sábado, 23 de novembro
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Sem querer eu encontrei – e me apaixonei – pelos meios comuns de graça

Eu quero contar para vocês sobre o sermão mais influente que eu já ouvi.

  1. A viagem transatlântica, parte 1

Eu comecei a faculdade um ano mais tarde do que a maioria dos meus amigos, então, quando eu cheguei lá, eles já frequentavam uma igreja há um ano. Eu não direi o nome dela, mas em seu nome tinha a palavra “Batista”. Eu, por outro lado, gostava de ir a igrejas cujos nomes poderiam se passar por startups de tecnologia ou centros de reabilitação: Igreja Verve, A Fonte, Encruzilhada, você sabe do que eu estou falando.

Mas eu confiava em meus amigos. Então, eu entrei sonolento no carro na manhã de domingo e dirigi por 24 km de distância do campus para um prédio que ficava entre um campo e outro campo. O gado de fato mugia. Para um calouro da faculdade, esse passeio de 20 minutos pareceu mais uma viagem transatlântica. Eu me perguntava se eu iria voltar lá algum dia.

2. O pregador simples

Nós entramos na igreja, eu me sentei, nós cantamos algumas músicas, eu me sentei de novo e um senhor de idade parou em nossa frente. Ele vestia um terno esquecivelmente escuro e fora da medida. Eu imediatamente percebi que não havia um púlpito, nem palco ou suporte para partitura – havia somente um banquinho, no qual eu esperei que ele fosse se sentar, a fim de parecer casual e informal. Eu já havia visto pastores fazerem isso. Mas ele não me soava como o tipo que é informal. No fim das contas, o banquinho era mais para a Bíblia dele, que era grande, pesada e bem gasta. Ela parecia ter passado pelas mesmas coisas que aquele homem havia passado.

Eu não sei outra forma de dizer isso, mas aquele homem parecia extremamente comum. Ele facilmente se passaria pelo meu farmacêutico, ou pelo treinador da Liga de Futebol Júnior do seu filho, ou por um cara que vende iscas em uma loja de equipamentos.

E então ele começou a pregar. “Abram as suas Bíblias em Gênesis 6.1-8.” Ele falava devagar, com um cuidado que poderia ser confundido por falta de segurança.

O que aconteceu pelos próximos 40 minutos foi tão confuso quanto belo. Agora, eu cresci na igreja. Eu havia lido livros cristãos e liderei estudos bíblicos cristãos. Eu poderia explicar como a fé em Jesus muda tudo e eu provavelmente poderia articular o argumento teológico da existência de Deus. Eu levantava minhas mãos durante o culto; eu chorei pelos meus próprios pecados e pelos pecados dos meus amigos.

Eu amava Jesus.

Mas eu nunca tinha ouvido algo assim. Porque esse pregador de aparência simples, com sua Bíblia bem gasta e seu banquinho meio inútil, apenas ficou lá, explicando e aplicando Gênesis 6 a todos que o ouviam. E eu ouvia, fascinado.

O sermão não era sofisticado – anos depois ele me disse que não consegue usar um esboço, apesar de desejar usar – mas era preciso. Ele era afiado e sincero. Ele nos chamava de “amados.” Ele era manso – tão, tão, tão manso. E ainda assim, quando ele falava do julgamento de Deus sobre pecadores como nós, a sua mansidão dava lugar a uma firme urgência. Ele nos disse para corrermos para a arca que é Cristo. Ele nos disse para não zombarmos do julgamento vindouro de Deus e ele implorou para que nos deleitássemos na misericórdia de Cristo antes que as águas do julgamento ficassem acima dos nossos pescoços. 

A partir de Gênesis 6, ele falou conosco, com lágrimas nos olhos – ele sempre acabava tendo lágrimas nos olhos – sobre o amor de Deus por pecadores como nós. Ele nos falou a respeito de Jesus, da substituição e da ressurreição.

III. Dr. Watson!

Eu não tenho certeza se ele me ensinou algum fato específico que eu já não soubesse. Pelo contrário, como um bom detetive, ele explicou tudo que eu já sabia de tal forma que me levou a chegar a uma conclusão. Mas aqui está o que me deixou perplexo: a conclusão dele não era sobre mim ou sobre o que eu deveria fazer. Era uma conclusão sobre Jesus, uma conclusão sobre como Deus nos deu o sexto capítulo de Gênesis primeiramente não para nos ensinar sobre a retidão de Noé, mas sobre a justiça de Cristo. 

Se você me pedisse, durante a minha primeira viagem transatlântica para essa igreja, para ler Gênesis 6 e explicar para você o que ele quer dizer, eu não tenho ideia do que eu teria dito. Você poderia me dar os óculos do Sherlock Holmes e eu não tenho certeza se teria encontrado uma única pista que levasse para a cruz. É claro, pela experiência eu sabia que os sermões tinham que terminar na cruz, mas eu achava que nesses momentos o Senhor permitia se teletransportar de lá, especialmente em sermões que focam no Antigo Testamento. 

