Ao sair de seu carro, no fim do dia, sua filha de nove anos de idade anuncia, a três metros de distância, que a amiga dela, Kate, quer ser lésbica quando crescer. Seu filho de seis anos quer saber como os bebês são gerados… e ele continua pressionando-a para obter mais detalhes. Sua filha foi para casa depois de assistir ao filme de educação sexual na escola que a incentivou a “ir em frente e experimentar” à medida que ela for ficando mais velha. Seu filho do 4° ano começou a se excitar e parece não ter ciência da reação que ele está causando nas outras pessoas.
Para completar, você acabou de saber que as crianças do Ensino Fundamental estão brincando com o jogo de “Girar a Garrafa” no pátio da escola graças ao bendito intervalo. De certa maneira, isso soa extremamente precoce, porém você ouve dizer que todo o mundo acha tais condutas normais. Você está se esforçando para aprender a como conversar sobre os aspectos físicos dos relacionamentos sem parecer ter sido teletransportado do século retrasado.
Converse a respeito do contexto para a intimidade
Em uma sociedade exageradamente sexual, é tentador acreditar que, quanto menos se disser, melhor para todos. Isso não é verdade. Não é que o seu filho ouvirá menos, mas você terá permitido que todos, exceto você, moldem o conteúdo dessas conversas. Seus filhos ainda ouvirão por acaso, ou participarão daquilo que é dito na escola, no pátio, nos grupos de ensino domiciliar, no parque e até na igreja. Eles ainda serão expostos ao conteúdo sexual por meio da mídia, ainda que seja no outdoor da rodovia ou nas prateleiras de revistas do mercado. Ficando em silêncio, você os deixará perdidos neste mundo, despreparados para lidar com aquilo que enfrentarão. Infelizmente, a extensão da educação sexual para muitas crianças de boas igrejas parece começar e terminar com “Guarde-se para o casamento”. Na realidade, é como dizer a alguém: “Não, não, não, não, não, não, não, não, não!” por décadas e, então, esperar que essa pessoa, na noite de seu casamento, consiga dizer um “SIM” de repente!
É um pouco mais razoável quando lhe dizemos: “Deus sabe como você funciona melhor, então aprenda a confiar nele nessa área e apenas espere”. Bom conselho, mas não é o suficiente. Ele não apresenta para os nossos filhos o contexto para o motivo de as pessoas inteligentes e sensíveis de nossa sociedade proporem uma abordagem completamente diferente em relação à sexualidade. Dizer simplesmente que tratar a sexualidade de outra forma é o resultado do pecado não satisfaz um jovem atento, em especial, diante de tanta pressão para aceitar os chamados estilos de vida alternativos.
Aqui está uma ilustração que utilizei para ajudar os meus próprios filhos (bem como os amigos mais velhos) a desenvolver uma visão positiva a respeito de sua própria sexualidade e organizar as mensagens que ouviam de nossa sociedade. Trata-se de uma ilustração simples que apresenta uma estrutura para processar as mensagens ímpias ao mesmo tempo que valoriza a preciosidade que é a nossa sexualidade. (Como vantagem, você não se sente pornográfico por desenhá-la!)
Eu começo desenhando um círculo grande com um círculo menor dentro dele e digo: “Contexto é tudo. Se o sexo [nomeie o círculo menor para o seu filho enquanto fala] for melhor compreendido dentro do círculo da biologia [nomeie o círculo maior], então, realmente não haverá diferença da cor de seu cabelo”.
“Você não pediu o tipo de cabelo que tem ou a cor dele. Com a mesma facilidade, você poderia ter cabelo liso em vez de cacheado, ou vermelho em vez de castanho, e, ainda assim, você seria você. Na verdade, você pode brincar com tudo relacionado ao seu cabelo – mudar a cor, mudar o estilo, mudar o comprimento, até raspá-lo por inteiro – e, ainda assim, ser você. A sua personalidade e tudo aquilo que forma quem você é realmente não serão alterados caso você faça coisas diferentes com o seu cabelo.”
“É dessa mesma forma que muitas pessoas pensam sobre a sexualidade. Você tem certas partes e outras pessoas têm outras partes. As suas partes não são essenciais para a pessoa que você realmente é por dentro, logo, aquilo que faz com tais partes também não altera quem você é. A maneira como você as utiliza é uma escolha inteiramente sua e o que faz com elas, de fato, não faz muita diferença.”
“Em um modo de pensar puramente biológico, a preferência e experiência pessoais fazem sentido porque são apenas aspectos físicos de uma pessoa sem uma ligação necessária com o ser mais profundo e essencial.”
“No entanto”, eu sigo em frente, desenhando outro conjunto de círculos idêntico ao primeiro, “o sexo [outra vez, nomeie o círculo menor] é muito mais do que uma parte da biologia. Ele é melhor compreendido dentro do contexto da intimidade [nomeie o círculo maior] onde serve para ligar duas pessoas a um nível profundo uma com a outra”.
“A intimidade acontece em diversos níveis. Existem ligações emocionais que construímos com as pessoas pela maneira como compartilhamos nossas vidas uma com a outra e pelas coisas sobre as quais conversamos. [Acrescente um círculo menor Emocional dentro do círculo Intimidade.] Nesse aspecto, estamos construindo uma intimidade entre nós neste exato momento. Estamos utilizando palavras para ligar nossas vidas.”
