sexta-feira, 22 de novembro
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Resistindo ao diabo

Este versículo nos apresenta um aspecto da Verdade acerca do qual há ampla ignorância entre os crentes. Com freqüência, eles se mostram inconscientes de que o “diabo” os está atacando e precisa ser resistido. Muitos supõem que as investidas de Satanás estão limitadas às tentações para que pequemos. Isto não é verdade; em muitos casos, o objetivo dele é opor-se e impedir-nos de fazer o que é bom. Constantemente, ele utiliza os seres humanos a fim de atrapalhar-nos e inquietar-nos. Por exemplo, ele enviará alguém para bater à porta ou chamar-nos ao telefone, quando estamos orando. Ele mandará parentes visitarem-nos no domingo, impedindo-nos assim de gastar tempo na comunhão com o Senhor. Ou criará “circunstâncias” para obstruir nosso progresso espiritual, multiplicando nossos deveres e tarefas, de modo que não tenhamos tempo livre ou fiquemos muito cansados para estudar a Bíblia.

Poucos filhos de Deus parecem saber que possuem o privilégio e o direito de serem vitoriosos contra os ataques de Satanás. O Senhor não deixou seu povo aqui à mercê de seu grande inimigo, sem meios para vencê-lo. De maneira alguma; Ele nos ensina em sua Palavra como podemos derrotá-lo.

Iniciando: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Este é um mandamento divino. Um dever que o Senhor colocou sobre nós. Nossa primeira responsabilidade no que concerne a este mandamento é dar-lhe nossa melhor atenção, gravá-lo em nossos corações, ponderar seus termos, desejar e resolver obedecê-lo.

Provavelmente, alguns dirão: “Eu quero, mas não sei como”. Então, nossa segunda responsabilidade referente a este mandamento é reconhecer este fato, pedindo a Deus que nos ilumine e nos ensine como obedecê-lo. Conte-Lhe que deseja fazer aquilo que Ele ordenou e suplique instrução e capacidade para realizá-lo.

