domingo, 15 de dezembro
Home / Artigos / Carta de um pastor da Escócia

Carta de um pastor da Escócia

Em maio de 1999, a cidade de Perth foi a sede do .maior evento cristão na Escócia desde a visita do papa em 1982.. Este dois acontecimentos não tiveram qualquer ligação entre si. Este grande evento cristão foi o “Festival 99”, com Franklin Graham, o filho do evangelista Billy Graham. Palavras tais como “campanha” ou “cruzada evangelística” parecem ter sido substituídas por “Festival”, uma palavra mais suave e brilhante. Muitas igrejas se envolveram; e, juntamente com isso, houve o apoio do bispo católico romano, o que deixou todos sentirem- se bem no evento.

Bastante entretenimento

Lendo os informativos sobre o “Festival” (e houve muitos sobre este acontecimento), percebi que a ênfase recaiu sobre o promover alegria e entretenimento. Antes que Franklin Graham chegasse, uma série de eventos se realizaram: um desfile de modas, um show apresentando dois comediantes, uma reunião em que Anne Graham Lotz, a irmã de Franklin, pregou aos ouvintes (e alguém assegurou-me: “Ela é uma entusiasta pregadora e ensinadora da Bíblia, melhor do que seu próprio irmão, Franklin”). Houve também um encontro para crianças, oferecendo “palhaços, malabarismo, músicas, presentes e MUITA DIVERSÃO!”

Interessante, não?! Mas todas estas coisas foram apenas o prelúdio. Espere até a chegada de Franklin!

Prometeram muito mais. Haverá um cantor irlandês e a banda Praise, “bem conhecida por sua nova, vibrante e popular maneira de louvar; esta banda é formada por um grupo de cantores e compositores talentosos, todos eles com uma longa história de sucesso individual”. Outro grupo que se apresentará já ganhou o troféu Grammy e possui um “contagiante estilo de rock popular”.

Um “cowboy” da Califórnia também se apresentaria. Ele foi o vencedor do concurso “Battle of the Bands”, de 1964, sendo conhecido por sua maneira rápida e brilhante de dedilhar seu violão; já apareceu em diversos programas de televisão dos Estados Unidos, compôs músicas para o cinema e a televisão. Ele é um grande mestre de entretenimento. Depois, um ator americano que já se apresentou na Broadway fará uma “divertida demonstração” de seus “formidáveis talentos”, ao dramatizar partes da Palavra de Deus.

Em seguida, será a vez de um coral de crianças da África que recebeu a indicação para o Grammy em 1993; e, logo depois, um outro americano proficiente tocador de violão, banjo, rabeca e bandolim, entre as suas honras estão três discos de ouro, quatro álbuns de platina, cinco troféus Grammy e doze músicas número 1.

Tudo isto em apenas quatro noites! Uau! Este é, sem dúvida, um evangelismo de alta voltagem! E qual foi o seu custo? Um pouco mais do que 250.000 libras (equivalente a R$ 750.000,00). Em todos os dispendiosos anúncios nos ônibus e lugares públicos, não vi um versículo sequer da Bíblia.

Pequeno rebanho

Considerando tudo isso, pensei em mim mesmo e em nossa pequena igreja, formada por apenas dezesseis membros. O que eu deveria fazer? Oferecer aos domingos uma divertida demonstração de meus formidáveis talentos? Isto não parecia correto? Não sou capaz de dedilhar violão com grande e admirável rapidez, nem banjo, rabeca e bandolim. De fato, quando olho para os membros de nossa igreja, reconheço que nenhum de nós foi treinado para atuar como palhaços ou comediantes. Provavelmente somos mais indicados a receber o troféu Granny (“vovó”) do que o Grammy. E a única Broadway (caminho largo) em que nos apresentamos foi aquela que nos conduzia a destruição (e, pela graça de Deus, abandonamos aquele caminho).

O Deus vivo, que é um fogo consumidor, pode ser adorado de modo aceitável através de qualquer “vibrante e popular maneira de louvar”?

Um .contagiante estilo de rock popular – pode ser bem aceito por muitos, mas desejamos que nossa igreja seja contagiada por esse tipo de música? Pretenderíamos que nosso púlpito fosse ocupado por um “grande mestre de entretenimento”? E esta ênfase sobre troféus e realizações é compatível com a reprovação de Cristo aos seus discípulos, quando estes discutiam sobre qual deles era o maior? Alguns de nós achamos que, ao invés de ser atrativa, essa atitude de promover as habilidades de “grandes astros” causa repugnância.

Mensagem séria

Enquanto estas coisas estavam acontecendo, eu pregava sobre o livro de Jonas. Que admirável contraste entre o ministério de Jonas ao povo de Nínive e o sensacionalismo do festival de Perth.

Ele entrou em Nínive com uma mensagem ameaçadora e séria, pregando-a com simplicidade. Não deveria ele ter se preparado melhor para este ministério, levando consigo outras pessoas, a fim de tornar sua mensagem mais agradável? Não poderia Jonas ter encontrado alguns comediantes e palhaços? Poderia ter levado alguns presentes e brindes para as crianças, e vários cantores e músicos para entreter as pessoas.

No entanto, ele foi sozinho. Não havia qualquer esperança de ser bem-sucedido em Nínive. Mas o fato estranho é este: os ninivitas creram na mensagem de Jonas! Toda a cidade, do trono do rei ao povo em geral, arrependeu-se e converteu-se ao Senhor. A única explicação para isso é que o soberano Deus, por sua graça, agiu. Aquilo que comediantes, palhaços e o próprio Jonas não foram capazes de fazer, Deus o fez!

Padrão bíblico

No passado, o evangelismo era um assunto sério e solene. Isto torna se evidente no Novo Testamento, bem como na história de homens piedosos que Deus usou no passado.

Neste século, as coisas mudaram dramaticamente. À medida que nos aproximamos do final do milênio, percebemos quão distante estamos do padrão bíblico.

O perigo é que alguns de nós, que nos preocupamos com as mudanças, talvez pareçamos negativos, ficando acomodados enquanto os outros fazem a obra.

Isto me recorda a conversa entre D. L. Moody e alguém que o criticava. “Não gosto da maneira como o senhor prega o evangelho”, disse o crítico. Moody respondeu: “Bem, como você o faz?”. “Ora, eu não o prego. foi a resposta do crítico. “Então”, continuou o evangelista, .gosto mais da maneira como eu prego o evangelho do que da maneira como você não o prega”.

Admitimos esse perigo. Precisamos tornar conhecido o evangelho e convidar os pecadores a virem ao Salvador. Porém, temos de fazê-lo de maneira bíblica.


Autor: Tony Hutter

Ministério: Ministério Fiel

Ministério Fiel
Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

Veja Também

pregação expositiva

A idolatria à pregação expositiva e a falta de oração

Veja neste trecho do Episódio #023 do Ensino Fiel os perigos da frieza espiritual e idolatria a conceitos, como por exemplo, à pregação expositiva.