“Nós também construímos a intimidade quando fazemos coisas juntos. [Acrescente um círculo menor Atividades]. Quando vamos caminhar, ou jogar bola, ou cozinhar alguma coisa, ou ajudar a limpar a entrada da garagem do Sr. Gerry, nós estamos fazendo algo que une as nossas vidas.”
“Também existem coisas que as pessoas fazem fisicamente que as conectam; coisas que comunicam que elas gostam uma da outra e que confiam uma na outra e querem estar ainda mais juntas. As pessoas podem se abraçar, dar tapinhas no ombro, se trombar de modo acidental ou proposital, se sentar perto de outra pessoa, fazer massagem nas costas, dar as mãos, ou se beijar… ou, em alguns casos especiais, se envolver sexualmente uma com a outra. [Acrescente os nomes conforme for falando.]”
“Cada uma dessas expressões físicas tem por objetivo ligar duas pessoas de maneira mais íntima, o que significa que você tem de entender o tipo de ligação relacional que se mostre boa para essas pessoas específicas. Um beijo entre pais e filho é diferente de um beijo entre marido e mulher, porque o relacionamento é diferente. Ambos são íntimos. Ambos estão buscando aprofundar a ligação da qual desfrutam. Contudo, ambos são expressados de modo diferente, porque o objetivo é diferente. Pais e filhos não estão tentando se tornar uma só vida.”
“Deus criou o sexo para ser o conector físico mais poderoso, para o relacionamento humano mais especial e mais íntimo que podemos ter nesta terra. É a forma física de você se entregar da maneira mais livre e plena para outra pessoa. É a expressão física de duas pessoas aprendendo a compartilhar uma só vida (Gn 2.23-24); trata-se de uma vida sendo vivida através de dois corpos.
É um relacionamento tão especial e tão singular que Deus diz ser o retrato da maneira como Jesus se relaciona com a sua noiva, a Igreja (Ef 5.3132). Essa é a razão por que Deus quer que você se entregue sexualmente a uma única pessoa, e isso deve acontecer somente quando você e essa pessoa tiverem prometido entregar-se um ao outro por completo. Isso é o que acontece no casamento. Qualquer outra forma de usar o sexo frustra o seu verdadeiro propósito.”
“As escapadas a sós (masturbação) não buscam ligá-lo a ninguém. Experimentar a sua sexualidade também ignora o objetivo de ligação com o sexo oposto em um nível que reflita o relacionamento de entrega exclusiva e eterna que Deus tem com a sua noiva.”
“Essa é a razão por que queremos afastar você do sexo antes do casamento. Como transas casuais não tentam compartilhar uma única vida, você acaba transmitindo mensagens misturadas. Fisicamente, você está dizendo: ‘Eu sou todo seu e só seu’, embora você e a outra pessoa saibam que isso não é verdade. Você se torna um hipócrita relacional. Em um momento em que Deus planejou que duas pessoas fossem autênticas e genuínas uma com a outra, você está se reprimindo enquanto, ao mesmo tempo, declara estar entregando tudo o que tem. Você está mentindo.”
“Todas as outras pessoas também sabem que você é desonesto, mesmo se você não admitir isso, por meio dos nomes desagradáveis que elas lhe dão – galinha, vadia, vagabunda, etc. O problema, todavia, é pior do que ser apenas insultado.”
“Quando ter relações sexuais com diferentes parceiros se torna um estilo de vida, ele afeta a maneira como você enxerga as pessoas. As relações sexuais se tornam objetos a serem usados e, então, descartados quando você seguir adiante. Tal atitude não pode ser escondida dentro de uma caixinha bem fechada. Pelo contrário, ela transparece na forma como você lida com as amizades no geral, pois você se ensina a pensar: ‘O que eu posso obter dessa pessoa?’. Ela afeta também a forma como você se enxerga, tanto como usuário quanto como um objeto a ser usado por outra pessoa. O que, a princípio, parece bastante tentador está repleto de tal veneno (Pv 9.13-18).”
“Você consegue perceber como até mesmo os casais comprometidos, os quais são sexualmente ativos, mas não são casados, estabelecem a hipocrisia em seu relacionamento? Com os seus corpos, eles estão querendo dizer algo que não querem ou não estão prontos para dizer para o resto do mundo: ‘Eu prometo me entregar por inteiro a você agora, de forma que nós, literalmente, compartilhemos uma só vida, e eu continuarei a fazê-lo até que um de nós morra’. Somente quando você firmou esse compromisso e não se importa com quem tem conhecimento dele é que você está pronto para expressá-lo fisicamente também. Isso faz sentido?”
Eu descobri que a conversa flui com facilidade a partir desse ponto à medida que ela levanta outras perguntas para o seu filho: Quando eu devo namorar? Qual é o limite do namoro? O que há de errado com a homossexualidade? O que há de errado em Mark e Lin viverem juntos? Não são perguntas fáceis, porém, são perguntas que podem ser tratadas dentro do entendimento relacional da sexualidade de seu filho, e não dentro de um simples modelo biológico de preferência pessoal, seja esse modelo o seu, o deles ou o da sociedade em geral.
Essa pode não ser a sua última conversa sobre sexo, mas pode fornecer princípios para uma visão positiva quanto ao desenvolvimento físico de seu filho. Além disso, ela rejeita o mundo corrompido que anseia por explorá-lo.
Artigo adaptado do livro Como falar de sexo com seu filho, de Willian Smith, Série Aconselhamento Bíblico, Editora Fiel.