Artigo adaptado do livro Reforma Agora.
A explosão evangélica no Brasil e o seu crescimento numérico parecem ser caracterizados, em boa parte, pela satisfação dos interesses de seus “consumidores”.
Ouso afirmar que o ambiente de “livre concorrência” entre algumas comunidades cristãs no Brasil tem levado seus líderes a adotarem estratégias semelhantes às utilizadas por empresas de marketing, buscando oferecer seus “produtos” no mercado, à semelhança do que se vê na mentalidade comercial. Nessas comunidades cristãs, a preferência dos fiéis determina a dinâmica dos discursos religiosos e das práticas a eles relacionadas. Junta-se a isso o fato de que, nos últimos anos, o evangelicalismo brasileiro tem experimentado uma grave crise teológica.
Ao pensar na realidade da igreja, sinto-me profundamente preocupado com os rumos da fé cristã em nosso país. Pois, o que se vê, de forma quase generalizada, é uma espiritualidade ensimesmada, oca e egoísta, além de centenas de “pastores” movidos por ganância e poder, os quais têm vivido obstinadamente a procura de títulos cada vez mais impressionantes. Infelizmente a “apostolização” moderna tem feito muitos destes pequenos reis, os quais em cerimônias nababescas são coroados como tais. Tem havido casos tais como o de um “apóstolo” que, num cerimonial cheio de pompa, foi coroado, recebendo como símbolo de sua autoridade apostólica um lindo e precioso anel de brilhantes.
Sem sombra de dúvidas parte da igreja evangélica brasileira encontra-se gravemente enferma. Entendo que, se uma mudança de direção não for feita nos próximos anos, corremos o sério risco de experimentarmos uma bancarrota espiritual. Sinto que não podemos mais suportar o maniqueismo e dualismo promovidos pelos gurus da “batalha espiritual”; não é possível que consideremos normais as loucuras proferidas pelos profetas da “confissão positiva”, os quais, mediante revelações pessoais, têm escravizado o rebanho de Cristo com doutrinas que jamais foram ensinadas pela Bíblia. Não podemos mais suportar as invenções humanas – e haja criatividade para elas – que assolam o povo de Deus, impondo-lhe pesados fardos.
Infelizmente estamos vivendo um tempo de miscigenação doutrinária, onde os cultos evangélicos em vez de se fundamentarem exclusivamente nas Escrituras o fazem em experiências místicas e sincréticas. Na verdade, o que tem determinado o sucesso do culto não é mais pregação da Palavra, mas o gosto do “consumidor”. Lamentavelmente a igreja prega o que dá ibope, oferecendo ao povo o que ele quer ouvir.
Pois é, diante disto talvez você esteja perguntando a si mesmo: o que fazer? Será que ainda existe esperança para a tão combalida igreja brasileira? Será que existe um antídoto que possa ser aplicado de forma efetiva em nossas comunidades cristãs?
Acredito que sim. Na verdade, creio piamente que existe um remédio para isso tudo. Acredito de toda minha alma que se voltarmos às Escrituras, fazendo delas nossa única e exclusiva regra de fé e redescobrirmos as antigas doutrinas ensinadas pelos reformadores, poderemos experimentar uma mudança radical na vida e na história da igreja evangélica brasileira.
O famoso pregador Charles Haddon Spurgeon afirmou o seu anseio por um avivamento das antigas doutrinas da seguinte maneira: 1
Queremos um avivamento das antigas doutrinas. Não conhecemos uma doutrina bíblica que, no presente, não tenha sido cuidadosamente prejudicada por aqueles que deveriam defendê-la. Há muitas doutrinas preciosas às nossas almas que têm sido negadas por aqueles cujo ofício é proclamá-las. Para mim é evidente que necessitamos de um avivamento da antiga pregação do evangelho, tal como a de Whitefield e de Wesley. As Escrituras têm de se tornar o infalível alicerce de todo o ensino da igreja; a queda, a redenção e a regeneração dos homens precisam ser apresentadas em termos inconfundíveis.
Prezado leitor, apesar das incongruências tupiniquins eu ainda acredito na igreja evangélica brasileira. Sim! Eu acredito que a redescoberta das antigas doutrinas poderá produzir em nosso país um avivamento nunca antes experimentado.
Foi por isso, que ao escrever o livro Reforma Agora, eu o fiz com o coração pesado e os olhos encharcados de lágrimas. Amo a igreja do meu Senhor e desejo de todo coração vê-la glorificando aquele que me salvou.
Creio profundamente que se a igreja brasileira regressar às doutrinas da graça, valorizando as Escrituras em detrimento da tradição e da experiência, vivenciaremos aquilo que povos e nações do passado experimentaram em sua história.
E você, acredita que Deus pode trazer um avivamento em nossas terras?