Embora isto seja importante e necessário, não é o bastante. A oração nunca foi designada por Deus para eximir-nos de nossas responsabilidades e incentivar a indolência. Não basta orar para que Ele me conceda um jardim frutífero neste verão ” embora eu deva orar a respeito disso e, igualmente, das outras coisas” (Fp 4.6). Não apenas isso, eu tenho de cavar, plantar, regar o jardim e arrancar as ervas daninhas. Portanto, a resposta à minha oração por entendimento para obedecer a exortação de Tiago 4.7 tem de vir a mim através das Escrituras. Assim, minha terceira responsabilidade é examinar as Escrituras, suplicando que o Espírito Santo graciosamente me guie à verdade. Isto significa que preciso ler a Bíblia com um objetivo definido, almejando descobrir aquilo que ela ensina sobre o crente resistindo ao diabo, de modo que o diabo fuja do crente. Comecemos nosso exame da Palavra de Deus sobre este importante assunto prático considerando em detalhes o contexto imediato da passagem em que se encontra o mandamento. Primeiramente observamos que a exortação está na segunda metade do versículo: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo”. Ora, como espero obedecer a segunda metade, quando ainda não estou cumprindo a primeira? Sujeitar-se a Deus significa que minha própria sabedoria, vontade e desejos têm de ser completamente deixados de lado e que a Palavra e a vontade de Deus governam-me em todas as coisas. Sujeitar-se a Deus significa que reconheço suas reivindicações sobre minha vida: sou criatura e filho dEle, para ser controlado por Ele, que tem todo direito à minha total sujeição. Meditemos e analisemos a primeira metade do versículo: “Sujeitai vos, portanto, a Deus”. Isto logo nos diz que precisamos retornar ao versículo anterior, visto que o vocábulo “portanto” sempre indica uma conclusão baseada ou extraída de algo anterior. No versículo 6, lemos: “Ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. Sim, isto é encorajador, estimula a fé e a esperança. Aquele a quem eu tenho de me sujeitar não é um tirano cruel, um déspota sem misericórdia; é o “Deus de toda graça”. Ele já me outorgou a graça salvadora e “dá maior graça” aos humildes. Ora, “maior graça” é exatamente o que eu necessito, se desejo ser bem-sucedido em resistir ao diabo. “Pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. Deus resiste aos orgulhosos, porque se opõem a Ele. A essência do orgulho é a auto-suficiências, aquele espírito que despreza a ajuda de outrem, confiante de que é capaz de resolver tudo por si mesmo. No âmbito das coisas espirituais, o orgulho é aquela horrível presunção de que posso conseguir sozinho, sem Deus. É uma terrível ilusão gerada e promovida por Satanás. Ao contrário disso, a “humildade” é esvaziar-se de sua auto-suficiência; é uma compreensão íntima de que sou completamente dependente de Deus para todas as coisas. Humildade, graça e vitória sobre Satanás estão inseparavelmente ligadas uma à outra! Mas nada é mais ofensivo a Satanás do que a humildade, pois ele é um espírito orgulhoso, e seu desejo é ensoberbecer-nos e levar-nos a viver e agir independentemente de Deus. “Sujeitai-vos, portanto, a Deus”. A palavra “sujeitai” significa colocar a mim mesmo sob a autoridade de outrem. Precisa haver sujeição de todo o homem à lei de Deus, uma entrega de nós mesmos para sermos governados por Ele; nossos pensamentos, desejos e ações têm de ser estritamente regulados pelas normas estabelecidas em sua Palavra. Sujeitar se a Deus também denota uma serena aquiescência às disposições da divina providência, uma alegre renúncia de nós mesmos ao soberano prazer de Deus. Portanto, precisa haver uma completa entrega de nossas próprias vidas e de nós mesmos a Deus, a fim de sermos conduzidos e governados por Ele. Existe uma dupla relação entre as duas metades de Tiago 4.7. Primeiro, é óbvio que tenho de me submeter a Deus, se quero ser bem-sucedido em resistir ao diabo. Como isto poderia acontecer de outra maneira? Em minhas próprias forças, não tenho condições de prevalecer contra meu grande inimigo, e Deus não me dará sua “graça”, enquanto estiver me opondo a Ele! Por isso, é necessário que eu pare de resistir a Deus, antes de ter qualquer esperança de oferecer resistência a Satanás; em outras palavras, preciso deixar de ser orgulhoso, independente e auto-suficientes. O crente que não ora é orgulhoso, pois sua recusa em receber a força proveniente de Deus equivale a dizer que pode ser bem-sucedido sem a ajuda divina. Satanás caiu por orgulho, e dissimulou para ter mais companheiros, atraindo-nos à sua armadilha. Sua isca é facilmente mordida, pois é natural a todos nós. Nossos primeiros pais sucumbiram prontamente à sugestão: “Sereis como Deus”.

Mas o que significa “resisti ao diabo”? Em primeiro lugar, significa que eu não tenho de ficar apavorado diante dele. Satanás não tem qualquer poder constrangedor. Ele não pode prevalecer sem meu consentimento. Em segundo, não devo sequer ouvir a sugestão dele, mas “resistir” ativamente, afirmando: “Não cairei”. Tenha essa atitude e permaneça firme em sua postura. Em terceiro, cite as Escrituras para Satanás, um versículo pertinente e adequado que confronta a tentação específica. Confie no poder da Palavra de Deus, esperando que ela expulse Satanás de seu caminho. Em quarto, pleiteie a promessa divina no versículo: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Sim, ele fugirá, pois não é apenas um inimigo vencido, mas também um notório covarde. “Ele fugirá de vós” apenas por um “momento”, pois voltará e reiniciar á a luta; e você também. Resumindo nosso exame da Palavra de Deus para descobrir o que ela ensina sobre este assunto de resistir ao diabo, já achamos o bastante para encorajar-nos. Mas continuemos nossa busca por mais esclarecimento e ajuda. Isto significa que eu preciso utilizar uma concordância e verificar, devagar e com cuidado, todos os versículos onde se encontram os vocábulos “diabo” e “Satanás”. Isto exige paciência, mas se o fizermos com oração, Deus recompensará o esforço.

Em 1 Pedro 5.8, lemos: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”. Com certeza, esta verdade é muito descritiva e impressionante. Se você soubesse que um leão havia escapado do circo em sua cidade, que era feroz e estava faminto, que estava perdido, vagueando pelas ruas, e suas obrigações diárias lhe exigiam sair de casa, sem dúvida você agiria com bastante atenção e cuidado.

