O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Equilíbrio social na era digital, de Sarah Eekhoff Zylstra, Editora Fiel (em breve).
Toda semana, meu marido, Adam, me deixa fora das minhas redes sociais.
Basicamente, isso acontece com o Facebook. Tenho uma conta no Instagram, que nunca uso, e uma conta no Twitter, na qual, vez ou outra, compartilho histórias que escrevo para a Coalizão pelo Evangelho (TGC). Mas é o Facebook que realmente atrai a minha atenção.
O fato é que amo ver as atualizações de minha família e dos amigos saindo de férias, anunciando uma gravidez ou contando que mudaram de emprego. Com sinceridade, amo essas pessoas e amo saber o que estão fazendo. E realmente quero me alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm 12.15). Quero encorajar meus amigos e ser encorajada por eles — quero viver na comunidade das redes sociais, cuja existência Deus permitiu por meio de suas boas dádivas.
Contudo, pouco tempo atrás — para ser sincera, anos atrás —, comecei a perceber como eu me sentia horrível depois de olhar as redes sociais. Eu me sentia ansiosa, descontente e impaciente — mesmo sem ter lido notícias de partidos políticos e sem (conscientemente) invejar as férias das outras pessoas.
Mesmo entrando no Facebook com cuidado — sabedora de todos os perigos da inveja, do desperdício de tempo e do orgulho —, ainda assim eu saía me sentindo arrasada e culpada acerca dos projetos de reforma da casa que eu não estava fazendo, pelas viagens que eu não estava tendo e pelas experiências que eu não estava proporcionando aos meus filhos. Então, eu me sentia mal por não postar o bastante, ou por postar demais, ou por postar as coisas erradas. Algumas vezes, isso me levava a brigar injustamente com a minha família e, então, eu me sentia culpada.
Adam parecia não ter esse problema — ele acha as redes sociais entediantes —, de modo que eu pensava que o problema era só comigo. Mas o que eu não sabia era o seguinte: pesquisas mostram que as mulheres usam as redes sociais para construir relacionamentos, enquanto os homens as usam de forma mais transacional, como, por exemplo, para encontrar informações ou interagir profissionalmente com novos contatos[1]. É possível, literalmente, aferir as diferentes perspectivas:
- Mulheres usam mais as redes sociais do que homens, e tendem a entrar nelas várias vezes ao longo do dia[2].
- Quando estão on-line, as mulheres são mais acolhedoras que os homens. Elas tendem a usar mais emojis sorrindo e abraçando, mais abreviações, pontos de exclamação (!!!) e OMGs e LOLs[3]. (Homens escrevem apenas “ok”.)[4]
- As mulheres também empregam mais uma linguagem hesitante (“hummm”), pronomes pessoais (“eu” e “vc”) e escrita informal (“O queeeê!?” ou “Que boooom!”).
- As mulheres produzem mensagens mais curtas e as postam duas vezes mais que os homens.[5] Elas tendem a escrever sobre assuntos pessoais (gratidão, diversão com a família, aniversários, pedidos de ajuda ou oração), enquanto os homens preferem temas mais abstratos (política, reflexões, cristianismo, esportes).[6]
- No geral, as mulheres recebem mais comentários que os homens.[7]
- Mulheres postam mais selfies e fotos nas quais olham diretamente para a câmera.[8]8 Homens tendem a postar fotos de corpo inteiro ou que incluam outras pessoas.
- Mesmo quando segue uma marca específica[9], as mulheres são mais propensas a se relacionar — dando feedback ou entrando em sorteios — do que os homens.[10]
Nesse contexto, parece que ser mulher on-line deve ser realmente algo caloroso e aconchegante, não é mesmo? Mas não é assim que funciona, pois há uma desconexão entre a maneira como escrevemos nossas postagens e a maneira como lemos as postagens de outras pessoas.
O caso é o seguinte: minhas postagens são sempre animadas: “Escrevi um livro! E meu filho tirou nota máxima no vestibular!! E nas férias fizemos um cruzeiro!!!”
Ao compartilhar essas coisas, eu estava no ápice da adrenalina da realização. Queria que alguém se empolgasse junto comigo, queria compartilhar minha alegria com aqueles que me amam (e que amam meu filho). Queria criar uma conexão — queria que meus amigos soubessem o que tinha acontecido comigo.
Mas provavelmente não é assim que meus amigos leem essas postagens. Eu sei disso porque não é assim que eu leio as postagens deles. Pelo amor de Deus, outro dia fiquei com inveja quando um de meus amigos comeu no Dunkin Donuts!
Essa desconexão — que acontece por causa de uma realidade virtual em que você pode escolher como deseja se mostrar — conduz ao que parece ser uma constante “inveja nas redes sociais”, sentimento que dois terços das mulheres têm pelo menos uma vez por mês, e um quarto, cerca de três ou mais vezes por mês.[11]11 Há uma quantidade crescente de pesquisas acadêmicas sobre a ligação entre redes sociais, inveja, ansiedade e depressão (basta procurar “inveja nas redes sociais” no Google Acadêmico para ver uma boa amostra delas).