Essa é a história do primeiro sermão expositivo que eu ouvi. Eu amei. Ele me estimulou intelectualmente e espiritualmente. Mas eu não sabia em que categoria colocá-lo. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo e eu tinha menos ideia ainda do porquê estava acontecendo. Para ser sincero, eu achei tudo muito curioso e incomum, tanto quanto achei interessante.

Talvez o pregador apenas tenha tido uma boa semana”, eu pensei. “Me pergunto o que ele fará na semana que vem.”

3. A viagem transatlântica, parte 2

Assim, no domingo seguinte, sonolento eu entrei de novo no meu carro – entrei, sentei, cantei algumas músicas, sentei e então o pregador se levantou. Ele vestia um terno diferente, mas segurava a mesma Bíblia.

Ele começou com a mesma introdução lenta e sonolenta: “Abram as suas Bíblias em Gênesis 6. Começaremos pelo verso 9.”

Eu cutuquei meu amigo no ombro e sussurrei, “Que estranho. O que ele está fazendo?” Ele sorriu. Eu não. Eu estava confuso. Eu  nunca tinha visto um pregador simplesmente começar de onde ele havia parado, tal qual um episódio de 24 horas ou algo do tipo.

Nos 40 minutos seguintes, o pregador pregou a partir do livro de Gênesis novamente. O formato do sermão era o mesmo, mas os seus contornos mudaram de acordo com a passagem em questão. E então eu o escutava novamente, fascinado novamente.

E em algum momento as coisas começaram a fazer sentido. Eu percebi que o que eu havia escutado na semana anterior não era algo isolado. Era uma forma de se fazer igreja, uma forma de pensar sobre a vida cristã. Eu não conseguia acreditar que nunca havia escutado isso antes e eu mal podia esperar para aprender mais.

É por esse motivo que esse segundo sermão expositivo foi o sermão mais influente que eu já ouvi.  E me sucedeu uma revelação chocante: eu estava perdendo algo que eu sequer sabia que existia.

4. Uma represa quebrada

Aproximadamente quatro anos depois, em um dos meus últimos domingos na universidade, eu escutei um sermão sobre a morte de José. O pregador – agora eu já o chamava de “Pastor Steve” – apontou para a ressurreição do povo de Deus no último dia e clamou para que confiássemos em Jesus. Qual era o nosso texto naquela manhã? Gênesis 50.22-26. É claro que ele nos chamou de “amados.” E é claro que havia lágrimas em seus olhos.

Havia lágrimas em meus olhos também. Eu amava esse homem, meu pastor e meu pregador. Ele era simples, ele vestia roupas escuras e ternos pesados nos dias mais intensos do verão e ele chorava literalmente todo domingo. Mas não era por isso que eu o amava. Eu o amava porque ele me introduziu à extraordinária graça de Deus de uma maneira tão comum – através de sermões simples e centrados na Palavra, os quais não dependiam da aplicação de histórias do dia a dia ou de uma conclusão com um apelo claro à renovação moral. Os sermões dele eram para mim, é claro, mas eles não eram sobre mim. Eles eram sobre Deus e o Evangelho.

Apesar de eu não ter percebido isso, eu cheguei nessa igreja com uma mente quebrada – cheia de informações verdadeiras sobre a Bíblia e sentimentos sinceros sobre como se deve viver uma vida que agrada a Jesus. Mas eu não sabia de verdade o que fazer com tudo isso, e eu certamente não conseguia entender a Bíblia. Eu não sabia como compreendê-la, aplicá-la e conectar tudo a Jesus. Eu sabia muitos fatos pontuais e eu tinha muitas convicções pontuais. Mas ninguém havia me mostrado como eles se encaixavam.

Com o tempo, os sermões do Pastor Steve conectaram os pontos. Eles eram as mãos que atravessaram a espada do Espírito em minha mente e coração. Eles perfuraram a represa e, nesse processo, esse homem comum e seus sermões comuns trouxeram mudanças para a minha vida comum.

No meu primeiro domingo lá, eu apareci naquela igreja me perguntando se eu algum dia voltaria. A viagem era tão longa e a vibe era tão sem graça. No meu último domingo lá, eu fui embora me perguntando se algum dia eu acharia uma igreja igual àquela.

 

Por: Alex Duke. ©️ 9Marks. Website: 9marks.org. Traduzido com permissão. Fonte: How I Accidentally Stumbled Across—And Then Fell in Love with—the Ordinary Means of Grace
©️ Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradutor: Juliane Teixeira Lima Peixoto. Editor e revisor: Vinicius Lima.


Autor: Alex Duke

Alex Duke mora com sua esposa, Melanie, em Louisville, Kentuck. Ele é estudante do Southern Seminary e membro da Hunsinger Lane Baptist Church.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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