Queridos irmãos, minha suposição não é imaginária ou absurda. Existe alguém mais poderoso e cruel do que um leão, que está andando em derredor, procurando devorar nossas almas. Quão pouco acreditamos nessa verdade! Quão indiferente é a atenção que damos a este aviso divino!

Considere por um instante o contexto desse versículo: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1 Pe 5.7). Através destas palavras, o filho de Deus é convidado a lançar sobre o Senhor Jesus todo o seu fardo de ansiedade, estando seguro da compaixão de Cristo. Sim, mas o privilégio e a certeza do cuidado dEle para conosco não deve nos tentar a sermos levianos e negligentes. Assim, como em toda a Bíblia, neste versículo a promessa e o mandamento estão juntos. Observe o que vem logo em seguida. Primeiro, “Sede sóbrios”. Em linguagem comum “sobriedade” é o oposto de “embriaguez”. No entanto, devemos lembrar que há muitas outras coisas além de vinho e cerveja que intoxicam. “Sede sóbrios” significa ser temperante em todas as coisas, refrear todos os desejos e apetites da carne, particularmente ser “sóbrio” nas expectativas quanto a este mundo e na maneira como você o utiliza.

“Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2). Se os olhos da fé avaliarem as coisas terrenas à luz da Palavra de Deus, perceberão que elas são efêmeras, sem valor e não satisfazem. Os prazeres do pecado são apenas “transitórios” (Hb 11.25); e quão transitórios! Lembremo-nos também de que precisa haver sobriedade de entendimento, antes de existir sobriedade de corpo. Oh! quão importante é que formulemos a correta estimativa das coisas terrenas e das celestiais! Se eu realmente recebo em meu coração as declarações da Palavra de Deus afirmando que “tudo que há debaixo do sol” é apenas “vaidade e correr atrás do vento”, a sobriedade será fomentada.

Em segundo, “sede… vigilantes”, não descuidados, ou impetuosos, ou presunçosos. Preciso estar atento, alerta, desperto. Novamente tenho de começar no homem interior; jamais serei “vigilante” sobre tentações externas, enquanto não tiver aprendido a cingir o meu “entendimento” (1 Pe 1.13) e dominar meu próprio “espírito” (Pv 16.32). Portanto, supliquemos graça para sermos “vigilantes” sobre nossas mentes e trazer “cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10.5). Procuremos ser “vigilantes” sobre nossa disposição íntima, para que Satanás não ganhe vantagem. Se estivermos deprimidos, ele nos tentará ao desespero e ao desânimo. Mas eu tenho de “resistir” a esta inclinação. Se me sinto leviano e inconstante, ele me tentará à irreverência e à hilaridade; e isto mancha a reputação do seguidor de Cristo. Mas lembre se: para que sejamos “vigilantes”, precisamos antes ser “sóbrios”!

Em terceiro, “resisti-lhe firmes”. Oponha-se aos esforços de Satanás a fim de predispor seu coração contra Deus e infiltrar em sua mente pensamentos maldosos a respeito dEle. Satanás se empenhará para causar-lhe dúvidas quanto ao amor de Deus; ele se esforçará para fazê-lo murmurar contra a severidade da providência divina e do rigor dos mandamentos de Deus. Você deve rechaçar os esforços de Satanás para atraí-lo à tentação, lembrando que Deus advertiu nos: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Ef 5. 11). Resista ao empenho de Satanás para levá-lo a pecar. Responda-lhe assim como José: “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (Gn 39.9).

Nossa resistência precisa ser resoluta e zelosa. Se um louco o atacasse, e você estivesse lutando por sua própria vida, empregaria todos os esforços. O mesmo acontece neste assunto: é a sua própria alma que Satanás está procurando destruir. A resistência de Eva mostrou-se frágil e indiferente; ela brincou com as solicitações malignas de Satanás. A queda de Eva deve servir- lhe de aviso. Através da palavra “resoluta”, pretendo dizer que devemos ficar indignados diante das primeiras sugestões de Satanás, tais como, por exemplo, permanecer na cama no domingo pela manhã. Nossa resistência tem de ser completa. A maneira como Satanás aborda as almas é gradual; a princípio, ele nos pede que cedamos apenas um pouco. Muitos prometem a si mesmos que cessarão de cometer tal pecado, após terem cedido um pouco; mas, quando a pedra começa a rolar do topo da montanha, é difícil fazê-la parar.

