade inferior toma o lugar de uma mais importante, estou me predispondo a uma queda. É espiritualmente desastroso colocar a minha esposa acima do Senhor; ou meus filhos acima de minha esposa; ou meus deveres pastorais acima de qualquer dos outros três. Não é menosprezívelpara a igreja que, em minhas prioridades, o lugar dela vem depois de minha dedicação a Cristo e à minha família. Pelo contrário, a igreja recebe mais do que ela necessita de mim, quando eu ministro motivado por um compromisso consciente com essas prioridades.

Recordando freqüentemente essas prioridades de minha vida, serei mais capaz de estabelecer e manter um equilíbrio em minhas obrigações. Talvez a atitude de disciplina que facilita este equilíbrio é aprender a dizer não. Spurgeon declarou que, para um pastor, aprender a dizer não é muito mais importante do que aprender o latim! Não importa quantas coisas o pastor tente fazer, sempre haverá mais a ser feito. Algumas coisas boas que tentam exigir a atenção do pastor têm de ser deixadas sem fazer, de modo que ele possa fazer aquilo que é melhor e mais excelente. Quando o pastor tem de fazer estas escolhas difíceis, deve fazê-lo baseado nas prioridades do seu chamado. Então, ele pode descansar seu coração sabendo que agiu com fé, fundamentado nas exigências que Deus tem feito para a sua vida.


Autor: Thomas K. Ascol

Thomas K. Ascol é pastor da Grace Baptist Church em Cape Coral, na Flórida, EUA. Obteve seus graus de mestrado (M.Div) e doutorado (P.hD) pelo Seminário Teológico Batista Sowthwestern. É o diretor executivo do ministério Founders e editor-chefe do Founders Journal. É autor de diversos artigos e livros e preletor em conferências e seminários teológicos. Tom Ascol é casado com Donna e o casal tem 6 filhos.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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