domingo, 22 de dezembro
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Seus filhos precisam que você converse com eles… e muito

O trecho abaixo foi adaptado com permissão do livro Converse com seus filhos, William P. Smith, Editora Fiel.


Falar com seus filhos é uma atividade de alto risco e de alto retorno. Você tem o privilégio de tornar visível o Deus invisível — não há honra maior! — e ainda assim você pode facilmente pintar uma imagem dele que é mais demoníaca do que divina. Você pode pensar: “Nesse caso, talvez seja melhor se eu disser o mínimo possível. Sabe, reduzir o risco para que seja melhor para os meus filhos”. Esse tipo de lógica tem um certo apelo. Você não pode causar problemas se não estiver envolvido, certo? Não exatamente. Por mais tentadora que essa opção seja, ela cria um problema diferente ao contrariar o plano original de Deus. Ele sempre pretendeu que os humanos crescessem e se desenvolvessem por meio de conversas. Considere o jardim do Éden antes que ele fosse arruinado. A humanidade era impecável e irrepreensível, mas também ignorante. Adão e Eva não sabiam coisas cruciais sobre si mesmos — que eles foram feitos à imagem de Deus e que deveriam encontrar significado e propósito relacionando-se com ele enquanto enchiam a terra e cuidavam dela como Deus faz. Eles aprendiam essas coisas somente quando acontecia algo que era simultaneamente milagroso e mundano: Deus falava com eles.

Deus conversava com eles, fornecendo-lhes informações que eles não tinham e não podiam obter de qualquer outra forma. A ignorância deles não era nem o resultado do pecado nem o resultado do mal. Era uma imaturidade apropriada à experiência de vida deles e era removida apenas por uma pessoa mais velha, mais sábia e mais experiente entrando no mundo deles com palavras para ajudá-los a amadurecer. Perfeitamente sem pecado, eles ainda eram ignorantes e precisavam ser ensinados.

Se essas conversas eram necessárias antes da cegueira e da voluntariedade do pecado, você consegue enxergar quanto mais necessárias elas não seriam depois?

Deus consegue. É por isso que uma das formas de imaginá-lo é falando com os outros, especialmente com nossos filhos, como ele fala conosco.

Depois de dar os Dez Mandamentos aos israelitas — novamente Deus falando com seu povo, transmitindo sabedoria e conhecimento que eles não poderiam ter se Deus não se comunicasse com eles —, ele lhes disse: Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos. Escrevei-as nos umbrais de vossa casa e nas vossas portas, para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor, sob juramento, prometeu dar a vossos pais, e sejam tão numerosos como os dias do céu acima da terra (Dt 11.19-21).

Ensine e converse em todos os lugares. Comunique verbalmente não simplesmente o que Deus diz, mas como as palavras dele se cruzam com a vida cotidiana enquanto você está em casa ou na estrada; enquanto está sentado, caminhando, deitado ou se levantando. Encha o mundo de seus filhos com as palavras de Deus para que eles desenvolvam um senso de quem ele é, de quem eles são em relação a Deus e de como eles devem viver no mundo de Deus.

Seus filhos amadurecem por meio de conversas

Em um universo perfeito, as conversas de Deus com Adão e Eva eram necessárias para que a humanidade pudesse encontrar seu lugar no mundo de Deus. Após o pecado ter arruinado tudo, tais conversas permanecem fundamentais. O pecado, no entanto, complica as coisas. Nem sempre nos comunicamos bem com nossos filhos, e nossos filhos nem sempre estão preparados para abraçar o processo que Deus projetou para servi-los melhor.

Em uma tarde, meu filho em idade escolar do Ensino Fundamental I, sem nem mesmo hesitar, disparou de volta para mim: “Já estou fazendo isso”. Eu tinha acabado de tentar oferecer-lhe uma maneira melhor de responder a seu irmão, mas ele não estava aceitando. Sua resposta para mim veio depois de um fim de semana de tênis verbal: toda vez que eu tentava lhe dizer algo sobre a vida, ele imediatamente devolvia a bola com uma razão para não precisar ouvir o que eu estava dizendo.

