Seres angelicais se aproximam do trono do Deus triuno. Eles chegam diretamente à Sua presença, porque não precisam de nenhum mediador. Nenhum pecado os impede de entrar, e Deus deu a essas criaturas a capacidade de se aproximarem e não serem incineradas pela Sua glória. É seguro dizer que esses anjos conhecem mais do que nós? Mas o que estes seres bem informados fazem na presença de Deus? Segundo Apocalipse 4:10, eles se prostram, lançam suas coroas e cantam. Resumindo, eles adoram a Deus com todo o seu ser.
Eu leio muitos livros de teologia. Esse é o meu trabalho—e minha paixão. Porém, toda vez que escolho um livro, eu lanço um desafio silencioso: “Faça-me cantar”. Eu vou a muitos cultos de adoração. Esse também é o meu trabalho—e minha paixão. Meu desafio é: “Leva-me mais fundo”. O conhecimento de Deus e o louvor a Deus; a teologia e a doxologia estão interligadas. Elas são parceiras de dança na satisfação do nosso principal objetivo: glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.
A teologia que não nos faz cantar falhou em sua missão, não importa quão correta ela seja. A adoração que não nos leva ao mais profundo de Cristo também falhou, não importa quão gloriosa seja a música ou quão aplicável, o sermão. Louvar a Deus de forma adequada significa aprofundar o nosso conhecimento deste Deus que adoramos. Nossos corações devem ficar em chamas quando verdadeiramente examinamos como o Pai enviou seu Filho ao mundo para nos salvar, e depois nos uniu ao Salvador quando enviou o Seu Espírito Santo aos nossos corações. Uma ótima teologia mexe com o coração. Uma excelente adoração aumenta o nosso conhecimento.
Vamos tomar como exemplo duas estrofes do hino de Joseph Hart “Venham, Pecadores”. A letra foi redefinida várias vezes em ambos os estilos tradicional e contemporâneo, o que vem a ser um testemunho sobre seu poder duradouro. As palavras nos levam mais profundamente à obra de Cristo, de uma forma que somos inspirados a entregar nossos corações em adoração:
Veja-o prostrado no Jardim / No chão, o Seu criador está / Na árvore cheia de sangue, contempla-o / Pecador, isso não te basta?
Em apenas quatro pequenos versos, entramos na narrativa da obra do nosso Salvador. Um grande paradoxo teológico é evocado através de um imaginário vívido. Contemplamos não somente um homem, mas Deus encarnado. O sublime Criador de todas as coisas está com Seu rosto ao chão da criação. O Deus impassível se une a uma natureza humana que pode sofrer agonia. Quem consegue compreender isso? Mas depois, Hart transforma sua teologia em um chamado à adoração: “Pecador, isso não te basta?”. Saber o que Deus fez não o leva a adorar?
A próxima estrofe dá continuidade à nossa jornada rumo ao mistério teológico, enquanto Hart responde à “eterna” pergunta teológica: “O que Jesus está fazendo agora?”.
Eis! O Deus encarnado ascendeu / Defende o mérito de seu sangue / Lance-se nele, lance-se por inteiro / Não deixe a confiança em nenhuma outra coisa interferir.
Hart evoca a passagem crucial de Hebreus: “Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (7:25). Jesus continua em Seu sacerdócio a aplicar, em nosso favor a obra consumada de Seu sacrifício, não apenas para justificação, mas também para o nosso crescimento em santificação. Que maravilhoso – Jesus vive para interceder por nós. Como eu poderia confiar em outro alguém? “Sim,” meu coração chora enquanto eu canto esta verdade teológica: “Vou lançar-me em Jesus. Darei a minha vida inteiramente e somente a ele”.
João Calvino era um dos teólogos mais doxológicos. Ao escrever sobre a Ceia do Senhor, Calvino regozijou-se em afirmar que, por meio da união com Cristo, “tudo o que é dele pode chamar-se nosso”. No que agora transformou-se em um trecho famoso, Calvino articulou esta maravilhosa troca:
Esta é a maravilhosa permuta que, por sua imensurável benevolência, ele fez conosco; que, ao se tornar Filho do homem conosco, ele nos fez filhos de Deus com ele; que, pela sua vinda a terra, ele nos preparou uma ida ao céu; que, ao assumir nossa mortalidade, ele nos concedeu sua imortalidade; que, ao aceitar a nossa fraqueza, ele nos fortaleceu com seu poder; que, ao receber nossa pobreza sobre ele, ele nos transferiu sua riqueza; que, ao levar sobre si o peso de nossa iniquidade (que nos oprimia), ele nos vestiu com sua justiça. (As Institutas, 4.17.2)
Com este conteúdo em nossos hinários teológicos, como os calvinistas podem ser chamados os friamente escolhidos? Esta é a grande questão do universo: Deus trocou Sua vida pela nossa morte, Sua paz pela nossa ansiedade, Seu lar celestial pelo nosso exílio de órfãos, Seu perdão pelo nosso pecado. E, surpreendentemente, Ele considera isso uma ótima barganha. Tais notícias nos fazem querer sair deste teclado e correr pelas ruas, gritando.
Teologia deve nos fazer cantar. Adoração deve nos levar ao mais profundo da verdade gloriosa da obra de nosso Redentor. As duas devem ser parceiras nesta dança rumo à eternidade.