Eu sabia que o tempo on-line não me fazia bem, então resolvi entrar menos nas redes sociais e ser mais disciplinada com o que eu via e por quanto tempo. Mas isso funcionou como colocar um alcoólatra na frente de uma garrafa de cerveja e lhe dizer para não beber. Meu domínio próprio não era páreo para o Facebook.
Assim, pedi para Adam travar meu uso das redes sociais. Ele se mostrou mais do que disposto — acho que ele mudou as senhas antes mesmo de eu terminar de lhe pedir. Nos últimos dias, ele me deixou entrar no domingo à tarde para dar uma olhada no Facebook e no Twitter, depois voltou a travar. (Se você me viu postando durante a semana é porque mandei um e-mail para ele e ele postou por mim.)
Gostaria de poder dizer que esse uso restrito e estruturado das redes sociais resolveu tudo. Mas não resolveu — e quase foi pior. Quando eu entrava, na mesma hora me sentia viciada em rolar a tela e impaciente para sair. E, quando terminava, eu me sentia tão culpada, ansiosa, descontente e impaciente quanto antes.
A esta altura, talvez você esteja fazendo a mesma pergunta que eu fiz a mim mesma milhares de vezes: Por que você simplesmente não saiu das redes sociais?
Sim, por que eu não saí? Às vezes, a resposta que eu dava a mim mesma era: “Bem, não saio porque gosto de ver as atualizações de todos”. E eu via essas atualizações, mas sejamos sinceras: uma olhada rápida em algumas postagens uma vez por semana não estava me munindo de muita informação. E eu já vivi o bastante para saber que a informação que eu estava vendo on-line era apenas uma parte da história.
Outras vezes, minha resposta era: “Não saio porque preciso das redes sociais para o meu trabalho”. E parte disso era verdade. Não porque várias pessoas encontram meu trabalho ali (afinal, meu número de seguidores é pequeno demais para eu ter algo semelhante em uma plataforma), mas, sim, porque meu trabalho envolve muita pesquisa, e poder acessar a conta de outras pessoas é algo bastante útil. Mas meu trabalho certamente não requer que eu fique rolando a tela aleatoriamente todo domingo à tarde.
Não, a verdadeira resposta era mais profunda e sombria. Eu ficava presa no Facebook porque essa era minha identidade on-line: a pessoa que eu criei com anos de fotos alegres e comentários divertidos acerca da minha vida diária. Era a versão cor-de-rosa da minha vida: minha melhor versão; a mais alegre, bondosa e interessante versão de mim. Se eu saísse do Facebook, seria apenas meu eu normal. E meu eu normal não é perfeito, nem absolutamente imperfeito. Meu eu normal é meio entediante, é uma bagunça de pecados e erros e louça suja acumulada na pia.
Buscar um tipo de salvação via Facebook… Deus me livre! Acredite, eu sabia que isso era um problema. Sabia que ali eu tinha pecados a escavar, olhar, confessar e me arrepender. (Será que você também tem?) Mas, mesmo fazendo isso, eu não sabia se meu objetivo final deveria ser sair das redes sociais. Parecia haver graça mútua em compartilhar um pouco a vida — não da mesma forma que pessoalmente, é claro, mas encontrando receitas saudáveis, recomendando bons lugares para passar as férias ou lendo belas reflexões bíblicas. As redes sociais constroem comunidades — de certa forma — e são uma praça pública que não tenho certeza de que os cristãos devem abandonar. Parecia que, de algum modo, eu devia ser capaz de usar essa plataforma para Jesus.
Você também se sente assim?
Mas como? Como podemos ser prudentes como as serpentes e símplices como as pombas nas redes sociais (Mt 10.16)? Como podemos proteger nosso tempo e nosso coração da inveja, da ira e da preguiça? Como podemos encorajar outras pessoas sem ser simplistas demais? Como podemos compartilhar sem ficar nos vangloriando? Como podemos desafiar ou corrigir outras pessoas sem ofender desnecessariamente? Como podemos ser vulneráveis sem reclamar, e alegres sem parecer falsas?
Assim como eu, talvez você tenha olhado ao redor e não tenha encontrado muitas orientações cristocêntricas para as mulheres cristãs.
Amar nossas amigas em uma comunidade real já é difícil o suficiente. Amá-las on-line — em uma comunidade virtual com algoritmos, propagandas e informações individualmente selecionadas — é bem mais traiçoeiro. “Seja gentil”, “compartilhe versículos bíblicos motivadores”, “não se orgulhe de ser humilde”: muitos desses conselhos que ouvimos são bons.12 Mas não parecem ser o bastante. As redes sociais são um monstro enorme, e nós precisamos de mais do que um “imponha um limite de tempo” — por mais útil que seja! — para nos ajudar a pensar nelas de forma cristocêntrica.
