“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça” (Isaías 6.1-4).
Aqui estão sete vislumbres de Deus que vejo nestes quatro versículos:
1. Deus está vivo
Primeiro, ele está vivo. No ano em que o rei Uzias morreu. Uzias está morto, mas Deus continua vivo. “De eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmos 90.2). Deus era o Deus vivo quando este universo passou a existir. Ele era o Deus vivo quando Sócrates bebeu veneno. Ele era o Deus vivo quando William Bradford governou a Colônia de Plymouth. Ele era o Deus vivo em 1966, quando Thomas Altizer proclamou sua morte e a revista Time estampou isso na sua capa. E ele será o Deus vivo daqui a dez trilhões de anos, quando todos os insignificantes disparos contra sua realidade tiverem caído no esquecimento, como tiros de espoleta no fundo do Oceano Pacífico.
“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor”. Não há um único chefe de Estado em todo o mundo que ainda estará lá daqui a cinquenta anos. A rotatividade na liderança mundial é de 100%. Mas não é assim com Deus. Ele nunca teve um começo e, portanto, não depende de nada para sua existência. Ele sempre foi e sempre estará vivo.
2. Deus possui autoridade
Em segundo lugar, ele possui autoridade. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”. Nenhuma visão do céu jamais contemplou Deus arando um campo, cortando grama, engraxando sapatos, preenchendo relatórios ou carregando um caminhão. O céu não está desmoronando pela falta de cuidado. Deus nunca verá o fim de seu reino celestial. Ele se assenta. E ele se assenta em um trono. Tudo está em paz e ele tem controle.
O trono é o seu direito de governar o mundo. Não damos autoridade a Deus sobre nossas vidas. Ele a tem, quer gostemos ou não disso. Que total loucura é agir como se tivéssemos qualquer direito de colocar Deus em questão! Precisamos ouvir, de vez em quando, palavras como as que Virginia Stem Owens disse no Reformed Journal:
Vamos esclarecer uma coisa. Deus pode fazer tudo o que bem entender, com todas as coisas. E se algo lhe agrada, então é feito, ipso facto, bem. A atividade de Deus é o que é. Não há mais nada. Sem isso, não haveria seres, incluindo seres humanos que presumem julgar o Criador de tudo o que existe.
Poucas coisas são mais humilhantes, poucas coisas nos dão aquele senso de majestade pura, quanto a verdade que Deus tem absoluta autoridade. Ele é o Supremo Tribunal, o Legislativo e o Chefe do Executivo. Depois dele, não há recursos.
3. Deus é onipotente
Terceiro, Deus é onipotente. O trono de sua autoridade não é um entre muitos. É alto e sublime. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”. O trono de Deus ser mais alto que qualquer outro trono indica o poder superior de Deus para exercer a sua autoridade. Nenhuma autoridade oposta pode anular os decretos de Deus. O que ele propõe, ele realiza. “O meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Is 46.10). “Segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35). E essa autoridade soberana do Deus vivo é um refúgio repleto de alegria e poder para aqueles que guardam o seu pacto.
4. Deus é resplandecente
Quarto, Deus é resplandecente. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo”. Você já viu fotos de noivas cujos vestidos são colocados em volta delas cobrindo os degraus e a plataforma. Qual seria o significado se a cauda preenchesse os corredores e cobrisse os assentos e o coral, como um tecido de uma peça só? O manto de Deus preencher todo o templo celestial significa que ele é um Deus de incomparável esplendor. A plenitude do esplendor de Deus se mostra de mil maneiras.
Eu costumava ler Ranger Rick. Lembro-me de um artigo sobre espécies de peixes que vivem no fundo do mar escuro e têm suas próprias luzes — algumas têm espécies de lâmpadas penduradas em seus queixos, algumas têm narizes luminescentes, algumas têm faróis sob os olhos. Existem milhares de peixes com luz própria que vivem nas profundezas do oceano, onde nenhum de nós pode vê-los e se maravilhar. Eles são espetacularmente estranhos e belos. Por que eles estão lá? Por que não há apenas uma dúzia de tipos simples e eficazes? Porque Deus é exuberante em esplendor. A sua plenitude criativa transborda em beleza excessiva. E se o mundo é assim, quanto mais resplandecente deve ser o Senhor que o imaginou e o fez!
