O tempo em que vivemos tem sido marcado por numerosos avanços sociais, científicos e tecnológicos. É inegável o progresso da sociedade em inúmeros aspectos e dimensões. No entanto, ainda que se possam perceber evoluções nas mais variadas áreas, a igreja evangélica brasileira do século XXI encontra-se mergulhada em comportamentos e crenças que em muito nos fazem lembrar o século XVI.
O que foi a Reforma Protestante do séc. XVI
No começo do século XVI, a Europa e, por conseguinte, o mundo foram impactados por uma série de eventos religiosos que contestavam abertamente os dogmas da Igreja Católica Romana e a autoridade papal. É preciso destacar que esse era um período em que o continente europeu experimentava mudanças significativas na economia, o que era percebido com a ascensão da burguesia. Mas a Reforma foi muito mais do que uma luta de classes e ainda mais do que uma manifestação de repulsa ao estado de corrupção que se encontrava a sociedade. Na verdade, a Reforma foi um grito proferido por homens de Deus que pela graça do Senhor tinham discernido que a igreja havia se afastado de suas origens e de seus ensinamentos.
No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Para piorar a situação, moralmente a igreja estava corrompida e mergulhada em pecados e transgressões dos mais grosseiros. Além disso, a Igreja de Roma preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com as questões religiosas. E, para aumentar o seu patrimônio e suas riquezas, recorria a práticas inescrupulosas, como a “simonia”, que é a venda de cargos eclesiásticos, a contemplação de relíquias e a comercialização das famosas indulgências, que foram a causa imediata da crítica de Martinho Lutero. Naquele tempo o Papa garantia que cada pecador poderia comprar o perdão da igreja, desde que estivesse disposto a contribuir financeiramente com a causa de Roma.
3 semelhanças entre a igreja neopentecostal do séc. XXI e a Igreja Católica Romana do séc XVI.
1) Papas e Apóstolos; Tradição e Experiência
A igreja do nosso tempo em muito se assemelha à igreja da pré-reforma, mesmo porque, tanto o catolicismo romano quanto o movimento neopentecostal fundamentam suas doutrinas e comportamentos em três pilares, as Escrituras Sagradas, a tradição da igreja e a autoridade apostólica papal. Na verdade, ambos os grupos não consideram na prática (ainda que os neopentecostais afirmem o contrário) a Bíblia como única e exclusiva regra de fé. Para os dois movimentos, a tradição bem como a experiência adquirida com o sagrado possuem um enorme peso na consolidação de suas doutrinas. Ademais, as duas correntes possuem em suas estruturas eclesiásticas líderes papais, cuja autoridade “apostólica” não pode ser questionada pelos fiéis. Além disso, ambos mercantilizam a fé, comercializando as benesses divinas, oferecendo aos fiéis objetos sagrados que possuem em si poder suficiente para operar milagres.
2) Manipulação religiosa
Quanto à práxis litúrgica, o neopentecostalismo nos faz pensar que regressamos aos tenebrosos dias da Idade Média, pois, à semelhança daquele período mais sombrio, vemos hoje uma verdadeira manipulação religiosa, especialmente através de líderes que, em nome de Deus, estabelecem doutrinas que se contrapõem a Palavra Revelada do Senhor.
3) Indulgências e compra de bênção
Tanto o catolicismo romano como o neopentecostalismo brasileiro entendem que as bênçãos de Deus não são frutos de sua maravilhosa graça, mais sim, consequências diretas de uma relação baseada na troca ou no toma-lá-dá-cá. Neste contexto, tudo é feito em nome de Deus e para se conseguir a bênção é absolutamente necessário pagar – e pagar caro!
Isso leva-nos a algumas perguntas: Qual a diferença da oferta extorquida do povo sofrido nos dias atuais para a venda das indulgências praticadas na Idade Média? Qual a diferença dos utensílios vendidos no século XVI, para os que são comercializados nos templos neopentecostais nos dias de hoje?
Precisamos de uma reforma
Infelizmente um número incontável de comunidades cristãs regressou a práticas da Idade Média, comercializando o evangelho e negociando a fé. Esse quadro caótico impele-nos a confessarmos os nossos pecados e a regressarmos às Escrituras, a fim de que a Igreja de Cristo neste país redescubra as doutrinas da graça e retome o rumo da verdade, da saúde e da ortodoxia.
O lema “Eclésia reformata, semper reformanda” (igreja reformada, sempre se reformando) deveria estar sempre ressoando em nossos ouvidos e corações, desafiando-nos à responsabilidade de continuamente caminharmos segundo a Palavra, sem nos deixarmos levar por ventos de doutrinas e movimentos que tentam transformar a Igreja de Cristo num circo eclesiástico, nas mãos de líderes despreparados ou inescrupulosos – ou os dois!, que manipulam o povo ao seu bel-prazer, tudo isso em nome de Deus!
Artigo adaptado do livro Reforma Agora, de Renato Vargens.