Vemos este princípio amplamente ilustrado no caso dos viciados em jogos de cartas e nos alcoólatras. Esteja atento. Nossa resistência precisa ser constante e contínua . não somente ao primeiro ataque de Satanás, mas a todas as suas investidas. O diabo é muitíssimo perseverante; nós também devemos ser.

Essas três considerações devem impulsionar-nos ao imperativo dever da resistência: primeira, o diabo não pode vencer-nos sem nosso consentimento; mas onde não há oposição, ali encontramos consentimento. Tome uma atitude positiva contra o grande inimigo das almas. Segunda, medite intensamente sobre a bênção da vitória; esta o compensar á por toda a diligência e esforço que você fizer. Os prazeres do pecado são temporários; os prazeres e os benefícios de negar a si mesmo são eternos. Leia Marcos 10.29-30. Terceira, lembre que a graça de Deus é prometida a todo aquele que resiste. Deus liberta, mas você precisa “guardar-se” (1 Jo 5.18). É por intermédio de nossa vigilância e oração que Ele torna eficaz nossa resistência. Não existe a promessa de que Deus preservar á uma alma descuidada e negligente.

“Resisti-lhe firmes na fé”. Provavelmente, há uma dupla referência na expressão “na fé”. Primeira, refere-se à analogia entre o vocábulo “fé” e a Palavra de Deus (ver Jd3); segunda, ao exercício da graça da fé. Satanás é o “poder das trevas” (Lc 22.53), e somente a luz de Deus pode revelá-lo e expulsá-lo. Ele utiliza o erro para iludir as almas; a verdade de Deus é necessária para libertar-nos. Temos de fazer-lhe resistência na fé, crendo, recebendo sabedoria e poder para agir de acordo com as Escrituras. Também devemos resistir a Satanás por exercitarmos a graça da fé salvadora. Nossos corações precisam apropriar se dos preceitos e promessas de Deus. Um bendito exemplo dessa verdade foi deixado por nosso Senhor. Ele resistiu firme “na fé” a Satanás, ao utilizar contra ele somente a Espada do Espírito.

“Resisti-lhe firmes na fé”. Quando hesitamos por causa da incredulidade, somos incapazes de permanecer firmes contra nosso grande inimigo. Foi por duvidar do castigo antecipadamente anunciado por Deus que Eva sucumbiu ao pecado. Mas somente podemos resistir a Satanás, com sucesso e “firmes na fé”, se houver apropriação pessoal da vitória de Cristo. Está escrito: “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro” (Ap 12.11). Na presença de Deus, recorra a este sangue a fim de ser liberto das tentações de Satanás. Confie na eficácia deste sangue para livrá-lo. Refugie-se no escudo propiciado pelo sangue do Cordeiro, quando perceber que o diabo está lançando seus dardos inflamados contra você.

Finalmente, devemos ressaltar que só existem duas alternativas: ser vitorioso contra Satanás ou derrotado por ele; não existe outra possibilidade. Se formos completamente vencidos por ele, o resultado será fatal. Ele não está apenas procurando ferir, mas “devorar”-nos (1 Pe 5.8)! E como isto se harmoniza com a eterna segurança do povo de Deus? É fácil responder essa pergunta: se realmente somos crentes, por intermédio da graça divina resistiremos ao diabo e o venceremos. Mas, se continuamos a ficar atentos às sugestões dele, cedendo a suas tentações, e somos completamente vencidos por ele, então, não importa o quanto conheçamos das Escrituras ou o que professamos ser, pertencemos a Satanás e somos seus legítimos escravos.


Autor: A. W. Pink

Arthur W. Pink (1886-1952) foi um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX. Erudito bíblico de persuasão reformada e puritana, Pink escreveu várias obras literárias e pastoreou diversas igrejas nos EUA, além de ter servido como ministro na Inglaterra e Austrália.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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