5. Deus é reverenciado
Quinto, Deus é reverenciado. “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava”. Ninguém sabe o que são essas estranhas criaturas de seis asas com pés, olhos e inteligência. Eles nunca mais aparecem na Bíblia — pelo menos não sob o nome de serafins. Dada a grandeza da visão e o poder das hostes angelicais, será melhor não imaginarmos bebês gordinhos e com asas voando diante do Senhor. De acordo com o versículo 4, quando um deles fala, os alicerces do templo tremem. Faríamos melhor se pensássemos nos Blue Angels — aqueles quatro jatos que voam em formação — voando diante da comitiva presidencial e rompendo a barreira do som bem diante de seu rosto. Não há criaturas insignificantes ou bobas no céu. Apenas seres magníficos.
E o ponto é: Nem mesmo eles conseguem olhar para o Senhor, nem se sentem dignos de deixar os seus pés expostos diante da presença dele. Grandiosos e bons como são, incontaminados pelo pecado humano, reverenciam o seu Criador com grande humildade. Um anjo atemoriza um homem com seu resplendor e poder. Mas os próprios anjos se escondem em santo temor e reverência diante do esplendor de Deus. Ele é continuamente reverenciado.
6. Deus é santo
Sexto, Deus é santo. “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos”. A linguagem força os seus limites de utilidade aqui. O esforço para definir a santidade de Deus acaba por dizer: Deus ser santo significa que Deus é Deus.
Permita-me fazer uma ilustração. A raiz do significado de santo é provavelmente “ser cortado” ou “separado”. Algo santo é cortado e separado do uso comum (poderíamos dizer: secular). As coisas e pessoas terrenas são santas quando são separadas do mundo e dedicadas a Deus. Assim, a Bíblia fala sobre a terra santa (Êx 3.5), assembleias santas (Êx 12.16), sábados santos (Êx 16.23), uma nação santa (Êx 19.6), vestes santas (Êx 28.2) uma cidade santa (Ne 11.1), promessas santas (Sl 105.42), homens santos (2Pe 1.21) e mulheres santas (1Pe 3.5), escrituras santas (2Tm 3.15), mãos santas (1Tm 2.8), beijo santo (Rm 16.16) e uma fé santa (Jd 1.20). Quase tudo pode se tornar santo se for separado do uso comum e dedicado a Deus.
Porém, observe o que ocorre quando essa definição é aplicada ao próprio Deus. Do que você pode separar Deus para torná-lo santo? A própria divindade de Deus significa que ele é separado de tudo o que não é Deus. Existe uma diferença qualitativa infinita entre Criador e criatura. Deus é único. Sui generis. Ele é distinto. Nesse sentido, ele é totalmente santo. Mas, então, você não disse mais do que ele ser Deus.
Ou, se a santidade de um homem deriva de estar separado do mundo e dedicado a Deus, a quem Deus se dedica para obter a sua santidade? A ninguém além de si mesmo. É uma blasfêmia dizer que existe uma realidade superior a Deus à qual ele deve se conformar para ser santo. Deus é a realidade absoluta, além da qual há apenas mais de Deus. Quando perguntado sobre seu nome em Êxodo 3.14, ele disse: “EU SOU O QUE SOU”. Seu ser e seu caráter são totalmente indeterminados por qualquer coisa fora dele mesmo. Deus não é santo porque observa as regras. Ele escreveu as regras! Deus não é santo porque ele guarda a lei. A lei é santa porque revela Deus. Deus é absoluto.
Todo o restante é derivado.
Então, o que é a sua santidade? É o seu valor infinito. A sua santidade é a sua essência divina absolutamente única, que em sua singularidade tem valor infinito. Ela determina tudo o que ele é e faz, e não é determinada por ninguém. A sua santidade é o que ele é como Deus, o que ninguém mais é ou jamais será. Chame isso de sua majestade, sua divindade, sua grandeza, o seu valor como a pérola de grande valor.
Por fim, a linguagem se esgota. Na palavra “santo”, navegamos para o fim do mundo no silêncio absoluto de reverência, maravilha e assombro. Ainda pode haver mais para conhecer sobre Deus, mas isso estará além das palavras. “O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Hc 2.20).
7. Deus é glorioso
Mas antes do silêncio, do tremor das bases e da fumaça que tudo oculta, aprendemos uma sétima e última coisa a respeito de Deus. Deus é glorioso. “Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”.
A glória de Deus é a manifestação da sua santidade. A santidade de Deus é a perfeição incomparável da sua natureza divina; a sua glória é a exibição dessa santidade. “Deus é glorioso” significa que a santidade de Deus se tornou pública. A glória de Deus é a revelação clara do segredo de sua santidade. Em Levítico 10.3, Deus diz: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado…”. Quando Deus se revela santo, o que vemos é a glória. A santidade de Deus é a sua glória oculta. A glória de Deus é a sua santidade revelada.
Artigo adaptado do livro Surpreendidos por Deus, de John Piper.