Eu queria que alguém me ajudasse a ver a graça comum de Deus no Facebook — e as limitações dessa mídia social. Queria saber se o Facebook poderia ser redimido para se tornar uma ferramenta apta a servir ou se seria melhor se eu saísse dessa rede, assim como José do Egito fugiu da tentação.
Este livro mudou a minha história, e acredito que possa mudar a sua também.
O que vamos fazer é o seguinte: primeiro, vou lhe oferecer um breve histórico das redes sociais (especialmente no que tange às mulheres), porque, para mim, já é difícil lembrar quando foi que comecei a postar. Parece que o Facebook sempre existiu… mas isso não é verdade. O Facebook nem tem idade para beber álcool e o Instagram ainda está no ensino médio.
Se história não é a sua praia, não se preocupe: logo voltaremos ao presente — mas, sinceramente, só de dar uma olhada em como essas plataformas surgiram, você já vai entender que sua luta com as redes sociais não é só porque você não tem domínio próprio.
Depois disso, temos sete capítulos e um posfácio, cada um escrito por uma mulher que ama a Deus, que é sábia e que tem uma longa experiência em redes sociais. Em cada área —identidade, emoções, discernimento, influência, relacionamentos, ritmos e a decisão entre ficar ou sair —, as autoras compartilham três aspectos:
- Pontos positivos: a graça comum encontrada na área abordada;
- Pontos negativos: os problemas mais comuns que surgem nessa área; e
- Princípios: os princípios bíblicos que podem ajudar-nos a lidar de modo eficaz com essa área.
Espero que você considere as reflexões e os conselhos dessas mulheres tão valiosos quanto eu achei. Adam ainda me deixa fora das redes sociais, já que ninguém precisa olhar sua própria conta com tanta frequência como eu costumava fazer. Ainda luto com o que devo postar, por que e em que medida. E, algumas vezes, ainda me vejo parada no tempo, rolando a tela.
Mas, agora, quando acesso as redes sociais, já consigo pensar em minha interação de uma perspectiva bíblica e com um coração que encontra sua identidade somente em Cristo. Pelo menos tenho um ponto de partida, e sei que estou caminhando na direção certa. E isso fez uma diferença gigantesca.
[1] Nicole L. Muscanell e Rosanna E. Guadagno, “Make new friends or keep the old: gender and personality differences in social networking use” Computers in Human Behavior 28, n. 1 (jan. 2012), p. 107-12.
[2] Jeff Clabaugh, “Why women check social media more than men”, WTOP News, 22 out. 2018.
Disponível em: https://wtop.com/business-finance/2018/10/why-women-check-social-me- dia-more-than-men
[3] N.T.: OMG (abreviação do inglês, Oh My God!) é uma expressão de exclamação que significa literalmente “Meu Deus!” ou “Minha nossa!”; LOL (abreviação do inglês, laughing out loud, literalmente “rindo muito alto”) significa algo como “estou morrendo de rir”.
[4] Aleksandra Atanasova, “Gender-specific behaviors on social media and what they mean for
online communications”, Social Media Today, 6 nov. 2016. Disponível em: https://www. socialmediatoday.com/social-networks/gender-specific-behaviors-social-media-and-what-they-mean-online-communications.
[5] Moira Burke, Robert Kraut e Yi-Chia Wang, “Gender, topic, and audience response: an analysis of user-generated content on Facebook”, Meta Research, 27 abr. 2013. Disponível em: https:// research.facebook.com/publications/gender-topic-and-audience-response-an-analysis-of-user-generated-content-on-facebook/.
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] “Selfieexploratory”, SelfieCity. Disponível em: http://selfiecity.net/selfiexploratory. Acesso em: 13 jan. 2022.
[9] Nina Haferkamp, Sabrina C. Eimler, Anna-Margarita Papadakis e Jana Vanessa Kruck, “Men are from Mars, women are from Venus? Examining gender differences in self-presentation on social networking sites”, Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking 15, n. 2 (fev. 2012).
[10] “Women are driving the social media revolution”, ConnectAmericas. Disponível em: https://
connectamericas.com/content/women-are-driving-social-media-revolution. Acesso em: 13 jan. 2022.
[11] Alexandra Samuel, “Jealous of your Facebook friends? You’re not alone”, Experience, 13 mar. 2019. Disponível em: https://expmag.com/2019/03/jealous-of-your-facebookfriends-you-re-not-alone.
12 Tim Arndt, “15 things christians should stop doing on social media”, Relevant Magazine, 5 nov. 2021. Disponível em: https://www.relevantmagazine.com/culture/christians-lets-all-s-top-doing-these-15-things-on-social-media/.