Então eu disse: “Espere um minuto. Neste exato momento, houve uma conversa que ocorreu dentro da sua cabeça que foi algo assim: ‘Uau! Meu pai acabou de interromper o que estava fazendo para falar sobre minha vida porque ele achou que havia algo que eu precisava ouvir, e eu estou tão entusiasmado para ouvir o que ele tem a dizer que vou tirar todos os outros pensamentos da minha cabeça para que eu possa me concentrar nas palavras dele. Mesmo que apenas 5% do que ele disser sejam coisas que eu não sei, eu quero absorver’. Era isso o que você estava pensando neste exato momento, não era?”.

“Não”, ele franziu o cenho enquanto tentava entender o rumo que aquela conversa estava tomando.

Trocando de assunto abruptamente, perguntei-lhe: “Quanto tempo os gatinhos ficam com suas mães?”.

Ele deu de ombros e disse: “Não sei, dois a três meses?”. “Chegou perto”, pensei, então disse: “Está bem, mas você está aqui comigo e com a sua mãe por muito mais tempo. Por que isso?”.

Ele olhou para o chão e disse suavemente: “Porque Deus acha que eu tenho coisas para aprender”.

Eu acenei com a cabeça em consentimento e acrescentei: “Mas você não quer estar aqui. Você está interagindo conosco assumindo que não tem nada a aprender de nós. Cada vez que você faz isso, está me dizendo: ‘Pai, eu realmente não deveria estar aqui agora. Eu deveria estar por conta própria’. Você esqueceu o motivo pelo qual está aqui”.

Mesmo quando ele esquece, eu tenho que lembrar. Pelo desígnio de Deus, entramos na vida sem saber nada, então, lentamente, somos levados a compreender nosso mundo e nosso lugar dentro dele por meio da maneira tão comum de ter conversas com pessoas. Com a ajuda delas, ao longo do tempo, amadurecemos e nos tornamos membros da sociedade que contribuem e são responsáveis, e que, por sua vez, podem apoiar e nutrir os outros. Curiosamente, Deus confia nosso desenvolvimento a pessoas que antes eram mais ignorantes do que são agora, o que no caso do meu filho significa minha pessoa durante um futuro previsível.

Esse processo é tão comum que é frequentemente usado para impulsionar o arco narrativo da literatura popular. Um novato — as crianças de Nárnia, os hobbits da Terra Média, Harry Potter, Bela, a vampira — mergulha num mundo tão desconhecido que ele se vê debatendo-se nele, sem saber como responder. Os perigos espreitam e a felicidade futura do novato pende na balança com cada decisão. Então, aos poucos, ele aprende a navegar e dominar sua nova experiência porque outras pessoas conversam com ele.

As pessoas lhe contam histórias que dão profundidade e sentimento ao mundo. Elas o instruem. Elas o corrigem. Elas lhe dão novas lentes através das quais ele pode ver o mundo e a si mesmo com mais clareza enquanto vislumbra o que ele e o futuro podem ser. Ele fica mais apaixonado e tenta viver o que lhe foi ensinado. Ele cresce mais do que jamais esperou crescer, tudo isso por meio da normalidade da conversa.

Tais histórias de maturidade nos tocam em parte ao nos aproximarem da maneira como Deus estruturou seu mundo. Nós nos vemos nelas. Desenvolvemos nossa compreensão do mundo e do nosso lugar nele, aprendendo com aqueles que já conhecem seus pormenores. Ao nascer, somos todos novatos que se deparam com um mundo estranho acerca do qual aprendemos pouco a pouco, uma conversa de cada vez.

 


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Para saber mais sobre este assunto recomendamos os livros:

Pastoreando o Coração da Criança, de Tedd Tripp

Pais fracos, Deus forte, de Elyze Fitspatrick


Autor: William P. Smith

William P. Smith, M.Div., Ph.D., é pastor e diretor do centro de aconselhamento comunitário da igreja Chelten Baptist Church, na Pensilvânia. Ele é frequentemente convidado para pregar em outras igrejas e conferências. Para mais informações, visite o site www.surprisedbygod.com.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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